Ao contrário do que tanta a mídia a serviço do Poder divulgar como verdade, olha só como pensa a Síria, um país árabe e muçulmano!
"Os Sírios não encaram a questão da homossexualidade sob o ângulo da tolerância ou da intolerância, mas sob a da vida privada. E, milhares de anos de civilização ensinaram-lhes que eles não podem sobreviver nesta região do mundo senão vivendo juntos, e que eles só podem conseguir isso respeitando a privacidade particular. É, pois, possível ter declarações de desprezo pelos homossexuais em geral, ao mesmo tempo se abstendo de acusar seja quem fôr, em particular, de ser gay."
"Os Sírios não encaram a questão da homossexualidade sob o ângulo da tolerância ou da intolerância, mas sob a da vida privada. E, milhares de anos de civilização ensinaram-lhes que eles não podem sobreviver nesta região do mundo senão vivendo juntos, e que eles só podem conseguir isso respeitando a privacidade particular. É, pois, possível ter declarações de desprezo pelos homossexuais em geral, ao mesmo tempo se abstendo de acusar seja quem fôr, em particular, de ser gay."
Thierry Meyssan
Revendo a matança de Orlando, Thierry Meyssan lembra que o conflito entre o Daesh (EI) e a República Árabe Síria é em primeiro lugar uma luta entre duas formas de sociedade, dominada pelos homens na primeira, igualitária em direitos na segunda. É também a ocasião para ele sublinhar que a civilização síria tem uma longa história mal conhecida integração de homossexuais que o Daesh (EI) tenta destruir.
Rede Voltaire | Damasco (Síria)
A matança de Orlando atirou para o foco dos holofotes o tratamento de homossexuais pelo Daesh (EI). Ora, o assassino, que se afirmou como membro do grupo terrorista, era um cliente da boate gay e tinha tido relações sexuais com, pelo menos, um outro cliente. Parece, pois, que ele tinha visado uma discoteca e não uma discoteca gay.
De um ponto de vista etnológico, a condenação da homossexualidade em nome destas religiões é concomitante a uma visão da sociedade onde os homens dominam as mulheres. Ela não existe nas sociedades em que os indivíduos são iguais em direitos.
Daesh e o Baas : duas concepções de sociedade
Como eu escrevia há um ano, «o apoio do qual o Daesh beneficia entre certas populações nada tem a ver nem com Corão, nem com a luta de classes. É a revolta de um modo de vida em vias de desaparecer, de uma sociedade violenta dominada por homens, contra um estilo de vida respeitoso para com as mulheres, e com controle de natalidade [1]. Portanto, o assassinato de homossexuais tornou-se para os jihadistas um argumento para «conquistar corações e mentes»
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O negociador-chefe dos «moderados» às negociações de Genebra, Mohamed Allouche, ficou famoso por atirar em pessoas acusadas de homossexualidade a partir dos telhados de Duma, nos subúrbios de Damasco, sem provocar o menor protesto dos seus patrocinadores ocidentais. Muito embora o seu grupo, o Exército do Islão (Jaysh al-Islam), seja financiado pela Arábia Saudita e enquadrado por conselheiros militares britânicos, ele era aconselhado, em permanência, durante as negociações pelo encarregado de negócios Francês para a Síria. Este diplomata —de uma República laica— interveio para que o hotel suíço que os hospedava retirasse os quadros e tapasse as estátuas cuja nudez pudesse chocar este modelo de «democrata». Provavelmente, pensava ele —e acontece que ele vive com outro diplomata gay como casal— as barbaridades de Mohammed Allouche seriam menos graves que as do «regime de Bashar».
