Por Alberto Pinzón
A 5 de fevereiro de 2014, depois das denúncias da revista Semana sobre a espionagem aos delegados do governo nas conversações de paz de La Habana e a outras instituições oficiais, Santos e seu ministro Pinzón anunciam com estardalhaço a mudança cosmética do chefe de inteligência do Exército, brigadeiro general Mauricio Ricardo Zúñiga, e ao diretor da Central de Inteligência Técnica dessa mesma instituição, brigadeiro general Jorge Zuluaga. Porém deixando intacta a linha de comando “operativa e guerreristas do Charry Solano, acima descrita.
Por quê?
Uma instituição tão centralizada e rígida como a Inteligência militar sob nenhum aspecto pode ser catalogada de “roda solta”, como estão escrevendo e dizendo os jornalistas do regime. O chiqueiro do bairro Galerías, camuflado como um restaurante barato onde vendiam feijões com torrado e bandeja paisa, precisamente para despistar melhor e poder cumprir sua execrável missão, não estava coletando informação [base de qualquer inteligência atual] para vendê-la a qualquer pessoa. Isso é falso. Este grupo de guerra psicológica muito bem compartimentado e organizado recebia ordens superiores e fornecia informação processada a seus superiores.
Agora, bem, que não chegasse até o presidente Santos e ficasse em mãos do Minguerra Pinzón e da maior Embaixada do mundo em Bogotá, a que tem fornecido esses equipamentos e onde funciona outro “escritoriozinho” semelhante, porém mais poderoso da CIA; é outra coisa e pode também significar outras coisas:
1- Que quem governa a Colômbia não é Juan Manuel Santos
2- Que um Poder infinitamente superior e com sede em Washington não confia nele e deve espiá-lo como fizeram com os presidentes de França, Alemanha etc. e outros líderes mundiais.
3- Que ao governo dos EUA não lhe interessam sobremaneira os temas sobre terras e garantias políticas que se pactuaram em Havana entre as FARC e o governo colombiano de Santos; senão que somente lhe interessa o terceiro tema [Narcotráfico]. Por isso, assim como fez com Samper quando o processo oito mil, vão aproveitar a fragilidade eleitoral de Santos para apertar a corda até tê-lo em estado crítico, porém sem enforcá-lo totalmente. Igualzinho!, e isto explica as “filtrações estratégicas e as fotos” sobre o processo de Havana a Uribe Vélez. A saída do Partido Conservador da Unidade Nacional com sua ruptura. E a investida assassina do narco-paramilitarismo oficial contra a Marcha Patriótica, a UP, e a Esquerda em Geral que se está vivendo.
4- Que, firmando-se um pacto de paz em Havana para finalizar o conflito, o governo colombiano atual não será capaz de garantir o “pós-conflito” que oferece. Porque o Terrorismo de Estado segue sem problema algum e impune, operando ante os olhos [dilatados] do próprio Santos.
5- Que todo o escândalo suscitado por este episódio da espionagem a seus próprios membros do governo, igual que os demais episódios abomináveis [ilegais e ilegítimos] onde se viram envolvidos os dois sistemas de “Inteligência Nacional, a do DAS e a do Charry Solano, NO passará de uma “investigação exaustiva” e, possivelmente [como é usual] a mudança cosmética de nome de algum organismo comprometido. Isso das “Forças obscuras” [que já estão claras, porém impunes] e de “chegar até as últimas consequências” e “impor o império da lei” não é mais que demagogia eleitoral reeleitoreira, que torna ainda mais frustrada e incerta a capacidade do Governo de sacar adiante e com êxito o processo de paz de Havana. É por isso que nos reafirmamos em nossa concepção de que é o Povo Mobilizado e Consciente quem tem a chave da paz na Colômbia, o demais é crer na bondade e na “vocação democrática” da CIA.
