segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Abominavel censura: “site da abdic é retirado da internet...”

Por: Pettersen Filho

Fundada em meados de 2006, desde então, mantenedora da Página “Jornal
Grito Cidadão” na Internet, por meio da qual divulga a sua atuação,
para alguns considerada inconveniente por sobrepor órgãos do próprio
Poder Judiciário, com ferrenha denúncia à pratica Política brasileira,
a ABDIC – Associação Brasileira de Defesa do Indivíduo e da Cidadania,
vem, durante esses últimos cinco, ou seis anos, colecionando Amigos, e
por que não dizer, Inimigos.
Sujeito de vários processos na Justiça, a maioria deles por Calúnia e
Difamação, contra si própria, Associação, ou na pessoa do seu
Presidente, e Fundador, Pettersen Filho, graças a convicção das
Matérias que edita, às vezes contra Autoridades Vigentes, viçosamente
encasteladas no Poder, portanto, tendo a disposição todo o Aparato
Estatal, mesmo já possuindo contra si pedidos formulados na Justiça
pela retirada de algumas matérias da Rede, contudo, em nenhum deles
foi a Entidade, ou o seu Presidente, condenados, jamais tendo contra
si Condenação, liminar ou meritória, pela retirada de Matéria,
qualquer, do seu Site: www.abdic.org.br
Qual não foi a nossa surpresa, no ultimo dia 24/01/2012, data que deve
entrar para a História como infâmia, quando tivemos, inadvertidamente,
nosso Site completamente Bloqueado, sem que, ao menos, nosso
“Provedor”, a Hostnet Informática e Telecomunicações, que nos
“Hospeda”, durante nossa curta existência, desde 2006, informasse-nos
o Motivo, ou, sequer, Consultasse-nos sobre o “Bloqueio”.
Após completa varredura em ferramentas, como o Google, soubemos que
suposta “Denúncia” realizada por um Site Americano, lá nos States,
foram à causa da incontinente “Retirada”.
Informou-nos, após insistentes consultas, nosso Hospedador, a
famigerada Hostnet Informática e Telecomunicações, que simples
“Pedido” daquele Site teria determinado a “Suspensão” de todos os
serviços a nós prestados, de hospedagem e E-mails, tudo fundamentado
na possível pratica por parte da Associação de suposto envio de SPAM –
E-mails em Massa enviados por Máquinas Remotas: Aos Milhões e
Trilhões, o que, seguramente não é o nosso caso.
Origem, sempre, de Mensagens Institucionais o Site da ABDIC, e seus
Emails, contudo, não podem ser, tecnicamente, considerados SPAM, por
dois simples motivos:
Primeiro, porque não são Emails remetidos por Máquinas, mas, sim,
remetidos artesanalmente, caso-a-caso, na maior parte das vezes por
requerimento dos próprios Destinatários, interessados em receber
nossas Mensagens Institucionais, Consultas ao Consumidor e Lista de
Vagas de Empregos, diga-se de passagem, Serviços Gratuitos em prol da
Cidadania, e de relevante Interesse Público.
Segundo, porque cada um de nossos Emails possui, ao final, dispositivo
de Saída, mensagem que possibilita a Cessação do envio, tão logo
responda o Destinatário o Email, pedindo a Suspensão do envio,
situação em que o envio é imediatamente suspenso, e o endereço
retirado da Lista de remessa da ABDIC.
Destarte, “Censura” não editada nem no período do AI-5 – Ato
Institucional nº 5, pela Ditadura Militar, manobra desleal e covarde,
em que Jornais, ao invés de saírem com reportagens, traziam letras de
musica, ou textos poéticos, a “Generosa” retirada do Site da ABDIC da
Rede Mundial de Computadores, advinda dos EUA, parece-nos, ademais
mero Ato de Imperialismo, a mais abominável e pretensiosa Censura.
Objeto, já, de Ação de Obrigação de Fazer com pedido de Tutela
Antecipada, para que a Hostnet seja obrigada a manter o Serviço,
ajuizada perante a 32ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte/MG,
sede do domicilio do seu Presidente, Pettersen Filho, a ABDIC aguarda
o posicionamento do Poder Judiciário, mediante a atitude irresponsável
e Anti-democratica a, “Hospedadora” Hostnet responderá, além, por
perdas e danos morais e materiais.
Quanto aos nossos Associados e Leitores, que nos perdoem,,,
E não se esqueçam: Hostnet Não !!!

Texto também postado em www.paralerepensar.com.br
DEFESA DO CONSUMIDOR – CIDADANIA - PEQUENAS CAUSAS CIVEIS ???

ABDIC – Associação Brasileira de Defesa do Indivíduo e da Cidadania.
>> Jornal Grito Cidadão <<
Rua da Grécia, 195, CEP: 29057-660, Barro Vermelho, Vitória – ES.
Tel.: 27 3315-3694
www.abdic.org.br
RÁDIO WEB : O MELHOR DA MPB NA INTERNET
(Click e ouça nossa Seleção Musical)
JORNAL GRITO CIDADÃO:
“A MÍDIA QUE NÃO FAZ MÉDIA”

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A guerra à democracia dos Estados Unidos e Inglaterra

No dia 5 de Janeiro, num discurso extraordinário no Pentágono, Obama disse que os militares estariam não só prontos para "proteger território e populações" além mar, como para lutar "na sua terra" e fornecer "apoio às autoridades civis". Por outras palavras, as tropas dos Estados Unidos serão redistribuídas pelas ruas de cidades americanas quando o desassossego civil inevitável as tomar. Corolário histórico de um estado de guerra perpétuo, isto não é fascismo, ainda não, mas tão pouco é democracia sob qualquer forma reconhecível, apesar da política de placebo que consumirá as notícias até novembro. A mesma sombra se estende pela Grã-Bretanha e muito da Europa, onde a democracia social, um artigo de fé duas gerações atrás, caiu em favor dos ditadores dos bancos centrais



Por John Pilger*


Lisette Talate morreu outro dia. Lembro-me de uma mulher rija, tremendamente inteligente, que mascarava a sua dor com uma determinação que marcava presença. Ela incorporava a resistência popular à guerra contra a democracia. Entrevi-a pela primeira vez nos anos 50, num filme do departamento colonial sobre os ilhéus Chagos, uma nação crioula muito pequena localizada no Oceano Índico, a meio caminho entre a África e a Ásia.

A câmera garimpou através de aldeias prósperas, uma igreja, uma escola, um hospital, no meio de um fenômeno de beleza natural e paz. Lisette lembra-se do produtor dizer a ela e às suas amigas adolescentes: "continuem a sorrir meninas!".

Sentada na sua cozinha em Maurícia, muitos anos depois, disse: "não era preciso dizerem-me para sorrir. Era uma criança feliz porque as minhas raízes estavam no fundo das ilhas, o meu paraíso. A minha bisavó tinha nascido lá; fiz seis filhos lá. Por isso é que eles não podiam atirar-nos legalmente para fora das nossas próprias casas; tiveram de aterrorizar-nos para nos fazer partir ou arrancar-nos à força. Primeiro tentaram fazer-nos passar fome. Os barcos com comida deixaram de chegar [depois] eles espalharam rumores de que íamos ser bombardeados, depois chegou a vez dos nossos cães".

No início dos anos 1960, o governo trabalhista de Harold Wilson aceitou secretamente uma exigência de Washington de que o arquipélago de Chagos, uma colônia britânica, fosse "varrido" e "higienizado" dos seus 2.500 habitantes para que uma base militar pudesse ser construída na ilha principal, Diego Garcia. "Eles sabiam que éramos inseparáveis dos nossos animais de estimação", disse Lisette, e "quando os soldados americanos chegaram para construir a base, encostaram a traseira dos seus grandes caminhões contra o abrigo de tijolo onde preparávamos os cocos; centenas dos nossos cães tinham sido reunidos e presos aí. Então lançaram os gases dos tubos de escape dos caminhões. Nós conseguíamos ouvi-los ladrar".

Lisette e a sua família, e centenas de ilhéus, foram empurrados para dentro de um vapor enferrujado com destino à [ilha] Maurícia, a uma distância de 2.500 milhas. Foram obrigados a dormir no porão sobre um carregamento de fertilizante: cocô de pássaro. O tempo estava ruim; todo mundo estava doente; duas mulheres abortaram. Despejados nas docas de Port Louis, os filhos mais novos de Lisette, Jollice e Regis, morreram, uma semana após o outro. "Morreram de tristeza", disse ela. "Tinham ouvido toda a conversa e visto o horror do que tinha acontecido aos cachorros. Sabiam que estavam deixando a sua casa para sempre. O médico, em Maurícia, disse que não conseguia tratar a tristeza".

Este ato de rapto em massa foi executado em alto segredo. No arquivo oficial, sob o título "Mantendo a ficção," o conselheiro legal do Ministério das Relações Exteriores [Foreign Office] exorta os seus colegas a encobrir as suas ações, "reclassificando" a população como "flutuante" e "fazendo as regras à medida que avançavam." Que a Inglaterra tenha cometido tal crime - em troca de um desconto de US$ 14 milhões no preço de um submarino nuclear americano Polaris - não constava da agenda de um grupo de correspondentes britânicos "da defesa", enviados de avião para Chagos pelo Ministério da Defesa, quando a base dos EUA ficou concluída. "Não há nada nos nossos arquivos", disse um funcionário do Ministério, "sobre habitantes ou sobre uma evacuação".

Hoje, Diego Garcia é crucial para a guerra dos EUA e da Inglaterra contra a democracia. O bombardeio mais violento do Iraque e do Afeganistão foi desencadeado a partir das suas vastas pistas, além das quais o cemitério e a igreja, abandonados depois que os ilhéus foram expulsos, se erguem como ruínas arqueológicas. O jardim com terraço onde Lisette riu para a câmera é agora uma fortaleza que aloja as bombas "rebenta-bunkers", transportadas pelo avião B-2, em forma de morcego, em direção a objetivos de dois continentes; um ataque ao Irã começará aqui. Como para rematar este emblema de poder desenfreado, criminoso, a CIA acrescentou uma prisão ao estilo de Guantánamo para a "entrega" das suas vítimas e chamou-lhe Camp Justice [Campo da Justiça].

O que foi feito ao paraíso de Lisette tem um significado urgente e universal, já que representa a natureza violenta, cruel de todo um sistema por trás de uma fachada democrática e a escala da nossa própria doutrinação aos seus pressupostos messiânicos, descritos por Harold Pinter como "um ato de hipnose brilhante, engenhoso mesmo, altamente bem sucedido". Mais longa e mais sangrenta do que qualquer guerra desde 1945, empreendida com armas demoníacas, um gangsterismo travestido de política econômica e por vezes conhecido como globalização, a guerra à democracia é mantida, sem menção em círculos da elite ocidental. Tal como Pinter escreveu, "nunca aconteceu, mesmo enquanto estava acontecendo". Em julho passado, o historiador americano William Blum publicou o seu "sumário atualizado da história da política externa dos Estados Unidos". Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA têm:

- Tentado derrubar mais de 50 governos, a maior parte deles democraticamente eleitos.

- Tentado suprimir movimentos populistas ou nacionais em 20 países.

- Interferido grosseiramente em eleições democráticas em pelo menos 30 países.

- Atirado bombas sobre povos de mais de 30 países.

- Tentado assassinar mais de 50 líderes estrangeiros.

No total, os EUA levaram a cabo uma ou várias dessas ações em 69 países. Em quase todos os casos a Inglaterra foi colaboradora. O "inimigo" muda de nome - de comunismo para islamismo - mas ele é acima de tudo a ascensão da democracia independente do poder ocidental ou uma sociedade que ocupa território estrategicamente útil, considerada dispensável, como as Ilhas Chagos.