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O negociador-chefe dos «moderados» às negociações de Genebra, Mohamed Allouche, ficou famoso por atirar em pessoas acusadas de homossexualidade a partir dos telhados de Duma, nos subúrbios de Damasco, sem provocar o menor protesto dos seus patrocinadores ocidentais. Muito embora o seu grupo, o Exército do Islão (Jaysh al-Islam), seja financiado pela Arábia Saudita e enquadrado por conselheiros militares britânicos, ele era aconselhado, em permanência, durante as negociações pelo encarregado de negócios Francês para a Síria. Este diplomata —de uma República laica— interveio para que o hotel suíço que os hospedava retirasse os quadros e tapasse as estátuas cuja nudez pudesse chocar este modelo de «democrata». Provavelmente, pensava ele —e acontece que ele vive com outro diplomata gay como casal— as barbaridades de Mohammed Allouche seriam menos graves que as do «regime de Bashar».
- A 13 de Junho, François Hollande difunde um Tweet : « A terrível matança homófoba de Orlando atingiu a América e a liberdade. A liberdade de escolher a sua orientação sexual e o seu modo de vida». O Presidente Francês não concebe que se possa «ficar enamorado» de uma pessoa do mesmo sexo, para ele, é uma questão de «escolha».
Ora, hoje em dia, no mundo árabe —que é minoritário em relação aos muçulmanos do mundo inteiro—, somente a Síria, o sultanato de Omã e alguns dos Emirados Árabes Unidos integram os homossexuais.
Deve-se lembrar aqui que, ao contrário de uma imagem que foi impingida sem ser discutida, jamais a República Árabe Síria perseguiu seja quem fôr por motivos de ordem privada. Todos os crimes, reais ou as mais das vezes imaginários, que se lhe atribuem são exclusivamente ligados à repressão de islamitas, quer seja os Irmãos Muçulmanos ou, mais recentemente, as suas extensões da Al-Qaeda e do Daesh (EI). Em Fevereiro último, o diário libanês financiado pela União Europeia, L’Orient-Le Jour, conhecido pela sua posição parcial (“parti pris”) sistematicamente anti-síria, consagrava uma série de artigos a uma comparação entre a vida gay no Líbano e na Síria. Enquanto no Líbano, a polícia prende jovens muitas vezes denunciados pela própria família, investiga os seus telefones portáteis (celulares-br) em busca de fotografias comprometedoras, convoca os seus amigos, obriga todos os suspeitos a exame médico suposto de conseguir determinar a expansão do seu ânus, e os espanca até que um dentre eles acuse os outros, na Síria, observa o jornal, «sob o regime de Bashar al-Assad, a comunidade gay goza de dias felizes» [2].
Os Sírios não encaram a questão da homossexualidade sob o ângulo da tolerância ou da intolerância, mas sob a da vida privada. E, milhares de anos de civilização ensinaram-lhes que eles não podem sobreviver nesta região do mundo senão vivendo juntos, e que eles só podem conseguir isso respeitando a privacidade particular. É, pois, possível ter declarações de desprezo pelos homossexuais em geral, ao mesmo tempo se abstendo de acusar seja quem fôr, em particular, de ser gay.
Mesmo se as disposições do Código Penal 1949 não foram revogadas, o partido do Presidente Bashar el-Assad, o Baath, instalou uma cultura quase única para um país árabe, baseada no respeito das diferenças. De tal maneira que o L’Orient-Le Jour se espantava ao ouvir um refugiado sírio gay evocar a época do seu serviço militar como «os melhores anos de sua vida», e contar «as festas em salões de casamento alugados por casais homossexuais para festejar a sua união». Só à chegada do Daesh (EI) é que ele foi forçado a «esconder as suas calças rosas e amarelas e a se treinar a caminhar de maneira masculina».
Muito embora os fundadores do Baath se tenham inspirado, antes de mais, na Revolução Francesa, a sua ideologia é acima de tudo fruto da cultura síria. E, contrariamente aos outros países árabes, a Síria tem uma longa tradição de respeito pelos diferentes estilos de vida.
