sexta-feira, 30 de novembro de 2012

STF entrega encomenda à mídia golpista e condena 13 à prisão

Ministro do STF já havia cantado a bola no início do julgamento. Processo foi um atropelo geral à justiça Por SÉRGIO CRUZ A definição das penas do julgamento da Ação Penal 470, do suposto "mensalão", terminou como tudo começou. Ou seja, uma manipulação. Milimetricamente agendado para coincidir com as eleições municipais deste ano, o julgamento serviu de palco para ataques ao PT e ao governo. A mídia golpista enquadrou completamente alguns ministros do STF. Conseguiram tangê-los para que armassem um verdadeiro circo contra o PT. Os juízes seguiram à risca o cronograma definido pelos barões da mídia tucano/golpista. O processo foi um atropelo geral à justiça e às jurisprudências do STF. Teve de tudo durante o julgamento da AP 470. Desde o desenterro da tese nazista do domínio do fato - que propugna a condenação sem provas - e que viabilizou a espúria condenação do ex-ministro José Dirceu e de outros líderes do PT, até à cínica definição de que seriam 13 os condenados à prisão. Esse número foi sacado do bolso dos golpistas para servir de marketing político. Um dos juízes, Marco Aurélio Mello, chegou a cantar a bola ainda durante o início do julgamento, no primeiro turno das eleições, quando, numa das sessões do Supremo, dirigiu-se aos telespectadores (isso mesmo, porque as sessões foram transmitidas ao vivo pela Globo) e fez questão de frisar que o número dos condenados seria treze. Numa clara demonstração que o julgamento já tinha um roteiro pronto, ele chamou a atenção de forma insistente para o número 13. Disse que esse número não poderia ser esquecido. "Prestem bem a atenção neste número. Serão 13 os condenados", repetiu Mello. Uma grosseira e tosca jogada política com vistas a denegrir o número do PT e interferir no resultado das eleições naquele momento. Só que, ao final, foram 13 mesmo os condenados à prisão. Em suma, tudo não passou de uma farsa. De verdadeiro só o objetivo de criminalizar o PT. Para chegar a esse número, os teleguiados da mídia fizeram uma verdadeira ginástica no tribunal. Já tinham definido desde o início que tinha que ser treze os que iriam para a prisão. Portanto, não levaram em conta nenhum dos argumentos da defesa. Fabricaram o marketing do número para desgastar o PT e tinham que confirmá-lo. De todos os condenados, que eram 25, fizeram uma conta de chegar para que treze fossem para a prisão e não outro número qualquer. Nada mais abjeto para ser feito pelo STF. Uma completa desmoralização da justiça brasileira. E, para atingir o seu objetivo, os ministros sequer disfarçaram a marmelada. A pena de Roberto Jefferson - corrupto confesso - foi cinicamente "atenuada", sob o pretexto de que ele "prestou serviços" ao país. Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiram levar em conta a "contribuição" de Jefferson - que atirou para tudo quanto é lado depois de ter um aliado pego em flagrante recebendo propina nos Correios - e aliviaram sua pena. Com isso o escroque vai se livrar da cadeia. E, por outro lado, nesta mesma quarta-feira (28), eles aumentaram a pena do deputado federal João Paulo Cunha (PT), para que ele que não pudesse cumpri-la em liberdade. Forçaram a barra livrando Jefferson e exagerando na pena de João Paulo Cunha – acusando-o de ter agido ilicitamente enquanto "ocupava a presidência da Câmara Federal" - para que os golpistas pudessem "comemorar" os "treze condenados". Com os agravantes defendidos pelo relator Joaquim Barbosa, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão, acusado pelos crimes de corrupção passiva, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Com isso, ele terá de cumprir a pena em regime fechado, já que a condenação foi maior do que oito anos. Ele também terá de pagar multa de R$ 360 mil. Entre quatro e oito anos, as penas são cumpridas em regime semiaberto e o condenado volta para dormir na prisão. Quando forem inferiores a quatro anos, podem ser substituídas por penas alternativas, como pagamento de salário mínimo e perda de direito político. A fase para fixação das punições consumiu dez sessões da Corte. Todo esse processo, que já havia se desmoralizado antes com as condenações sem provas, tornou-se um verdadeiro circo de horrores. Juízes agindo como palhaços e carrascos, repetindo o que a mídia martelava, fazendo ilações e destruindo a honra de inocentes. Substituíram as análises dos autos do processo por acusações partidarizadas e sectárias. Os discursos no STF tornaram-se claramente provocativos. O script golpista foi seguido à risca. Nenhuma prova era apresentada, e os ataques ao PT e ao governo Lula/Dilma ocuparam diariamente as telas das TVs durante meses. O ex-ministro Ayres de Brito, então presidente do STF, chegou ao cúmulo de defender, à certa altura, que as coligações políticas costuradas pelo governo eram "um desrespeito ao estado de direito". Sem nenhum mandato, o gênio jurídico resolveu deitar falação sobre o que é e o que não é democracia. Joaquim Barbosa, relator do processo, por sua vez, atropelou a tudo e a todos e tentou passar por cima do Congresso Nacional, propondo que o STF cassasse o mandato dos três parlamentares julgados pela Corte, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP). Ele pretendia também, com isso, impedir a posse do deputado José Genoino (PT), suplente que deverá assumir o mandato em janeiro. Não fosse a atuação de Lewandowski, Barbosa teria conseguido seu intento. Ainda antes de iniciado o julgamento, já havia sinais de que o oportunismo midiático golpista estaria presente em todo esse processo. Quando da definição do número de pessoas que seriam julgadas, o procurador também se fixou num número montado. Trabalhou para fossem 40 os acusados. Quis associar sua farsa à idéia dos "40 ladrões". Passada a fase da propaganda e da provocação, o número caiu pouco depois para 38, evidenciando a manobra. Como pudemos ver essas provocações não pararam por aí. Em sua sanha, os golpistas chegaram ao fim fabricando um número de presos igual ao do PT. Fonte: http://www.horadopovo.com.br/2012/11Nov/3113-30-11-2012/P3/pag3a.htm

terça-feira, 30 de outubro de 2012

NOTA DO MLB SOBRE O DESPEJO DA OCUPAÇÃO SÔNIA ANGEL

" O papel dos Blogs é também denunciar as arbitrariedades cometidas pelos Agentes de Repressão do Estado!!"(Ninféia G) Por MLB Durante dois dias e meio, dezenas de famílias sem casa da cidade deCaxias-RJ ocuparam um terreno vazio nas imediações dos bairros SãoBento e Parque Fluminense e fizeram dele sua nova morada. A ocupação,organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) edenominada de Sônia Angel, foi realizada na madrugada do último dia 27e já contava com dezenas de barracos, banheiros e cozinha comunitáriaquando, no início da tarde do dia 29, foi violentamente reprimida peloPolícia Militar do Rio de Janeiro. Com um efetivo de 40 homens e semqualquer mandato judicial, o tenente Júlio César, do 15º Batalhão,comandou a desocupação arbitrária e ilegal. A Polícia se aproveitou do horário de trabalho de boa parte dosparticipantes da ocupação para realizar a ação criminosa. Valendo-sede bombas de efeito moral e cassetetes, os policiais distribuíramporradas em homens, mulheres e crianças, prenderam oito lideranças eapoiadores do movimento, derrubaram todos os barracos da ocupação eainda apreenderam e destruíram os cartões de memória de quem portavamáquinas fotográficas e celulares com câmeras. Apesar da brava resistência de todos militantes – para a surpresa dosagentes da repressão –, oito companheiros e companheiros foram levadospresos: Juliete Pantoja, coordenadora do MLB e líder da ocupação;Gabriel Henrici, diretor de Direitos Humanos da UEE; EstebanCrescente, diretor da UNE; Carlos Henrique, diretor da Ubes; JulianaCosta, diretora da Fenet; Pedro Gutman, do Diretório Acadêmico deBiologia da UniRio; Vaniewerton Ancelmo, diretor do Sintnaval; eSandro, do MLB e da Ocupação Eliana Silva de BH. Segundo Esteban Crescente, um dos detidos, “eles praticaram uma sériede arbitrariedades e buscaram primeiro prender os militantes queestavam à frente da ocupação. Praticaram também a tortura, pois nosdeixaram presos nos camburões, num calor imenso e sem ar, além de nosameaçar a todo instante, afirmando que não sairíamos dali, que iriamnos bater mais”. A posse do terreno é do Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária (Incra), mas o despejo foi solicitado pelo Instituto Estadualdo Ambiente (Inea), que apresentou documento de concessão. Aténovembro de 2011, o terreno estava cedido à Fundação Educacional deDuque de Caxias (Feuduc), faculdade privada situada próximo ao local eque nada fez para dar-lhe qualquer utilidade. Há anos abandonado e sem função social, é de se perguntar qual crimeas famílias ocupantes e o MLB cometeram para serem reprimidos destaforma? Apesar do ocorrido, os participantes da Ocupação Sônia Angelpermanecem de cabeça erguida e orgulhosos por terem enfrentado o poderda especulação imobiliária, do Estado burguês e da Polícia. Manifestações de apoio e solidariedade chegavam a todo instante dosmoradores do bairro – que cederam a creche local para os desabrigadose doaram alimentos e manifestaram o desejo de ingressar no MLB –, e deoutros movimentos e entidades sociais, como o Sindipetro-Caxias, aCentral de Movimentos Populares (CMP) e o Movimento Nacional de Lutapor Moradia (MNLM). As famílias da Ocupação Sônia Angel não desistirão de seu propósito demorar dignamente, e o MLB continuará levantando firme a bandeira daReforma Urbana e socialismo como únicas soluções para o grave problemada moradia no Brasil. -- " A luta de classes é o motor da história." K.marx & F. Engels. http://www.sintnaval.blogspot.com http://www.movimentolutadeclasses.org

domingo, 21 de outubro de 2012

Aspectos da democracia direta em Cuba

O jornal cubano Granma publicou nesta sexta-feira trechos de uma entrevista do jornal argentino Tempo com o presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular, Ricardo Alarcón, sobre a realização de eleições regionais em Cuba, que ocorrerão neste domingo (21). Leia a seguir trechos da entrevista: Fora de Cuba há uma ideia de que aqui as votações são relativas, em função de que existe um partido único. Como é o sistema eleitoral cubano e quais são seus valores, falando em termos de democracia? “Nós estamos agora num processo eleitoral. Essa é uma das diferenças fundamentais com o modelo existente, com o suposto paradigma. A essência do sistema de eleições no mundo ocidental contemporâneo envolve que os eleitores, que não são todos os cidadãos, mas apenas uma parte, são chamados a votar por algum candidato escolhido pelas maquinarias eleitorais ou partidos políticos. A cidadania tem então escassa participação na escolha dos candidatos. Em Cuba, já levamos várias semanas um processo que consiste em que as pessoas escolhem, mediante o voto, àquelas pessoas que quiserem levar como candidatos. Isso não acredito que seja parecido ao que predomina no resto do mundo. Aqui, podemos dizer que há tempo que milhões de cubanos já votaram, devido às chamadas assembleias de nomeação dos candidatos. Em 21 de outubro, essas mesmas pessoas são convocadas para ir às urnas e optarem entre os vários candidatos que eles mesmos nomearam. Os candidatos são eleitos, não designados. Não estão ali por decisão duma maquinaria eleitoral”. Que características ou qualidades são levadas em conta para serem eleitos? “Obviamente a propaganda feita nos jornais ou na televisão fala de apoiar os melhores, os mais capazes. Mas a realidade pode ser outra porque um morador, por exemplo, ergue a mão nas assembleias realizadas em todos os bairros e propõe alguém que considera representativo, ou diretamente diz que se candidata ele mesmo, que também se pode fazer e já ocorreu. Se algo abunda em Cuba, são as eleições. Esta etapa termina em 21 de outubro e o segundo turno é no dia 28, onde concorrem os votantes daquelas circunscrições onde nenhum dos candidatos teria obtido mais de 50% dos votos”. Nas eleições da maioria dos países, se um candidato comete defecção, os votantes podem puni-lo, não votando nele, quando realizadas as novas eleições. Que alternativas têm os eleitores cubanos nesse caso? “Muito simples: qualquer uma das pessoas eleitas pode ter seu mandato cassado em qualquer momento, por aqueles que o elegeram. Nos últimos anos, eu fui deputado pelo município de Plaza de la Revolución. A primeira vez que isto aconteceu, em 1993, convidaram-me como aos outros deputados da zona, para participar da assembleia municipal, cujo ponto principal era a cassação de seu presidente. Eu me sentei com o resto dos participantes e houve uma intensa discussão: alguns não concordavam com cassar o companheiro e falavam maravilhas de sua gestão. Outros o criticaram fortemente. De repente, um companheiro, que tinha antiguidade no trabalho nesse distrito, se levantou e disse: ‘Gente, tirem o dramatismo disso, se aqui em Plaza, nenhum presidente terminou seu mandato. Todos foram substituídos’. Não existe nem prazo, nem restrição alguma para cassar mandatos. Pode fazer-se em qualquer momento, mas obviamente sem que isto se converta num caos, onde estejamos votando todos os meses”. Nas imagens difundidas no exterior sobre as eleições cubanas, trata-se de ridicularizá-las com os números de participação que sempre são altos e em muitos casos superam os 90%. “Eu tenho uma explicação sobre isso. Quando você vai votar em Cuba para eleger dentre várias pessoas, e é sabido que uma delas foi proposta em sua assembleia de nomeação, você o conhece, sente-o mais próximo, tem confiança dele. É bem diferente às eleições de outros países, onde o candidato inunda as paredes com cartazes com sua foto, sorrindo e prometendo tudo. Em segundo lugar, se há algo fácil em Cuba, é votar. Os centros eleitorais estão a muito pouca distância de onde moram as pesoas, um quarteirão, ou dois máximo. Isto faz com que participe muitas mais pessoas que em locais onde as mesas de votação estão muito afastadas. Outra coisa é a lista de eleitores. Se agora percorre a Ilha, poderá ver-se na porta dos prédios, nas mercearias, nas lojas, a lista dos eleitores, submetidas ao escrutínio público e ao controle popular. Eu vou ali e vejo se meu nome está aí, e se não estou, então reclamo para que me incluam. Mas vejo também que colocaram você, e então digo, este é argentino e não mora em Havana, e não pode votar aqui. De maneira que quando vou votar, já sei que votam tantas pessoas que estão identificadas na porta com seu nome e sobrenome. Depois, chegado o momento do escrutínio, a comissão responsável convida os moradores que estão na porta do local, a que os ajudem a contar. Comparemos isso, com situações onde as pessoas nem sabem quantos podem votar onde votam, nem sabem quantos votaram, nem sequer qual é o resultado”. Fonte: CORREIO DO BRASIL (Extraido de Blog Solidários)

