quarta-feira, 9 de março de 2016

Saudação à mulher colombiana


Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, as FARC-EP desejamos saudar e abraçar com enorme carinho a todas as mulheres colombianas.
A nossas guerrilheiras, milicianas, copartidárias e amigas, incansáveis lutadoras e transformadoras sociais, as quais, em todos os âmbitos, constroem e sonham pátria.
As donas de casa, as mulheres independentes, as profissionais, as estudantes, as operárias e empregadas, as desempregadas, as artistas e intelectuais, as campesinas, as afrocolombianas, as indígenas, as trabalhadoras informais, as trabalhadoras sexuais, as avós, as mães, as meninas, as que adotaram sua própria opção de vida.
As milhões de mulheres que lutam, em múltiplos espaços e trincheiras, em campos e cidades, pela construção de um novo país para as gerações vindouras.
Queremos que este 8 de março, às portas de um acordo final de paz, seja o espaço para a reflexão pessoal e coletiva, sobre o papel que acreditamos jogam e devem jogar as mulheres na construção de uma Nova Colômbia.
As mulheres têm desempenhado um papel histórico no atual processo de reconciliação. A enorme força mobilizadora feminina tornou possível a criação da subcomissão de gênero na Mesa de Conversações, um fato nunca antes visto no mundo. Não podia ser de outra forma, já que 40 por cento de nossa força guerrilheira está composta por mulheres que se jogaram todas por um futuro melhor para nossa nação, trabalhando ombro a ombro com seus companheiros de luta.
As FARC-EP nos sentimos orgulhosas de ter feito próprias as agendas construídas por distintas organizações de mulheres colombianas. Atendemos suas histórias, opiniões, críticas e propostas antes de elaborar nossas propostas mínimas. Graças a elas o processo de paz assumiu uma perspectiva de gênero que vai significar um importante ponto de partida para a edificação de uma sociedade sem discriminações, nem violência de gênero ou de outro tipo.
Há que insistir e aprofundar no rechaço e na denúncia a qualquer tipo de violência sexual ou baseada no gênero, seja no marco do conflito ou fora dele. As FARC-EP condenamos a violência contra as mulheres a nos solidarizamos com as vítimas deste flagelo. Nos indigna o crescente número de assassinatos e intimidações contra lideranças femininas de organizações sociais por parte do militarismo, como a recente ameaça pública das Águias Negras, reforçada ademais pela indiferença estatal e midiática. Ela desvela a intransigência dos inimigos da paz frente a uma proposta acertada de transformação social incentivada pelas mulheres.
Observamos com alegria e otimismo o avanço da torrente feminina. Trabalhamos para que a firma do acordo final seja o começo de um país livre de violência machista e da discriminação baseada em gênero, sexo, etnia ou raça. Para que este acordo signifique um reconhecimento real dos direitos da mulher como sujeito político, para conseguir sua participação consciente e massiva na política, assim como o fortalecimento de sua liderança em todos os espaços de luta e de mudança. Sem a participação de mulher não haverá paz nem transformação social.



SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
8 de março de 2016.