-- Equipe ANNCOL - Brasil anncol.br@gmail.com http://anncol-brasil.blogspot.com
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
O Comandante Nicolás Rodríguez Bautista do ELN envia uma Carta Aberta aos Intelectuais da Colômbia
Senhoras e senhores: Adolfo León Atehortúa - Alejo Vargas - Alfredo Molano - Álvaro Villaraga - Andrés Suárez - Antanas Mockus - Antonio Caballero - Antonio Morales - Camilo Gonzáles Posso - Carlos Alberto Ruiz - Carlos Mario Perea - Cecilia Orozco Tascón - Daniel Pécaut - Darío Fajardo - Eduardo Sarmiento - Fernando Dorado - Gabriel Izquierdo - Gonzalo Sánchez - Héctor Abad Faciolince - Hernando Calvo Ospina - Hernando Gómez Buendía - Holman Morris - Jairo Estrada - Javier Giraldo - José Fernando Isaza - Juan Carlos Celis - Juan Gabriel Vásquez - Juanita León - Laura Restrepo - León Valencia - Leopoldo Múnera - Libardo Sarmiento - Luis Jorge Garay - Luis Sandoval - Manuel Rodríguez Becerra - Marco Palacios - Marco Romero - María Elvira Samper - María Emma Wills - María Jimena Duzán - María Tila Uribe - Martha Ruiz - Mauricio Archila - Mauricio García Villegas - Medófilo Medina - Ochy Curiel - Óscar Collazos - Patricia Ariza - Patricia Linares - Rafael Vergara - Renán Vega Cantor - Rocío Londoño - Rodolfo Arango - Rodrigo Urprimny - Salomón Kalmanovitz - Santiago Gamboa - Socorro Ramírez - Víctor Manuel Moncayo - Vladdo - William Ospina
Homens e mulheres de nossa impelida nação.
Há um espírito que percorre a Colômbia, o ano 2014 deve ser definitivo para a paz, urgência nacional e sonho de todos os colombianos. Por isso, nesta hora de transcendentais e definitivas oportunidades para uma Colômbia sem guerras, neste momento estelar da vida política do país, o Exército de Libertação Nacional [ELN] estende a vocês uma saudação de compatriotas.
Fazemo-lo com a segurança de que nos unem os esforços e as aspirações por uma definitiva solução política ao conflito de nosso país, o qual, sem dúvida, nos convoca. Somos muito conscientes que, em torno da paz, podemos ter diferenças ou matizações que correspondem à diversidade de opiniões que se expressam no país e que devem concorrer para a busca de consensos nacionais. Jamais a diferença, compatriotas, pode ser motivo de exclusão nem pretexto para fecharmo-nos aos diálogos, para produzir identidades nas mudanças e novos rumos para a Colômbia.
Camilo Torres, sacerdote, sociólogo, guerrilheiro e destacado dirigente popular de nossos tempos, insistia em unirmo-nos em torno das identidades e fazer delas a ação para as mudanças, sem que isso signifique a desaparição das diferenças.
Tomar como referência este legado se faz indispensável como condição para avançar na conquista da paz, onde cada um contribuamos para edificar este supremo objetivo da Colômbia. Para nós é animador que, produto das destacadas lutas populares e sociais dos últimos anos, em particular do anterior, várias organizações e personalidades tenham proposto a necessidade de avançar num Movimento pela Paz da Colômbia, o qual hoje, ante os precipitados acontecimentos originados pela decisão arbitrária e intencional do Procurador Ordóñez, ao tentar destituir o prefeito Maior de Bogotá, que é um claro atentado à democracia e à paz da Colômbia, há mais necessidade de compor este Movimento, como ação importante da sociedade.
Consideramos que a criação deste Movimento, que dinamize as aspirações de paz, se faz inadiável. O destacado lugar das mulheres e homens intelectuais e da academia, do pensamento aberto e crítico nas lutas independentistas, patrióticas e de libertação nacional na história colombiana requerem hoje com mais força seu concurso na construção de caminhos para conquistar a paz, uma Paz que expresse justiça e equidade social, democracia e soberania, como garantias de forças na superação da profunda crise deste país de todos e de todas, que merece tudo e nos merecemos tanto.