As religiões bíblicas e a sexualidade
O judaísmo foi fundado no Reino de Jerusalém. O cristianismo por Paulo de Tarso em Damasco. O islão foi dada a Maomé na Arábia, mas o Corão só foi escrito uma vintena de anos após a sua morte, sob a supervisão do terceiro califa, Othmân, em Damasco. De fato, as três religiões bíblicas foram criadas no espaço da Síria geográfica.
Três passagens da Torá evocam explicitamente a homossexualidade. De acordo com o Levítico: «Não te deitarás com um homem como te deitas com uma mulher. É uma abominação» (18:22) e «O homem que se deita com outro homem como se deita com uma mulher: –é a abominação o que ambos cometeram, deverão morrer, o seu sangue cairá sobre eles» (20:13). Finalmente o Deuteronómio: «Que não haja nenhuma prostituta entre as filhas de Israel, e que nenhum dos filhos de Israel se prostitua na infâmia» (23:17).
Colocados no contexto, os dois primeiros versículos ressaltam a concepção patriarcal das tribos da época, o terceiro é uma condenação da prostituição sagrada praticada pelos templos de outras tribos e, portanto, equiparada a idolatria. Hoje em dia, os judeus reinterpretam a sua religião a fim de abandonar os aspectos tribais e não têm dificuldade em integrar os homossexuais. Eles interpretam frequentemente a relação entre Ruth e Naomi e a do rei David e Jónatas como relações homossexuais. No entanto, os que afirmam pela Aliança de Deus unicamente com as tribos de Israel persistem em ver nisso uma «abominação». É assim que o Estado de Israel integra os homossexuais, no entanto o grupo Levaha protesta anualmente contra a parada do Orgulho Gay e, em 2005, um judeu ultra-ortodoxo nela esfaqueou seis gays.
Segundo os Evangelhos, Jesus de Nazaré não parou de criticar as interdições e o formalismo do judaísmo antigo, quando jamais criticou o paganismo romano. Ele promoveu uma forma de espiritualidade fundada no amor e no sacrifício e jamais abordou a questão sexual. Não há portanto nenhum fundamento nas escrituras para as condenações da homossexualidade pelas Igrejas cristãs.
Os primeiros cristãos estavam divididos em dois grupos distintos. Os judeus que consideravam Jesus como o seu Messias, e os gentios (os pagãos) que o viam como um exemplo de um homem perfeito. Os primeiros estavam organizados em Jerusalém em volta de Tiago, «irmão de Jesus», enquanto os segundos se estruturavam em Damasco e Antioquia. Os primeiros recusavam celebrar a missa com os segundos, os quais, enquanto goyim, eram «impuros» a seus olhos. O primeiro grupo foi liquidado durante a repressão romana em Jerusalém, apenas o segundo sobreviveu.
Durante a antiguidade, incluindo durante os primeiros séculos do cristianismo, os amantes do mesmo sexo estavam integrados na sociedade e, portanto, na Igreja. No século IIIº, o comandante da Schola gentilium (a tropa de elite que substituiu a Guarda Pretoriana), Sarkis, e o seu ajudante de campo, Baco, foram martirizados pelo Imperador Maximiano perto de Rakka (a actual capital do Daesh) por se terem convertido a Cristo e terem recusado fazer sacrifícios aos deuses romanos. Os dois homens eram amantes e que tinham sido reconhecido como tal pela Igreja que celebrou para eles a adelphopoiesis, um rito equivalente ao proposto aos pares do mesmo sexo na sociedade romana. Baco, que tinha sido expulso da tropa, depois flagelado até a morte, apareceu em sonho a Sarkis quando este foi por sua vez torturado. Em uniforme de oficial romano, ele encorajou o seu amante a não abjurar a sua fé e a morrer como soldado de Cristo. Depois disso, o culto de São Sarkis e São Baco espalhou-se por todo o Levante.