Chávez e sua obra serão sempre uma referência para as FARC-EP


Comemoramos hoje o terceiro aniversário da partida do Comandante e Presidente Eterno da República Bolivariana de Venezuela, Hugo Rafael Chávez Frías, personagem histórico de estatura universal, por cuja dolorosa ausência todos os povos do mundo choram.
José Martí tinha assinalado que Bolívar tinha ainda muito o que fazer na América, porém se necessitou de mais de um século, desde a morte do profeta, para que o povo de Venezuela, após ouvir outra vez seu juramento através da boca do bravo campino Hugo Chávez, se levantasse decidido a segui-lo numa nova campanha libertadora que sacudiria até o último rincão do continente.
Chávez, após tentar tomar o céu por assalto naquele 4 de fevereiro de 1992, inspirado pela rebeldia dos venezuelanos contra as imposições do grande capital transnacional, se converteria, com o passar dos anos, no único Presidente da República ratificado por quase duas dezenas de eleições. E em líder indiscutível da justa causa dos povos por justiça, liberdade e democracia, contra o neoliberalismo, a discriminação e a violência imperialista.
Sua presença humana e política chegaria acompanhada da esperança, justo quando, após a derrocada do modelo socialista europeu, os cantos de sereia convidavam à rendição de todas as lutas por um mundo melhor. Nossa América começaria, graças a ele, a protagonizar novamente a marcha pela soberania e dignidade, num florescimento irreprimível que integrou suas raízes históricas ao mais maduro do pensamento econômico e social criado pela humanidade.
Enfrentado ao ódio do grande capital e das oligarquias, Chávez superou todas as emboscadas apelando sempre à consciência dos mais humildes e esquecidos. A imensa força de seu povo e sua solidariedade para com os oprimidos fizeram de sua pátria o exemplo de moral e civilização sonhado pelo Libertador. A três anos de sua morte, os todo-poderosos inimigos dos povos se investem furiosos sobre sua obra e paradigma, obcecados em derrubá-los de qualquer jeito.
Vergonhosos planos e tenebrosas manobras, incluída aquela de considerar a Venezuela como um perigo para a segurança nacional dos Estados Unidos, se somam à campanha reacionária da ultra direita mundial e continental, que pretende destruir o projeto bolivariano com a guerra econômica e a desestabilização institucional. Epígono de Bolívar e Chávez, o governo de Nicolás Maduro se defende com um valor digno de toda solidariedade e apoio. Venezuela não está só.
As FARC-EP integramos a Hugo Chávez Frías e seu legado histórico em nossas mais importantes referências. O talento estratégico do Presidente Chávez haveria de determiná-lo a dedicar ingentes esforços à tarefa de alcançar para a Colômbia a solução política à sua longa confrontação interna. Se, por obra de sua gestão, a paz em nosso país se igualou à paz do continente, nos corresponde dizer com modéstia que só a paz em todo o continente pode tornar possível a paz em Colômbia.
Reservamos para Hugo Chávez, Nicolás Maduro e o povo de Venezuela os mais fraternos agradecimentos pela generosidade e disposição demonstradas amplamente nos fatos, apesar de sua abnegada discrição, para tornar possíveis as conversações de paz que promovemos em Havana com o governo da Colômbia. Estamos convictos de que os filhos de Bolívar não se encontram somente em Venezuela, mas sim em Colômbia, em toda Nossa América e no mundo inteiro.



SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
5 de março de 2016

Delegação da ONU para verificação do cessar-fogo já está em Colômbia

Caracol Radio estabeleceu que estão há duas semanas fazendo trabalho de campo. São 10 pessoas lideradas por Jean Arnault.
Se encontra no país a equipe das Nações Unidas que realiza o trabalho de planejamento para a verificação necessária do cessar-fogo bilateral e da deixação de armas por parte das Farc, segundo fontes oficiais consultadas por Caracol Radio.
Esta equipe liderada pelo enviado especial da ONU ao processo de paz, Jean Arnault, avalia ademais a capacidade do organismo para estabelecer as zonas de concentração dos desmobilizados da guerrilha.
É uma equipe de 10 pessoas que, segundo Caracol pôde confirmar, vai operar a partir de um escritório central localizado em Bogotá.
Também contará com sedes satélites situadas em Valledupar, Bucaramanga, Florencia, Medellín, Villavicencio e San José del Guaviare, de onde se fará a verificação das zonas de concentração, ainda que os pontos poderiam variar dependendo do trabalho de campo.
Os percorridos pelo país para verificar a viabilidade do trabalho nessas cidades, assim como as possíveis zonas onde se poderia fixar aos desmobilizados das Farc iniciarão nas próximas duas semanas.
A equipe de ‘Avanço da Missão de Verificação’ está composta por um chefe, sete oficiais de assuntos políticos, planejamento, planejamento militar, talento humano, aquisição, administração e dois assistentes, um de talento humano e outro de finanças.
Caracol estabeleceu que nos próximos dias chegarão novos integrantes para fazer parte desta avançada e pôr em marcha a missão que foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU no 25 de janeiro último.
A delegação tem o encargo solicitado pelas partes na Mesa de Negociações de Havana de verificar o cessar-fogo bilateral e definitivo, assim como a deixação de armas da guerrilha das Farc.

A rota da paz.