Não há dúvida de que esta gigantesca obra é da sociedade inteira, pois, do contrário, não será possível construí-la; o melhor e mais eterno exemplo de como atuar nessa construção nos deu Nelson Mandela, de quem tanto temos que aprender. O Comando Central do ELN propõe a vocês um produtivo intercâmbio no que se refere a como deve ser a construção de paz no país; vocês conhecem nossos pontos de vista a respeito e poder contar com suas considerações em tão importante assunto não só enriquece o intercâmbio como também produz as bases para uma construção segura, nessa monumental obra indispensável para a Colômbia. Recebam com respeito e consideração nosso chamado, ao tempo em que lhes desejamos, muito sinceramente, um bom começo de ano onde as esperanças de paz se convertam em realidades.
Pelo Comando Central do ELN: Nicolás Rodríguez Bautista Fevereiro de 2014
Homens e mulheres de nossa impelida nação.
Há um espírito que percorre a Colômbia, o ano 2014 deve ser definitivo para a paz, urgência nacional e sonho de todos os colombianos. Por isso, nesta hora de transcendentais e definitivas oportunidades para uma Colômbia sem guerras, neste momento estelar da vida política do país, o Exército de Libertação Nacional [ELN] estende a vocês uma saudação de compatriotas.
Fazemo-lo com a segurança de que nos unem os esforços e as aspirações por uma definitiva solução política ao conflito de nosso país, o qual, sem dúvida, nos convoca. Somos muito conscientes que, em torno da paz, podemos ter diferenças ou matizações que correspondem à diversidade de opiniões que se expressam no país e que devem concorrer para a busca de consensos nacionais. Jamais a diferença, compatriotas, pode ser motivo de exclusão nem pretexto para fecharmo-nos aos diálogos, para produzir identidades nas mudanças e novos rumos para a Colômbia.
Camilo Torres, sacerdote, sociólogo, guerrilheiro e destacado dirigente popular de nossos tempos, insistia em unirmo-nos em torno das identidades e fazer delas a ação para as mudanças, sem que isso signifique a desaparição das diferenças.
Tomar como referência este legado se faz indispensável como condição para avançar na conquista da paz, onde cada um contribuamos para edificar este supremo objetivo da Colômbia. Para nós é animador que, produto das destacadas lutas populares e sociais dos últimos anos, em particular do anterior, várias organizações e personalidades tenham proposto a necessidade de avançar num Movimento pela Paz da Colômbia, o qual hoje, ante os precipitados acontecimentos originados pela decisão arbitrária e intencional do Procurador Ordóñez, ao tentar destituir o prefeito Maior de Bogotá, que é um claro atentado à democracia e à paz da Colômbia, há mais necessidade de compor este Movimento, como ação importante da sociedade.
Consideramos que a criação deste Movimento, que dinamize as aspirações de paz, se faz inadiável. O destacado lugar das mulheres e homens intelectuais e da academia, do pensamento aberto e crítico nas lutas independentistas, patrióticas e de libertação nacional na história colombiana requerem hoje com mais força seu concurso na construção de caminhos para conquistar a paz, uma Paz que expresse justiça e equidade social, democracia e soberania, como garantias de forças na superação da profunda crise deste país de todos e de todas, que merece tudo e nos merecemos tanto.
Não há dúvida de que esta gigantesca obra é da sociedade inteira, pois, do contrário, não será possível construí-la; o melhor e mais eterno exemplo de como atuar nessa construção nos deu Nelson Mandela, de quem tanto temos que aprender. O Comando Central do ELN propõe a vocês um produtivo intercâmbio no que se refere a como deve ser a construção de paz no país; vocês conhecem nossos pontos de vista a respeito e poder contar com suas considerações em tão importante assunto não só enriquece o intercâmbio como também produz as bases para uma construção segura, nessa monumental obra indispensável para a Colômbia. Recebam com respeito e consideração nosso chamado, ao tempo em que lhes desejamos, muito sinceramente, um bom começo de ano onde as esperanças de paz se convertam em realidades.