A simples escala do sofrimento, sem falar na criminalidade, é pouco conhecida no Ocidente, apesar da presença das comunicações mais avançadas do mundo, do jornalismo nominalmente mais livre e do mundo acadêmico mais admirado. É inenarrável que as vítimas mais numerosas do terrorismo - o terrorismo ocidental - sejam muçulmanas, se isso for conhecido. Que 500 mil crianças iraquianas morrerem nos anos 1990, em consequência do embargo imposto pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, não tem qualquer interesse. Que o jihadismo extremista, que levou ao 11 de setembro, foi alimentado como uma arma da política ocidental ("Operação Ciclone") é coisa conhecida de especialistas, mas, exceto isso, apagada.

Enquanto a cultura popular na Inglaterra e nos Estados Unidos imerge a Segunda Guerra Mundial num banho ético para os vencedores, o holocausto resultante da dominação anglo-americana sobre regiões ricas em recursos é entregue ao esquecimento. Sob o regime do tirano indonésio Suharto, ungido como "o nosso homem" por Thatcher, mais de um milhão de pessoas foram assassinadas. Descrito pela CIA como "o pior assassinato em massa da segunda metade do séc. 20", a estimativa não inclui um terço da população do Timor-Leste, que foi morta de fome ou assassinada com a conivência ocidental por bombardeiros e metralhadoras britânicas.

Estas histórias verdadeiras são contadas em registros do Public Record Office, tornados públicos, mas representam uma dimensão interna da política e do exercício do poder excluída da apreciação pública. Isto foi conseguido através de um regime não-coercivo de controle de informação, desde o mantra evangélico da publicidade para o consumidor até aos sound bites das notícias da BBC e, agora, das notícias de interesse passageiro dos meios de comunicação.

É como se os escritores, enquanto jornalistas de denúncia, estivessem extintos, ou servos de um zeitgeist sociopata, convencidos de que são demasiado inteligentes para serem enganados. Presenciem o estampido de bajuladores ansiosos por deificar Christopher Hitchens, um adorador da guerra que ansiava poder justificar os crimes de um poder ávido. "Quase pela primeira vez em dois séculos", escreveu Terry Eagleton, "que não há nenhum poeta britânico eminente, dramaturgo ou romancista preparado para interrogar os fundamentos do modo de vida ocidental". Nenhum Orwell avisa que não temos de viver numa sociedade totalitária para sermos corrompidos pelo totalitarismo. Nenhum Shelley fala em nome dos pobres; nenhum Blake profere uma visão; nenhum Wilde nos lembra que "a desobediência, aos olhos de alguém que leu a história, é a virtude original do homem". E, dolorosamente, nenhum Pinter se enfurece com a máquina de guerra, como em "Futebol Americano":

Aleluia.

Louvem o Senhor por todas as coisas boas.../ Rebentámos-lhes os tomates em estilhaços de pó,/ Em estilhaços de pó dum raio...

[Hallelujah.

Praise the Lord for all good things .../ We blew their balls into shards of dust,/ Into shards of fucking dust…] (Nota da Redação: Trecho do poema de Harold Pinter cujo subtítulo é Uma reflexão sobre a guerra do golfo).

A estilhaços de pó dum raio vão foram parar todas as vidas atiradas por Barack Obama, o Hopey Changeyiii da violência ocidental. Sempre que um dos drones de Obama limpa uma família inteira numa região tribal distante do Paquistão, ou da Somália, ou do Iêmen, os controladores americanos à frente das suas telas tipo jogo de computador escrevem "Bugsplat"iv. Obama gosta de drones e gracejou sobre eles com jornalistas. Uma das suas primeiras ações como presidente foi ordenar uma vaga de ataques de drones Predator no Paquistão o qual matou 74 pessoas. Desde então matou milhares, na maior parte civis; os drones disparam mísseis Hellfire que sugam o ar dos pulmões das crianças e deixam partes de corpos a engrinaldar a vegetação rasteira.

Lembram-se dos títulos de notícias manchados de lágrimas quando o "Marca" Obama foi eleito: "importantíssimo, de fazer arrepiar a espinha": The Guardian, Reino Unido. "O futuro americano," escreveu Simon Schama, "é todo ele visão, sublime, informe, espírito leve..." O colunista do jornal San Francisco Chronicle viu um espiritual "ser com luz interior e apaziguador [que pode ser] portador de um novo modo de estar no planeta." Além do disparate, como o grande whistleblowerv Daniel Ellsberg tinha predito, um golpe militar decorria em Washington e Obama foi o seu homem. Tendo seduzido o movimento anti-guerra para um silêncio virtual, tem dado poderes de Estado e de compromisso sem precedentes à classe de oficiais militares corruptos da América. O que inclui a perspectiva de guerras na África e oportunidades de provocações contra a China, o maior credor dos Estados Unidos e o novo "inimigo" na Ásia. Sob Obama, a velha fonte da paranoia oficial, a Rússia, foi cercada com mísseis balísticos e a oposição russa infiltrada. Equipes de assassinos militares e da CIA foram enviadas em missão para 120 países; ataques há muito planejados na Síria e no Irã incitam a uma guerra mundial. Israel, o exemplar de violência e ilegalidade dos Estados Unidos por procuração, acaba de receber o seu dinheiro de bolso anual de 3 bilhões de dólares em conjunto com a permissão de Obama para roubar mais terra palestina.

O feito mais "histórico" de Obama é trazer a guerra contra a democracia para dentro de casa nos Estados Unidos da América. Na véspera do Ano Novo assinou a lei de Autorização de Defesa Nacional (NDAA , na sigla em inglês), uma lei que concede ao Pentágono o direito legal de raptar tanto estrangeiros como cidadãos dos EUA e de os deter indefinidamente, interrogar e torturar, ou até matar. Só precisam de se "associar" com os "beligerantes" em relação aos Estados Unidos. Não haverá nenhuma proteção da lei, nenhum julgamento, nenhuma representação legal. Isto é a primeira legislação explícita a abolir o habeas corpus (o direito ao devido processo da lei) e efetivamente revogar a Lei dos Direitos de 1789.

No dia 5 de Janeiro, num discurso extraordinário no Pentágono, Obama disse que os militares estariam não só prontos para "proteger território e populações" além mar, como para lutar "na sua terra" e fornecer "apoio às autoridades civis". Por outras palavras, as tropas dos Estados Unidos serão redistribuídas pelas ruas de cidades americanas quando o desassossego civil inevitável as tomar.

Os Estados Unidos são agora uma terra de pobreza epidêmica e prisões selvagens: a consequência de um extremismo "de mercado" que, sob Obama, incitou a transferência de 14 trilhões de dólares de dinheiro público a empresas criminosas em Wall Street. As vítimas são na maioria pessoas jovens desempregadas, sem abrigo, afro-americanos encarcerados, traídos pelo primeiro presidente negro.

Corolário histórico de um estado de guerra perpétuo, isto não é fascismo, ainda não, mas tão pouco é democracia sob qualquer forma reconhecível, apesar da política de placebo que consumirá as notícias até novembro. A campanha presidencial, diz The Washington Post, "apresentará um choque de filosofias enraizadas em visões distintamente diferentes da economia". Isto é evidentemente falso. A tarefa circunscrita do jornalismo dos dois lados do Atlântico é criar a pretensão de uma escolha política onde não existe nenhuma.

A mesma sombra se estende pela Grã-Bretanha e muito da Europa, onde a democracia social, um artigo de fé duas gerações atrás, caiu em favor dos ditadores dos bancos centrais. Na "grande sociedade" de David Cameron, o roubo de 84 bilhões de libras em empregos e serviços até excede o montante do imposto "legalmente" evitado por grandes grupos econômicos piratas. A culpa não é da extrema direita, mas de uma cultura política liberal covarde que permitiu que isto acontecesse, a qual, escreveu Hywel Williams no rastro dos ataques do 11 de setembro, "pode ser uma forma de fanatismo moralista". Tony Blair é um desses fanáticos. Na sua indiferença gestionária para com as liberdades por que clama para ter grande carinho, a Inglaterra da Blairite burguesa criou um estado de vigilância com 3000 novas ofensas criminais e leis: mais do que para todo o século anterior. A polícia claramente acredita que tem impunidade para matar. Por exigência da CIA, casos como o de Binyam Mohamed, um residente britânico inocente torturado e depois mantido por cinco anos na baía de Guantánamo, serão tratados em tribunais secretos na Inglaterra "para proteger as agências de espionagem" - os torturadores.

Este estado invisível permitiu que o governo de Blair lutasse contra os ilhéus de Chagos à medida que se ergueram do seu desespero no exílio e exigiram justiça nas ruas de Port Louis e de Londres. "Só quando se vai para a ação direta, face a face, até quebrar leis, é que alguma vez nos faremos notar", disse Lisette. "E quanto menor se for, maior o seu exemplo para os outros." Uma resposta tão eloquente para aqueles que ainda perguntam "O que eu posso fazer?"

Vi pela última vez a figura muito pequena de Lisette de pé sob forte chuva ao lado dos seus camaradas fora do Parlamento. O que me impressionou foi a duradoura coragem da sua resistência. É esta recusa em desistir que o poder podre teme, acima de tudo, sabendo que ela é a semente debaixo da neve.

Artigo publicado originalmente em truthout, traduzido por Paula Sequeiros para esquerda.net

* Jornalista , escritor e diretor de cinema nascido na Austrália e residente em Londres. Pelas suas reportagens sobre guerras, que vão do Vietnã e Camboja até o Oriente Médio, ganhou por duas vezes o maior prêmio de jornalismo da Inglaterra. Pelos seus documentários ganhou um prêmio da Academia Britânica e um Emmy americano. Em 2009 foi-lhe concedido o prêmio de direitos humanos da Austrália, o Prêmio Sydney da Paz. O seu último filme é "Guerra contra a democracia".

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Aula de História-O Futuro do PT

por Lúcia Hippólito


"Nascimento” do PT:

O PT nasceu de cesariana, há 29 anos. O pai foi o movimento sindical, e a mãe, a Igreja Católica, através das Comunidades Eclesiais de Base.

Os orgulhosos padrinhos foram, primeiro, o general Golbery do Couto e Silva, que viu dar certo seu projeto de dividir a oposição brasileira.

Da árvore frondosa do MDB nasceram o PMDB, o PDT, o PTB e o PT... Foi um dos únicos projetos bem-sucedidos do desastrado estrategista que foi o general Golbery.

Outros orgulhosos padrinhos foram os intelectuais, basicamente paulistas e cariocas, felizes de poder participar do crescimento e um partido puro, nascido na mais nobre das classes sociais, segundo eles: o proletariado.


“Crescimento” do PT:

O PT cresceu como criança mimada, manhosa, voluntariosa e birrenta. Não gostava do capitalismo, preferia o socialismo. Era revolucionário. Dizia que não queria chegar ao poder, mas denunciar os erros das elites brasileiras.

O PT lançava e elegia candidatos, mas não "dançava conforme a música". Não fazia acordos, não participava de coalizões, não gostava de alianças. Era uma gente pura, ética, que não se misturava com picaretas.

O PT entrou na juventude como muitos outros jovens: mimado, chato e brigando com o mundo adulto.

Mas nos estados, o partido começava a ganhar prefeituras e governos, fruto de alianças, conversas e conchavos. E assim os petistas passaram a se relacionar com empresários, empreiteiros, banqueiros.

Tudo muito chique, conforme o figurino.

“Maioridade” do PT:

E em 2002 o PT ingressou finalmente na maioridade. Ganhou a presidência da República. Para isso, teve que se livrar de antigos companheiros, amizades problemáticas. Teve que abrir mão de convicções, amigos de fé, irmãos camaradas.


Pessoas honestas e de princípios se afastam do PT.