La Habana, Cuba sede dos diálogos de paz, 2 de março de 2016, ano da paz
Com relação ao futuro do processo de paz, como dizemos em língua Kogui dos indígenas de nossa Sierra Nevada, no povoado de Conejo, na Guajira, inebriados do sentimento de paz que inunda o povo da Colômbia, NAHANGUÁ, quer dizer, “Isto é o que estamos pensando”:
Nosso compromisso e decisão política é continuar avançando com todo nosso empenho para a firma de um Acordo final, que dê início ao complexo processo do “Fim do conflito” e à implementação de todo o pactuado. Estamos num momento decisivo do processo, que exige concertar tanto uma definição dos alcances e dos conteúdos específicos do Acordo final como garantir que todo o pactuado possa ser efetivamente materializado. Se trata de que o combinado não fique somente no papel, que nem um catálogo de promessas e de boas intenções.
Estamos pensando que o Acordo Final deve gozar do mais amplo respaldo do povo colombiano.
Semelhantes tarefas não podem ficar em mãos de apenas uma das Partes. Toda ação marcada pelo estigma da unilateralidade é absolutamente inconveniente. Essa é a razão pela qual nos opusemos em diferentes pronunciamentos a iniciativas governamentais como o “Ato Legislativo Especial para a Paz”, o “Plebiscito”, e mais recentemente ao projeto de reforma da “Lei de Ordem Pública”.
A experiência na Mesa tem demonstrado que, quando se atua sem levar em conta a contraparte, a negociação cai em terrenos atoladiços que impedem os avanços e a celeridade que a sociedade colombiana exige. Se, na verdade, queremos responder a tais requerimentos, temos o compromisso de encontrar, já e de maneira conjunta, saídas aos assuntos nodais que ainda faltam por discutir.
Com independência dos temas que compõem os Pontos 3 e 6 da Agenda, é de cardeal importância encontrar de comum acordo a via que garanta a força e o desenvolvimento normativo dos avanços na Mesa.
Aqueles que construíram os acordos são os que estão em melhores condições de interpretar o espírito e a letra dos mesmos, assim como para conceber os projetos institucionais e os recursos fiscais necessários para sua efetiva implementação mediante um plano específico.
Atuar consequentemente constitui uma condição inevitável para aproximar-nos da firma do Acordo final e dar início ao processo do fim do conflito e da implementação, no entendido de que se deverá estabelecer etapas e componentes de materialização verificável. Só assim adquirem sentido os desenvolvimentos já alcançados em torno do cessar-fogo e das Hostilidades, a deixação de armas, o desmonte do paramilitarismo e o trânsito das FARC a movimento político legal, entre outros aspectos.
Por outro lado, não dá mais pra esperar definir bilateralmente o mecanismo de referenda, ademais de que urge garantir a mais ampla participação do povo soberano, e dotar o acordado de suficiente segurança jurídica e política.
Consequentemente, a firma do Acordo final está determinada pelos compromissos aos quais possamos chegar para satisfazer os requerimentos lógicos deste momento do processo. Temos plena disposição para concertar um cronograma e uma folha de rota que nos mostre o caminho para alcançar os mencionados propósitos com a maior brevidade.
Nos assiste a certeza de que, no final deste 2016, os colombianos poderemos contar com um protocolo de paz que nos permita propalar aos quatro ventos: TERMINOU A GUERRA, TERMINOU A GUERRA.



DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

Março 17: Paralisação Cívica antineoliberal

Por Horacio Duque Giraldo
A Paralisação cívica do 17 de março será uma mobilização anti neoliberal e em apoio de um Rol de reclamações mínimo que deve ser negociado com o governo do senhor Santos.
Todos à paralisação e ao protesto para exigir soluções aos agudos problemas sociais que afligem a milhões de colombianos.
Os recentes informes sobre o desemprego em Colômbia indicam a continuada deterioração das condições de vida de milhões de colombianos. De cada 100 pessoas em capacidade de trabalhar, 12 não tem emprego, segundo o dado do Dane. No entanto, as coisas são piores, pois o seguro-desemprego se coloca em cifras superiores. Acrescente-se ao anterior que de cada 100 empregos quase 70 se encontram na informalidade [vendedores ambulantes, vendedores de minutos e outros ofícios sem as condições normais de um trabalho].
O aprofundamento do modelo neoliberal, a crise econômica, fiscal e a generalizada corrupção da casta política são os processos que alavancam a grave situação social de milhões de colombianos pressionados a realizar diversas ações de inconformidade e protesto massivo.
Não obstante que o neoliberalismo fracassou globalmente, em Colômbia a elite dominante insiste em aprofundá-lo mediante outras formas de acumulação vinculadas com o extrativismo mineiro, o agronegócio, as privatizações, o consumismo e os cortes no gasto público, que têm sido focalizados em subsídios sociais.
A crise econômica expressada na queda do PIB, o desabamento das rendas petroleiras, a quebra da indústria [como efeito da enfermidade holandesa], a rampante desvalorização, o déficit comercial e a inflação converteram a economia num inferno.
Sem rendas fiscais certas, todos os planos previstos se orientam a cortes massivos do gasto público social, ao corte dos salários e à reforma tributária para incrementar o IVA.
A que continua intacta é a corrupção das redes politiqueiras santistas [e uribistas] que assaltam sem medida os bens públicos. Reficar, Ecopetrol, o ICBF, são emblemas desta investida delinquente dos grandes maiorais do oficialismo.
Este é o contexto que justifica e impulsa a mobilização social e popular prevista para a quinta-feira 17 de março.
Se trata de uma paralisação de 24 horas, pacífica, pluralista e democrática.
Será uma explosão anti neoliberal que congrega os danos contra múltiplos setores da sociedade.
A mobilização em curso exige direitos essenciais dos colombianos, tais como:
  • Um incremento justo dos salários.
  • Erradicação da corrupção no Instituto Colombiano de Bem-Estar Familiar/ICBF, convertido pela máfia dos Char de Barranquilla numa caverna de quadrilheiros, responsáveis diretos pela fome e morte de centenas de crianças Wayuu da Guajira.
  • Suspender a venda de Isagen e rechaçar qualquer privatização das empresas do Estado, como a projetada alienação de Ecopetrol.
  • Esclarecimento do descomunal roubo de Reficar e castigo exemplar a seus autores, como é o caso do Ministro Cárdenas e do Presidente Echeverri de Ecopetrol.
  • Solução dos graves problemas de Electricaribe.
  • Solução dos difíceis problemas de água potável em Cali, Neiva e outros municípios.
  • Solução dos problemas de Transmilenio em Bogotá e início da construção de primeira linha do Metrô na Capital.
  • Solução da aguda crise fiscal da Universidade do Tolima e outros centros de educação superior à beira do fechamento.
  • Rechaço do modelo neoliberal.
Há que participar massivamente no protesto de 17 de março.
O mesmo é justo e legítimo

quarta-feira, 2 de março de 2016

Cuba e Noruega anunciam Acordo para superar dificuldades recentes

Escrito por Garantidores de Cuba e Noruega 
DECLARAÇÃO DE CUBA E NORUEGA, PAÍSES GARANTIDORES NA MESA DE CONVERSAÇÕES ENTRE O GOVERNO DA COLÔMBIA E AS FARC-EP


Cuba e Noruega, países Garantidores da Mesa de Conversações entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo [FARC-EP], anunciam à opinião pública que, como resultado de consultas realizadas nos últimos dias, com a participação dos Ministros de Relações Exteriores de Cuba e Noruega, se conseguiu um acordo para superar dificuldades recentes e normalizar as conversações entre as partes na Mesa de Havana.
Se continuará cumprindo todos os compromissos adquiridos pelas partes em relação a medidas de desescalada e fomento da confiança.
Os Garantidores saúdam o firme compromisso do Governo da Colômbia e das FARC-EP de continuar avançando para alcançar um imediato acordo final.
Cuba e Noruega agradecem ao Governo da Colômbia e às FARC-EP pela confiança depositada nos garantidores e o espírito construtivo com o qual ambas partes contribuíram à conquista dos positivos resultados que hoje estamos anunciando.
Cuba e Noruega reafirmam seu compromisso de continuar contribuindo para o avanço das conversações e à conquista, no menor tempo possível, de um acordo final para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura em Colômbia.