Pelo Comando Central do ELN: Nicolás Rodríguez Bautista Fevereiro de 2014
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
O porto de Mariel, Brasil, Cuba e o socialismo
Por Beto Almeida (*)Havana
Tem sido extremamente educativo registrar, aqui em Havana, a reação do povo cubano diante da inauguração do Porto de Mariel.
Expressando um elevado nível cultural, uma mirada política aprofundada sobre os fenômenos destes tempos, especialmente sobre a Reunião de Cúpula da Celac que se realiza por estes dias aqui na Ilha, tendo como meta central, a redução da pobreza, os cubanos revelam, nestas análises feitas com desembaraço e naturalidade, todo o esforço de 55 anos da Revolução Cubana feita na educação e na cultura deste povo.
Mariel, uma bofetada no bloqueio Poderia citar muitas frases que colhi ao acaso, conversando com os mais diversos segmentos sociais, faixas etárias distintas, etc, mas, uma delas, merece ser difundida amplamente. O marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve nos portos de Santos e Rio de Janeiro, que vibra com o samba carioca, foi agudo na sua avaliação sobre o significado da parceria do Brasil com Cuba para construir o Complexo Portuário de Mariel.
“ Com Mariel, Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba”, disse. E adverte: “ Jamais os imperialistas vão perdoar Lula e Dilma”. Ele não disse, mas, no contexto do diálogo com este marinheiro negro, atento ao noticiário de televisão, leitor diário de jornal, informado sobre o que ocorre no Brasil e no mundo, estava subentendido, por sua expressão facial, que ficava muito claro porque Dilma é alvo de espionagem dos EUA. O tom da cobertura do oposicionismo impresso brasileiro, pré-pago, à inauguração do Porto de Mariel, não surpreende pela escassa informação que apresenta, muito menos pela abundante insinuação de que tratar-se-ia apenas de um gasto sem sentido, indefensável, indevido.
Ademais, sobram os rançosos preconceitos de sempre, afirmando que o Brasil estaria financiando a “ditadura comunista”, tal como este oposicionismo chegou a mencionar que seria esta a única razão para empreender um programa como o Mais Médicos, que salva vidas e que tem ampla aprovação da sociedade brasileira. É necessário um jornalismo de integração Informações objetivas sobre o significado e a transcendência do Complexo Portuário de Mariel certamente faltarão ao povo brasileiro.
Primeiramente, porque o oposicionismo midiático não permitirá sua difusão, numa evidente prática de censura. E, por outro lado, nem o PT ou as forças que sustentam politicamente o governo Dilma e estas iniciativas robustas da política externa brasileira, com tangíveis repercussões sobre a economia brasileira, possuem uma mídia própria para esclarecer o significado de Mariel, ante um provável dilúvio de desinformações sobre a sociedade brasileira.
Primeiramente, deve-se informar que o financiamento feito pelo BNDES, algo em torno de um bilhão reais na primeira fase, não se trata de uma doação a Cuba. É um empréstimo, que será pago. As relações bilaterais Brasil-Cuba registram crescimento contínuo nos últimos anos. Além disso, está condicionado à contratação de bens e serviços na economia brasileira, além de envolver cerca de 400 empresas, sendo, portanto, um dos fatores a mais que explicam porque há contínua expansão no mercado de trabalho brasileiro, com uma taxa de desemprego das mais baixas de sua história. Ao contrário do que ocorre, por exemplo, na Europa, onde aumenta o desemprego e há eliminação de direitos trabalhistas e sociais conquistados décadas atrás. Dinamização das forças produtivas
Além disso, Mariel vai ser - por enquanto , Dilma inaugurou apenas a primeira fase - o maior porto do Caribe, com capacidade para atracar navios de calado superior a 18 metros, e também , podendo movimentar mais de 1 milhão de conteiners por ano. Terá um impacto especial para o comércio marítimo também direcionado ao Pacífico, via Canal de Panamá. Para isto, vale lembrar da importância da participação da China, crescente, na economia latino-americana, em especial com o Brasil. Tanto o gigante asiático como empresas brasileiras, já manifestaram interesse em instalarem-se na Zona Econômica Especial a ser implantada em Mariel, onde também já foi construída uma rodovia moderna, estando em construção, uma ferrovia. De alguma maneira , Havana retoma uma posição de destaque no comércio marítimo internacional, pois já foi o maior porto da América Latina, ponto de conexão de várias rotas, tendo sido, por isso mesmo, uma cidade com mais de 70 por cento de habitantes portugueses, quando Portugal era um grande protagonista na marinha mercante internacional.