A primeira desilusão se deu entre intelectuais. Gente da mais alta estirpe, como Francisco de Oliveira, Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho se afastou do partido, seguida de um grupo liderado por Plínio de Arruda Sampaio Junior.

Em seguida, foi a vez da esquerda. A expulsão de Heloisa Helena em 2004 levou junto Luciana Genro e Chico Alencar, entre outros, que fundaram o PSOL.

Os militantes ligados a Igreja Católica também começaram a se afastar, primeiro aqueles ligados ao deputado Chico Alencar, em seguida, Frei Betto.

E agora, bem mais recentemente, o senador Flávio Arns, de fortíssimas ligações familiares com a Igreja Católica.

Os ambientalistas, por sua vez, começam a se retirar a partir do desligamento da senadora Marina Silva do partido.


Quem ficou no PT?


Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas.

Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64.

Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República.

Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente.

É o triunfo da pelegada.

O PERIGO É O SILÊNCIO

Eu pediria a todos que receberem esse e-mail o favor de ler o texto por inteiro, com calma e atenção e, se puder e entender que seja pertinente, gastar um tempinho, para reenviá-lo a todos da sua lista.

'O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.'Martin Luther King


Lucia Hippolito ,61 anos, é uma cientista política, historiadora e conferencista brasileira, especialista em eleições, partidos políticos e Estado brasileiro.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Crack: uma questão de saúde pública.

Entrevista especial com *Marcelo Ribeiro de Araújo [Humanitas]




Os investimentos em políticas públicas de enfrentamento ao crack são recentes, iniciaram nos anos 2000, e esse é um dos motivos da desarticulação no tratamento dos dependentes químicos. "O preconceito em relação ao tratamento", segundo Marcelo Ribeiro de Araújo, também contribui para a desarticulação, " porque ainda existem pessoas que acham que ‘passar a borracha’ nos usuários é a melhor solução” para acabar com as drogas.

Para ele, o desafio em relação ao tratamento dos usuários de crack é tratar o caso como um problema de saúde pública. Nesse sentido, avalia, os Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD) representam um avanço, “mas os profissionais ainda não receberam toda a capacitação que poderiam ter recebido”. E dispara: “O grande problema é que as pessoas colocam a responsabilidade toda no Caps, mas ele não consegue resolver o problema da dependência química. Alguns pacientes se beneficiam com o Caps e outros não. Têm pacientes que precisam, por exemplo, de uma moradia assistida, que é um intermediário, e isso ainda não existe no Brasil”.

Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone, Araújo diz que o consumo do crack está associado a situações de violência e abuso. Nesse sentido, argumenta, “retirar os viciados da cracolândia não vai resolver o problema da dependência. É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas, como a de saneamento, por exemplo. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack”.

Marcelo Ribeiro de Araújo é mestre e doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Atualmente é diretor de ensino da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da mesma universidade e autor do livro O Tratamento do Usuário do Crack (editora Artmed).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Hoje as campanhas de combate as drogas focam muito no consumo de crack. Por quê? Essa é a droga mais utilizada e a que causa maior dependência?

Marcelo Ribeiro de Araújo – Sim. O crack é uma droga que de fato desorganiza os usuários, porque eles ficam muito dependentes e desestruturados. Os usuários de crack também são os que mais buscam tratamento, ou são levados a buscar pela família ou por outras pessoas. O crack é uma droga que impacta, e é usada em grupos, em locais abandonados, e tudo isso atrai a atenção dos usuários.

IHU On-Line - Quais são os principais efeitos do crack sobre o psiquismo do sujeito?

Marcelo Ribeiro de Araújo - O crack é a cocaína na sua apresentação para ser fumada. Então, nesse sentido, farmacologicamente, ele é a cocaína. A cocaína é um estimulante do sistema nervoso que, quando utilizada, provoca um quadro de euforia e de bem estar, que é o que as pessoas buscam inicialmente, juntamente com um quadro de aumento da alerta, inquietação, aceleração psicomotora, aumento dos batimentos cardíacos. Isso tudo acompanha a intoxicação por essa substância.

A diferença entre ela e a cocaína cheirada é que a cocaína fumada (crack) atinge os pulmões, e uma grande quantidade de cocaína entra de uma vez só no corpo, atingindo rapidamente o cérebro. De cinco a oito segundos, a cocaína entra pelos pulmões, passa pelo coração e chega no cérebro. Então, o crack produz um efeito intenso e rápido, causando maior dependência.

IHU On-Line - Desde quando o Brasil investe em políticas públicas de enfrentamento ao crack e quais são as políticas existentes para tratar os dependentes?

Marcelo Ribeiro de Araújo - As políticas públicas são muito recentes e realizadas pelo governo federal, governos estaduais e municipais, de uma maneira que poderia ser melhor integrada. Para você ter uma ideia, até 2003 não havia serviços para tratamentos específicos ambulatoriais para dependência química. Havia apenas cinco serviços: três em São Paulo, um na Bahia, um no Rio e um em Porto Alegre.

A partir dos anos 2000, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, foi introduzida a primeira política de drogas, entretanto, as políticas públicas passaram a se estruturar em 2003 e, desde então, estão aumentando, a partir da criação dos Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD).

IHU On-Line - Como é realizado o tratamento de dependentes químicos no Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD)?

Marcelo Ribeiro de Araújo - Quando um tratamento começa, avaliamos qual é a estrutura química, física e social do paciente. A partir daí, escolhemos as opções que melhor atenderão as necessidades dele. Esse é o conceito atual. Então, é feita uma avaliação das necessidades e a partir disso, tentamos começar o tratamento com uma proposta terapêutica, onde são considerados os ambientes que temos à disposição (podem ser os ambulatórios, podem ser as clínicas, as comunidades terapêuticas, os hospitais). É escolhido o melhor ambiente, pensado na equipe de profissionais disponível para ajudar esse paciente e nas estruturas de apoio sociais – se o dependente químico tem filhos, procuramos uma creche para a criança, por exemplo. Portanto, algumas decisões são clínicas e outras, sociais.

Os profissionais que atuam com os dependentes são o que chamamos de gerentes de caso, porque ficam junto com o paciente, próximo do dia a dia dele, e além do tratamento psicológico, ajudam e monitoram outras questões da vida social.

IHU On-Line – E como acontece isso na prática? O Brasil está preparado para esse modelo de tratamento?

Marcelo Ribeiro de Araújo - A partir dos anos 1980 e 1990, foram fechadas todas as clínicas de internação. Havia vários manicômios velhos, cheios de ratos, onde as pessoas ficavam completamente abandonadas. O problema é que após fecharmos os manicômios, não colocamos nenhum modelo de internação no lugar, e algumas pessoas precisam ser internadas. Algumas vezes, não sempre, é bom começar o tratamento por uma desintoxicação de um mês. Tem pessoas que ficam muito comprometidas socialmente porque desistem de uma internação em comunidade terapêutica.

Têm pacientes que se beneficiam do Caps, mas este é um tratamento que requer uma estrutura do dependente, pois ele precisa marcar a consulta, e ir às reconsultas. Esse é um tratamento para alguém que já está conseguindo se estruturar melhor. Atualmente, existem Caps nas capitais e nas cidades médias ou naquelas que possuem Universidades Federais, Estaduais. Ainda falta integrar melhor o Caps com o tratamento informal.

IHU On-Line - Como o senhor avalia o desempenho dos Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD)?

Marcelo Ribeiro de Araújo - A adaptação, às vezes, fica prejudicada porque como poucas pessoas trabalham com o tema no Brasil e não há muitos locais para se capacitar. Os profissionais ainda não receberam toda a capacitação que poderiam ter recebido. O grande problema é que as pessoas colocam a responsabilidade toda no Caps, mas ele não consegue resolver o problema da dependência química. Alguns pacientes se beneficiam com o Caps e outros não. Têm pacientes que precisam, por exemplo, de uma moradia assistida, que é um intermediário, e isso ainda não existe no Brasil.

Antes dos anos 1990, não tinha política nenhuma, o que surgiu no governo Fernando Henrique Cardoso foi uma grande carta de intenções, que se preocupava mais com a repressão do que em estruturar uma rede de tratamento para os dependentes químicos. Mas esse era o momento histórico. Foi desenvolvido um trabalho de colocar no papel tudo o que entendíamos por dependência, doença, mas a política de enfrentamento para o crack veio aparecer agora. Depois que a Dilma assumiu, ela fez o plano de enfrentamento e as propostas são válidas. Ela está pensando em diversificar a rede, e capacitar os profissionais. A ideia que está no papel é boa.

IHU On-Line - Alguns especialistas alegam que a desarticulação entre as políticas de segurança, saúde e assistência social tem prejudicado o tratamento de dependentes em crack. O senhor concorda? Quais são as razões desta desarticulação entre as políticas públicas?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O motivo desta desarticulação é porque o país investe em política pública nessa área há pouquíssimo tempo. Então, as pessoas ainda estão “batendo a cabeça”. A falta de articulação também esbarra no preconceito em relação ao tratamento, porque ainda existem pessoas que acham que “passar a borracha” nos usuários de droga é a melhor solução. Essa é uma mentalidade da cultura dos indivíduos. Está no imaginário das pessoas essa concepção de que o dependente químico é um drogado e que não há problema em tratá-lo com violência. As pessoas, às vezes, acabam agindo de uma maneira equivocada.

IHU On-Line - Quais os desafios de tratar a dependência química como um problema de saúde pública e não como uma questão de segurança?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O grande desafio é possuirmos ambientes e capacitação, além de ter a oportunidade de influir nos momentos em que se definem as políticas públicas. É uma questão de encarar o crack como uma questão de saúde pública. Retirar os viciados da cracolândia não vai resolver o problema da dependência. É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas, como a de saneamento, por exemplo. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack.

IHU On-Line - Considerando as pesquisas que o senhor realiza na universidade e o contato que tem com dependentes, diria que houve uma evolução no tratamento com dependentes químicos nos últimos anos?

Marcelo Ribeiro de Araújo – Com certeza. Evoluímos bastante. Fiz um mapa sob como o crac foi evoluindo no Brasil nesses 23 anos e percebi que quando o tema entrou em pauta, nós, pesquisadores, se quer publicávamos sobre o tema – ficávamos fazendo revisão de artigos. Hoje, pelo contrário, temos muitos profissionais pesquisando sobre o assunto, vários serviços de assistência aos dependentes químicos. Nós avançamos muito em pesquisa e nos tratamentos, só que infelizmente ainda estamos no começo. Essa é a principal questão.

IHU On-Line - Como o uso de crack evoluiu nesses 23 anos? O perfil dos consumidores também mudou?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O crack ainda continua sendo uma droga de pessoas de classe baixa e que têm baixa escolaridade. A classe média também consome, mas está longe de ser o grande consumidor. Os usuários são pobres, com histórico de violência e abuso. Nesse período, houve de fato uma disseminação do crack pelas grandes cidades: São Paulo, Porto Alegre, o restante do Sul, Belo Horizonte e depois a droga foi sendo espalhada para o Rio de Janeiro e Nordeste. O crack já se interiorizou. Hoje, 98% das cidades convivem com esse problema. Em municípios de 10 mil habitantes, até os bóias-frias fumam a droga

*Mestrado e doutorado em Medicina (Psiquiatria) pela Unifesp

http://www.ihu.unisinos.br/

sábado, 21 de janeiro de 2012

A redação carioca que venceu o concurso da UNESCO

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ


Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência...
Exagero de escassez... Contraditórios? ? Então, aí está! O novo nome
do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil, nad a mais é do que o excesso de falta de caráter, a
abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de
responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e
friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo
que não é gentil e, muito menos, mãe.

Pela definição, que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo,
um lugar na universidade, sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo, uns 200 anos atrás, não me aboliria da escravidão, se soubesse
que me restaria a liberdade, apenas para morrer de fome.

Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir.