Tropas dos EUA no Rio S.Francisco: Congresso quer ação de Dilma

"Soldados do exercito dos EEUU no Rio São Francisco: Por que?E como que isso pode acontecer sem o conhecimento e autorização do Governo e do Congresso brasileiro? Coisas de Batidores?"(Ninféia G) A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso (presidida pela deputada comunista Perpétua Almeida) enviou requerimento à Presidência manifestando preocupação em relação à soberania nacional no contrato firmado entre o governo e o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos (Usace) e pedindo a intervenção de Dilma Rousseff no caso. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), órgão subordinado ao Ministério da Integração, contratou tropas norte-americanas a pretexto de estudar formas de tornar o Rio São Francisco navegável, ignorando o fato de que a engenharia brasileira tem total competência para o caso. A parceria entre a Usace e a Codevasf, de 7,8 milhões de reais (3,84 milhões de dólares), foi assinada em dezembro de 2011 e, em março de 2012, os primeiros engenheiros do Exército norte-americano chegaram ao país fazendo pouco caso da legislação brasileira a respeito do exercício da profissão de engenheiro no pais, regulamentada pelo sistema CONFEA/CREA. No requerimento enviado a Dilma, a presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), afirma ver riscos de vazamento de informações estratégicas para o país, por entender que militares americanos poderão ter acesso dados secretos, como localização das riquezas minerais e reservas de urânio. Trata de uma tropa estrangeira em território nacional sem o consentimento do governo ou autorização do Congresso e, o mais preocupante, os militares norte-americanos poderão ter acesso a informações estratégicas sobre as riquezas minerais do país, disse Perpétua, presidente da Comissão de Defesa. Ela pede a que as Forças Armadas brasileiras e as universidades acompanhem o trabalho dos engenheiros norte-americanos, "de forma a resguardar e salvaguardar as informações de segurança nacional". “Além do requerimento enviado a Dilma, estou enviando também ofícios solicitando maiores informações aos ministérios de Relações Exteriores, Defesa e Integração sobre o caso, avisando da preocupação dos parlamentares com o fato. Quero saber por que eles não interferiram na questão", afirma Perpétua. "Se temos tropas brasileiras que podem fazer este projeto, por que contratar militares dos Estados Unidos?”, questiona ela. Procurada, a assessoria da Presidência respondeu que recebeu o ofício e que o caso será analisado e o questionamento repassado ao Ministério da Integração. O Ministério de Relações Exteriores confirmou que também recebeu o requerimento e que analisa a situação. O Ministério da Defesa disse que não recebeu o documento e o da Integração, não se posicionou. A missão dos engenheiros do Exército dos EUA no Brasil é apresentar projetos de dragagem, geotecnia e controle de erosão e estabilização das margens do São Francisco. O rio atravessa os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e serve de divisa natural entre Sergipe e Alagoas até desaguar no Oceano Atlântico. Um projeto do Ministério da Integração busca transpor parte das águas do rio para aproveitá-lo também para irrigação no Ceará e Rio Grande do Norte, servindo de eixo de ligação do Sudeste e do Centro-Oeste com o Nordeste do país. Tropas estrangeiras no país A deputada Perpétua Almeida diz ter encontrado, o comandante do Exército, Enzo Martins Peri, que lhe afirmou que não tinha dados sobre a atuação dos militares norte-americanos no Brasil. "Ele falou que não sabe, não foi consultado, e que as únicas coisas que sabia, tinha lido na imprensa", afirma Perpétua. À Presidência, a parlamentar lembrou que o ingresso da força militar no país ocorreu "sem consentimento do governo federal ou autorização do Congresso" e que isso "não foi discutido com o Exército Brasileiro, apesar da excelência dos seus batalhões de Engenharia para prestar o mesmo tipo de trabalho". O texto da Comissão de Relações Exteriores e Defesa enviado a Dilma lembra ainda que "instituições militares, como o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o Instituto de Pesquisas da Marinha, além de universidades federais, possuem profissionais aptos a elaborar os mesmos projetos e dar a consultoria necessária à Codevasf com economia de recursos e controle das informações estratégicas no Brasil, afastando eventuais riscos à Segurança Nacional". Exército sabia, diz Codevasf Em julho, o gerente de projetos da Codevasf, Roberto Strazer, disse, irônicamente, não ver riscos à segurança nacional em trabalhar com o Exército norte-americano, como se os interesses nacionais não tivessem importância alguma para a CODEVASF. O órgão informou que o Exército tinha conhecimento do acordo desde que as negociações começaram, em 2008, e que houve reuniões com a presença de representantes da Diretoria de Obras e Cooperação do Exército para tratar da questão. A Codevasf diz que, em dezembro de 2011, enviou um ofício ao general que comandava a diretoria comunicando do acordo com o Exército dos EUA. Em junho deste ano, um relatório das atividades foi enviado ao Estado-Maior Conjunto do Ministério da Defesa. Evidentemente temos que perguntar se este exército brasileiro está servindo ao Brasil ou a interesses estrangeiros. Por meio da assessoria de imprensa, o Exército confirmou que militares brasileiros já visitaram a sede do Usace, nos EUA, e que engenheiros militares brasileiros estão próximos à área onde os americanos estão trabalhando no São Francisco. Em junho, o Exército afirmou que não vislumbrava riscos no caso. A Força não confirmou o encontro do general Enzo com Perpétua. Nós temos que questionar este pretenso exército brasileiro para quem êles estão trabalhando que não protegem o solo brasileiro. Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=196884 Rede Democrática e agências

sábado, 13 de outubro de 2012

"Vitória de Haddad anulará maior conspiração política desde 1964"

Quem tem olhos, cérebro e alma sabe que o julgamento do mensalão decorre de uma conspiração política que só encontra paralelo na história recente do Brasil na conspiração que levou ao golpe militar de 1964. Essa fina flor do reacionarismo de ultradireita que reúne imprensa, Judiciário e setores do Legislativo apostou tudo nesse processo. Por Eduardo Guimarães* As eleições municipais de 2012, no primeiro turno, frustraram à larga os anseios dos que apostaram no julgamento do mensalão para destruir politicamente o Partido dos Trabalhadores. E, apesar de toda a campanha massacrante que reuniu o maior aparato publicitário já formado em torno de um fato político, ela foi um fiasco. O PT cresceu fortemente nas eleições de 7 de outubro. E, como se não bastasse, tornou-se o partido mais votado do país, com mais de 17 milhões de votos para prefeito e vereador. Agora, no segundo turno, porém, o fracasso reacionário pode adquirir proporções dramáticas. Está para ocorrer a tomada do ultimo bastião da direita no Brasil, a cidadela do conservadorismo nacional, São Paulo, que está prestes a cair diante do força avassaladora de um projeto progressista que mudou o país para sempre. Confesso a você, leitor, que, no início, cheguei a duvidar das possibilidades de o novo “poste” de Lula obter êxito em uma cidade como São Paulo, cidade que tem o povo mais despolitizado de todo o país e que se deixa influenciar como nenhuma outra por panfletos de ultradireita como Veja, Folha de S. Paulo e Estadão, sem falar na Globo. Mais uma vez, o ex-presidente mostrou por que chegou aonde chegou na política tendo partido da miséria do sertão nordestino. Lula enxerga o jogo político lá longe, como se estivesse ao seu lado. Poucos acreditavam em sua visão de que Fernando Haddad é, basicamente, o que São Paulo quer. A direita midiática, com todos os seus recursos, com todos os seus institutos de pesquisa de opinião, com suas televisões, com seus jornais e com seus bilhões de dólares não foi capaz de perceber o esgotamento da paciência do paulistano com a embromação demotucana. Ou sequer a intensidade do sofrimento de São Paulo. As pesquisas mostram larga vantagem de Haddad sobre José Serra, o bibelô da ultradireita brasileira. E, obviamente, a máquina de difamação demotucano-midiática já começa a se levantar. Nesta sexta mesmo, o panfleto mais servil a Serra, a Folha de S. Paulo, ao lado da notícia sobre a disparada do petista na pesquisa Ibope já faz denúncia contra ele. Serra e a mídia ultraconservadora estarem acuados é sinônimo de qualquer coisa que se possa imaginar em termos de baixaria, de golpes eleitorais. As portas do inferno irão se abrir contra Haddad. Família, biografia, tudo será alvo da fúria nazista desse grupo político criminoso, golpista, imoral. Todavia, a vitória de Haddad tem chances muito boas de se materializar. Todos sabem que haverá uma campanha de desmoralização contra ele. Aliás, que maior campanha de desmoralização pode haver do que a farsa em curso no STF? Mas está funcionando? Não, claro que não. Dúzias de cientistas políticos dizem que não está funcionando. A vitória de Haddad, além de tudo, produzirá uma nova e poderosa liderança política. O professor com pinta de galã certamente tem uma promissora carreira política pela frente. Haddad tem cara de presidente da República ou não tem? Só não pode cair no erro de Serra e abandonar o mandato no meio, caso seja eleito prefeito neste ano. O xis da questão, porém, é que a eleição de Haddad como prefeito de São Paulo tornará negativo um efeito político zero que a direita midiática obteve com a farsa do julgamento do mensalão. Além de não conseguir nada a mais, essa direita ainda irá perder sua fortaleza política, São Paulo. Fracasso maior seria impossível. *Eduardo Guimarães é blogueiro e colaborador do Vermelho. Fonte: Blog da Cidadania

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Biografias dos candidatos á prefeitura de Belém do Pará