Havana já teve, também, uma das maiores indústrias navais do mundo. Cuba sempre impulsionou a integração O tirocínio do marinheiro negro Jorge Luis é perfeito. Depois de suportar décadas de um bloqueio que impediu os cubanos a compra de uma simples aspirina no maior e mais próximo mercado do mundo, os EUA, a Revolução Cubana, tendo resistido a ventos e tempestades, sobretudo às agressões imperialistas, soube preparar-se para esta nova etapa da história, simbolizada pela existência de uma Celac que vai se consolidando, pouco a pouco. Não sem enfrentar ações desestabilizadoras, lançadas contra os países mais empenhados na integração regional latino-americana, como Venezuela, Bolívia, Equador, e, também, pelas evidentes ações hostis contra Brasil e Argentina. Cuba investiu parte de seus modestos recursos na solidariedade internacional. Seja no envio de 400 mil homens e mulheres para derrotar o exército racista da África do Sul que havia invadido Angola, como também para promover , em vários quadrantes, com o envio de professores, métodos pedagógicos, médicos e vacinas, a eliminação do analfabetismo e o salvamento generalizado de vidas. É o caso, por exemplo, do programa Mais Médicos, não por acaso tão injustamente desprezado pela oligarquia midiática, que vocaliza os laboratórios farmacêuticos multinacionais. Como defender que salvar vidas merece desprezo?
É certo que todas as economias caribenhas e latino-americanas serão dinamizadas com a entrada em funcionamento do Porto de Mariel, gerando mais empregos, possibilitando novas opções comerciais. É emblemático que China esteja firmando um acordo estratégico de cooperação com a Celac. Para uma economia cercada de restrições, sem capacidade de investimentos, sem engenharia nacional para fazer esta obra por conta própria, o Porto de Mariel, é um imenso descortinar de possibilidades para Cuba. Os gigantescos navios chineses, de uma China que consolida sua posição como a segunda potência comercial mundial, não podiam mais aportar no velho Porto de Havana, o que resultava numa limitação operacional e logística, com impactos econômicos negativos de grande monta. O Porto de Havana será readaptado para o turismo e a economia cubana, no seu conjunto, recebe, com Mariel um enorme impulso para a dinamização de suas forças produtivas. A atendente do hotel onde estou instalado me confessava hoje o interesse de ir trabalhar em Mariel, porque, segundo disse, o futuro está por ali e são empregos mais promissores.
Mariel e seus impactos internacionais Realmente, para um economia que perdeu a parceria que tinha com a União Soviética, que resistiu durante o período especial com as adaptações inevitáveis para salvar o essencial das conquistas da Revolução, o que Mariel significará é de extraordinária relevância. E é exatamente na dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que se localizam as chaves para muitas portas que podem ser abertas para uma maior dedicação de meios , recursos e iniciativas visando a integração latino-americana. E, neste quebra-cabeças, a política estratégica implantada por Lula, continuada por Dilma, é ,inequivocamente, muito decisiva.
Que outro país poderia fazer um financiamento deste porte para a construção de Mariel? Por último, pode ser muito útil uma reflexão sobre os diversos pensadores, formuladores e também executores de políticas de integração. Desde Marti, aquele analisou a importância da “nossa Grécia”, numa referência ao significado da civilização Inca, mas que também formulou o conceito de Nuestra América, até chegando ao pensamento de Getúlio Vargas, criador do BNDES, o banco estatal de fomento que está financiando a construção do Porto de Mariel, uma estupenda ferramenta integradora.