La Habana, 24 de fevereiro 2016

Reconhecer a contraparte como igual

Por Marco León Calarcá
Hoje afrontamos outra crise, a enfrentamos com igual compromisso pela paz e a confiança de que a sensatez sairá adiante na solução, porém, igual que em todo o processo, se nota a reticência de setores do governo nacional a reconhecer a contraparte como igual...
 
Viemos desde a montanha carregados de compromissos, responsabilidades e, por que não dizer, de esperanças, depois de lustros e décadas, segundo o caso, resistindo ao hegemonismo neoliberal transgressor dos direitos fundamentais de nosso povo, apoiado pela imensa dispersão do império mais poderoso jamais conhecido pela humanidade, com todo seu poder a serviço das elites colombianas em seu propósito de acabar a sangue e fogo conosco e com o que representamos.
O Secretariado das FARC-EP depositou a enorme responsabilidade de auscultar as possibilidades de construir um caminho para a paz com justiça social sobre os ombros de Mauricio Jaramillo, o responsável, Ricardo Téllez, Andrés París, Sandra Ramírez, Carmenza Castillo e os meus.
Já em Cuba, depois da revisão médica, que foi o primeiro, e ainda sentindo as magníficas condições brindadas pela ilha da liberdade, país anfitrião, entre as quais ressalta a tranquilidade, se realizou, a 22 de fevereiro de 2012, a reunião técnica, Jaime Avendaño e Alejandro Eder pelo governo, Andrés e eu pelas FARC-EP, para definir horários e esquemas de trabalho, ademais da primeira proposta negada pelo governo: realizar registro filmográfico e fotográfico para a memória, para a história.
A 23 de fevereiro de 2012 demos início ao Encontro Exploratório. Nós fomos os seis e nos sentamos frente a Sergio Jaramillo, Frank Pearl e Enrique Santos, os plenipotenciários do Governo. Iniciamos o intercâmbio de visões e constatamos o distante que estávamos e o dano feito pela satanização do Caguán, ainda incontável como referente de paz.
Em nossa Delegação primava uma grande desconfiança, porém estávamos persuadidos da necessidade da solução diferente à guerra para a problemática econômica, política, social, cultural e ambiental do país.
E a Delegação do Governo estava convencida de ter à frente a representação de uma guerrilha derrotada no militar e sem norte político, dedicados a bandidagem, enfim, crentes de suas próprias mentiras. Esse foi seu primeiro grande estrellón com a terca realidade no transcurso das reuniões; no entanto, nasce nesta concepção a essência das crises vividas pelo processo em todas as suas etapas, a impossibilidade de reconhecer, por parte de setores das elites, a igualdade das partes no desenvolvimento do processo.
Em várias ocasiões se acabou a paciência e restava respirar fundo e contar vários milhares pelas intermináveis discussões, as prolongadas reuniões, houve dias em que o salão onde trabalhávamos parecia a casa dos monstros... pelas toalhas que cobriam as pranchetas de redigir, as teias as imaginamos, a desconfiança proscreveu destas reuniões qualquer aparelho eletrônico, as obsessões governamentais, as mentiras que nos tocava ouvir, o desequilíbrio nas comunicações, os ultimatos...
Menção à parte merece a paradoxal confidencialidade, pois a contraparte sabia onde situar-nos, os gringos também, tínhamos permissão do governo cubano e no entanto não podíamos sair nem até a esquina, nos escondíamos dos amigos.
Discutimos e debatemos, sustentamos e destruímos propostas e posições, superamos várias crises. E assim fomos adiantando, construindo o Acordo Geral de Havana, ponto a ponto, tratando de ser simples, inclusivos e claros na linguagem. Ao final, depois de consultar com nossa direção numa reunião ampliada do Estado-Maior, pudemos dizer tarefa cumprida. Em 26 de agosto de 2012 firmamos o Acordo.
Em honra da verdade, há que destacar o papel jogado pelos governos de Cuba e Noruega, seus delegados sempre atentos para brindar o apoio necessário, e ao lado o governo da República Bolivariana de Venezuela facilitando o necessário nesta etapa e em geral nos diálogos.
Aqui estamos, quatro anos depois, com o anelado Acordo Final à vista no horizonte, ainda não logramos superar a permanente desconfiança, se cria confiança gota a gota e se destrói com abundância; no entanto, superamos várias crises, porém permanece sempre uma fraude, uma inclinação à unilateralidade produto do rechaço à igualdade das partes, não se aceita esta realidade.
E, para variar, hoje afrontamos outra crise, a enfrentamos com igual compromisso pela paz e a confiança de que a sensatez sairá adiante na solução, porém, igual que em todo o processo, se nota a reticência de setores do governo nacional a reconhecer a contraparte como igual. Se dá espaço e se alimenta aos inimigos da paz a prepotência que impulsa a impor visões, estas deveriam ser compartilhadas para buscar aproximações, o marco do diálogo mostra como com o intercâmbio as soluções são conquistadas sem traumatismos.