Ela me daria um verdadeiro Pacote, que fosse efetivo na resolução do
problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe
que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada
pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela
minha voz-nada-ativa.

A minha mãe sabe que eu só vou crescer, se a minha educação gerar
liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma
contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias,
que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não
sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança, que nada muda, é só mais uma contradição. Os governantes
(às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.

E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela
ignorância, que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser
cidadão.

Porém, ainda nos falta um fator fundamental, para o alcance da
igualdade: nos sa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo
burocrático do Estado não modificam a estrutura.

As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide
social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo
para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de
dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos,
possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma
mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se
posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado,
justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem
egoísmo. Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.

Pergunte-se: quero s er pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de
uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente...
Ou como bicho? "

******


Nota-Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante, que
termina a faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros
50 mil estudantes universitários.
Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO,) por
uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'

A redação de Clarice, intitulada `Pátria Madrasta Vil´, foi incluída
num livro, com outros cem textos, selecionados no concurso. A
publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNES

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Moção de Solidariedade aos Moradores do Pinheirinho







No Brasil, 7 milhões de famílias estão excluídas do acesso à moradia digna. Nas cidades brasileiras, homens e mulheres, jovens, adultos, crianças e idosos vivem como animais, comendo comida estragada do lixo e morando em casebres de papelão ou debaixo das pontes. De acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2020, 55 milhões de brasileiros viverão em favelas.

Essa realidade é vivida principalmente pelo povo pobre, em especial nas regiões metropolitanas do país. Somente na região Nordeste, 4,4 milhões de moradias sofrem com a falta de água, esgoto, coleta de lixo e energia elétrica.

Atualmente, quase metade da população (83 milhões de pessoas) não é atendida por sistema de esgoto; 45 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável; nas zonas rurais, mais de 80% das moradias não são atendidas por redes de abastecimento de água e 60% dos esgotos do país são lançados diretamente nos mananciais de água.

Tem mais: 16 milhões de brasileiros não são atendidos pelo serviço de coleta de lixo, especialmente os moradores de favelas e ocupações urbanas; o adensamento excessivo (mais de três pessoas por cômodo) está presente em 2,8 milhões de casas, concentrando-se principalmente no Sudeste (52,9%).

A crescente miséria que toma conta do país, a existência de cerca de 20 milhões de trabalhadores desempregados e a ausência de uma política habitacional que priorize o atendimento da demanda entre o povo pobre, tem levado uma parcela significativa da população a viver em favelas e ocupações irregulares.

Os moradores do Pinheirinho fazem parte desta dura realidade. Exatamente por não ter onde morar milhares de famílias ocuparam o terreno da empresa Selecta do grupo do especulador Naji Nahas, o mesmo que foi acusado de quebrar a bolsa de valores do Rio,de lavagem de dinheiro em 2008, preso na operação Satiagraha com Daniel Dantas.

Sem se importar com a situação de milhares de famílias que moram no Pinheirinho a justiça decidiu conceder reintegração de posse a empresa Selecta e jogar no olho da rua crianças, mulheres, desempregados, idosos, trabalhadores de uma forma geral.

Cansados de sofrerem humilhações, os moradores do Pinheirinho resistem bravamente. Seguindo o exemplo de luta do povo brasileiro, os moradores do Pinheirinho se armam como podem e dão uma grande demonstração de combatividade e heroísmo.

A resistência popular no Pinheirinho é mais uma prova que o nosso povo nunca se intimidou diante da repressão das classes ricas. Ao contrário. Há séculos que lutamos contra a exploração e a dominação capitalista. O Quilombo dos Palmares, a Cabanagem, a resistência de Canudos, o Levante Comunista de 1935, a resistência à Ditadura Militar de 1964 e tantas outras lutas deixam evidente que nosso povo nunca foi de baixar a cabeça, nunca se rendeu, tampouco desistiu de lutar.

Nós do Movimento Luta de Classes - MLC apoiamos a luta dos moradores do Pinheirinho. Não existe outro caminho para o povo trabalhador que não seja enfrentar os capitalistas e sua justiça corrupta que manda polícia bater em trabalhadores e deixa impunes os mafiosos do colarinho branco.

A luta dos moradores do Pinheirinho também é nossa, pois é uma luta contra a opressão, contra a exploração, contra o capitalismo que joga na miséria os verdadeiros construtores da riqueza: o povo trabalhador, enquanto algumas famílias de capitalistas vivem em mansões e no completo luxo.


Todo apoio a resistência popular do Pinheirinho!

Essa luta também é nossa!

Pela Reforma Urbana! Pelo Socialismo!

Movimento Luta de Classes - MLC


http://www.movimentolutadeclasses.org/index.php/noticias/politicanacional/178-mocao-de-solidariedade-aos-moradores-do-pinheirinho

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tarefas imediatas dos comunistas revolucionários em 2012

O ano de 2012 que, por um lado, chega artificialmente polemizado ao senso comum por profecias cataclísmicas e escatológicas (fim dos tempos), por outro, figura como espaço histórico-temporal em que as contradições fundamentais do sistema mundial capitalista realmente existente - capital/trabalho - se apresentarão de forma mais decisiva e definida. A correlação entre as forças que afirmam e as que negam o sistema do capital, condensadas nas relações entre crise estrutural do capital e estratégias de superação desta, se resolverão em tendências dominantes e dirigentes do movimento histórico e dialético da luta de classes. Naturalmente, não se deve entender por tal resolução a superação dos problemas fundamentais que compõem a razão de ser dwalla crise do capital ou de suas estratégias, mas tão somente a definição da tendência principal que dominará o processo histórico em curso e das tendências ou contra tendências mais visíveis derivadas da mesma, logo, constituindo elementos plausíveis à definição de tarefas imediatas e fundamentais para a ação revolucionária em 2012. Este é o objetivo do presente trabalho.
1. Aspectos Fundamentais da Conjuntura Histórica em 2011


Um aspecto fundamental que marcou o processo histórico em 2011 foi, sem dúvida, o aprofundamento da crise do capital na Europa em contrapeso ao seu desenvolvimento nos EUA e Japão, mais agudamente sentido no primeiro país a partir de 2008. Também se pode somar a este processo como evidência a sintomática redução do crescimento econômico e aguçamento das contradições sociais e políticas nos países denominados emergentes – BRICS: um processo que é resultado da responsabilidade de produção de mais-valia que é imputada aos mesmos pelos centros imperialistas para sustentar as taxas de crescimento e acumulação mundial do capital.

Outro aspecto de similar importância foi a adoção pela Europa, através de nova tática, da velha estratégia da guerra de pilhagem imperialista neocolonial como fórmula política de superação da crise. Esta estratégia de “destruição das forças produtivas já desenvolvidas” – como predisseram Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista de 1848 – pilhagem e “conquista de novos mercados”, não exclui o método de “intensificação da exploração” nos países dominados ou dependentes dos centros imperialistas em face à assincronia dos ciclos econômicos decorrente das políticas macroeconômicas de “reestruturação das economias emergentes nas décadas de 80 e 90 demandadas pelo processo de globalização” (AMIN, 2011). O que permite o sobrepeso da superprodução e do superlucro exigidos pela taxação monopólica imposta pelas corporações financeiras globais, prenunciando assim a tendência à nova alternância da manifestação da crise dos centros à periferia, compondo o movimento diacrônico do processo global que propende a apagar a mediação emergente entre os extremos do sistema: acumulação e miséria.

Não obstante, o aspecto mais relevante e controverso neste período foi a mudança de atitude das massas, tanto nos centros imperialistas quanto na periferia destes, através de movimentos contraditórios por si e em si, mesmo negando ou afirmando o sistema, como o surgimento do Movimento “Ocupa” (que, em síntese, trata-se de uma retomada do movimento antiglobalização e anticapitalista, afogado pela reação imperialista em sua guerra contra o que se denominou de “eixo do mal”) e a tão noticiada “Primavera” dos povos do Oriente Médio, Ásia Central e norte da África, cuja assimetria de conteúdos e desenvolvimento histórico com os centros imperialistas a constituiu num movimento para si que nega o sistema e num movimento em si que afirma o sistema.
2. 2012: Ruptura e Continuidade Histórica


O processo histórico em 2012, dada a correlação de forças estabelecidas, aponta como transposição de tendências e contradições da luta de classes em 2011 a questão decisiva da conjuntura e cena histórica: a crise do capital em seu aspecto econômico. Quanto aos aspectos políticos e ideológicos, estes tendem a se apresentar inteiramente subsumidos ao primeiro, embora dificultando a visualização das rupturas com as tendências e contra tendências dominantes em 2011; portanto, se teoricamente são incapazes de fugir da problemática imposta pelas oligarquias dominantes às classes e camadas sociais subalternas do sistema, logo, também são incapazes de sobrepor respostas e ações mais contundentes e decisivas em si e para si, segundo os novos paradigmas adotados em solução aos problemas cruciais da humanidade, mesmo mediadas por transformações aparentemente radicais ou moderadas.

O contexto é relativamente simples para o entendimento, pois se sustenta na tese de que a luta de classes demonstra amplamente uma situação defensiva da classe operária e ofensiva da classe burguesa; então, é uma tendência plausível que o problema central da sociedade humana – até como reflexo mecânico – seja o problema da classe dominante (MARX & ENGELS, 1973). Deste modo, em 2012, caso as predições fatalistas e cataclísmicas não aconteçam, a crise do capital continuará sendo a âncora do ciclo em que flutuam as soluções e tarefas impostas pela correlação de forças da “conjuntura”. Daí, parece improvável e pouco crível a ruptura com a tendência central de 2011 de aprofundamento da crise e da solução pela guerra imperialista ou outras estratégias de domínio e recolonização pelo sistema.

Porém, é sempre um grave equívoco para os revolucionários subestimarem a capacidade de resistência e entrega das massas trabalhadoras nestes momentos decisivos da história, que combinada à tese do “elo mais fraco da cadeia imperialista”, de Lenine, pode mudar a correlação de forças e se encaminhar para um desdobramento totalmente imprevisível e impensável pela lógica do sistema. Nestas circunstâncias, é necessária uma análise mais profunda da geopolítica ou geoestratégia do capital, observar suas contradições em relação às suas próprias forças, bem como em relação às forças de resistências às mesmas. Naturalmente, joga um papel decisivo nesta análise o conceito de custo-benefício para o capital dos meios empregados na realização estratégica, a exemplo dos custos da guerra contra o Afeganistão e os benefícios atuais, idem em relação ao Iraque e à Líbia. É muito importante se questionar qual o limite da expansão do capital ao Oriente e ao norte da África; qual a probabilidade de mudança de cenário e forma de guerra, do Oriente para o Ocidente, do norte para o sul. Sem dúvida, este rascunho tende a se tornar mais preciso em 2012.

A afirmação da crise do capital como âncora tendencial, que demarca os limites elípticos das tendências políticas e ideológicas que orientam as estratégias de ações das classes sociais em luta, se sustenta em tese plausível e comprovável tanto teórica quanto empiricamente. Teoricamente se sustenta na interpretação da teoria de Marx em termos da crise de mensuração de valor, ou seja, na perda da efetividade do paradigma de mensuração do valor e riqueza social deduzida da relação tempo/trabalho socialmente necessário, dada a aplicação da ciência e da técnica, em escala cada vez maior, alterando a composição orgânica drasticamente, tendendo a reduzir o parâmetro de mensuração tempo/trabalho necessário ao estilo do sofisma de Zenão, visto que este parâmetro não é suficiente para mensurar o próprio valor da ciência e da técnica incorporadas ao processo de produção em máquinas e materiais, em substituição ao trabalho humano direto – desgaste da força muscular, nervos e intelecto – e indireto – vigilância e controle da produção – esvanecendo a linha divisória entre trabalho vivo e trabalho morto, exigindo a mudança de paradigma do valor trabalho para o valor tempo livre.