Tudo converge para a abertura de uma nova avenida para dar trânsito à integração. Seja pela sabedoria dos povos da região que estão sabendo apoiar, com o seu voto, os governos que mais impulsionam estas políticas, seja pelos avanços concretos que estas políticas integradoras têm registrados, apesar da insistência nada profissional do jornalismo de desintegração em reduzir tudo a zero. Futuro socialista A força e a necessidade histórica das ideias se vêm comprovadas nesta inauguração da primeira etapa do Porto de Mariel, em plena reunião da Celac, sem a presença de Estados Unidos e Canadá, patrocinadores históricos da desintegração entre os povos. A simbologia da justeza histórica do pensamento martiniano, nos permite, agora, afirmar, também, que José Marti é um dos autores intelectuais de Mariel.
E, retomando o otimismo realista do marinheiro Jorge Luis, constatamos que a dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que a parceria entre Cuba e Brasil possibilita, foi estampada na frase final do discurso do presidente cubano, General Raul Castro: “Mariel e a poderosa infraestrutura que o acompanha são uma mostra concreta do otimismo e da confiança com que os cubamos olham o futuro socialista e próspero da Pátria”. O marinheiro negro captou o significado essencial destes dias. Não por acaso, a Marcha das Tochas, que celebra com chamas que não se apagam, as ideias de Marti, em seu aniversário, ontem - com mais de 500 mil manifestantes, maioria esmagadora de jovens - teve, na primeira fila, além de Raul, os presidentes Evo Morales, Nicolás Maduro, Pepe Mujica, Daniel Ortega. As ideias de Marti, materializadas nestes avanços produtivos e integradores, como Mariel, vão iluminando o futuro socialista de Cuba e, com isto, da integração latino-americana.
(*) Beto Almeida, de Havana, Membro do Diretorio da Telesur
Tem sido extremamente educativo registrar, aqui em Havana, a reação do povo cubano diante da inauguração do Porto de Mariel.
Expressando um elevado nível cultural, uma mirada política aprofundada sobre os fenômenos destes tempos, especialmente sobre a Reunião de Cúpula da Celac que se realiza por estes dias aqui na Ilha, tendo como meta central, a redução da pobreza, os cubanos revelam, nestas análises feitas com desembaraço e naturalidade, todo o esforço de 55 anos da Revolução Cubana feita na educação e na cultura deste povo.
Mariel, uma bofetada no bloqueio Poderia citar muitas frases que colhi ao acaso, conversando com os mais diversos segmentos sociais, faixas etárias distintas, etc, mas, uma delas, merece ser difundida amplamente. O marinheiro aposentado Jorge Luis, que já esteve nos portos de Santos e Rio de Janeiro, que vibra com o samba carioca, foi agudo na sua avaliação sobre o significado da parceria do Brasil com Cuba para construir o Complexo Portuário de Mariel.
“ Com Mariel, Brasil rompe concretamente o bloqueio imperialista contra Cuba”, disse. E adverte: “ Jamais os imperialistas vão perdoar Lula e Dilma”. Ele não disse, mas, no contexto do diálogo com este marinheiro negro, atento ao noticiário de televisão, leitor diário de jornal, informado sobre o que ocorre no Brasil e no mundo, estava subentendido, por sua expressão facial, que ficava muito claro porque Dilma é alvo de espionagem dos EUA. O tom da cobertura do oposicionismo impresso brasileiro, pré-pago, à inauguração do Porto de Mariel, não surpreende pela escassa informação que apresenta, muito menos pela abundante insinuação de que tratar-se-ia apenas de um gasto sem sentido, indefensável, indevido.