"Fala sério, gente, sem comparação- prestem atenção aos curriculos e realizações!"(Ninféia G) EDMILSON RODRIGUES: Edmilson Brito Rodrigues nasceu em 26 de maio de 1957 em Belém. Formado em arquitetura, Edmilson é professor licenciado da Universidade Federal Rural da Amazônia, com mestrado em Planejamento e Desenvolvimento pela UFPA e doutorado em Geografia pela USP. É solteiro e tem três filhos. Teve dois mandatos de deputado estadual, de 1987 a 1990 e de 1991 a 1994. Foi eleito prefeito de Belém por dois mandatos, de 1997 a 2000 e de 2001 a 2004. Na época, era filiado ao PT, e chegou a ser premiado pela ONU como “Prefeito Criança” por três vezes. Em 2005, Edmilson deixou o PT e se filiou ao PSOL. Em 2008, não disputou a prefeitura de Belém para concluir seu doutorado. Em 2010, foi eleito deputado estadual com mais de 85 mil votos. Sua gestão como prefeito foi marcada por importantes projetos para a cidade, o que rendeu a Edmilson inúmeros prêmios nacionais e internacionais. Entre o mais de 50 prêmios está o de Prefeito Criança por dois anos consecutivos, concedido pela ONU, pelo projeto Sementes do Amanhã que retirava as crianças da área de depósito de lixo dando apoio social, financeiro, educacional e profissional, para toda a família. Entre outros mais importantes projetos esteve a Escola Circo, Bolsa Família de um salário mínimo, Banco Municipal do Povo e Família Saudável. Entre as obras mais importantes está a macrodrenagem do Tucunduba, orla Ver-o-Rio e de Icoarací, reforma da Feira do Ver-o-Peso, Pronto-Socorro do Guamá, prolongamento da João Paulo II, asfaltamento da Augusto Montenegro e implantação de projeto cicloviário nas principais vias da cidade. Obras Publicadas: “Aventura Urbana: urbanização, trabalho e meio-ambiente”; “Os Desafios da Metrópole: reflexões sobre o desenvolvimento para Belém”, “Estado Nacional, Cidades e Desenvolvimento”; “Do Mito da Sustentabilidade Capitalista à Construção Social da Utopia”; e “La città, uma nuova cultura collaborativa, il potere populare”. Como co-autor, participou da elaboração dos livros “Tembé-Tenetehara: a nação resiste (Relatório final da Comissão Especial de Estudos sobre os índios Tembé Tenetehara da Reserva Indígena do Alto Rio Guamá no Pará)”; “Congresso da Cidade: construir o poder popular reinventando o futuro” (editado também em francês e italiano); “Luzes na floresta: o governo democrático popular em Belém (1997/2001)”; “Cooperação e relações internacionais”; “Reflexiones sobre la ciudad y su gestión”; “Instituições políticas no socialismo”; “Desafios do poder local: o modo petista de governar”; e “Reflexões sobre o PT e o poder local”. ZENALDO COUTINHO: Zenaldo Rodrigues Coutinho Júnior nasceu 4 de fevereiro de 1961 em Belém. Formado em direito, é casado e tem duas filhas. Foi eleito vereador de Belém pelo PDT de 1983 aos 21 anos, conseguindo a reeleição em 1988. Foi eleito deputado estadual duas vezes, atuando como presidente da Assembléia Legislativa em 1995. Em 1999, foi eleito deputado federal e chegou a ocupar o cargo de vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça. Zenaldo também atuou como chefe da Casa Civil e secretário especial de proteção e desenvolvimento social durante o mandato do governador Simão Jatene. Em 2011, Zenaldo deixou a secretaria para atuar na frente parlamentar contra a criação do estado de Carajás durante o plebiscito que consultou a população do Pará sobre a possibilidade da divisão do estado. Condecorações: Medalhas: do Mérito, Prefeitura Municipal, Belém, PA, 1992; do Mérito Tiradentes, PM, PA, 1993; Rui Barbosa, Tribunal de Contas, Belém, PA, 1993; Tiradentes, Brasília, DF, 2002. Ordens: do Mérito, Governo do Estado do Pará, 1992; do Mérito, ALPA, 1992. Obras Publicadas: Salve a Mãe de Deus, 2005; Campanha da Fraternidade, 2007; Desafios do Governo, 2007; Viva Nossa Senhora de Nazaré, 2007. Artigos publicados no Jornal Liberal: Projeto da Super Zona Franca, 23/1/2005; Governo do Brasil, 19/6/2005; Brasil Paralisado, 25/9/2005; O Cidadão Brasileiro e o Referendo, 16/10/2005. Fontes: http://g1.globo.com/pa/para/eleicoes/2012/noticia/2012/10/belem-tera-segundo-turno-entre-edmilson-e-zenaldo.html http://www2.camara.gov.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=74354; http://www.blogger.com/profile-find.g?t=i&q=tamb%C3%A9m+para+dois+mandatos+(1997-2000+e+20012004).+Em+setembro+de+2005+me+desfilou+do+PT+e+ingressou+no+PSOL.%0D%0A%0D%0A%C3%89+autor+dos+livros+%E2%80%9CAventura+Urbana:+urbaniza%C3%A7%C3%A3o; http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmilson_Rodrigues

A reeleição de Chavez foi uma vitória continental

"Em um país onde o voto não é obrigatório e mais de 80 por cento dos eleitores comparece ás urnas, isso é ou não é o exercício livre e consciente de seus direitos democráticos?"(Ninféia G) ********************************************************************************* A reeleição de Chavez foi uma vitória continental POR - EDITORES DE ODIARIO.INFO Nota dos Editores O povo da Venezuela reelegeu ontem Hugo Chávez. O resultado - uma confortável vitória por 10 pontos de vantagem - desmentiu as sondagens divulgadas nos EUA e na Europa, que previam um empate técnico. A campanha eleitoral transcorreu numa atmosfera de permanente tensão, no quadro de uma luta de classes como a América não conhecia desde o Chile da Unidade Popular. O Plano B - elaborado pela CIA com aprovação do Departamento de Estado - previa que Capriles, o candidato da direita, se proclamasse vencedor no final do dia se os primeiros resultados divulgados revelassem equilíbrio. O objetivo era desencadear imediatamente ações de violência para destabilizar o país com a ajuda de paramilitares colombianos. Os EUA investiram, indiretamente, centenas de milhões de dólares na campanha anti-Chávez. O governo de Obama, no âmbito da sua estratégia imperial, havia semeado bases militares na América do Sul - Colômbia (8), Paraguai, Curaçau - e enviou para a Região a IV Esquadra. A campanha de desinformação foi minuciosamente montada. Com poucas exceções, as centenas de jornalistas norte-americanos e europeus que cobriram a eleição qualificaram as três presidências de Chávez como uma soma de fracassos que conduziram o país à beira do caos e também do comunismo. De Capriles Radonski, o candidato da oposição unificada, um multimilionário filho de um emigrante judeu polaco, a mídia ocidental e a venezuelana (sob controle hegemônico da direita) apresentava o perfil de um social-democrata. Ele afirmava aliás ser admirador de Lula e Dilma Rousseff. Fabricaram um líder inexistente. O ex governador do Estado de Zulia esteve envolvido no golpe de estado de 2002, participou então pessoalmente do ataque à embaixada de Cuba e desempenhou um papel de relevo no lock-out petrolífero assim como em conspirações posteriores. A participação massiva do povo venezuelano - abstenção inferior a 20% - inviabilizou os planos da direita local e do imperialismo. E Capriles foi obrigado a admitir a sua derrota. Chávez, no agradecimento ao seu povo, foi sóbrio: definiu a Venezuela «como uma das melhores democracias do mundo». A Caracas chovem agora felicitações e palavras de estímulo. A primeira chegou da Argentina: Cristina Fernandez saudou a reeleição de Chávez como «vitória nossa, a vitória da América do Sul e das Caraíbas». A euforia que varre agora o país e os povos latino-americanos implica grandes responsabilidades para a Venezuela Bolivariana. Chávez não ignora os enormes desafios que o esperam. O processo revolucionário tem dependido excessivamente da sua liderança. A sua saúde inspira preocupações. No Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) coexistem tendências contraditórias. Embora minoritária, a corrente que defende reformas compatíveis com o capitalismo tudo faz para levantar obstáculos a medidas revolucionárias que abram caminho ao socialismo. O próprio discurso sobre o «socialismo do século XXI» é uma fonte de situações equívocas. O imperialismo continua empenhado em destruir a revolução bolivariana. Mas a reeleição de Chavez teve para Washington o significado de uma grande derrota estratégica. É compreensível o júbilo em todo o mundo das forças progressistas. Fonte: http://www.odiario.info/?p=2638

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A espetacularização e a ideologização do Judiciário

Por Leonardo Boff É com muita tristeza que escrevo este artigo no final da tarde desta quarta-feira, após acompanhar as falas dos ministros do Superemo Tribunal Federal. Para não me aborrecer com e-mails rancorosos vou logo dizendo que não estou defendendo a corrupção de políticos do PT e da base aliada, objeto da Ação Penal 470 sob julgamento no STF. Se malfeitos foram comprovados, eles merecem as penas cominadas pelo Código Penal. O rigor da lei se aplica a todos. Outra coisa, entretanto, é a espetacularização do julgamento transmitido pela TV. Ai é ineludível a feira das vaidades e o vezo ideológico que perpassa a maioria dos discursos. Desde A Ideologia Alemã, de Marx/Engels (1846), até o Conhecimento e Interesse, de J. Habermas (1968 e 1973), sabemos que por detrás de todo conhecimento e de toda prática humana age uma ideologia latente. Resumidamente, podemos dizer que a ideologia é o discurso do interesse. E todo conhecimento, mesmo o que pretende ser o mais objetivo possível, vem impregnado de interesses. Pois, assim é a condição humana. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. E todo o ponto de vista é a vista de um ponto. Isso é inescapável. Cabe analisar política e eticamente o tipo de interesse, a quem beneficia e a que grupos serve e que projeto de Brasil tem em mente. Como entra o povo nisso tudo? Ele continua invisível e até desprezível? A ideologia pertence ao mundo do escondido e do implícito. Mas há vários métodos que foram desenvolvidos, coisa que exercitei anos a fio com meus alunos de epistemologia em Petrópolis, para desmascarar a ideologia. O mais simples e direto é observar a adjetivação ou a qualificação que se aplica aos conceitos básicos do discurso, especialmente, das condenações. Em alguns discursos, como os do ministro Celso de Mello, o ideológico é gritante, até no tom da voz utilizada. Cito apenas algumas qualificações ouvidas no plenário: o mensalão seria “um projeto ideológico-partidário de inspiração patrimonialista”, um “assalto criminoso à administração pública”, “uma quadrilha de ladrões de beira de estrada” e um “bando criminoso”. Tem-se a impressão de que as lideranças do PT e até ministros não faziam outra coisa que arquitetar roubos e aliciamento de deputados, em vez de se ocuparem com os problemas de um país tão complexo como o Brasil. Qual o interesse, escondido por detrás de doutas argumentações jurídicas? Como já foi apontado por analistas renomados do calibre de Wanderley Guilherme dos Santos, revela-se aí certo preconceito contra políticos vindos do campo popular. Mais ainda: visa-se a aniquilar toda a possível credibilidade do PT, como partido que vem de fora da tradição elitista de nossa política; procura-se indiretamente atingir seu líder carismático maior, Lula, sobrevivente da grande tribulação do povo brasileiro e o primeiro presidente operário, com uma inteligência assombrosa e habilidade política inegável. A ideologia que perpassa os principais pronunciamentos dos ministros do STF parece eco da voz de outros, da grande imprensa empresarial que nunca aceitou que Lula chegasse ao Planalto. Seu destino e condenação é a Planície. No Planalto poderia penetrar como faxineiro e limpador dos banheiros. Mas nunca como presidente. Ouvem-se no plenário ecos vindos da Casa Grande, que gostaria de manter a Senzala sempre submissa e silenciosa. Dificilmente, se tolera que através do PT os lascados e invisíveis começaram a discutir política e a sonhar com a reinvenção de um Brasil diferente. Tolera-se um pobre ignorante e mantido politicamente na ignorância. Tem-se verdadeiro pavor de um pobre que pensa e que fala. Pois, Lula e outros líderes populares ou convertidos à causa popular como João Pedro Stedile, começaram a falar e a implementar políticas sociais que permitiram uma Argentina inteira ser inserida na sociedade dos cidadãos. Essa causa não pode estar sob juízo. Ela representa o sonho maior dos que foram sempre destituídos. A Justiça precisa tomar a sério esse anseio a preço de se desmoralizar, consagrando um status quo que nos faz passar internacionalmente vergonha. Justiça é sempre a justa medida, o equilíbrio entre o mais e o menos, a virtude que perpassa todas as virtudes (“a luminossísima estrela matutina” de Aristóteles). Estimo que o STF não conseguiu manter a justa medida. Ele deve honrar essa justiça-mor que encerra todas as virtudes da polis, da sociedade organizada. Então, sim, se fará justiça neste país. Leonardo Boff é teólogo e escritor. http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5801

domingo, 30 de setembro de 2012

Venezuela: os dilemas de Outubro!

