quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Montanhas de Colômbia, 8 de Dezembro de 2013-Cessar de fogos e hostilidades-Comunicado do Secretariado do Estado Maior das FARC-EP
Em 9 de dezembro de 1990, o governo de César Gaviria Trujillo desatou uma enorme operação militar contra o acampamento principal do Secretariado Nacional das FARC-EP em Casa Verde. Uma comissão enviada pelo Presidente havia visitado nossa comandância dias atrás, com o propósito de explorar a vontade de paz de nossa organização, e expedido posteriormente um comunicado público reconhecendo nossa inteira disposição ao diálogo.
O começo da operação Casa Verde coincidiu com as eleições populares para membros da Assembleia Constituinte, satisfazendo, assim, a possibilidade de nossa participação nela, apesar dos prévios oferecimentos oficiais de um par de cadeiras. Com o surpreendente ataque, que pôs fim aos diálogos de paz iniciados sete anos antes com o Presidente Betancur, se pretendeu absurdamente nossa aniquilação pela força, para somá-la ao extermínio já iniciado contra a União Patriótica e o conjunto do movimento popular em todo o país.
Vinte anos depois, com uma média de dezenas de milhares de mortos, além da infinidade de horrores que esta confrontação tem deixado na Colômbia, a administração de Juan Manuel Santos adianta conosco um processo de conversações em busca da paz. Contrariamente ao nosso anseio de adiantar os referidos diálogos sem os sobressaltos dos combates, o governo nacional segue insistindo em sua fórmula de negociar em meio à confrontação, para o qual se rearma e aumenta o pé de força sem reparar em custos.
As que o Presidente Santos denomina regras do jogo significaram de entrada o assassinato do Comandante Alfonso Cano e implicado no reforço permanente e crescente da atividade militar do Estado contra todas nossas unidades. Soldados e policiais derramam também desnecessariamente seu sangue, frente a uma opinião nacional que observa com perplexidade o estranho coquetel de diálogos e morte com que o governo nacional concebe a reconciliação. A vontade de paz não pode nascer da arrogância militarista.
Muito se fala e exige de gestos que enviem sinais positivos ao país e à comunidade internacional. Porém, por toda Colômbia recrudescem as operações de extermínio por conta das tropas governamentais. Desde Nariño e Cauca até Arauca e o Catatumbo, assim como da Guajira ao Putumayo, os bombardeios, os metralhamentos, os desembarques e a ocupação, com todas as suas sequelas de crimes, aumentam e se agudizam com fanatismo sanguinário, pondo de presente a vontade real que encoraja o governo nacional.
Ao levantarmo-nos, sabíamos bem o tratamento que receberíamos do Estado terrorista colombiano. Por isso, sobrevivemos durante meio século e nos sentimos em condições de resistir outro tanto se for necessário. Porém, cremos com sinceridade que nossa pátria não merece este dessangramento. E é por isso que, assim seja de maneira unilateral, procedemos a ordenar a todas as nossas unidades guerrilheiras e milicianas um cessar de fogos e hostilidades por 30 dias a partir das 00:00 horas do próximo 15 de dezembro, correspondendo assim a um fundo clamor nacional. Simultaneamente, ordenamos permanecer alerta ante qualquer operação inimiga, a qual deverá ser respondida imediatamente. Ainda abrigamos a esperança de que o governo nacional corresponda a nosso gesto, ordenando um alto em sua ofensiva.
Os colombianos e o mundo têm de estar atentos à segura investida difamatória e propagandística que, desde muito altas esferas do Estado e das forças armadas, se lançará contra nós como consequência desta declaratória. Ademais de ter claro que somos, na realidade, os que apostamos com honestidade na paz em nosso país, a opinião nacional e internacional poderá ler nas declarações oficiais e nas operações militares de provocação ordenadas desde o Ministério de Defesa, a verdadeira condição do regime colombiano, uma democracia falsa, violenta, excludente a cínica.
Não mudaram muito as coisas desde os tempos de Gaviria. Também ele ensaiou um processo de paz conosco em Caracas e Tlaxcala, após o qual declarou a guerra integral para acabar-nos em dezoito meses. Seu governo iniciou a aplicação rigorosa das políticas neoliberais que exigiam a liquidação da luta popular na Colômbia, as mesmas que hoje aprofunda ao extremo e com igual violência a chamada Prosperidade para Todos. Uma obscura sombra assoma no horizonte da pátria ao confluir estas duas vertentes nas aspirações reeleitoreiras.
SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
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