Esta pedra filosofal desencavada dos rascunhos de “O Capital” – “Grundrisse” – (MARX, 2009), embora não seja uma questão nova como atestaram o próprio Marx (Notas Marginais ao Tratado de Economia Política de Adolph Wagner, 1879), Engels (O Capital, Livro III, 1894) e Lenine (1985), se tornou a pedra de toque do marxismo de cátedra atual, pasmando suas versões desta formulação de Marx, ora absolutizando-a, ora relativizando-a, ora desviando-se da mesma, tal como se pode observar na formulação de Kurz (1992), Mèszáros (2002), Lebowitz (2005), Arrigui (2008), Amin (2011), entre os mais destacados. A tese de Kurz, do fim do trabalho, resulta da aplicação absolutizada da tendência de perda de validade da relação tempo/trabalho necessário na leitura categórica do sistema do capital. Desclassifica o conceito de luta de classes, pois não é considerado por ele como parte do núcleo mais permanente ou abstrato da teoria marxista, porém como parte temporal e histórica extrapolada da composição do valor entre tempo excedente e tempo necessário (ou valor de troca e valor de uso). Sem este último resta, tão somente, tempo excedente, ou valor abstrato (o capital), que exige uma nova estrutura temporal e histórica, logo um novo paradigma liberto do trabalho. Mèszáros também caminha pelas mesmas águas turvas, contudo, relativiza a formulação de Marx mediatizando-a com o conceito da Taxa de Utilização Decrescente. Sua tese da destruição produtiva (derivada da formulação de Schumpeter combinada com a reprodução ampliada e subconsumo de Rosa de Luxemburgo) relativiza a autonomização do valor abstrato em relação ao valor de uso, e isto permite a sobrevida do capital até chegar aos seus limites absolutos, constituindo a crise estrutural do sistema do capital. Sua tese conclui, como Kurz, pela sobrevida do capital para além e para aquém do sistema capitalista, logo, permitindo e até mesmo definindo uma nova modalidade de transição do capitalismo ao socialismo que designa como sociedade pós-capitalista

Nos casos de Lebowitz e Arrighi, embora tenham por premissa na análise do sistema a economia política, as bases teóricas de exame discrepantes no enfoque da crise, o primeiro ricardiano-hegeliano; o segundo smithiano – gramsciano, concluem pela leitura dos Grundrisse que estas não passam de “turbulências” ou “barreiras superáveis” ad infinitum pelo sistema, portanto, transferindo o problema da mudança e superação do capitalismo para a esfera político-econômica pela adoção de uma economia política voltada para a classe operária fundada em cooperativas de produção alternativas ao sistema (LEBOWITZ, 2005) e para a esfera da geopolítica como superação da crise de hegemonia decorrente do estado estacionário da economia dos EUA (ARRIGHI, 2008). O primeiro defende sua concepção de crise ricardiana, ou seja, “barreiras sempre transpostas pelo sistema”, com base em sua descoberta do conceito hegeliano de obstáculos com o mesmo significado de barreira aplicado por Marx nos Grundrisse (BEVILAQUA, 2011); o segundo fundamenta sua tese de crise de hegemonia pela mesma concepção de superação de barreiras fundada na “destruição produtiva” de Schumpeter e no estado estacionário da sociologia smithiana.

Neste sentido, a formulação de Samir Amin sobre a crise, embora considerada dentro do eixo teórico de Wallestein e sua teoria do sistema mundo, ao contrário de Arrighi e mais próximo ao estilo de Theotônio dos Santos (1983), apresenta uma contribuição menos eclética na aplicação do marxismo indo ao ponto central da crise em termos da teoria do valor pela contradição entre trabalho vivo e trabalho morto, expressa na composição orgânica do capital assimétrica entre os centros e a periferia do sistema que deve ser compreendida, como afirma o próprio Amin (2011), por todos os países abaixo da tríade Estados Unidos, União Europeia e Japão. Esta análise de Amin, sem dúvida, traz o problema da crise para a esfera da determinação econômica e nesta trata o problema levantado por Marx nos Grundrisse da tendência da aplicação do capital fixo no processo de produção cuja punção é esvanecer a categoria tempo-necessário como parâmetro relacional do valor abstrato (2009). A visão dual deste fenômeno entre centro e periferia permite a tese mediadora do desequilíbrio estrutural da relação de valor já visualizada desde a teoria da dependência, tanto no trabalho de Rui Mauro Marini Dialética da Dependência (1976), o modelo de acumulação de capital associado e dependente do imperialismo no padrão de acumulação assimétrica entre centro e periferia derivado do superlucro. O fundamento desta tese de Marini pode ser observado em parte no trabalho de Theotônio dos Santos A Revolução Científico-Técnica e Acumulação de Capital (1987); neste, Santos extrapola a relação aplicada por Marx em O Capital entre as fases da revolução industrial e as partes da máquina para a relação entre a mudança da composição orgânica do capital e a revolução informacional que em seu limite conduz ao desequilíbrio da relação de valor entre abstrato e concreto, se expressando na tendência à queda global da taxa de lucros.
3. As tendências e as tarefas gerais em 2012


É sobre esse quadro teórico que se pode avançar na definição do conteúdo das tendências que dominarão a cena histórica em 2012 fundadas no aprofundamento da crise, tanto por sua natureza como crise orgânica do capital, que se expressa no desequilíbrio estrutural do valor abstrato em si e para si em relação ao valor de uso no âmbito global do sistema e suas assimetrias entre centro e periferia, norte e sul; quanto pela geoestratégia das oligarquias mediada pela resistência e lutas dos povos nos centros e periferias do sistema. Nestes termos, não é absurdo supor que o processo de reequilíbrio da taxa global de lucro continuará através das drásticas desvalorizações monetárias, bem como o aperto monetário e restrições de crédito tendem a frear o investimento, mesmo os de índole keynesiana, agravando a crise e comprometendo a arrecadação fiscal dos países e aprofundando a situação de inadimplência das dívidas soberanas. Também não é difícil extrapolar deste processo as medidas de política que sacrifiquem os trabalhadores com o desemprego, redução de salários, cortes de benefícios e limitação ao crédito nos países, como afirma Amin, da periferia do sistema e, sobretudo, que o sacrifício dos países emergentes se transforme em novo ciclo de crise profunda.

Mas, se tais tendências econômicas e políticas são previsíveis e, até certo ponto, transparentes em relação ao problema central da conjuntura – a crise do capital – por outro, ideologicamente, não se pode esperar tal clarividência. A tendência a isolar os acontecimentos e desconectá-los de suas relações de interdeterminação com a crise é a profissão de fé dos aparelhos ideológicos do sistema, constituindo um monstruoso aparato de divisão e maniqueísmo sobre as massas trabalhadoras. Além disso, com a total viragem da ciência burguesa para o charlatanismo, fortalecido pela crise do marxismo, abrange todos os aspectos da formação da consciência humana em relação à realidade, tornando-se assim uma indústria estratégica para a sobrevida do sistema e enfraquecimento da luta revolucionária. Portanto, dentre as tarefas principais dos revolucionários, merece destaque especial a luta contra a ideologia do sistema, como já preconizado por Fidel Castro através da tese da Batalha das Ideias.

E qual é a melhor maneira de conduzir esta luta? Em nossa compreensão, em termos teóricos, é expondo o real problema do capital e seu sistema, que é a sua própria crise orgânica expressa na contradição fundamental entre o trabalho abstrato (morto) e o trabalho concreto (vivo) na formação do paradigma de valor e riqueza social. A assimetria entre centro e periferia do capital como sistema, dada a revolução científico-técnica na terceira e última parte da máquina - transmissão e controle – desequilibrou globalmente a formação do valor, impedindo sua mensuração ou paradigma de mensuração - a relação tempo/trabalho necessário - à aplicabilidade universal. Este fato se expressa na composição orgânica do capital distinta em ambos os polos do sistema, deteriorando as relações de troca e reprodução ampliada do mesmo. A aplicação da ciência e da técnica ao processo de produção mudou o paradigma de mensuração de valor nos centros e setores produtivos de alta composição do capital, rompendo a relação tempo/trabalho necessário, adotando a relação tempo livre social. Daí, a desestruturação orgânica do paradigma de valor e riqueza social do sistema e, com ela, a desestruturação de todo o sistema de valores da sociedade burguesa atual.

Contudo, é impossível conduzir este combate de ideias eficientemente sem as armas fundamentais para tal, sejam as intelectuais, sejam as materiais; do mesmo modo ao se falar de armas aptas e manejáveis a um objetivo revolucionário alternativo ao capital e seu sistema, isto implica dizer tática revolucionária e estratégia revolucionária do Comunismo. Neste sentido, não é possível imaginar tal processo sem uma organização adequada, formada pela livre associação de homens e mulheres com a mesma finalidade e objetivos gerais; pois, da mesma forma que não se pode pensar em estratégia revolucionária do Comunismo sem a teoria de O Capital e a teoria do Partido Comunista de Marx e Engels (1985 e 1973), também não se pode pensar em tática revolucionária e revolução sem a teoria do Imperialismo e a teoria do Partido de Novo Tipo de Lenine (1985). Daí a grande tarefa da construção da organização revolucionária aparecer como causa e, ao mesmo tempo, consequência (suposta e pressuposta) das demais tarefas, e que se desenvolve dialeticamente ligada a todas as demais tarefas da luta de classes na conjuntura e período histórico deste ano.

É legítimo perguntar até que ponto existe uma hierarquia entre as tarefas que derivam destas duas determinações gerais da luta de classes: das que decorrem da luta de ideias e as que decorrem da luta organizativa. A esta questão vale pensar a relação em termos da determinação, pois seria possível desenvolver uma batalha de ideias sem uma organização revolucionária e seus instrumentos ou armas de batalha? Pelo contrário, surge a questão: é possível desenvolver uma organização revolucionária sem ideias revolucionárias? Eis, portanto, o dilema central entre teoria e prática cuja solução está em entendê-las como polos contraditórios de um movimento revolucionário que pode ter por ponto de partida a luta empírica ou teórica ou, como diz Lenine, o movimento de baixo para cima ou de cima para baixo. O fato é que as ideias revolucionárias não são uma evolução espontânea da luta de massas, bem como a luta revolucionária de massas não é uma derivação direta de ideias revolucionárias. As mediações que se apresentam entre teoria e prática revolucionária como particularidades históricas são resultantes da singularidade e universalidade do movimento revolucionário mundial, portanto, a pergunta legítima tem por resposta legítima a particularidade histórica da formação do grupo de origem da formação revolucionária, que varia de realidade para realidade e se unifica na universalidade da ciência marxista e na luta internacionalista.

Assim, da luta de ideias contra a ideologia do sistema que fetichiza os fatos dissociando suas relações com a crise do capital e escondendo esta última, mais que demandar uma análise real da crise, demanda uma campanha de propaganda e agitação em todas as frentes da formação da consciência social, que demonstre a falsidade das ideias das oligarquias e exponha a verdade sobre a crise. Porém, como realizar essa campanha sem os quadros e o material propagandístico, ou mais precisamente, os meios mais apropriados à ação? Então, se apresenta historicamente a necessidade de um centro ideológico, em sua dimensão de pesquisa, formação e difusão. Neste ponto, surge a luta organizativa como movimento fundamental e berço elementar dos quadros estruturados em todos os níveis de demandas da luta revolucionária, desde a esfera econômica à política e ideológica contra o sistema. Portanto, os passos na organização do movimento de luta exigem par e passo à ação das massas, a difusão e defesa das ideias revolucionárias, até a formação da consciência das mesmas pela unidade entre prática e teoria. Eis, assim, uma escala de tarefas gerais para 2012, tendo por base a luta de ideias e a luta organizativa.