"Há que se apoiar Chávez e o processo bolivariano, aprofundando as transformações em direção ao socialismo. Mas a urgência das eleições de outubro e a necessidade imperiosa da vitória eleitoral não devem nos confundir. A luta na Venezuela não é só eleitoral. O imperialismo estadunidense (sob o disfarce sorridente e “multicultural” do presidente Obama, belicoso como os mandatários ianques anteriores), a grande burguesia venezuelana e os seus sócios políticos estão desenvolvendo um plano extraeleitoral destinado a sabotar o processo e/ou a desconhecer os resultados. Planejam desestabilizar até conseguir os mesmos objetivos intervencionistas praticados na Líbia ou na Síria. Por isso mesmo, a solidariedade com a revolução bolivariana deve se expressar em todos os cenários de luta até garantir a derrota definitiva desses esforços sediciosos e o aprofundamento e a ampliação definitiva da marcha para o socialismo." Néstor Kohan A esquerda não pode perder o rumo, nem se paralisar diante das incompreensíveis pequenas coisas, nem se confundir com as limitações do processo bolivariano. A alternativa é clara e não é legítimo virar as costas a ela. Há que se apoiar Chávez e o processo bolivariano, aprofundando as transformações em direção ao socialismo. Mas a urgência das eleições de outubro e a necessidade imperiosa da vitória eleitoral não devem nos confundir. A luta na Venezuela não é só eleitoral. O imperialismo estadunidense (sob o disfarce sorridente e “multicultural” do presidente Obama, belicoso como os mandatários ianques anteriores), a grande burguesia venezuelana e os seus sócios políticos estão desenvolvendo um plano extraeleitoral destinado a sabotar o processo e/ou a desconhecer os resultados. Planejam desestabilizar até conseguir os mesmos objetivos intervencionistas praticados na Líbia ou na Síria. Por isso mesmo, a solidariedade com a revolução bolivariana deve se expressar em todos os cenários de luta até garantir a derrota definitiva desses esforços sediciosos e o aprofundamento e a ampliação definitiva da marcha para o socialismo. Os dilemas de outubro inscrevem-se num nó geopolítico condensado. O imperialismo e as suas subservientes burguesias querem varrer completamente do mapa a insolência de um militar latino-americano, mestiço e bolivariano, anti-imperialista e admirador do Che Guevara, que não lhes obedece e os desafia há duas décadas. Precisam imperiosamente recuperar a renda petroleira e "pôr ordem" no norte da América do Sul, deslocando Chávez, neutralizando e desarmando definitivamente as FARC-EP e espalhando pelo continente novas bases militares que garantam o seu monopólio sobre os recursos naturais. Frente a essa ofensiva imperial, a geopolítica bolivariana não deveria se contentar com a UNASUL e com a unidade institucional dos Estados. Em longo prazo, o que definirá a queda-de-braço será a unidade dos povos (incluindo suas expressões sociais e insurgentes), e não apenas os pactos entre os Estados. Os apertos de mão com Santos, presidente corrupto e assassino, não frearão o paramilitarismo e a lumpesinagem da burguesia colombiana, nem garantirão uma estabilidade duradoura na região, enquanto as forças armadas colombianas sigam mantendo meio milhão de soldados – dirigidos diretamente por generais ianques e assessores israelenses – que ameaçam invadir a Venezuela na eventualidade de se aprofundar a marcha ao socialismo. A continuidade do bolivarianismo das FARC-EP como ponta de lança do movimento popular colombiano é a melhor garantia para que a Venezuela não seja invadida pelos Estados Unidos através do exército colombiano, que está nas proximidades. A unidade continental dos povos é a chave do triunfo bolivariano em escala internacional (nenhuma revolução pode triunfar isolada, num só país). No âmbito nacional, por outro lado, a luta de classes se expressa em todos os terrenos, não só no eleitoral (este, sem dúvida, o mais visível). A vitória segura de Chávez em outubro não deve nos fazer esquecer de que no interior do processo bolivariano também há conflito. Um segmento que apoia o líder histórico da revolução bolivariana, ainda que mantendo a retórica oficial, faz todo o possível (e mais) para evitar ou retardar a opção socialista. Dia a dia “inventa” pseudoalternativas, sempre qualificadas como “populares”, “autogestionárias” e “bolivarianas”, para não aprofundar o caminho ao socialismo. Como se fosse possível marchar ao socialismo sendo amigo de todo mundo e socializando apenas as margens da sociedade (aquelas que não incomodam o mercado, nem interessam às grandes empresas porque não são lucrativas). Como se fosse possível construir a transição para o socialismo sem confrontar os milionários da burguesia e do empresariado. Um dos grandes desafios do presidente Chávez e de todo o processo bolivariano, posterior à vitória eleitoral em outubro, consiste em se apoiar na organização política das classes populares, exploradas e subalternas (a sua principal e mais leal força de luta) e ir encontrando formas concretas de gestão da propriedade estatal ou nacionalizada, que debilitem socialmente o inimigo sórdido, e ir assentando as primeiras bases econômicas da transição socialista. Deve-se golpear e debilitar os sórdidos não apenas na retórica, na comunicação, nas urnas e na sensibilidade cultural (algo fundamental e imprescindível), mas também nas colunas vertebrais do mercado capitalista da economia venezuelana. Para vencer o tigre, há que se animar a pôr sal no seu rabo. Ou se enfrenta a burguesia, debilitando-a socialmente, ou a burguesia terminará por devorar o processo bolivariano, como ocorreu à revolução sandinista em 1990. Não se pode “civilizar a burguesia” (expressão infeliz de Tomás Borge em 1986). Há que enfrentá-la e derrotá-la! Chávez pode fazer isso. Sobra-lhe energia, projeto, valentia e decisão política. Inclusive, colocou sua própria vida em risco (recordemos o golpe de Estado e a atitude digna que então assumiu, tão diferente da pusilanimidade e da covardia da maior parte da elite política da América Latina). A sua decisão pessoal não é o único ponto importante aqui. A revolução bolivariana apoia-se em muitas conquistas que vão além da liderança carismática de um indivíduo: - Internacionalizou a disputa política e cultural a ponto de envolver todo o continente em cada uma das lutas sociais internas da Venezuela. - Politizou completamente a sociedade: até o mais indiferente ou alienado hoje deve se pronunciar (a favor ou contra). Ficou para trás a era do “pragmatismo efetivo” e a despolitização pós-moderna das massas populares que percorreu não só a Venezuela, mas toda a Nossa América nos anos de 1990. - Recuperou um olhar histórico (bolivariano) da nossa identidade popular, colocando em crise o individualismo cínico do pós-modernismo, que nos convidava falsamente a desconfiar “dos grandes projetos” e a viver o dia a dia, pensando unicamente em consumir, sem ideais, sem história e sem projetos coletivos. - Relegitimou os símbolos, a cultura e a tradição política do socialismo, que eram questões demoníacas nos anos de 1990. - Redistribuiu a renda do petróleo entre os setores populares e em projetos políticos regionais, quando antes era um butim de guerra da burguesia venezuelana destinado ao seu consumo frívolo e suntuoso. - Restabeleceu uma opção anti-imperialista no nível regional e continental – diríamos inclusive mundial – estabelecendo vínculos com muitos povos e governos do mundo (os “maus”, na linguagem hollywoodiana das administrações estadunidenses), desde a América Latina até a África e a Ásia. Por isso, é vital apoiar determinadamente a continuidade do projeto encarnado por Chávez, ao mesmo tempo que se torna impostergável o aprofundamento da revolução bolivariana, apontando para a expropriação das grandes fortunas, das grandes casas comerciais, dos grandes bancos e das grandes empresas (nacionais e estrangeiras). Se a revolução bolivariana não marchar para o socialismo de uma vez por todas – socializando concretamente as grandes empresas, nacionalizando as bases fundamentais da economia e estabelecendo, contra a regulação mercantil, um planejamento socialista de larga escala, para além inclusive do âmbito nacional, para o regional através da ALBA –, necessariamente retrocederá e será derrotada pelos seus inimigos históricos, internos e externos. Não será estendendo a mão ao presidente Santos, vizinho perverso, hipócrita e sinistro, nem dando novamente a face às sórdidas ameaças golpistas da direita venezuelana, que ameaça virar a mesa se não ganharem as eleições, que se aprofundará a revolução. Não é hora de dar ouvidos ao pacifismo e às trapaças social-democratas que, em nome do “realismo”, sempre aconselham a pisar no freio – como fizeram no Chile em 1973, na Nicarágua em 1990 e assim por diante – para terminar, invariavelmente, na derrota. Não. O comandante Chávez e a revolução bolivariana devem aproveitar essa crise mundial do capitalismo e a atual debilidade dos EUA e da Europa ocidental para pisar no acelerador. Não só o povo venezuelano, mas todos os povos do mundo estamos atentos. O que se joga nessa disputa terá, sem dúvida alguma, repercussões muito além da terra natal de Simón Bolívar. 26 de setembro de 2012

O "mensalão" e o veredicto da história

Por Mauro Santayana Cabe aos tribunais julgar os atos humanos admitidos previamente como criminosos. Cabe aos cidadãos, nos regimes republicanos e democráticos, julgar os homens públicos, mediante o voto. Não é fácil separar os dois juízos, quando sabemos que os julgadores são seres humanos e também cidadãos, e, assim, podem ser contaminados pelas paixões ideológicas ou partidárias – isso, sem falar na inevitável posição de classe. Dessa forma, por mais empenhados sejam em buscar a verdade, os juízes estão sujeitos ao erro. O magistrado perfeito, se existisse, teria que encabrestar a própria consciência, impondo-lhe sujeitar-se à ditadura das provas. Mesmo assim, como a literatura jurídica registra, as provas circunstanciais costumam ser tão frágeis quanto as testemunhais, e erros judiciários terríveis se cometem, muitos deles levando inocentes à fogueira, à forca, à cadeira elétrica. Estamos assistindo a uma confusão perigosa no caso da Ação 470, que deveria ser vista como qualquer outra. Há o deliberado interesse de transformar o julgamento de alguns réus, cada um deles responsável pelo seu próprio delito – se delito houve – no julgamento de um partido, de um governo e de um homem público. Não é a primeira vez que isso ocorre em nosso país. O caso mais clamoroso foi o de Vargas em 1954 – e a analogia procede, apesar da reação de muitos, que não viveram aqueles dias dramáticos, como este colunista viveu. Ainda que as versões sobre o atentado contra Lacerda capenguem no charco da dúvida, a orquestração dos meios de comunicação conservadores, alimentada por recursos forâneos – como documentos posteriores demonstraram – se concentrou em culpar o presidente Vargas. Quando recordamos os fatos – que se repetiram em 1964, contra Jango – e vamos um pouco além das aparências, comprova-se que não era a cabeça de Vargas que os conspiradores estrangeiros e seus sequazes nacionais queriam. Eles queriam, como antes e depois, cortar as pernas do Brasil. Em 1954, era-lhes crucial impedir a concretização do projeto nacional do político missioneiro – que um de seus contemporâneos, conforme registra o mais recente biógrafo de Vargas, Lira Neto, considerava o mais mineiro dos gaúchos. Vargas, que sempre pensou com argúcia, e teve a razão nacional como o próprio sentido de viver, só encontrou uma forma de vencer os adversários, a de denunciar, com o suicídio, o complô contra o Brasil. Os golpistas, que se instalaram no Catete com a figura minúscula de Café Filho, continuaram insistindo, mas foram outra vez derrotados em 11 de novembro de 1955. Hábil articulação entre Jango, Oswaldo Aranha e Tancredo, ainda nas ruas de São Borja, depois do sepultamento de Vargas, levara ao lançamento imediato da candidatura de Juscelino, preenchendo assim o vácuo de expectativa de poder que os conspiradores pró-ianques pretendiam ocupar. Juscelino não era Vargas, e mesmo que tivesse a mesma alma, não era assistido pelas mesmas circunstâncias e teve, como todos sabemos, que negociar. E deu outro passo efetivo na construção nacional do Brasil. Os anos sessenta foram desastrosos para toda a América Latina. Em nosso caso, além do cerco norte-americano ao continente, agravado pelo espantalho da Revolução Cubana (que não seria ameaça alguma, se os ianques não houvessem sido tão açodados), tivemos um presidente paranóico, com ímpetos bonapartistas, mas sem a espada nem a inteligência de Napoleão, Jânio Quadros. Hoje está claro que seu gesto de 25 de agosto de 1961, por mais pensado tenha sido, não passou de delírio psicótico. A paranóia (razão lateral, segundo a etimologia), de acordo com os grandes psiquiatras, é a lucidez apodrecida. Admitamos que Jango não teve o pulso que a ocasião reclamava. Ele poderia ter governado com o estado de sítio, como fizera Bernardes. Jango, no entanto, não contava – como contava o presidente de então – com a aquiescência de maioria parlamentar, nem com a feroz vigilância de seu conterrâneo, o Procurador Criminal da República, que se tornaria, depois, o exemplo do grande advogado e defensor dos direitos do fraco, o jurista Heráclito Sobral Pinto. Jango era um homem bom, acossado à direita pelos golpistas de sempre, e à esquerda pelo radicalismo infantil de alguns, estimulado pelos agentes provocadores. Tal como Vargas, ele temia que uma guerra civil levasse à intervenção militar estrangeira e ao esquartejamento do país. Vozes sensatas do Brasil, começam a levantar-se contra a nova orquestração da direita, e na advertência necessária aos ministros do STF. Com todo o respeito à independência e ao saber dos membros do mais alto tribunal da República, é preciso que o braço da justiça não vá alem do perímetro de suas atribuições. É um risco terrível admitir a velha doutrina (que pode ser encontrada já em Dante em seu ensaio sobre a monarquia) do domínio do fato. É claro que, ao admitir-se que José Dirceu tinha o domínio do fato, como chefe da Casa Civil, o próximo passo é encontrar quem, sobre ele, exercia domínio maior. Mas, nesse caso, e com o apelo surrado ao data venia, teremos que chamar o povo ao banco dos réus: ao eleger Lula por duas vezes, os brasileiros assumiram o domínio do fato. Os meios de comunicação sofrem dois desvios à sua missão histórica de informar e formar opinião. Uma delas é a de seus acionistas, sobretudo depois que os jornais se tornaram empresas modernas e competitivas, e outra a dos próprios jornalistas. A profissão tem o seu charme, e muitos de nossos colegas se deixam seduzir pelo convívio com os poderosos e, naturalmente, pelos seus interesses. O poder executivo, o parlamento e o poder judiciário estão sujeitos aos erros, à vaidade de seus titulares, aos preconceitos de classe e, em alguns casos, raros, mas inevitáveis, ao insistente, embora dissimulado, racismo residual da sociedade brasileira. Lula, ao impor-se à vida política nacional, despertou a reação de classe dos abastados e o preconceito intelectual de alguns acadêmicos sôfregos em busca do poder. Ele cometeu erros, mas muito menos graves e danosos ao país do que os de seu antecessor. Os saldos de seu governo estão à vista de todos, com a diminuição da desigualdade secular, a presença brasileira no mundo e o retorno do sentimento de auto-estima do brasileiro, registrado nos governos de Vargas e de Juscelino. É isso que ficará na História. O resto não passará de uma nota de pé de página, se merecer tanto. http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/09/o-mensalao-e-o-veredicto-da-historia.html?spref=tw