Apenas a partir do século XI e, especialmente, com a Contra-Reforma é que os cristãos condenaram a homossexualidade. Roma retomou, então a filosofia vitalista do fim do Império Romano para a qual o propósito da sexualidade é a reprodução da espécie. Os cristãos do Ocidente justificaram esta reviravolta apoiando-se nas epístolas de Paulo aos Coríntios (VI 9-10) e aos Romanos (I, 26-28), ou seja voltando ao Levítico e ao Deuteronómio. Ora, além desses textos, provavelmente, terem um significado muito diferente, eles não têm a autoridade de Cristo. Seja como fôr, a integração dos homossexuais continuou entre os cristãos do Levante até ao século XVIII.
O Islão apresenta-se como uma intervenção de Deus clarificando a confusão teológica que reinava na Arábia. O Corão, retomando o mito do Génesis (19) evoca em seis ocasiões o mito de Sodoma e Gomorra (7: 80-81, 21:74, 26: 165-166, 27: 54-55, 29: 28-30 e 54: 33-34). Estes versículos só recentemente foram interpretados como condenando o «crime de Loth», lapidar os homossexuais, ou atirá-los do alto de falésias. Na realidade, o mito de Loth não diz respeito ás relações entre pessoas do mesmo sexo, mas estigmatiza tanto a falta de respeito pela hospitalidade como o estupro que os Beduínos consideravam como uma marca de servidão. Por outro lado, o Corão não condena Loth —que considera como um dos profetas do Islão—, nem os visitantes que se constata serem anjos, mas os habitantes de Sodoma. Inúmeros artistas da idade de ouro do Islão celebraram os amores homossexuais e vários califas exibiram os romances com outros homens (por exemplo, Al-Amine, Al-Mu’tassim e Al-Wathiq).
Durante a antiguidade, incluindo durante os primeiros séculos do cristianismo, os amantes do mesmo sexo estavam integrados na sociedade e, portanto, na Igreja. No século IIIº, o comandante da Schola gentilium (a tropa de elite que substituiu a Guarda Pretoriana), Sarkis, e o seu ajudante de campo, Baco, foram martirizados pelo Imperador Maximiano perto de Rakka (a actual capital do Daesh) por se terem convertido a Cristo e terem recusado fazer sacrifícios aos deuses romanos. Os dois homens eram amantes e que tinham sido reconhecido como tal pela Igreja que celebrou para eles a adelphopoiesis, um rito equivalente ao proposto aos pares do mesmo sexo na sociedade romana. Baco, que tinha sido expulso da tropa, depois flagelado até a morte, apareceu em sonho a Sarkis quando este foi por sua vez torturado. Em uniforme de oficial romano, ele encorajou o seu amante a não abjurar a sua fé e a morrer como soldado de Cristo. Depois disso, o culto de São Sarkis e São Baco espalhou-se por todo o Levante.
Apenas a partir do século XI e, especialmente, com a Contra-Reforma é que os cristãos condenaram a homossexualidade. Roma retomou, então a filosofia vitalista do fim do Império Romano para a qual o propósito da sexualidade é a reprodução da espécie. Os cristãos do Ocidente justificaram esta reviravolta apoiando-se nas epístolas de Paulo aos Coríntios (VI 9-10) e aos Romanos (I, 26-28), ou seja voltando ao Levítico e ao Deuteronómio. Ora, além desses textos, provavelmente, terem um significado muito diferente, eles não têm a autoridade de Cristo. Seja como fôr, a integração dos homossexuais continuou entre os cristãos do Levante até ao século XVIII.