Todos à luta para desmascarar a ideologia burguesa e denunciar a crise do capital!
Todos à luta pela construção do Partido Comunista Marxista-Leninista em todo o Brasil!
Ousar Lutar! Ousar Vencer!
Venceremos!

P. I. Bvilla
Pelo OC do PCML


Referências Bibliográficas:



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Essa matéria foi publicada na Edição 456 do Jornal Inverta, em 17/01/2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Urinando sobre o mundo

Por : Laerte Braga


Soldados da democracia cristã e ocidental aparecem num vídeo feito no Afeganistão urinando sobre corpos de supostos guerrilheiros talibãs mortos. São bestas/feras. No processo de transformação dos EUA em um grande complexo terrorista – a maioria do controle acionário é de sionistas – o episódio foi logo minimizado pela mídia de mercado e poucos veículos noticiaram o fato no Brasil.

O vídeo está disponível no Youtube e pode ser visto em

http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/article1242969.ece

O governo Bush terceirizou funções militares, tais como recrutamento, treinamento e ações de campo a empresas privadas. Serviços de inteligência são hoje praticamente controlados por essas empresas.

A guerra deixou de ser um negócio disfarçado para se transformar em alavanca do império em decadência.

Toda a indústria armamentista norte-americana é privada e hoje, na chamada nova estratégia de defesa do presidente Barack Obama (um Bush com jogo de cintura, cínico e perverso), esse tipo de negócio tende a prosperar com a fantástica tecnologia de destruição que os norte-americanos detêm e ampliam cada vez mais.

Em breve as bestas/feras que urinam sobre todo o mundo estarão portando armas nucleares de pequeno porte, mas de efeito devastador e carregadas em mochilas. Ao lado do chocolate, dos cigarros e dos enlatados. E lógico, dos chicletes. É indispensável ao jeito de ser boçal e arrogante dos norte-americanos.

A visita do presidente do Irã a países da América Latina não incluiu o Brasil. Ahmadinejad sondou o governo brasileiro sobre seu interesse em estar com Dilma Roussef. O ministro das Relações Exteriores não é mais Celso Amorim, mas atende pelo nome apropriado de Antônio Patriota. Faz parte da turma que se precisar tirar o sapato e cai de quatro para ser revistado em aeroportos dos EUA., tira e cai.

O governo Dilma conta jogar um jogo de nem faz e nem deixa de fazer em relação ao Irã de olho em eventuais benesses norte-americanas diante da crise econômica que afeta o mundo. Não passou ainda com intensidade pelo Brasil, mas já pode ser avistada em forma de tormenta vinda de outras partes do planeta. Como entreposto do capital internacional o Brasil cai na armadilha do capitalismo e é guardado como reserva para futuros saques.

A sorte da presidente é que a oposição é débil, composta de notórios corruptos comprometidos com o neoliberalismo de Washington e o populismo inaugurado na era Lula vai servir de rede para Dilma e seu PT cada vez mais PSDB por sua cúpula.

Esse jogo duplo, sem cara, começou com Lula, no acordo de livre comércio firmado com o governo de Israel. Isso significou abrir os portos brasileiros à ocupação sionista. A indústria bélica brasileira já é desses grupos.

Richards J. Roberts, prêmio Nobel de Medicina, em entrevista pública, entre outras coisas disparou contra a indústria farmacêutica.

“Os medicamentos que curam completamente não dão lucros.

“A pesquisa sobre a saúde humana não pode depender apenas de sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas, nem sempre é bom para as pessoas”.


“Eu vi que em alguns casos, os cientistas que dependem de fundos privados descobriram um medicamento muito eficaz, que teria eliminado completamente uma doença ...

as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas na cura, mas na obtenção de dinheiro, assim a investigação, de repente, foi desviada para a descoberta de medicamentos que não curam completamente, tornam isso sim, a doença crônica. Medicamentos que fazem sentir uma melhoria, mas que desaparece quando o doente pare de tomar a droga”.


“Pararam investigações com antibióticos porque estavam a ser muito eficazes e os doentes ficaram completamente curados. Como novos antibióticos não foram desenvolvidos, os organismos infecciosos tornaram-se resistentes e a tuberculose hoje, que na minha infância tinha sido vencida, reaparece e matou no ano passado um milhão de pessoas”.


“Não fique muito animado: no nosso sistema, os políticos são meros empregados das grandes empresas, que investem o que é necessário para que os "seus filhos" se possam eleger, e se eles não são eleitos, compram aqueles que foram eleitos.
O dinheiro e as grandes empresas só estão interessados em multiplicar. Quase todos os políticos - e eu sei o que quero dizer, dependem descaradamente destas multinacionais farmacêuticas, que financiam as suas campanhas.
O resto são palavras...”

É óbvio que o modelo cubano afeta o capitalismo, amedronta essa estrutura cruel e boçal. Busca a cura e a despeito do bloqueio imposto pelos que urinam sobre o mundo e obtém resultados fantásticos.

Ralph Nader, precursor na luta pelos direitos do consumidor e depois pelos direitos fundamentais do cidadão, chegou a afirmar na década de 70 que a GOODYEAR poderia fabricar pneus com alta durabilidade, pelos menos dez mais que os atuais modelos, mas não se interessava, pois o lucro sumiria.

É por isso que a crise é de modelo. O capitalismo transforma o ser humano em “não pessoas”. A afirmação é de Noam Chomsky, judeu e notável professor dos EUA. Faz parte do um por cento de norte-americanos que consegue acreditar em vida inteligente para além e fora dos sanduíches da rede Mcdonalds acompanhados de Coca Cola.

O resto já nem acredita mais em Superman. A mediocridade que resulta da arrogância é tanta, que acham que Silvester Stalone mesmo resolve.

As coisas no Brasil andam em correntezas ou grandes pastos secos. O ministro Fernando Bezerra está sendo acusado de favorecer com verbas públicas o seu estado natal, Pernambuco. Não há uma linha sobre os recursos orçamentários para o combate a “desastres naturais” transferidos para a Fundação Roberto Marinho, laranja da quadrilha Marinho e que opera a lavagem de dinheiro das operações do grupo.

Nem Bezerra e nem Marinho são flores que possam ser cheiradas.

Protestos estudantis contra o aumento das tarifas de transportes coletivos urbanos em Vitória no Espírito Santo e Teresina, no Piauí, são reprimidos com a costumeira “gentileza” das polícias militares. Aberrações em qualquer democracia que se pretenda como tal, instrumentos de defesa das elites e forças corruptas, o que se vê, diariamente, até na mídia de mercado. Borduna, gás de pimenta, gás lacrimogênio, o de sempre. O governador do Piauí nem sei quem é, nem é necessário saber seu nome para saber que é como a maioria. Coronel político posto em cargo público a serviço de bancos, grandes corporações e latifúndio. O do Espírito Santo, ao contrário, chamam de Renato Casagrande. É governador nominal. Paulo Hartung governa de fato. Casagrande leva tranqüilo o troféu banana do ano até então em mãos de Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas.

Não apita nem sobre seu almoço. Pelo contrário, atende a apitos de Hartung. Como não usa “tigre”, vive fazendo flexões. O Espírito Santo, por suas características, inclusive dimensões territoriais, resta sendo a síntese explícita das máfias políticas que atuam no Brasil. Executivo, Legislativo e Judiciário.

Um desses “meganhas”, transformado em estudante (deve ter sido um esforço sobre humano), nas velhas táticas das ditaduras, colocou fogo num ônibus em Vitória e transformou estudantes em baderneiros. Casagrande se refugiou na despensa enquanto Hartung comandava a operação. Comeu latas de salsichas enquanto aguardava as ordens para voltar a ser objeto de decoração visível ao público.

Um PM (uai, esperava o que?) agrediu um estudante negro na USP. A universidade é controlada pela Polícia Militar (Polícia?) Pô meu! O governador do estado é um pastel de vento disfarçado, vem com a roupa da OPUS DEI, organização criminosa que opera nos porões e palácios do Vaticano.

Os modelos são desenhados pela DASLU e financiados pela FIESP.

A propósito de modelos, as FARCs-EP (FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS COLOMBIANAS-EXÉRCITO POPULAR) desenvolveram há décadas um projeto de casa popular (a sobrevivência na selva) que países como o Canadá aprimoraram. O projeto original era de 48 metros quadrados, com garantia de 20 anos contra qualquer problema comum a casas construídas por quadrilhas/empreiteiras. Podem se transformar em mansões se estendidas.

E não só no Canadá o projeto ganhou força, em vários outros países do mundo. Um prefeito de uma cidade atingida pelas águas disse que o difícil e atrair empreiteiras para obras de reconstrução, pois o lucro é pequeno.

Grande é a ganância, urinam sobre o mundo inteiro.

O vídeo de bestas/feras chamadas de mariners urinando sobre os corpos de supostos guerrilheiros talibãs é a definição pronta e acabada do que os EUA fazem sobre todo o mundo. Urinam montados em arsenais nucleares, sobre os quais querem o privilégio. O monopólio do terror.

Qualquer problema é só organizar uma carreata de integrantes do BBB – existe no mundo capitalista inteiro exatamente para isso – e pronto, tudo resolvido. Viram heróis.

É uma “mijada” e tanto. O corriqueiro do dia a dia sobre “não pessoas”.

laertehfbraga@gmail.com

http://www.abdic.org.br/urinando_sobre_mundo.htm

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Segredos do Caribe

Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual

As evidências de que o dinheiro que arrematou estatais leiloadas pelo governo FHC enriqueceu também gente muito próxima do núcleo tucano transformam um livro em best-seller e a mídia em avestruz – e sugerem uma nova agenda política para o novo ano


No final dos anos 1990, Aloysio Biondi, aos 40 anos de profissão, era respeitado no meio jornalístico por não paparicar fontes nem políticos. Costumava guardar recortes de jornais, consultar documentos públicos de bancos, empresas, diários oficiais, fuçar balanços, fazer contas. Crítico do processo de privatizações desencadeado pelo governo de então, as portas começaram a se fechar. Suas colunas na Folha de S. Paulo foram reduzidas, e seu cachê, idem. Seus textos foram parar no extinto Diário Popular e em veículos da imprensa sindical. Antes de morrer, em julho de 2000, deixou o livro "O Brasil Privatizado". “O balanço geral mostra que o Brasil ‘torrou’ suas estatais, e não houve redução alguma na dívida interna”, escreveu.

Esse legado investigativo foi fonte de inspiração do jornalista mineiro Amaury Ribeiro Jr., como ele credita nas primeiras páginas de "A Privataria Tucana", lançado em dezembro. Graças à internet, o livro sobre mazelas políticas do país virou campeão de vendas no fim do ano – e promete ser determinante para a história de 2012.

Recheado de documentos públicos e obtidos em processos judiciais, a reportagem atira para diferentes lados. E pode ter ferido de morte expoentes do PSDB, envolvidos no processo de privatização durante a década de 1990.

Que a venda de estatais foi pautada por convicções ideológicas e interesses do mercado, até os beneficiados por elas admitem. A falta de transparência, a confusão entre interesses públicos e privados e as suspeitas de irregularidades permearam o processo. Reportagens publicadas no período ofereciam farto material – em fontes oficiais, escutas telefônicas e documentos de contas em paraísos fiscais.

A mesma velha mídia que fechara portas a Biondi reagiu com silêncio sepulcral. “Quando peguei a Veja da semana e vi que não tinha nada sobre o livro (risos)... Percebi que demos um nocaute na grande imprensa, na blindagem que têm os tucanos”, disse Amaury Ribeiro Jr., em debate realizado no auditório do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que Biondi também frequentou. O livro só foi mencionado em páginas de jornal e de revista quando apareceu entre os mais vendidos.