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mano Brown reassume posto de comando, com Marighella

Atenção, está no ar a rádio libertadora! Nem o filme, nem o videoclipe precisaram de estrearem para a música Marighella, provocar críticas, ocupar espaços em revistas e jornais e causar pânico na playboyzada. Não é pra menos. A combinação letal de Mano Brown e Marighella da resposta a um verso entoado a anos como um mantra: “Precisamos de um líder negro de crédito popular”. Por Toni C.* Mano Brown assistiu ao filme inteiro três vezes, gostou, não quis cobrar um centavo pelo trabalho. A trilha sonora inédita de encerramento do documentário que estréia em outubro, dirigido por Isa Ferraz, sobrinha de Carlos Mariguella é um soco seco no estomago de quem devora caviar. Coisas do Brasil super-herói mulato “Você não está fazendo este filme para seus pares, quem precisa de heróis é minha gente”, Mano Brown falou à sobrinha do líder guerrilheiro. A música virou hit na internet. Um frame do vídeoclipe dirigido por Juliana Vicente onde aparece Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue, KL Jay e Dexter ambientados em 1972 com trajes e armados como num aparelho de resistência guerrilheira, se espalhou rapidamente pelas redes sociais como se fosse um panfleto subversivo em plena ditadura. Reaja ao revés, seja alvo de inveja irmão Os mais raivosos tenta insulta-lo de todas as formas: “tanto ele [Mano Brown] como Lula queriam ser brancos de olhos azuis”, “apedeutas”, ”suas rimas sem-teto e sem-verso”, ”apóstolo do ódio, pastor de bandidos que vive a cantar grunhidos para platéias de primitivos” foram comentários que lí no site da revista de maior circulação do país, também a mais mentirosa e nojenta. Não causa surpresa os comentários quando agente conhece a relação desta revista com o grupo de mídia racista que apoiou o Apartheid na Africa do Sul. Entre as ofensas direcionada ao líder do Racionais Mc’s e de quebra servem a todo rapper, pobre, preto ou morador de periferia que contraria as estatísticas está este comentário veridico: “Mano Brown é o Marighella da atualidade”. Brown comenta as semelhanças: ”Alguém me falou também que em algum detalhe ele parecia comigo. Na luta dele, na idéia. Somos os dois filhos de preto com italiano e minha família também vem da Bahia.” Presta atenção que sucesso em excesso é cão O Racionais Mc’s se apresentou num festival internacional e publicaram no dia seguinte: “Como um soco na cara, surgiu nos telões a imagem da carteira de afiliação de Carlos Marighella ao PCB. Ao lado de seu rosto, a foice e o martelo ardiam impiedosamente nas vistas de um festival que representa tudo, menos o comunismo.” Pânico na Zona Sul foi a carta de convocação para os guerreiros na periferia na década de 90. A música Marighellla é o Manual do Guerrilheiro Urbano quatro décadas depois. Indigesto como o sequestro do Embaixador No desbaratino eles chamam Luiz Carlos Marighella de arranca pernas, corta cabeças. Nossa saga tem sido contar cabeças e precisamos cada vez mais de gente cabeça. Corta-cabeças é Moreira César, que morreu quando achou que poderia destruir Canudos. A gravação do videoclip na ocupação Mauá levou força e esperança para os moradores que lutam por um teto. “Aqui é como se fosse a unha encravada da cidade um problema que eles não tem sensibilidade de resolver como deveria.” Disse Mano Brown se referindo a ocupação Mauá, no centro de São Paulo, mas poderia muito bem estar falando sobre a Favela do Moinho, Sarau do Binho, Morro dos Macacos ou ao Pinheirinho, alvos da especulação imobiliária. “Não é o povo deles que está aqui que vai ser despejado e vai morar nas ruas” Brown morô a luta de classes. No mesmo período Emicida é detido em Belo Horizonte após um show quando se manifestou com sua música “Dedo na Ferida” em favor das famílias despejadas na ocupação Eliana Silva. Quero ver você trocar de igual A revista racista questiona: “e o direito da propriedade privada garantido na Constituição brasileira?” Aí é necessário lembra-los que esta mesma Constituição, exige o cumprimento da função social da propriedade. Ah! também estabelece, na condição de direito fundamental, o direito social à moradia. Então viva a constituição! Estava finalizando este artigo, quando recebi a visita ilustre de Milton Sales. O ex-produtor do Racionais acompanhado com Amaral Du Corre, ambos moradores da favela do Moinho, vítima de um incendio criminoso as vésperas do natal. Em janeiro, o ato em solidariedade aos moradores do Moinho foi palco de um reencontro entre Mano Brown que apresentou Milton Sales como seu mentor. ”Deus não lotiou e vendeu terra no sétimo dia. Como que o cara fala que é dono? Dono do que meu irmão?” discursou Milton no campo de terra no centro da favela. Perguntei ao Miltão sobre a música Marighella. Ele acompanhou as gravações do videoclipe na ocupação Mauá e resume o que viu numa frase: “Mano Brown foi fino, tudo o que espero dele é aquela postura que ele assume com a música e o vídeoclipe Marighella”. Concordei, artilheiro não deve jogar na zaga. A postos ao meu general, reconduzido ao posto de comando. Aplausos é pra poucos *Texto originalmente publicado na Revista RAP NACIONAL N°5.