O Islão apresenta-se como uma intervenção de Deus clarificando a confusão teológica que reinava na Arábia. O Corão, retomando o mito do Génesis (19) evoca em seis ocasiões o mito de Sodoma e Gomorra (7: 80-81, 21:74, 26: 165-166, 27: 54-55, 29: 28-30 e 54: 33-34). Estes versículos só recentemente foram interpretados como condenando o «crime de Loth», lapidar os homossexuais, ou atirá-los do alto de falésias. Na realidade, o mito de Loth não diz respeito ás relações entre pessoas do mesmo sexo, mas estigmatiza tanto a falta de respeito pela hospitalidade como o estupro que os Beduínos consideravam como uma marca de servidão. Por outro lado, o Corão não condena Loth —que considera como um dos profetas do Islão—, nem os visitantes que se constata serem anjos, mas os habitantes de Sodoma. Inúmeros artistas da idade de ouro do Islão celebraram os amores homossexuais e vários califas exibiram os romances com outros homens (por exemplo, Al-Amine, Al-Mu’tassim e Al-Wathiq).
Deve-se lembrar aqui que, ao contrário de uma imagem que foi impingida sem ser discutida, jamais a República Árabe Síria perseguiu seja quem fôr por motivos de ordem privada. Todos os crimes, reais ou as mais das vezes imaginários, que se lhe atribuem são exclusivamente ligados à repressão de islamitas, quer seja os Irmãos Muçulmanos ou, mais recentemente, as suas extensões da Al-Qaeda e do Daesh (EI). Em Fevereiro último, o diário libanês financiado pela União Europeia, L’Orient-Le Jour, conhecido pela sua posição parcial (“parti pris”) sistematicamente anti-síria, consagrava uma série de artigos a uma comparação entre a vida gay no Líbano e na Síria. Enquanto no Líbano, a polícia prende jovens muitas vezes denunciados pela própria família, investiga os seus telefones portáteis (celulares-br) em busca de fotografias comprometedoras, convoca os seus amigos, obriga todos os suspeitos a exame médico suposto de conseguir determinar a expansão do seu ânus, e os espanca até que um dentre eles acuse os outros, na Síria, observa o jornal, «sob o regime de Bashar al-Assad, a comunidade gay goza de dias felizes» [2].
Os Sírios não encaram a questão da homossexualidade sob o ângulo da tolerância ou da intolerância, mas sob a da vida privada. E, milhares de anos de civilização ensinaram-lhes que eles não podem sobreviver nesta região do mundo senão vivendo juntos, e que eles só podem conseguir isso respeitando a privacidade particular. É, pois, possível ter declarações de desprezo pelos homossexuais em geral, ao mesmo tempo se abstendo de acusar seja quem fôr, em particular, de ser gay.
Mesmo se as disposições do Código Penal 1949 não foram revogadas, o partido do Presidente Bashar el-Assad, o Baath, instalou uma cultura quase única para um país árabe, baseada no respeito das diferenças. De tal maneira que o L’Orient-Le Jour se espantava ao ouvir um refugiado sírio gay evocar a época do seu serviço militar como «os melhores anos de sua vida», e contar «as festas em salões de casamento alugados por casais homossexuais para festejar a sua união». Só à chegada do Daesh (EI) é que ele foi forçado a «esconder as suas calças rosas e amarelas e a se treinar a caminhar de maneira masculina».
Muito embora os fundadores do Baath se tenham inspirado, antes de mais, na Revolução Francesa, a sua ideologia é acima de tudo fruto da cultura síria. E, contrariamente aos outros países árabes, a Síria tem uma longa tradição de respeito pelos diferentes estilos de vida.
As religiões bíblicas e a sexualidade
O judaísmo foi fundado no Reino de Jerusalém. O cristianismo por Paulo de Tarso em Damasco. O islão foi dada a Maomé na Arábia, mas o Corão só foi escrito uma vintena de anos após a sua morte, sob a supervisão do terceiro califa, Othmân, em Damasco. De fato, as três religiões bíblicas foram criadas no espaço da Síria geográfica.
Três passagens da Torá evocam explicitamente a homossexualidade. De acordo com o Levítico: «Não te deitarás com um homem como te deitas com uma mulher. É uma abominação» (18:22) e «O homem que se deita com outro homem como se deita com uma mulher: –é a abominação o que ambos cometeram, deverão morrer, o seu sangue cairá sobre eles» (20:13). Finalmente o Deuteronómio: «Que não haja nenhuma prostituta entre as filhas de Israel, e que nenhum dos filhos de Israel se prostitua na infâmia» (23:17).