A investigação de Ribeiro Jr. começou em 2001, quando, recém-transferido para O Estado de Minas, em Belo Horizonte, foi encarregado de acumular material contra José Serra. A encomenda era proteger Aécio Neves, então e atual presidenciável tucano.

E o caso viria à tona em 2010, quando o jornalista foi apontado como membro de uma suposta “central de inteligência” da campanha petista pela eleição de Dilma Rousseff à Presidência da República. Ele acredita ter sido vítima de uma armação para incriminá-lo, na tentativa de criar uma “vacina” contra uma eventual publicação do livro durante o processo eleitoral.

O jornalista revela documentos que indicam pagamento de Carlos Jereissati – do grupo La Fonte, que venceu o leilão para a compra da Telemar em 1998 – a Ricardo Sérgio de Oliveira.

O ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e tesoureiro de campanhas eleitorais de FHC e de Serra é apresentado como “artesão” dos consórcios de privatização – trabalho para o qual teria sido remunerado “extraoficialmente”. Documentar esse papel é, na visão do próprio Ribeiro Jr., uma das novidades do livro.

O ex-governador paulista é outro dos personagens centrais, tanto por iniciativas de contratar empresas de espionagem com dinheiro público no Ministério da Saúde e no Palácio do Planalto como por ter familiares envolvidos em operações de lavagem de dinheiro. A filha Verônica, o genro Alexandre Bourgeois e o primo de sua mulher Gregório Marin Preciado são os acusados.

Outros personagens carimbados das privatizações também aparecem, e vão além da figuração. Daniel Dantas, dono do banco Opportunity e protagonista dos malfeitos investigados pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, em 2008, é um deles.

São descritas operações ilegais para trazer ao país dinheiro guardado no exterior. Há curiosas revelações relacionadas à sociedade entre a irmã do banqueiro, Verônica Dantas, e a xará Verônica Serra. A parceria na Decidir.com estabelece um elo umbilical entre uma figura cercada de suspeitas e o núcleo familiar do cacique tucano.



Modus operandi
Boa parte das operações descritas pelo autor segue caminho semelhante. Por meio de doleiros, recursos de provável desvio de verbas ou pagamento de propinas é remetido ao exterior. Isso aconteceu em profusão por meio do Banestado, banco estadual paranaense, liquidado em 2000 pelo Banco Central. A lavanderia operada nos quatro últimos anos de existência da instituição incluía passagem pelos Estados Unidos para, depois, aportar nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, e outros paraísos fiscais.

Na hora de trazer o recurso de volta, a chamada internalização, simula-se um investimento direto de empresa estrangeira em um empreendimento nacional. Por isso, a transação pouco comove o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda, que fiscaliza essas movimentações.

Mas a farsa cai diante da revelação de que as operações nas quais os mencionados no livro se envolveram eram promovidas com a assinatura da mesma pessoa tanto na saída dos recursos do paraíso fiscal como na entrada, no Brasil. Em outras palavras, o que parecia ser o país atraindo dinheiro de estrangeiros era, de fato, uma forma de esconder a origem do dinheiro e sonegar impostos.

Mais que a necessidade de se investigar e responsabilizar pública e penalmente os artífices de eventuais ilegalidades da privataria, o livro provoca uma discussão: a do combate à permissividade da legislação brasileira com transações financeiras via offshore. O nome desse tipo de empresa instalada em paraísos fiscais tem origem, não por acaso, no termo em inglês usado para designar ilhas usadas por piratas do século 18 para guardar tesouros.

O fato é que não há motivos para um investimento com dinheiro limpo precisar passar por paraísos fiscais. Esses locais, por não exigirem comprovação de origem nem detalhamento da identidade do depositante, servem amplamente a quem precisa esconder verbas públicas desviadas, manobras de sonegação de impostos ou rendimentos do crime organizado.

No Congresso
Para proteger o país de operações ilegais e dificultar novos desvios, a discussão precisa passar pelo Congresso Nacional. O primeiro passo, porém, é a investigação. Depois da chegada aos pontos de venda, não tardou para parlamentares de diferentes legendas fazerem menção à publicação e entrar na agenda o pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso. O fato relevante exigido pela Constituição para levar adiante a CPI da Privataria está nos documentos contidos no livro. As 185 assinaturas – 14 a mais do que o mínimo de um terço dos 513 membros da Câmara Federal – colhidas pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) incluem gente de todas as colorações partidárias.

Embora os líderes do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e do PT, Paulo Teixeira (SP), tenham preferido não assinar para manter a “neutralidade” que a relação com outras legendas exige, 67 petistas subscreveram. A seguir, estão os governistas PMDB e PSB (18 cada), PDT (17), PR (15) e PCdoB (13). Alguns oposicionistas – DEM (5), PSDB (4) e PPS (4) – também aderiram.

No lançamento do livro, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé na sede do Sindicato dos Bancários, Protógenes afirmou que a iniciativa visa a proteger a integridade física do autor do livro. “Não poderíamos demorar muito para não perder o ‘timing’ e perder o Amaury”, lembrou. O jornalista corria o risco de “virar estatística”, segundo termos do delegado, “sofreria um ‘assalto’, diriam que reagiu”.

A expectativa é de que o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), instale a comissão em fevereiro, depois do recesso. “Se a CPI for mesmo aberta, vou avisar que o que está no livro é pequeno”, adiantou Ribeiro Jr. O ano novo promete.

Colaboraram Vitor Nuzzi e Paulo Donizetti de Souza

domingo, 15 de janeiro de 2012

A internet e a classe trabalhadora

Por Steve Zeltzer, na revista Caros Amigos:

De trabalhadores da fábrica têxtil no Egito às fábricas têxteis de Mahalla, aos trabalhadores chineses em fábricas da Honda, aos funcionários públicos de Wisconsin: redes sociais, internet e novas tecnologias de comunicação estão desempenhando um papel fundamental na ligação de trabalhadores em nível local, nacional e internacionalmente.



Em cada uma dessas lutas o uso de mensagens de texto via celular, Twitter, YouTube e transmissões de vídeo está desempenhando um papel vital em ajudar a passar a palavra, defendendo contra a repressão e articulação com os trabalhadores em toda parte do mundo.

A economia global e a busca por maior rentabilidade é a força motriz no desenvolvimento de tecnologia de comunicações. Linhas de produção internacionais estão ligados através da internet, e a exportação e transferência de trabalho através da rede é endêmica.

A ampliação da cobertura pela telefonia móvel tem sido vital para aqueles que trabalham globalmente. Em 2010 existiam 4,6 bilhões de telefones celulares em serviço, que passou a 5 bilhões em 2011. Mesmo em partes da África onde apenas 5% da população tem eletricidade, trabalhadores globais, e particularmente trabalhadores estrangeiros, agora estão linkados através de seus telefones celulares.

Pioneiros

Um dos primeiros usos da internet pelos trabalhadores para a educação e solidariedade foi o dos estivadores de Liverpool, na Inglaterra, em 1995. Os 500 trabalhadores que eram líderes locais e membros da Transport and General Workers Union (TGWU) se recusaram a atravessar a linha estabelecida para os piquetes. Esta atitude foi considerada ilegal sob as leis antitrabalhistas de Thatcher e os estivadores não apenas enfrentaram as leis governamentais, mas também a aceitação delas pela seu sindicato. Os trabalhadores tinham que quebrar o bloqueio da informação. LaborNet, em colaboração com a GreenNet, membro no Reino Unido da Association for Progressive Communications (APC), dos Estados Unidos, desenvolveram com o trabalho de Chris Bailey e Greg Dropkin o primeiro web site para apoiar as lutas globais.

A página da web permitiu aos estivadores de Liverpool levar sua luta para os australianos, assim como para trabalhadores portuários de todo o mundo. O trabalho incluía mensagens de solidariedade e ajudou a solidificar uma campanha internacional de defesa que envolveu igualmente ações de estivadores nos Estados Unidos, Canadá e Japão contra o navio Neptune Jade.

Uma das lições desta luta para as classes trabalhadoras foi que as leis antitrabalhistas, as restrições à solidariedade e as ações das corporações para impedir o conhecimento das lutas dos trabalhadores poderiam ser superadas utilizando-se a internet. De fato, durante o boicote ao Neptune, navio a serviço de uma empresa considerada perseguidora de sindicatos, imagens em vídeo foram providenciadas para a CNN no Reino Unido e pela primeira vez a emissora mostrou que o boicote tinha apoio internacional.

Este uso multimídia de computadores tem sido replicado muitas vezes através da rede mundial e o crescimento das redes sociais e transmissões ao vivo fazem desta ferramenta um serviço de 24 horas por dia.

Trabalhadores temporários e comunicação

Capitalistas também têm procurado usar a tecnologia para o controle dos trabalhadores temporários. Um documento chamado "A Revolução Beeper da Coréia" mostra como os trabalhadores eram contratados sendo bipados através de seus telefones móveis e não tinham contato com outros trabalhadores. Isto também os impediu de unirem-se e começar a se organizar. A atomização dos trabalhadores, que não estão trabalhando juntos no mesmo local como antigamente, mas apenas quando bipados ou chamado ao telefone, é um grande obstáculo à organização dos trabalhadores.

Este é especialmente o caso com o uso de trabalhadores temporários em nível global, como na Espanha e outras partes da Europa, bem como na Coréia, onde 30% ou mais da força de trabalho são temporários. No Japão, onde estes trabalhadores, na sua maioria jovens, são chamados Freeta, a sua marginalização através de seu isolamento é uma política consciente das corporações e governo. Eles têm feito isso através da desregulamentação e de leis antissindicais, que inibem a sindicalização e a ação coletiva.

Vigilância

Em um documento chamado "Trabalhadores sob vigilância e controle" ("Workers Under Surveillance and Control: Background"), apresentado pelo professor coreano Kang Soo-dol, da Universidade da Coreia na Terceira Conferência Anual Internacional de Trabalho com Mídia de Seul (Third Annual Seoul International Labor Media) de mídia em 2001, foi salientado que este meio de controlar e utilizar o trabalho era extremamente ligado ao uso de tecnologias digitais e de comunicação.

O grande temor do capital é que através de seu poder coletivo, o trabalhador irá se recusar controle de gestão e ameaçar o seu poder para governar. Este medo foi confirmado na greve geral de 1997 na Coreia do Sul, quando a jovem Confederação Coreana de Sindicatos (KCTU) liderou uma greve geral, em parte através do uso de redes de computadores. Na segunda edição da conferência em Seul, foram apresentados relatórios sobre o uso pelo Sindicato dos Metroviários de Seul de um grupo de usuários de computador (CUG) para ajudar a organizar a greve geral. Sindicalistas relataram que tinham que ir de metrô para realizar a greve, e fez isso através do uso de redes de computador para manter a comunicação aberta na greve bem sucedida. Esta foi também a primeira greve geral em que os trabalhadores usaram de vídeo para documentar o movimento em todo o país com o desenvolvimento de uma estação de trabalho em vídeo.

Festivais de trabalhadores

O crescimento do LaborFests, festival de cinema dedicado à classe operária, e de outros festivais de cinema e vídeo, também se tornaram uma ferramenta para a expansão da comunicação e do conhecimento sobre o trabalho e as lutas democráticas dos trabalhadores em todo o mundo. O LaborFest, primeiro em San Francisco em 1994, agora se expandiu internacionalmente, com festivais de cinema na Turquia, Coréia, Japão, Argentina, África do Sul e outros países. Estes vídeos também podem ser transmitidos ao vivo e o desenvolvimento de um canal internacional de vídeo do trabalho na internet e TV a cabo seria um poderoso veículo para a construção da solidariedade e o incremento da educação.