Declaração final do 18º Encontro do Foro de São Paulo

Os povos do mundo, contra o neoliberalismo e pela paz Foro de São Paulo, 4-6/7/2012, Caracas, Venezuela http://www.alainet.org/active/56298&lang=es 1. O 18º Encontro do Foro de São Paulo, reunido em Caracas, dias 4, 5 e 6 de julho de 2012, acontece em meio a forte crise estrutural do capitalismo, acompanhada da disputa por espaços geopolíticos e geoestratégicos, a emergência de novos polos de poder, ameaças contra a paz mundial e a agressividade militar e ingerencista do imperialismo que tenta reverter o próprio declínio. Adicionalmente, à crise econômica deve-se somar a ambiental, a energética e a crise de alimentos, assim como a crise dos sistemas de representação política. Todas estas situações exigem uma firme resposta dos povos latino-americanos e caribenhos e uma eficaz atuação das forças progressistas, populares e de esquerda. 2. A crise econômica mundial está muito longe de ser superada. os responsáveis por dirigir as instituições financeiras internacionais seguem presos ao dogma neoliberal. O efeito da contração da economia nos EUA e a paralisia do motor europeu, já se manifestam em vastas regiões, inclusive na pujante economia chinesa. A região latino-americana e caribenha não escapa do impacto negativo da crise mundial, embora as políticas econômicas e sociais de boa parte dos governos da região tenham impedido impacto maior da crise. 3. Enquanto em regiões como Europa e Estados Unidos, o neoliberalismo segue sendo fundamento ideológico da política econômica, com suas políticas de austeridade permanente e prioridade para o capital financeiro, na América Latina as forças progressistas e de esquerda dirigem os destinos de uma parte importante das nações da área e lançam iniciativas que têm permitido superar em alguma medida “a longa noite neoliberal”, que destroçou planos sociais de grande envergadura. Nossos governos vêm obtendo êxitos indiscutíveis na luta contra a pobreza e impulsionando como nunca antes o processo de integração. O desafio é seguir insistindo e aprofundando as mudanças nas atuais condições de agravamento da crise. 4. Ao crescimento das forças democráticas, populares, progressistas e de esquerda na América Latina e Caribe, a direita e o imperialismo respondem de diversas formas, dentre outras com a agressão sistemática pelo governo de Estados Unidos, a manipulação e criminalização das demandas sociais, para gerar enfrentamentos violentos e uma contraofensiva golpista. 5. Deve-se considerar que: na Bolívia houve tentativas de golpe e uma de magnicidio, além do motim policial que recentemente foi derrotado pela ação dos movimentos sociais; em 2002, o presidente Chávez foi mantido fora do poder por 47 horas; em junho de 2009, o Presidente Zelaya foi deposto; em setembro de 2010, houve tentativa de golpe de Estado no Equador que não se consolidou graças à imediata mobilização do povo equatoriano e à rápida atuação da comunidade internacional. Há apenas poucas semanas, o Presidente paraguaio, Fernando Lugo, foi derrubado. O golpe de Honduras e a deposição de Fernando Lugo mostram que a direita está disposta a utilizar vias violentas e a manipulação das vias institucionais para derrubar governos que não sirvam aos seus interesses. 6. Em todos os casos, a direita desencadeou ampla campanha mediática instrumentada internacionalmente mediante poderosos consórcios comunicacionais. A atitude dos meios de comunicação da direita é tema recorrente da agenda política regional. Grandes corporações desenvolvem planos de desestabilização e movimentam-se como fatores de poder, capazes de colocarem-se acima dos poderes públicos que emanam do sufrágio universal. Grandes empresas mediáticas desafiam dia a dia a democracia e suas instituições. Esse talvez seja um dos maiores desafios que os governos da esquerda têm a enfrentar: democratizar a comunicação. 7. Ao mesmo tempo, recentemente se registraram vitórias eleitorais significativas, como a de Dilma Rousseff no Brasil, Daniel Ortega na Nicarágua, Cristina Fernández de Kirchner na Argentina e de Danilo Medina na República Dominicana, triunfos contundentes que falam do avanço das forças progressistas e de esquerda. 8. As Presidentas Dilma Rousseff e Cristina Fernández de Kirchner, com o Presidente José Mujica, há poucos dias, decidiram suspender do MERCOSUL o governo golpista de Paraguai até que seja restaurada a democracia naquele país; ao mesmo tempo, aprovaram a incorporação da Venezuela como membro pleno do bloco político e econômico mais importante desta parte do mundo. 9. Deve-se prever que a incorporação do Equador ao Mercado Comum do Sul seja aprovada em tempo relativamente curto , com o que se cria nova realidade. Com a incorporação da Venezuela, o bloco do sul ganha saída para o Pacífico e já está no Caribe. 10. Assim, os Chefes de Estado dos países que integram a Comunidade Andina de Nações tentam dar um salto na trilha da integração, embora tenham de superar enormes dificuldades. 11. Por outra parte, a Aliança Bolivariana dos Povos de Nuestramérica, ALBA, vem conjugando políticas econômicas comuns como o Sucre [moeda], o Fundo de Reservas, Petrocaribe e, recentemente, seus Presidentes decidiram criar uma zona econômica ALBA, que marca um novo momento nesse esforço para integrar Antigua e Barbuda, Bolívia, Cuba, Equador, Dominica, Nicarágua, San Vicente e as Granadinas, e Venezuela. 12. A ampliação dos esforços da União de Nações Sul-americanas, UNASUL, surpreende e dá alento renovado. Um conjunto de iniciativas integradoras foram postas em andamento, como a construção de uma política de defesa na qual se vinculam a defesa do desenvolvimento e a preservação da América Latina como zona de paz, livre de armamento nuclear. Ao mesmo tempo, registram-se avanços na construção de uma nova arquitetura econômica que parta do critério da complementaridade, cooperação, respeito à soberania e à solidariedade. 13. Com a reunião constitutiva da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, CELAC, realizada em Caracas, em dezembro de 2011, marca-se um ponto de inflexão no processo integrador. O acordo subscrito marca o início de um programa de trabalho que busca os pontos de encontro que põem em destaque a necessidade de unidade, dado que todos reconhecem que os grandes problemas comuns só têm saída com a integração. 14. Por outra parte, ante o fracasso da Área de Livre Comércio das Américas, ALCA, e os limitados sucessos dos Tratados de Livre Comércio bilaterais, o imperialismo busca debilitar os mecanismos de integração latino e sul-americanos, impulsionando a Aliança do Pacífico. 15. A integração tem base política, responde a uma realidade em mutação; e tem base material, que são as forças produtivas e os recursos naturais abundantes e diversos, os bosques, o petróleo, minerais de todo tipo, terras raras, o gás, amplas extensões de terra para o cultivo e a criação de animais, e, o mais importante, a integração conta com a diversidade cultural e humana de mais de 500 milhões de pessoas. O processo de integração deve buscar políticas comuns para o manejo e uso soberano dos recursos naturais – o que inclui a defesa da água e o reconhecimento de que essa defesa é direito humano fundamental. 16. Um tema transcendente, que faz parte da agenda do Foro de São Paulo, é a necessidade de contar com uma política comum de desenvolvimento sustentável, com ciência e tecnologia, desenvolvimento humano inclusivo, com prioridade para as mulheres, a infância e a juventude. 17. Devido à magnitude dos recursos naturais renováveis e não renováveis que existem em nossa região, temos que reforçar a defesa do meio ambiente, empreender uma via de desenvolvimento industrial, tecnológico e científico de grande envergadura e fazer respeitar os direitos dos povos originários e seu direito a serem ouvidos em consulta. 18. A direita tenta apropriar-se simbolicamente do discurso em defesa do meio ambiente, esquecendo as políticas neoliberais de depredação da Mãe Terra e a dívida ambiental que o capitalismo tem com o mundo. Há intensa luta pelo controle dessas riquezas. 19. Os partidos de esquerda, populares, progressistas e democráticos do Foro de São Paulo reafirmam seu apoio às relações de amizade, fraternidade, cooperação solidária, integracionista e de absoluto respeito à soberania dos países, que o governo da República Bolivariana de Venezuela promove. Nessa linha, rejeitam firmemente as infundadas acusações de intervencionismo/ingerencionismo que o ilegítimo governo do Paraguai formulou contra do Chanceler Nicolás Maduro. 20. Os desafios táticos e estratégicos do Foro de São Paulo são enormes. Para enfrentá-los com êxito, contamos com a força manifestada pelo comparecimento a esse 18º Encontro, do qual participam 800 delegados e delegadas, provenientes de 100 partidos e organizações de 50 países dos cinco continentes. 21. Durante os dias 4, 5 e 6 de julho, essa potente delegação cumpriu dezenas de atividades, entre as quais se destacam: as reuniões das Secretarias Regionais do Cone Sul, Andino-Amazónica e Meso-América e o Caribe; as oficinas temáticas de Afrodescendentes; Autoridades Locais e Subnacionais; Defesa; Democratização da Informação e da Comunicação; Fundações, Escolas ou Centros de Capacitação; Meio Ambiente e Mudança Climática; Migrações; Movimentos Sindicais; Movimentos Sociais e poder popular; Povos originários; Seguridade Agroalimentar; Seguridade e Narcotráfico; Trabalhadores de Arte e Cultura; União e integração Latino-americana e Caribenha. O I Encontro das Mulheres, o IV Encontro das Juventudes, o 2º Seminário sobre Governos Progressistas e de Esquerda, e o Seminário sobre Paz, Soberania Nacional e Descolonização. 22. A relatoria de cada uma dessas reuniões e atividades, os respectivos resolutivos, o Documento Base, assim como as moções e a Declaração Final serão publicadas nos Anais do 18º Encontro. Entre estas resoluções, há alguns temas que aqui destacamos. 23. Os partidos membros do Foro de São Paulo, de esquerda, progressistas e anti-imperialistas reconhecem que: a presença e participação das mulheres nos diferentes setores da sociedade, incluindo os partidos, são imprescindíveis para seu fortalecimento, crescimento e desenvolvimento. Não é possível construir o socialismo (ou uma sociedade socialista, justa, equitativa) se não se modificam os papéis e padrões tradicionalmente atribuídos e assumidos de formas diferentes, historicamente, por homens e mulheres, e se não se criam condições necessárias para desenterrar as bases da discriminação contra a mulher e que ambos participem em condições de igualdade, tanto no âmbito público como privado. Continua a ser um desafio a incorporação de um correto enfoque de gênero e da agenda das mulheres de esquerda e revolucionarias nas políticas, programas e ações que se desenham na luta contra a direita e o capitalismo depredador e patriarcal, e a construção do socialismo. 24. Desde a constituição do Foro, o reconhecimento da soberania da República Argentina sobre as Malvinas é claro e contundente. O 18º Encontro acompanha a solicitação para que se abram negociações diplomáticas entre Argentina e Reino Unido, e reitera o protesto latino-americano contra ações empreendidas pelo governo britânico ha em zona declarada livre de armas nucleares. Assim também, o Foro de São Paulo condena a situação de colonialismo na qual se encontram ainda várias nações latino-americanas e caribenhas. Rechaçamos igualmente todas as tentativas de recolonização. 25. O Foro de São Paulo respalda a reivindicação do povo e do governo da Bolívia, de uma saída soberana para o Oceano Pacífico. 26. Os partidos e movimentos agrupados no Foro e outros movimentos sociais temos a tarefa de empreender todas as iniciativas possíveis para que o tema da independência de Puerto Rico converta-se em ponto essencial da agenda da Organização das Nações Unidas. É inconcebível que, no século 21, persistam enclaves coloniais em nossa região e no mundo. Unimos-nos ao clamor pela libertação do prisioneiro político puertorriquenho Oscar López Rivera, mantido preso em prisões dos EUA já há mais de 31 anos, pelo único ‘delito’ de lutar pela independência de sua pátria. 27. Este Encontro deve implementar novas tarefas e um plano de ação conjunto contra o bloqueio norte-americano a Cuba e pela liberdade dos Cinco Heróis, bandeira comum de todos e todas. 28. O Foro de São Paulo expressa seu apoio ao povo da Nicarágua e a seu governo, ante a ameaça de embargo financeiro. O embargo se caracterizaria se os EUA negassem a dispensa que, todos os anos, tem de ser solicitada. A exigência opera, anualmente, como arbitrário instrumento de chantagem, que os EUA usam, quando exercem seu poder de veto nos organismos multilaterais. Os EUA insistem na pretensão de impor decisões políticas que são direito e competência exclusivos dos nicaraguenses, no exercício de sua soberania. 29. O Foro de São Paulo expressa seu apoio ao povo boliviano e a seu presidente, companheiro Evo Morales Ayma, na defesa da democracia e do processo de mudanças profundas que encabeça, com os movimentos sociais e setores populares. 30. O Foro de São Paulo expressa seu apoio e ativa solidariedade ao povo paraguaio, à Frente Guasú e à Frente pela Defesa da Democracia, e ao movimento camponês mobilizado, desconhecendo o governo de facto encabeçado pelo golpista Federico Franco. Anunciamos ações continentais a favor da democracia, do respeito à vontade popular manifesta em abril de 2008 e pela unidade e integração dos povos e governos de América Latina e Caribe. 31. O Foro de São Paulo expressa sua solidariedade com o povo haitiano, em sua luta pela recuperação da dignidade e da soberania nacional. Só a consolidação das estruturas estatais permitirá que o Haiti supere a crise pela qual passa. O êxito desse processo exige o apoio dos governos de esquerda e dos povos latino-americanos e caribenhos, assim como a retirada programado das forças estrangeiras do território haitiano. A superação da situação de crise que o Haiti vive exige nosso apoio tecnológico, humanitário e material. 32. O Foro de São Paulo expressa seu apoio ao processo de paz na Colômbia, onde continua a luta em busca de solução política para o conflito armado, que crie paz com justiça social e por um novo modelo econômico e social que garanta os direitos humanos e a proteção da natureza, e decide constituir uma comissão representativa dos movimentos e partidos políticos do Foro de São Paulo, para que, de comum acordo com os partidos e movimentos colombianos, visite o país e proponha uma agenda de estudo, contato e apoio com vistas a construir a unidade. 33. O Foro de São Paulo manifesta sua solidariedade com a Frente Ampla da Guatemala, como referência para a esquerda guatemalteca, e saúda a convicção de seus partidos integrantes – WINAQ, ANN e URNG – de continuar a trabalhar pela unidade da esquerda guatemalteca, na busca de alianças com forças democráticas e progressistas. Por isso mesmo, condena o uso da força repressiva pelo governo guatemalteco contra os setores populares. 34. O Foro de São Paulo expressa sua solidariedade com a luta do povo de Honduras, por respeito aos direitos humanos. Oferece seu total apoio à companheira Xiomara Castro De Zelaya candidata à Presidência da República de Honduras, como candidata de consenso das forças da Resistência. 35. O Foro de São Paulo expressa seu total apoio e solidariedade com a luta do povo Saharauí em defesa de sua autodeterminação, soberania e independência nacional. 36. O Foro de São Paulo expressa seu total apoio à luta pela soberania e autodeterminação da Palestina e seu ingresso à ONU, como membro de pleno direito. 37. Opomo-nos firme e rigorosamente a qualquer intervenção armada externa na Síria e no Irã. Convocamos as forças progressistas e de esquerda, a defender a paz naquela região. 38. Nos próximos meses, haverá várias eleições – em novembro de 2012, na Nicarágua, haverá eleições municipais; em fevereiro de 2013, haverá eleições gerais no Equador, onde o Presidente Rafael Correa está sendo apresentado para a reeleição. O Foro de São Paulo manifesta seu compromisso de solidariedade e total apoio. 39. O Foro de São Paulo convoca também para a luta em defesa da democracia no México. Uma vez mais, a direita mexicana recorreu à manipulação, pelos meios de comunicação, com divulgação de pesquisas viciosas, massiva compra de votos e outros tipos de fraudes que distorcem o resultado da eleição presidencial realizada dia 1º de julho. Tudo isso, para tentar impor na presidência um candidato divorciado dos melhores interesses do povo mexicano. O Foro de São Paulo declara que é indispensável que se investiguem a fundo todas as denúncias de fraude apresentadas pelos partidos progressistas. 40. A principal batalha dos próximos meses é a disputa eleitoral na Venezuela, marcada para 7/10/2012. A campanha iniciou-se com potentes mobilizações populares em apoio à candidatura de Chávez e ao seu programa. Todas as pesquisas de intenção de voto indicam clara vantagem de cerca de 20 pontos, a favor do candidato Hugo Chávez sobre o candidato da direita. A poucos meses dos comícios, a direita já dá como certa a vitória de Hugo Chávez. Por isso, a mesma direita participa do processo eleitoral, mas tentando criar condições para ignorar o resultado e o Conselho Nacional Eleitoral. Ante essa situação, o Foro de São Paulo convoca as forças progressistas e de esquerda a apoiar a democracia venezuelana e a rechaçar as tentativas de desestabilização que surjam pela direita. 41. O 18º Encontro do Foro de São Paulo conclui, convocando os povos a lutar contra o neoliberalismo e todas as guerras, a construir um mundo de paz, democracia e justiça social. Outro mundo é possível e nós, companheiros e companheiras, o estamos construindo: um mundo socialista. ++++++++++++++++++++++++++++++++++