Defender os Diálogos

Por Carlos Lozano Guillén
A Frente Ampla pela Paz e os setores democráticos e amigos da solução política do conflito devem cerrar fileiras em defesa dos diálogos de Havana e pelo início de conversações com o ELN.
O presidente Juan Manuel Santos chegou com mau humor da viagem a Washington para festejar os 15 anos do Plano Colômbia, e o advento de Paz Colômbia, assim batizado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como o anterior o foi pelo presidente Bill Clinton. Sempre a autoridade da Casa Branca.
O presidente Santos a empreendeu contra o ELN, sem esclarecer qual é a causa da demora para os diálogos com este grupo insurgente; e desafiou as Farc, porque “o plebiscito vai, gostem ou não”, ainda que o mecanismo de referenda, sexto ponto da agenda, sempre ignorado pelos porta-vozes governamentais, ainda não se aprovou pelas partes.
Porém, o momento mais difícil, talvez crítico, se deu nos fatos sucessivos nos dias 18 e 19 de fevereiro. O chefe da delegação do Governo, Humberto de la Calle Lombana, cumprindo instruções do Presidente da República, anunciou que não se permitirá novos deslocamentos a território colombiano de membros da delegação guerrilheira em função de campanhas pedagógicas com seus camaradas combatentes, devido a que participaram num ato político na corregedoria Conejo, município de Fonseca [La Guajira], no qual os insurgentes portavam armas. E como epílogo, ao finalizar a semana, lhes notificou que, se a 23 de março não se firmam os acordos, “os colombianos entenderão que as Farc não estavam preparadas para a paz”; isto é, em bom romance, um ultimato.
Em La Guajira, não houve nenhum ato político, mas sim a explicação pedagógica do estado atual dos acordos de Havana. Os guerrilheiros que participaram estavam armados porque não se deu o acordo definitivo da deixação das armas e era a maneira de proteger os seus comandantes. O único a que estão obrigadas as Farc, por decisão própria, é o cessar-fogo unilateral, e o têm cumprido, como reconheceu o Governo Nacional. Sobre a data do 23 de março próximo para firmar a paz, todos gostaríamos que fosse assim, porém se deve contemplar a eventualidade de adiá-la, se necessário for.
As Farc têm reconhecido avanços em temas como cessar-fogo bilateral e deixação de armas, porém se mantêm discrepâncias sobre paramilitarismo, zonas de localização [não de concentração, nome com evocação nazista por aquele dos ‘campos de concentração’], magistrados de paz e mecanismos de referenda, entre outros sub temas. Porém, também –o Governo Nacional deve reconhecer- faltam os temas pendentes nos pontos aprovados de forma parcial e que têm a ver com reformas sociais e políticas.
Não se sabe a que acordos chegou o presidente Santos em suas conversações em Washington e, sobretudo, com os mandos militares que creem mais na extrema-direita uribista do que no Governo. Não se pode passar por alto que um componente de Paz Colômbia é o gasto bélico para fortalecer as Forças Militares no pós acordo. Há que reconhecer o valor que teve para propor e iniciar os diálogos com as Farc, porém também que esteve mediatizado pela pressão dos inimigos da paz. Sem querer ser ave de mau agouro, são fatos similares aos anteriores processos de paz, em que a oposição às reformas democráticas conduziu à ruptura. O poder dominante crê é na pax romana, na paz dos sepulcros.
A Frente Ampla pela paz e os setores democráticos e amigos da solução política do conflito devem cerrar fileiras em defesa dos diálogos de Havana e pelo início de conversações com o ELN.


 

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