O uso de uma variedade de tecnologias de comunicação nas lutas do trabalho é uma lição vital da nova era das telecomunicações. Este foi também o caso com os trabalhadores egípcios de Mahalla que usaram seus celulares para organizar suas ações e superar o controle governamental da informação. Como sugerido, o uso de telefones celulares tornou-se um veículo histórico para os trabalhadores e das lutas dos povos em todo o mundo. Hoje, os trabalhadores de Mahalla não apenas usam seus telefones móveis para a mobilização, como também sites de redes sociais, como o YouTube, para divulgar seus planos de ação.

Papel fundamental

Outro relatório, elaborado por Hossam El-Homalawy, um jornalista e ativista, mostra como o papel do telefone celular e redes de computadores foi fundamental na construção do movimento operário no Egito - e de fato levou à fundação do movimento de massas que tirou Mubarak do poder.

Telefones celulares também têm o potencial de serem usado para espionar os trabalhadores e para impedir a sua luta por união pelos direitos trabalhistas. O caso mais chocante é também na Coréia, onde os trabalhadores da Samsung tentavam se organizar. Eles conversaram com seu advogado para saber seus direitos e quando voltaram para a fábrica, seu chefe repetiu palavra por palavra o que tinham conversado. Seus telefones haviam sido usados pela virulentamente anti-trabalhista Samsung para rastrear suas localizações e gravar o seu encontro privado com o advogado.

Novamente, o trabalho de mídia independente do movimento foi capaz de produzir um vídeo sobre como os telefones móveis estão sendo utilizados contra os trabalhadores. Baseado em Seoul, o Laboratório de Produção de Notícias fez um documentário chamado de "Big Brother Está Olhando: O Outro Lado da Samsung" (2006), que também foi exibido para os trabalhadores de todo o mundo, incluindo na Turquia, Argentina e EUA.

Rastreando trabalhadores na internet

Outro uso perigoso das novas tecnologias de comunicação é o uso da internet no rastreamento de ativistas sindicais e seus organizadores, bem como de trabalhadores doentes ou feridos, para permitir que seus empregadores recolham informações que irão ajudá-los a rescindir os seus contratos. Hoje, tudo que é feito na internet permanece no mundo da internet. Ações, incluindo assembléias trabalhistas, greves e outras atividades estão sendo gravadas tanto pela grande mídia, quanto pelos jornalistas independentes e este material, uma vez postado, é rastreável em um nível global.

Inteligência artificial desenvolvido pela Google e outras corporações agora está sendo aproveitada para coletar e analisar, de forma eficaz, dados das pessoas para determinar sobre o que eles estão interessados visando a venda futura de produtos. Isto inclui editoras como a Amazon e outras empresas de consumo on-line. As informações sobre os livros que você compra ou olha nos sites agora estão sendo captadas por empresas privadas que têm interesses particulares. E alguma desta informação torna-se pública. Para saber se um trabalhador está buscando livros sobre a história do trabalho, por exemplo, você poderia fazer uma busca sob as leis dos EUA e outras leis em todo o mundo.

Digitalização da indústria da saúde ameaça os direitos à privacidade

Em um mundo com controle privado dos tratamentos de saúde, este é especialmente o caso com a digitalização de prontuários médicos por empresas privadas e os capitalistas, que procuram limitar suas obrigações. Um poderoso exemplo disso é o recente caso do Sistema Único de Saúde Adventista. A trabalhadora em TI Patricia Moleski foi destacada pela empresa para excluir os registros eletrônicos de trabalhadores lesionados para negar compensação trabalhista devida a eles. Ela também foi ordenada a excluir registros de mortes e outras práticas ilícitas, operação que seria atribuída a uma falha de computador. A falha em ter gravações de segurança (backups) em um sistema médico eletrônico e a falta de qualquer regulamentação série pode potencialmente permitir a manipulação em massa de informações, ameaçando os direitos humanos básicos de trabalhadores e pacientes.

O desenvolvimento da tecnologia das comunicações e da digitalização de nossa sociedade tem, geralmente, deixado organizações trabalhistas para trás, apesar do trabalho que tem sido feito. A maioria dos sindicatos no mundo não fazem treinamento de mídia e não educam os seus membros no uso da tecnologia e sobre os perigos que representam para os seus sindicatos e público. Questões da neutralidade da rede e apelos para uma mídia forte e independente que iria apoiar causas dos trabalhadores geralmente não são abordadas.

Uso das tecnologias pelos trabalhadores cresce em todo o mundo

O potencial para a organização dos trabalhadores através da tecnologia está crescendo em nível mundial. Trabalhadores da IBM, que são pró-sindicato, têm se organizado e lutas importantes foram desenvolvidas em torno da liberdade de informação.

Ken Hamidi, um funcionário da Intel que instalava sistemas, foi ferido quando dirigia durante o trabalho. Ele continuou a trabalhar até não poder mais fazer o serviço, se queixando de problemas de saúde crescentes. A Intel se recusou a cuidar de sua lesão e, como resultado, Hamidi formou uma organização de funcionários e ex-funcionários chamada FACE (Former and Current Employees of Intel). Ele foi provido por um defensor da causa com os endereços de e-mail de mais de 30.000 trabalhadores e enviou mensagens para funcionários da Intel em todo o mundo. Para esta ação, a Intel foi à Justiça e obteve uma liminar acusando Hamidi de ter invadido um 'bem móvel' por enviar as mensagens. Com o apoio da federação dos sindicatos do comércio dos EUA, da Fundação Fronteiras Eletrônicas, bem como da LaborNet, Hamidi foi bem-sucedido em derrotar este esforço para reprimir a sua liberdade de expressão. O esforço para evitar que trabalhadores e sindicatos enviem e-mail para seus colegas de trabalho e obtenção de informações através do correio eletrônico foi frustrado.

A luta para defender os trabalhadores que fazem a tecnologia é fundamental. As condições brutais enfrentados pelos trabalhadores da Foxconn, na China, está levando a muitos suicídios e mostram a verdadeira história por trás de iPhones e outras novas ferramentas de comunicação. Trabalhadores e defensores dos direitos humanos têm se mobilizado nacional e internacionalmente para exigir justiça para esses trabalhadores.

Termo anti-suicídio

A Foxconn ainda procurou forçar os trabalhadores a assinar documentos prometendo que não iriam cometer suicídio, trabalho feito em conjunto com a federação sindical governamental (ACFTU) em 2006. Mas isso significa muito pouco quando se trata das condições dos trabalhadores na planta da fábrica, onde estão em situação similar a escravos, que continuaram as mesmas sob o novo "acordo de união".

Isto não quer dizer que as condições dos trabalhadores, mesmo em empresas de tecnologia como o Google, são apropriadas. Os funcionários do Google são separados por emblemas coloridos e os de nível inferior são discriminados na empresa em razão da cor do crachá que eles usam. Um ex-cinegrafista do Google declarou:

"Falando por mim, o que me preocupa é que há, aparentemente, uma classe de trabalhadores (amarelos) para os quais são negados privilégios que são dados a outros trabalhadores de natureza equivalente não-qualificados ou temporário (vermelhos)... A única diferença entre essas duas classes de trabalhadores são a natureza exata de seu trabalho (de digitalizadores versus, por exemplo, zeladores), e sua origem racial mestiça. Na minha opinião, nenhum desses motivos é um motivo legítimo para retirar um privilégio, como transporte gratuito para um grupo, enquanto garantem esta mesma concessão para o outro grupo. Você, é claro, pode não concordar." [Andrew Norman Wilson gravou a segregação de trabalhadores no Google; assista ]

Trabalho usando a mídia social: A espada de dois gumes

Não há dúvida de que a mídia social se tornou ferramenta vital na proteção dos direitos democráticos e de trabalho. Estas ferramentas têm ajudado a articular sindicalistas e militantes de direitos humanos em todo o mundo. Ao mesmo tempo, no entanto, os trabalhadores estão sendo demitidos por seu chefe por colocar material sobre o seu trabalho em sua página do Facebook em seu tempo livre.

Em um caso recente na Junta Federal de Relações Trabalhistas, nos EUA, o conselho decidiu que as ações de cinco trabalhadores que haviam sido demitidos por usar o Facebook para divulgar más condições de trabalho não eram motivo de demissão.

Este esforço por parte dos empregadores e empresas para silenciar os seus trabalhadores que usam o Facebook e a internet está crescendo. Em um caso recente no Reino Unido, a UK Uncut informou que o Facebook havia retirado ilegalmente material e procurou mudar as páginas dos trabalhadores.

Além disso, os governos têm procurado fechar sites de organizações trabalhistas e de direitos civis "em muitos países em todo o mundo, incluindo o desligamento da internet no Egito durante a recente revolta. Isso provavelmente vai acontecer novamente, como movimentos de massa que buscam romper o bloqueio de informação. A probabilidade disso ser feito na maioria dos países industrializados, porém, é muito pequena, pois o desligamento da internet resultaria na paralisação completa de toda a economia. Nos EUA e na Europa, o fechamento da internet seria praticamente fechar a economia mundial das companhias aéreas para todas as transações financeiras. Esta seria, obviamente, um cenário apocalíptico para os governos, que têm contemplado estas táticas para silenciar os críticos que usam a internet.

Ataques

Isso inclui ataques a órgãos de comunicação independentes e, novamente na Coréia, a supressão de grupos independentes de mídia, como MediAct trouxe solidariedade internacional e protestos. A APC fez até uma campanha internacional para defender essa comunidade 'media center'.

O crescimento mundial de plataformas de trabalho independente da mídia levou a exemplos significativos e poderosos do uso de streaming para defender as lutas dos trabalhadores. Sendika.org, um projeto da LaborNet Turquia, apoiou a greve de fome por trabalhadores demitidos da Tobacco Tekna, em Istambul, e ao vivo mostraram a greve e entrevistaram os trabalhadores sobre por que eles estavam sem trabalhar. A transmissão ao vivo chegou a um público internacional e a solidariedade foi expressa através de mensagens de texto SMS.

Esta foi uma expressão concreta de solidariedade internacional para a sua greve de fome e mostrou como os trabalhadores podem ligar-se diretamente. Vídeos sobre essas lutas também foram transmitidos em todo o mundo, incluindo o entitulado "O Vento Sopra dos Trabalhadores".

Pizza do Egito na luta em Wisconsin: A revolução será televisionada?

O exemplo mais recente das mídias sociais na luta de trabalhadores foi uma grande batalha em Wisconsin para defender os funcionários públicos contra os ataques do governador Scott Walker. Enquanto trabalhadores e estudantes ocupavam o prédio do Capitólio, os defensores do trabalho e da comunidade estavam usando tweets para angariar alimentos e outros suprimentos. Dezenas de milhares de trabalhadores foram mobilizados minuto a minuto para apoiar o piquete através do uso do Twitter e outras mídias sociais, incluindo transmissão ao vivo por smartphones. [O uso do smartphone para transmitir as lutas dos trabalhadores diretamente em seus websites pode ser feito com o www.ustream.com e outros servidores.] Houve também uma explosão de vídeos de músicas temáticas, dando uma expressão cultural importante para essa luta, incluindo a música "Cidade União" (clique e assista).

Quando alguém no Egito ajudou a comprar uma pizza para os trabalhadores que ocupavam o edifício do Capitólio, nos Estados Unidos, os trabalhadores souberam que suas lutas estavam cruzando todas as fronteiras de uma forma que era impossível no passado.

A digitalização do mundo e a crescente conscientização da classe trabalhadora mundial sobre como essas ferramentas de comunicação e mídia pode ser usada para construir os seus sindicatos e obter apoio para seus direitos democráticos só vai crescer no futuro. O desenvolvimento de um poderoso movimento de massas da classe trabalhadora mundial oferece o potencial para mudar a dinâmica fundamental de quem controla e faz girar o mundo e essas ferramentas são fundamentais para este desenvolvimento.

* Tradução de Aray Nabuco
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