domingo, 22 de julho de 2012

Dom Eugênio Sales era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura

por José Ribamar Bessa Freire O tratamento que a mídia deu à morte do cardeal dom Eugenio Sales, ocorrida na última segunda-feira, com direito à pomba branca no velório, me fez lembrar o filme alemão “Uma cidade sem passado”, de 1990, dirigido por Michael Verhoven. Os dois casos são exemplos típicos de como o poder manipula as versões sobre a história, promove o esquecimento de fatos vergonhosos, inventa despudoradamente novas lembranças e usa a memória, assim construída, como um instrumento de controle e coerção. Comecemos pelo filme, que se baseia em fatos históricos. Na década de 1980, o Ministério da Educação da Alemanha realiza um concurso de redação escolar, de âmbito nacional, cujo tema é “Minha cidade natal na época do III Reich”. Milhares de estudantes se inscrevem, entre eles a jovem Sônia Rosenberger, que busca reconstituir a história de sua cidade, Pfilzing – como é denominada no filme – considerada até então baluarte da resistência antinazista. Mas a estudante encontra oposição. As instituições locais de memória – o arquivo municipal, a biblioteca, a igreja e até mesmo o jornal Pfilzinger Morgen – fecham-lhe suas portas, apresentando desculpas esfarrapadas. Ninguém quer que uma “judia e comunista” futuque o passado. Sônia, porém, não desiste. Corre atrás. Busca os documentos orais. Entrevista pessoas próximas, familiares, vizinhos, que sobreviveram ao nazismo. As lembranças, contudo, são fragmentadas, descosturadas, não passam de fiapos sem sentido. A jovem pesquisadora procura, então, as autoridades locais, que se recusam a falar e ainda consideram sua insistência como uma ameaça à manutenção da memória oficial, que é a garantia da ordem vigente. Por não ter acesso aos documentos, Sônia perde os prazos do concurso. Desconfiada, porém, de que debaixo daquele angu tinha caroço – perdão, de que sob aquele chucrute havia salsicha – resolve continuar pesquisando por conta própria, mesmo depois de formada, casada e com filhos, numa batalha desigual que durou alguns anos. Hostilizada pelo poder civil e religioso, Sônia recorre ao Judiciário e entra com uma ação na qual reivindica o direito à informação. Ganha o processo e, finalmente, consegue ingressar nos arquivos. Foi aí, no meio da papelada, que ela descobriu, horrorizada, as razões da cortina de silêncio: sua cidade, longe de ter sido um bastião da resistência ao nazismo, havia sediado um campo de concentração. Lá, os nazistas prenderam, torturaram e mataram muita gente, com a cumplicidade ou a omissão de moradores, que tentaram, depois, apagar essa mancha vergonhosa da memória, forjando um passado que nunca existiu. Os documentos registraram inclusive a prisão de um judeu, denunciado na época por dois padres, que no momento da pesquisa continuavam ainda vivos, vivíssimos, tentando impedir o acesso de Sônia aos registros. No entanto, o mais doloroso, era que aqueles que, ontem, haviam sido carrascos, cúmplices da opressão, posavam, hoje, como heróis da resistência e parceiros da liberdade. Quanto escárnio! Os safados haviam invertido os papéis. Por isso, ocultavam os documentos. Deus tá vendo E é aqui que entra a forma como a mídia cobriu a morte do cardeal dom Eugênio Sales, que comandou a Arquidiocese do Rio, com mão forte, ao longo de 30 anos (1971-2001), incluindo os anos de chumbo da ditadura militar. O que aconteceu nesse período? O Brasil já elegeu três presidentes que foram reprimidos pela ditadura, mas até hoje não temos acesso aos principais documentos da repressão Se a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio último pela presidente Dilma Rousseff, pudesse criar, no campo da memória, algo similar à operação “Deus tá vendo”, organizada pela Policia Civil do Rio Grande do Sul, talvez encontrássemos a resposta. Na tal operação, a Polícia prendeu na última quinta-feira quatro pastores evangélicos envolvidos em golpes na venda de automóveis. Seria o caso de perguntar: o que foi que Deus viu na época da ditadura militar? Tem coisas que até Ele duvida. Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória do cardeal Eugênio Sales, na qualidade de repórter da ASAPRESS, uma agência nacional de notícias arrendada pela CNBB em 1967. Também cobri reuniões e assembleias da Conferência dos Bispos para os jornais do Rio – O Sol, O Paiz e Correio da Manhã, quando dom Eugênio era Arcebispo Primaz de Salvador. É a partir desse lugar que posso dar um modesto testemunho. bispos que lutavam contra as arbitrariedades eram Helder Câmara, Waldir Calheiros, Cândido Padin, Paulo Evaristo Arns e alguns outros mais que foram vigiados e perseguidos. Mas não dom Eugênio, que jogava no time contrário. Um dos auxiliares de dom Helder, o padre Henrique, foi torturado até a morte em 1969, num crime que continua atravessado na garganta de todos nós e que esperamos seja esclarecido pela Comissão da Verdade. Padres e leigos foram presos e torturados, sem que escutássemos um pio de protesto de dom Eugênio, contrário à teologia da libertação e ao envolvimento da Igreja com os pobres. O cardeal Eugenio Sales era um homem do poder, que amava a pompa e o rapapé, muito atuante no campo político. Foi ele um dos inspiradores das “candocas” – como Stanislaw Ponte Preta chamava as senhoras da CAMDE, a Campanha da Mulher pela Democracia. As “candocas” desenvolveram trabalhos sociais nas favelas exclusivamente com o objetivo de mobilizar setores pobres para seus objetivos golpistas. Foram elas, as “candocas”, que organizaram manifestações de rua contra o governo democraticamente eleito de João Goulart, incluindo a famigerada “Marcha da família com Deus pela liberdade”, que apoiou o golpe militar, com financiamento de multinacionais, o que foi muito bem documentado pelo cientista político René Dreifuss, em seu livro “1964: A Conquista do Estado” (Vozes, 1981). Ele teve acesso ao Caixa 2 do IPES/IBAD.Nós, toda a torcida do Flamengo e Deus que estava vendo tudo, sabíamos que dom Eugênio era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura. Se não sofro de amnésia – e não sofro de amnésia ou de qualquer doença neurodegenerativa – posso garantir que na época ele nem disfarçava, ao contrário manifestava publicamente orgulho do livre trânsito que tinha entre os militares e os poderosos. Quem tem dúvidas... basta pesquisar os textos assinados por ele no JB e n’O Globo” – escreve a jornalista Hildegard Angel, que foi colunista dos dois jornais e avaliou assim a opção preferencial do cardeal: “A Igreja Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio Salles, foi cada vez mais se distanciando dos pobres e se aproximando, cultivando, cortejando as estruturas do poder. Isso não poderia acabar bem. Acabou no menor percentual de católicos no país: 45,8%...” Portões do Sumaré Por isso, a jornalista estranhou – e nós também – a forma como o cardeal Eugenio Sales foi retratado no velório pelas autoridades. Ele foi apresentado como um combatente contra a ditadura, que abriu os portões da residência episcopal para abrigar os perseguidos políticos. O prefeito Eduardo Paes, em campanha eleitoral, declarou que o cardeal “defendeu a liberdade e os direitos individuais”. O governador Sérgio Cabral e até o presidente do Senado, José Sarney, insistiram no mesmo tema, apresentando dom Eugênio como o campeão “do respeito às pessoas e aos direitos humanos”. Não foram só os políticos. O jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta escreveu que dom Eugênio chegou a abrigar no Rio “uma quantidade enorme de asilados políticos”, calculada, por baixo, numa estimativa do Globo, em “mais de quatro mil pessoas perseguidas por regimes militares da América do Sul”. Outro jornalista, José Casado, elevou o número para cinco mil. Ou seja, o cardeal era um agente duplo. Publicamente, apoiava a ditadura e, por baixo dos panos, na clandestinidade, ajudava quem lutava contra. Só faltou arranjarem um codinome para ele, denominado pelo papa Bento XVI como “o intrépido pastor”. Seria possível acreditar nisso, se o jornal tivesse entrevistado um por cento das vítimas. Bastaria 50 perseguidos nos contarem como o cardeal com eles se solidarizou. No entanto, o jornal não dá o nome de uma só – umazinha – dessas cinco mil pessoas. Enquanto isto não acontecer, preferimos ficar com o corajoso depoimento de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart, foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, procurou o cardeal e bateu com a cara na porta do palácio episcopal. Segundo Hilde, dom Eugênio “fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos ‘subversivos’ que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe Zuzu Angel (e isso está documentado)”. Ela acha surpreendente que os jornais queiram nos fazer acreditar “que ocorreu justo o contrário!”, como no filme “Uma cidade sem passado”. Mas não é tão surpreendente assim. O texto de Hildegard menciona a grande habilidade, em vida, de dom Eugenio, em “manter ótimas relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente com artigos”. As azeitadas relações com os donos dos jornais e com alguns jornalistas em postos-chave continuaram depois da morte, como é possível constatar com a cobertura do velório. A defesa de dom Eugênio, na realidade, funciona aqui como uma autodefesa da mídia e do poder. Os jornais elogiaram, como uma virtude e uma delicadeza, o gesto do cardeal Eugenio Sales que cada vez que ia a Roma levava mamão-papaia para o papa João Paulo II, com o mesmo zelo e unção com que o senador Alfredo Nascimento levava tucumã já descascado para o café da manhã do então governador Amazonino Mendes. São os rituais do poder com seus rapapés. “Dentro de uma sociedade, assim como os discursos, as memórias são controladas e negociadas entre diferentes grupos e diferentes sistemas de poder. Ainda que não possam ser confundidas com a ‘verdade’, as memórias têm valor social de ‘verdade’ e podem ser difundidas e reproduzidas como se fossem ‘a verdade’” – escreve Teun A. van Dijk, doutor pela Universidade de Amsterdã. A “verdade” construída pela mídia foi capaz de fotografar até “a presença do Espírito Santo” no funeral. Um voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, 59 anos, corretor de imóveis, no caminho ao velório de dom Eugênio, passou pelo abatedouro, no Engenho de Dentro, comprou uma pomba por R$ 25 e a soltou dentro da catedral. A ave voou e posou sobre o caixão: “Foi um sinal de Deus, é a presença do Espírito Santo” – berraram os jornais. Parece que vale tudo para controlar a memória, até mesmo estabelecer preço tão baixo para uma das pessoas da Santíssima Trindade. É muita falta de respeito com a fé das pessoas. 'A mídia deve ser pensada não como um lugar neutro de observação, mas como um agente produtor de imagens, representações e memória” nos diz o citado pesquisador holandês, que estudou o tratamento racista dispensado às minorias étnicas pela imprensa europeia. Para ele, os modos de produção e os meios de produção de uma imagem social sobre o passado são usados no campo da disputa política. Nessa disputa, a mídia nos forçou a fazer os comentários que você acaba de ler, o que pode parecer indelicadeza num momento como esse de morte, de perda e de dor para os amigos do cardeal. Mas se a gente não falar agora, quando então? Stuart Angel e os que combateram a ditadura merecem que a gente corra o risco de parecer indelicado. É preciso dizer, em respeito à memória deles, que Dom Eugênio tinha suas virtudes, mas uma delas não foi, certamente, a solidariedade aos perseguidos políticos para quem os portões do Sumaré, até prova em contrário, permaneceram fechados. Que ele descanse em paz! P.S: O jornalista amazonense Fábio Alencar foi quem me repassou o texto de Hildegard Angel, que circulou nas redes sociais. O doutor Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, historiador e professor da Universidade Federal do Amazonas, foi quem me indicou, há anos, o filme “Uma cidade sem passado”. Quem me permitiu discutir o conceito de memória foram minhas colegas doutoras Jô Gondar e Vera Dodebei, organizadoras do livro “O que é Memória Social” (Rio de Janeiro: Contra Capa/ Programa de Pós- Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005). Nenhum deles tem qualquer responsabilidade sobre os juízos por mim aqui emitidos. José Ribamar Bessa Freire e professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Publicado originalmente em Substantivo Plural e retirado do jornal Sul 21.