Colocados no contexto, os dois primeiros versículos ressaltam a concepção patriarcal das tribos da época, o terceiro é uma condenação da prostituição sagrada praticada pelos templos de outras tribos e, portanto, equiparada a idolatria. Hoje em dia, os judeus reinterpretam a sua religião a fim de abandonar os aspectos tribais e não têm dificuldade em integrar os homossexuais. Eles interpretam frequentemente a relação entre Ruth e Naomi e a do rei David e Jónatas como relações homossexuais. No entanto, os que afirmam pela Aliança de Deus unicamente com as tribos de Israel persistem em ver nisso uma «abominação». É assim que o Estado de Israel integra os homossexuais, no entanto o grupo Levaha protesta anualmente contra a parada do Orgulho Gay e, em 2005, um judeu ultra-ortodoxo nela esfaqueou seis gays.
Segundo os Evangelhos, Jesus de Nazaré não parou de criticar as interdições e o formalismo do judaísmo antigo, quando jamais criticou o paganismo romano. Ele promoveu uma forma de espiritualidade fundada no amor e no sacrifício e jamais abordou a questão sexual. Não há portanto nenhum fundamento nas escrituras para as condenações da homossexualidade pelas Igrejas cristãs.
Os primeiros cristãos estavam divididos em dois grupos distintos. Os judeus que consideravam Jesus como o seu Messias, e os gentios (os pagãos) que o viam como um exemplo de um homem perfeito. Os primeiros estavam organizados em Jerusalém em volta de Tiago, «irmão de Jesus», enquanto os segundos se estruturavam em Damasco e Antioquia. Os primeiros recusavam celebrar a missa com os segundos, os quais, enquanto goyim, eram «impuros» a seus olhos. O primeiro grupo foi liquidado durante a repressão romana em Jerusalém, apenas o segundo sobreviveu.
Durante a antiguidade, incluindo durante os primeiros séculos do cristianismo, os amantes do mesmo sexo estavam integrados na sociedade e, portanto, na Igreja. No século IIIº, o comandante da Schola gentilium (a tropa de elite que substituiu a Guarda Pretoriana), Sarkis, e o seu ajudante de campo, Baco, foram martirizados pelo Imperador Maximiano perto de Rakka (a actual capital do Daesh) por se terem convertido a Cristo e terem recusado fazer sacrifícios aos deuses romanos. Os dois homens eram amantes e que tinham sido reconhecido como tal pela Igreja que celebrou para eles a adelphopoiesis, um rito equivalente ao proposto aos pares do mesmo sexo na sociedade romana. Baco, que tinha sido expulso da tropa, depois flagelado até a morte, apareceu em sonho a Sarkis quando este foi por sua vez torturado. Em uniforme de oficial romano, ele encorajou o seu amante a não abjurar a sua fé e a morrer como soldado de Cristo. Depois disso, o culto de São Sarkis e São Baco espalhou-se por todo o Levante.
Apenas a partir do século XI e, especialmente, com a Contra-Reforma é que os cristãos condenaram a homossexualidade. Roma retomou, então a filosofia vitalista do fim do Império Romano para a qual o propósito da sexualidade é a reprodução da espécie. Os cristãos do Ocidente justificaram esta reviravolta apoiando-se nas epístolas de Paulo aos Coríntios (VI 9-10) e aos Romanos (I, 26-28), ou seja voltando ao Levítico e ao Deuteronómio. Ora, além desses textos, provavelmente, terem um significado muito diferente, eles não têm a autoridade de Cristo. Seja como fôr, a integração dos homossexuais continuou entre os cristãos do Levante até ao século XVIII.