Ademais, sobram os rançosos preconceitos de sempre, afirmando que o Brasil estaria financiando a “ditadura comunista”, tal como este oposicionismo chegou a mencionar que seria esta a única razão para empreender um programa como o Mais Médicos, que salva vidas e que tem ampla aprovação da sociedade brasileira. É necessário um jornalismo de integração Informações objetivas sobre o significado e a transcendência do Complexo Portuário de Mariel certamente faltarão ao povo brasileiro.
Primeiramente, porque o oposicionismo midiático não permitirá sua difusão, numa evidente prática de censura. E, por outro lado, nem o PT ou as forças que sustentam politicamente o governo Dilma e estas iniciativas robustas da política externa brasileira, com tangíveis repercussões sobre a economia brasileira, possuem uma mídia própria para esclarecer o significado de Mariel, ante um provável dilúvio de desinformações sobre a sociedade brasileira.
Primeiramente, deve-se informar que o financiamento feito pelo BNDES, algo em torno de um bilhão reais na primeira fase, não se trata de uma doação a Cuba. É um empréstimo, que será pago. As relações bilaterais Brasil-Cuba registram crescimento contínuo nos últimos anos. Além disso, está condicionado à contratação de bens e serviços na economia brasileira, além de envolver cerca de 400 empresas, sendo, portanto, um dos fatores a mais que explicam porque há contínua expansão no mercado de trabalho brasileiro, com uma taxa de desemprego das mais baixas de sua história. Ao contrário do que ocorre, por exemplo, na Europa, onde aumenta o desemprego e há eliminação de direitos trabalhistas e sociais conquistados décadas atrás. Dinamização das forças produtivas
Além disso, Mariel vai ser - por enquanto , Dilma inaugurou apenas a primeira fase - o maior porto do Caribe, com capacidade para atracar navios de calado superior a 18 metros, e também , podendo movimentar mais de 1 milhão de conteiners por ano. Terá um impacto especial para o comércio marítimo também direcionado ao Pacífico, via Canal de Panamá. Para isto, vale lembrar da importância da participação da China, crescente, na economia latino-americana, em especial com o Brasil. Tanto o gigante asiático como empresas brasileiras, já manifestaram interesse em instalarem-se na Zona Econômica Especial a ser implantada em Mariel, onde também já foi construída uma rodovia moderna, estando em construção, uma ferrovia. De alguma maneira , Havana retoma uma posição de destaque no comércio marítimo internacional, pois já foi o maior porto da América Latina, ponto de conexão de várias rotas, tendo sido, por isso mesmo, uma cidade com mais de 70 por cento de habitantes portugueses, quando Portugal era um grande protagonista na marinha mercante internacional.
Havana já teve, também, uma das maiores indústrias navais do mundo. Cuba sempre impulsionou a integração O tirocínio do marinheiro negro Jorge Luis é perfeito. Depois de suportar décadas de um bloqueio que impediu os cubanos a compra de uma simples aspirina no maior e mais próximo mercado do mundo, os EUA, a Revolução Cubana, tendo resistido a ventos e tempestades, sobretudo às agressões imperialistas, soube preparar-se para esta nova etapa da história, simbolizada pela existência de uma Celac que vai se consolidando, pouco a pouco. Não sem enfrentar ações desestabilizadoras, lançadas contra os países mais empenhados na integração regional latino-americana, como Venezuela, Bolívia, Equador, e, também, pelas evidentes ações hostis contra Brasil e Argentina. Cuba investiu parte de seus modestos recursos na solidariedade internacional. Seja no envio de 400 mil homens e mulheres para derrotar o exército racista da África do Sul que havia invadido Angola, como também para promover , em vários quadrantes, com o envio de professores, métodos pedagógicos, médicos e vacinas, a eliminação do analfabetismo e o salvamento generalizado de vidas. É o caso, por exemplo, do programa Mais Médicos, não por acaso tão injustamente desprezado pela oligarquia midiática, que vocaliza os laboratórios farmacêuticos multinacionais. Como defender que salvar vidas merece desprezo?