sábado, 21 de julho de 2012

Rota baseada nos caminhos aberto pelos revolucionários de 1959

Por Thays Santos Em visita a Cuba, cinco pernambucanos – dos quais três amigos do Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML) – fizeram rotas “alternativas” às rotas turísticas normalmente apresentadas aos visitantes. Optaram por percorrer os íngremes caminhos da revolução abertos por Fidel, Che e Raúl, especialmente nas quebradas da famosa Sierra Maestra. De volta, depois de 4.570 quilômetros percorridos, trouxeram ao CCML as suas percepções do que viram e sentiram ao lado do bravo povo cubano. Araújo, Jaime, Rosa, Lucimar e Angélica passaram 32 dias andando e conversando com o povo por todo o território de Cuba e, entre as impressões mais marcantes, destacaram as de que a revolução permitiu de fato a independência daquele povo que luta de forma abnegada e permanente em defesa das conquistas da sua revolução. Entre as andanças pelo país, os amigos não poderiam deixar de participar da marcha do 1º de Maio na Praça da Revolução, que este ano teve como tema “Preservar e aperfeiçoar o socialismo”. Registraram na marcha, ainda, manifestações de apoio aos cinco heróis cubanos prisioneiros do império norte-americano. Um país de dimensões geográficas pequenas, com um território semelhante ao de Pernambuco, com uma economia extremamente limitada que tem por importante suporte a exploração turística e que sofre um embargo econômico de mais de meio século, imposto pala maior potência militar da terra, os Estados Unidos, consegue manter o seu povo com um alto índice de educação, cultura, prática esportiva e um grande respeito à cidadania e ao sentimento de solidariedade humana. A mulher é tratada, como de fato esperávamos numa nova sociedade, com dignidade, liberdade e respeito, podendo andar nas ruas a qualquer hora do dia ou da noite sem medo dos assédios ou de outros tipos de violência tão comuns em nossa sociedade capitalista. São, de um modo geral, baixíssimos os índices de violência – para se ter uma ideia mais clara, é indispensável estudar o significado do registro de oito assassinatos por ano em todo o país, com uma população de 11 milhões de habitantes, situado a 90 milhas dos EUA, onde existem as maiores taxas de violência e a maior população carcerária do mundo. Ao indagar sobre a condição da juventude, daqueles que não participaram da tomada do poder pela revolução, suas condições, seus sentimentos, suas atitudes perante a ideologia da revolução socialista, tendo em vista tantas transformações sociais e tecnológicas no mundo, afirmaram os companheiros existirem fortes exemplos de “homens novos” que servem de referência para a juventude, como são os cinco patriotas cubanos presos nos EUA por defenderem a revolução dos ataques terroristas da extrema direita cubana residente em Miami. À juventude e às crianças é dada especial atenção em relação à educação, à cultura e aos esportes. Desde o nascimento, quando é concedida licença-maternidade de um ano, sendo os seis primeiros meses concedidos diretamente à mãe e os seis meses restantes sob decisão do casal, quando estes em conjunto decidem quem cuidará da criança; posteriormente, a partir de 1 e até os 5 anos de idade, às crianças é assegurado o acesso às creches durante todo o dia. Na escola regular, as crianças passam o dia. Têm acesso assegurado às universidades, onde ingressam avaliadas por seu mérito, além de terem garantido o primeiro emprego com a conclusão de seus cursos. Têm ainda alto índice de acesso à cultura e esporte, em que têm encaminhamento assegurado às escolas especializadas, de acordo com seu desempenho. Não é diferente o cuidado com o acesso à escola, que é garantido, sendo, inclusive, os transportes de melhores condições destinados para este fim. Ao final da visita ao CCML, os companheiros transmitiram o sentimento de “terem retornado de Cuba mais socialistas do que quando partiram daqui” e guardaram o sentimento de que a revolução cubana, mesmo com tantas conquistas importantes, não é um paraíso, pois tem vários problemas de ordem econômica e política, em parte devidos ao terrível bloqueio econômico imperialista dos EUA, há mais de 50 anos. Entre outros problemas, que não sabemos ainda como serão resolvidos: as reformas econômicas recentes, ao permitirem a exploração privada de algumas atividades (restaurantes, pousadas) e a contratação de trabalhadores por esses neocapitalistas, reintroduziram em Cuba a apropriação privada da mais-valia nessas atividades. Terão os cubanos a sabedoria de, no seu devido tempo, corrigir essas distorções, tal como souberam fazer os bolcheviques na época da Nova Economia Política na Rússia? Bem, esta é uma grande interrogação, mas, enquanto não a resolvemos, é certo afirmar que os povos de toda a América têm muito a aprender com o revolucionário povo cubano.

Emir Sader: o "mensalão" é "operação de marketing" da direita midiática e "golpe branco fracassado" das elites oposicionistas

O "mensalão" como operação de marketing e como golpe branco fracassado por Emir Sader Mais além dos fatos concretos, a operação de marketing do “mensalão” merece fazer parte dos manuais de marketing politico. Nunca na história brasileira uma criação dessa ordem foi capaz de projetar e consolidar imagens na cabeça das pessoas, que as impedem de entender o fenômeno e avaliá-lo na sua realidade concreta, porque sua imaginação, seus instintos, já estão vacinados e conquistados pelas imagens projetadas pela campanha. Uma jornalista da empresa da “ditabranda” entrevistou um dia um parlamentar, presidente de um dos partidos da base aliada do governo, que teve uma das pessoas indicadas pelo partido para um cargo governamental, pego em flagrante , filmado, com som, em operação de suborno. O partido que o indicou – PTB – considerou que nao recebeu o apoio devido por parte do governo e seu presidente resolveu ligar o ventilador. Disse que o governo pagava um “mensalão” a uma porção de gente. O jornal imediatamente cunhou a expressão e deu inicio àquele tipo de campanha cuja reiteração, por todos os órgãos da mídia privada, transformou a insinuação numa verdade supostamente incontestável. O que ficou na imaginação das pessoas era literalmente que indivíduos chegavam no Palácio do Planalto com malas vazias, entravam numa sala contigua à do Lula, enchiam de dólares e saiam, mensalmente. A operação de marketing tornou-se um caso de manual de marketing, pelo seu sucesso. A partir a insinuação de um politico sem nenhuma respeitabilidade, se dava inicio à campanha, em que a oposição – liderada pela mídia privada – considerava que terminaria com o governo Lula. Tudo foi se dando como bola de neve. O próprio jornal da família que emprestou carros para órgãos repressivos da ditadura cunhou o selo “mensalão”, com o qual cobria todas as atividades políticas nacionais. Até a eleição interna do PT foi incluída nessa rubrica. Condenou-se moral e politicamente a dirigentes e políticos ligados ao governo, com o objetivo de ferir de morte o governo Lula, como repetição muito similar à crise de 1954, que terminou com o suicídio de Getúlio. Dois então membros da equipe do Lula chegaram – conforme entrevista posterior de Gilberto Carvalho – a ir ao Lula, levando a proposta opositora: todas as acusações seriam retiradas, inclusive o suposto impeachment, contanto que Lula renunciasse a se candidatar à reeleição. Tinham receio de propor impeachment, pelas repercussões populares que poderia ter, então preferiam usá-lo como ameaça. O tiro saiu pela culatra. Lula reagiu dizendo que sairia às ruas para defender seu mandato, convocava os movimentos populares a reagir à tentativa de golpe branco. A oposição, depois da cassação do Zé Dirceu, jogava, partindo do que considerava evidências contra o governo, com a vulnerabilidade do governo, alegando que Lula sabia dos fatos. Não foi o que aconteceu. Conseguiram várias cassações, conseguiram diminuir o apoio do Lula mas, principalmente, deram a pauta política do país. O caso permitia desqualificar o Estado, o governo Lula, o PT. O Estado, por definição, para a direita, é corrupto ou corruptível. O governo Lula, o PT e os sindicatos teriam “tomado de assalto ao Estado” e imposto seus interesses particulares. O diagnóstico foi retirado diretamente do arsenal neoliberal. Os governos de esquerda no Brasil – Getúlio, Jango, Lula – não terminariam seus mandatos. Fracassado o governo Lula, se cumpriria o prognóstico de um ministro da ditadura: “Um dia o PT vai ter que ganhar, vai fracassar, aí vamos poder dirigir o país com tranquilidade”. Sob a forma do impeachment ou da renúncia de Lula a disputar um segundo mandato ou, ainda, com sua eventual derrota, asfixiado pela oposição – que já havia dito que sangraria o governo, até derrotá-lo nas eleições de 2006 -, se daria um golpe branco e a esquerda estaria desmoralizada e derrotada por um longo período. Mas não contavam com a capacidade de reação de Lula e com os efeitos das políticas sociais, já em marcha. O povo, com a consciência de que era o seu governo e que sua eventual derrubada faria com que ele, povo, pagasse o preço mais alto da operação da direita, reagiu. A oposição foi pega de surpresa pelas reações, que levaram à derrota da tentativa de derrubar o governo. Mais do que isso, levaram à derrota do candidato da oposição – o duro e puro neoliberal Alckmin –, porque a oposição também foi vitima da sua própria campanha. Como esbravejava o Otavinho, na primeira reunião do comitê de direção da sua empresa: - Onde é que nós erramos? Erraram porque acreditaram que eram onipotentes. Afinal foi a mídia golpista que levou o Getúlio ao suicídio, que promoveu o golpe militar que derrubou o Jango e que, acreditavam, levaria o governo Lula à derrota e a esquerda à desmoralização. Foram derrotados em 2006, em 2010 e tem todas as possibilidades de serem derrotados de novo em 2014. Mais do que isso, tiveram que reconhecer que o prestígio do governo vem de suas politicas sociais, que transformaram democraticamente o Brasil. Que seu poder de fogo como cabeça da oposição é decrescente, que entraram em decadência irreversível. Agora, sete anos depois, tentam ainda explorar o sucesso de marketing, espremendo tudo o que podem, raspando o tacho da panela, buscando voltar a pautar o país em torno do seu sucesso de marketing. Não se dão conta que o país mudou, que desde então perderam duas eleições presidenciais, que o Estado brasileiro reconquistou legitimidade por suas políticas sociais e pela sua ação de resistência à crise internacional? Que as mídias alternativas ganharam um poder de esclarecimento da opinião publica, que não tinham naquele momento? Mas não lhes restam outras armas, senão a de explorar o embolorado tema do “mensalão”, para recordar como já foram bem mais poderosos no passado. Seus outros argumento naufragaram: o Estado mostra eficiência na condução do país, o livre mercado levou o capitalismo internacional à sua pior crise em 80 anos, o povo reconhece que melhorou suas condições de vida, apoia e vota no governo, as alianças internacional da política soberana do Brasil projetam o país no plano internacional como nunca antes, ao mesmo tempo que se mostram muito mais eficazes do que o Tratado de Livre Comércio e a Alca que a direita pregava. Em suma, a história avançou desde 2005 e na direção da derrota da oposição, da criação de uma nova maioria politica no pais. A permanência do monopólio antidemocrático dos meios de comunicação é a arma principal de que a direita dispõe e está disposta a usá-la até o fim, na sua derradeira encenação: o julgamento do “mensalão”. Mas a história e a vida não se fazem com marketing. Nem mesmo mais vender os produtos da sua mídia mercantil eles conseguem. Lula os derrotou, demonstrando que se pode – e se deve – governar o país sem almoçar e jantar com os donos da mídia. Porque Lula não teve medo da mídia, condição –nas suas palavras – para que haja democracia no Brasil. A primeira vez a encenação teve ares de tragédia – não consumada pela oposição. Esta segunda tem ares de farsa. Eles passarão, nós passarinhos. http://opensadordaaldeia.blogspot.com.br/2012/07/emir-sader-o-mensalao-e-um-golpe-branco.html?spref=fb
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