O Islão apresenta-se como uma intervenção de Deus clarificando a confusão teológica que reinava na Arábia. O Corão, retomando o mito do Génesis (19) evoca em seis ocasiões o mito de Sodoma e Gomorra (7: 80-81, 21:74, 26: 165-166, 27: 54-55, 29: 28-30 e 54: 33-34). Estes versículos só recentemente foram interpretados como condenando o «crime de Loth», lapidar os homossexuais, ou atirá-los do alto de falésias. Na realidade, o mito de Loth não diz respeito ás relações entre pessoas do mesmo sexo, mas estigmatiza tanto a falta de respeito pela hospitalidade como o estupro que os Beduínos consideravam como uma marca de servidão. Por outro lado, o Corão não condena Loth —que considera como um dos profetas do Islão—, nem os visitantes que se constata serem anjos, mas os habitantes de Sodoma. Inúmeros artistas da idade de ouro do Islão celebraram os amores homossexuais e vários califas exibiram os romances com outros homens (por exemplo, Al-Amine, Al-Mu’tassim e Al-Wathiq).
Durante a antiguidade, incluindo durante os primeiros séculos do cristianismo, os amantes do mesmo sexo estavam integrados na sociedade e, portanto, na Igreja. No século IIIº, o comandante da Schola gentilium (a tropa de elite que substituiu a Guarda Pretoriana), Sarkis, e o seu ajudante de campo, Baco, foram martirizados pelo Imperador Maximiano perto de Rakka (a actual capital do Daesh) por se terem convertido a Cristo e terem recusado fazer sacrifícios aos deuses romanos. Os dois homens eram amantes e que tinham sido reconhecido como tal pela Igreja que celebrou para eles a adelphopoiesis, um rito equivalente ao proposto aos pares do mesmo sexo na sociedade romana. Baco, que tinha sido expulso da tropa, depois flagelado até a morte, apareceu em sonho a Sarkis quando este foi por sua vez torturado. Em uniforme de oficial romano, ele encorajou o seu amante a não abjurar a sua fé e a morrer como soldado de Cristo. Depois disso, o culto de São Sarkis e São Baco espalhou-se por todo o Levante.
Apenas a partir do século XI e, especialmente, com a Contra-Reforma é que os cristãos condenaram a homossexualidade. Roma retomou, então a filosofia vitalista do fim do Império Romano para a qual o propósito da sexualidade é a reprodução da espécie. Os cristãos do Ocidente justificaram esta reviravolta apoiando-se nas epístolas de Paulo aos Coríntios (VI 9-10) e aos Romanos (I, 26-28), ou seja voltando ao Levítico e ao Deuteronómio. Ora, além desses textos, provavelmente, terem um significado muito diferente, eles não têm a autoridade de Cristo. Seja como fôr, a integração dos homossexuais continuou entre os cristãos do Levante até ao século XVIII.
O Islão apresenta-se como uma intervenção de Deus clarificando a confusão teológica que reinava na Arábia. O Corão, retomando o mito do Génesis (19) evoca em seis ocasiões o mito de Sodoma e Gomorra (7: 80-81, 21:74, 26: 165-166, 27: 54-55, 29: 28-30 e 54: 33-34). Estes versículos só recentemente foram interpretados como condenando o «crime de Loth», lapidar os homossexuais, ou atirá-los do alto de falésias. Na realidade, o mito de Loth não diz respeito ás relações entre pessoas do mesmo sexo, mas estigmatiza tanto a falta de respeito pela hospitalidade como o estupro que os Beduínos consideravam como uma marca de servidão. Por outro lado, o Corão não condena Loth —que considera como um dos profetas do Islão—, nem os visitantes que se constata serem anjos, mas os habitantes de Sodoma. Inúmeros artistas da idade de ouro do Islão celebraram os amores homossexuais e vários califas exibiram os romances com outros homens (por exemplo, Al-Amine, Al-Mu’tassim e Al-Wathiq).
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