domingo, 2 de junho de 2013
As FARC-Exército do Povo. Meio século de luta pela paz.
Por Miguel Urbano Rodrigues
31 de maio de 2013
O comunicado conjunto divulgado em Havana no dia 26 de maio pelas delegações das FARC-EP e pelo governo de Bogotá significou a abertura de um novo ciclo de diálogos de paz iniciados naquela cidade.
Depois de seis meses de conversações difíceis, os representantes da guerrilha e do executivo colombiano assinaram um acordo para a “Reforma Rural Integral”, primeiro ponto da Agenda em debate.
O documento aprovado prevê transformações radicais no mundo agrário. A maioria das principais exigências das FARC foi aprovada. Entre elas, a relativa ao acesso ao uso da terra, à formalização da propriedade, às terras improdutivas, aos programas de desenvolvimento social (educação, habitação, erradicação da pobreza), ao estímulo à produção agropecuária, ao Fundo de terras pela Paz, ao ambiente.
No dia 11 de junho as delegações iniciam a discussão do segundo ponto da Agenda: a Participação Política, que abarca o tema crucial da Democracia.
O presidente Juan Manuel Santos afirmou que está empenhado na continuação do processo “com prudência e responsabilidade”.
Em uma Declaração emitida simultaneamente em Havana, as FARC-EP consideram positivo o acordo alcançado sobre a Reforma Agrária, mas alertam sobre as dificuldades do diálogo na Mesa de Negociações, sobre os pontos restantes da Agenda, especialmente os relativos à droga, ao cessar fogo e armamentos e à reintegração das populações expulsas de seus territórios.
As FARC estão conscientes de que a conquista da paz é inseparável do desmonte da oligarquia que utiliza o Estado como instrumento de sua política de classe, marcada por uma repressão feroz.
É significativo que quando cresce o apoio popular às iniciativas do Movimento Colombiano pela Paz, liderado pela ex-Senadora Piedad Córdoba, alguns ministros – entre eles Fernando Carrillo e o do Interior – falem outra linguagem, sugerindo o fim das conversações se antes do Natal não for assinado um Acordo Global.
O alto comando das Forças Armadas também se empenha em sabotar os debates de Havana – apoiados por Noruega e Cuba – intensificando a guerra. Os 50 Drones – aviões assassinos sem piloto – recentemente adquiridos já haviam sido utilizados em bombardeios em La Macarena, Orito, Saravena e Catatumbo.
A posição de Barack Obama é, como habitual, ambígua e hipócrita. Diz apoiar os diálogos para a Paz, mas envia o vice-presidente Joe Biden a Bogotá para derramar elogios sobre o governo da Colômbia, seu melhor aliado na América Latina, e expressar ali o desejo dos EUA de aderir à chamada Aliança do Pacífico. Cabe esclarecer que esta estranha aliança foi concebida em Washington para funcionar como contraponto ao Mercosul. Por ora, a integram México, Chile, Colômbia e Peru, países cujos governos desenvolvem políticas de submissão ao imperialismo estadunidense.
O apoio militar à guerra contra as FARC-EP prossegue. Os EUA que já investiram mais de oito bilhões de euros no financiamento do Plano Colômbia, instalaram no país sete novas bases militares desde o início da Administração Obama.
Meio século de luta
Ao contrário da imagem edênica de país próspero em acelerado desenvolvimento pela ação de um governo democrático e progressista, imagem que Juan Manuel Santos difundiu em sua visita a Europa, a situação na Colômbia continua degradando-se.
O paramilitarismo permanece impune com raras exceções. A corrupção desenfreada e a miséria, na capital e nas grandes cidades, são crescentes. As mais numerosas e bem equipadas forças armadas da América Latina – meio milhão de militares – absorvem uma quantia colossal do orçamento. A fome, endêmica em muitas regiões, afeta oito milhões de pessoas. 15.000 crianças morrem anualmente antes dos cinco anos por desnutrição. Dirigentes sindicais são assassinados cotidianamente todos os meses. Mas o número de multimilionários aumenta a cada ano em uma das sociedades mais desiguais do mundo.
As FARC-EP, fundadas em Marquetalia depois de combates épicos na ruptura de um cerco, acabam de comemorar 49 anos de existência e de luta ininterrupta.
Incluídas pela União Europeia e pela ONU na lista de organizações terroristas, caluniadas, acusadas de narcotraficantes por um presidente, Álvaro Uribe Vélez (aliado de Pablo Escobar, o rei da coca), as FARC se assumem como organização revolucionária, marxista-leninista.
“Somos povo – afirmam – que empunha as armas contra as armas do poder e contra a repressão”.
Moderadamente otimistas, tudo fazem para que as conversações de Havana permitam a concretização das aspirações de paz do povo colombiano.
Mas não esquecem que uma das cláusulas da Agenda estabelece que o Acordo Geral de Paz somente será possível se todos os pontos nele incluídos forem aprovados. O rechaço de qualquer deles implicará a anulação dos demais.
Por si só, essa exigência esclarece a falta de transparência e da má fé que foram permanentes nas posições dos delegados do governo na Mesa de Negociações.
Hoje, como sempre, as FARC-EP defendem uma solução política cujo desenlace será a Paz definitiva em uma Colômbia democrática.
Eles creem como Bolívar que as Forças Armadas devem ser o povo em armas, um instrumento da defesa da soberania nacional. Usa-las contra o povo, como ocorre na Colômbia, é um crime monstruoso.
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