É certo que todas as economias caribenhas e latino-americanas serão dinamizadas com a entrada em funcionamento do Porto de Mariel, gerando mais empregos, possibilitando novas opções comerciais. É emblemático que China esteja firmando um acordo estratégico de cooperação com a Celac. Para uma economia cercada de restrições, sem capacidade de investimentos, sem engenharia nacional para fazer esta obra por conta própria, o Porto de Mariel, é um imenso descortinar de possibilidades para Cuba. Os gigantescos navios chineses, de uma China que consolida sua posição como a segunda potência comercial mundial, não podiam mais aportar no velho Porto de Havana, o que resultava numa limitação operacional e logística, com impactos econômicos negativos de grande monta. O Porto de Havana será readaptado para o turismo e a economia cubana, no seu conjunto, recebe, com Mariel um enorme impulso para a dinamização de suas forças produtivas. A atendente do hotel onde estou instalado me confessava hoje o interesse de ir trabalhar em Mariel, porque, segundo disse, o futuro está por ali e são empregos mais promissores.
Mariel e seus impactos internacionais Realmente, para um economia que perdeu a parceria que tinha com a União Soviética, que resistiu durante o período especial com as adaptações inevitáveis para salvar o essencial das conquistas da Revolução, o que Mariel significará é de extraordinária relevância. E é exatamente na dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que se localizam as chaves para muitas portas que podem ser abertas para uma maior dedicação de meios , recursos e iniciativas visando a integração latino-americana. E, neste quebra-cabeças, a política estratégica implantada por Lula, continuada por Dilma, é ,inequivocamente, muito decisiva.
Que outro país poderia fazer um financiamento deste porte para a construção de Mariel? Por último, pode ser muito útil uma reflexão sobre os diversos pensadores, formuladores e também executores de políticas de integração. Desde Marti, aquele analisou a importância da “nossa Grécia”, numa referência ao significado da civilização Inca, mas que também formulou o conceito de Nuestra América, até chegando ao pensamento de Getúlio Vargas, criador do BNDES, o banco estatal de fomento que está financiando a construção do Porto de Mariel, uma estupenda ferramenta integradora.
Tudo converge para a abertura de uma nova avenida para dar trânsito à integração. Seja pela sabedoria dos povos da região que estão sabendo apoiar, com o seu voto, os governos que mais impulsionam estas políticas, seja pelos avanços concretos que estas políticas integradoras têm registrados, apesar da insistência nada profissional do jornalismo de desintegração em reduzir tudo a zero. Futuro socialista A força e a necessidade histórica das ideias se vêm comprovadas nesta inauguração da primeira etapa do Porto de Mariel, em plena reunião da Celac, sem a presença de Estados Unidos e Canadá, patrocinadores históricos da desintegração entre os povos. A simbologia da justeza histórica do pensamento martiniano, nos permite, agora, afirmar, também, que José Marti é um dos autores intelectuais de Mariel.
E, retomando o otimismo realista do marinheiro Jorge Luis, constatamos que a dinamização das forças produtivas da Revolução Cubana que a parceria entre Cuba e Brasil possibilita, foi estampada na frase final do discurso do presidente cubano, General Raul Castro: “Mariel e a poderosa infraestrutura que o acompanha são uma mostra concreta do otimismo e da confiança com que os cubamos olham o futuro socialista e próspero da Pátria”. O marinheiro negro captou o significado essencial destes dias. Não por acaso, a Marcha das Tochas, que celebra com chamas que não se apagam, as ideias de Marti, em seu aniversário, ontem - com mais de 500 mil manifestantes, maioria esmagadora de jovens - teve, na primeira fila, além de Raul, os presidentes Evo Morales, Nicolás Maduro, Pepe Mujica, Daniel Ortega. As ideias de Marti, materializadas nestes avanços produtivos e integradores, como Mariel, vão iluminando o futuro socialista de Cuba e, com isto, da integração latino-americana.
(*) Beto Almeida, de Havana, Membro do Diretorio da Telesur
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