Escrito por Estado-Maior Central das FARC-EP
Fonte:www.farc-ep.co
Sempre defendemos que o destino da Colômbia não pode ser a guerra. Não, não, NO! Temos que elevar a Colômbia desde o lodo da guerra para o cume da humanidade.
Companheiras e companheiros:
Como resultado dos Diálogos de Paz de Havana e do respaldo majoritário da nação que nunca deixou de sonhar com uma pátria em paz e dignidade, se inicia um novo ciclo da história de resistência e luta armada das FARC, que se originou com o ataque militar a Marquetalia em 1964, a 27 de maio.
Antes do bombardeio e dos desembarques, Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas e seus companheiros tocaram todas as portas do diálogo para evitar o começo de uma nova etapa de guerra em Colômbia, porém pôde mais a intransigência local e a intriga do Norte que temia para a América continental a reedição da experiência da Revolução Cubana.
Remontando-nos no tempo, podemos observar a persistência consequente das FARC na busca de uma solução política àquela confrontação gerada pelos que, desde a morte do Libertador, impuseram a injustiça e a exclusão política em Colômbia.
Sempre consequentes com o elemento essencial de sua estratégia, que é a paz, as FARC embandeiraram 5 intentos de solução política ao conflito interno da Colômbia.
Tentamos nos Diálogos de La Uribe durante o governo de Betancur, convertendo as FARC na plataforma de lançamento de um novo movimento político, a União Patriótica, que foi destroçada pela obsessão e a intolerância de setores militaristas do regime. Foram mais de 5 mil os assassinados e massacrados. Honra e glória aos que ofereceram sua vida sonhando com a Colômbia Nova.
Depois buscamos a reconciliação nas conversações de Caracas e Tlaxcala, esforço que foi afogado pela abertura democrática, o miserável neoliberalismo que nos arrebatou a esperança.
San Vicente del Caguán foi a persistência do sonho de paz das FARC frustrado uma vez mais pela perfídia de um mandatário conservador que só buscava ganhar tempo pensando na reengenharia de exército que lhe permitisse continuar e ganhar a guerra.
Porém, apesar das vicissitudes e tocados pela dor de pátria que esta prolongada confrontação produziu, conseguimos novamente acender a chama da esperança com os Diálogos de Havana onde pudemos finalmente firmar um tratado para a construção da paz estável e duradoura.
Pensamos, quanto haveriam desejado nossos pais fundadores Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas, Afonso, Raúl, Jorge Efraín e outros companheiros protagonizarem a realização deste movimento histórico de seus sonhos. Eles, e todos os que ofereceram sua vida pela causa dos pobres, seguirão vivos nos sentimentos de concórdia das gerações vindouras.
As FARC não esquecem e evocam agradecidas o papel de Hugo Chávez Frías, comandante da Revolução Bolivariana de Venezuela, quem guiou os primeiros passos das partes contendoras para a Mesa de Diálogo. Obrigado, muito obrigado em nome da Colômbia, presidente Raúl Castro, pelo aporte de Cuba a nossa reconciliação. Noruega, Reino de Noruega receba nosso reconhecimento a seu importante papel na busca de paz. Presidenta Bachelet, presidente Maduro: a vocês que, em nome de seus povos nos acompanharam como anjos da guarda ao longo do processo, os levamos no coração.
Assistimos hoje como abismados ao trânsito da luta armada à conversão das FARC em partido político legal. A decisão foi tomada e referendada unanimemente pela mais elevada autoridade: a Conferência Guerrilheira. Agora necessitamos nos unir todos os que queremos pátria e humanidade para que a implementação dos acordos mude para melhor a vida dos colombianos.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas, reconhecida autoridade mundial, verificará os compromissos de reincorporação e de respeito aos Direitos Humanos. Nos acompanharão também nesta árdua tarefa de consolidação da paz o querido Pepe Mujica e o ex-presidente Felipe González e uma constelação de organizações internacionais. Não estamos sós. O mundo dos sensatos está conosco.
Queremos recordar, no entanto, que o importante não é só firmar o acordo, mas sim cumpri-lo. Que a paz não é assunto de leis, senão de vontade política. Quanto ganharíamos os colombianos se conseguíssemos cortar pela raiz a intrincada engrenagem jurídica que ainda retarda a marcha da paz e a implementação do acordado...
Respaldados pelos avanços do acordo, em nome das FARC colocamos hoje em mãos do povo a potência transformadora que construímos ao longo de 53 anos de luta e resistência. O uso do direito universal à rebelião, ao levantamento armado contra a opressão de um povo foi um acerto porque isso gerou uma força intangível, se se quer, invisível porém poderosa, para que o povo colombiano reclame os direitos pisoteados por umas minorias privilegiadas.
Vamos para a política porque para isso são os processos de paz. Uma política não somente derivada da proposta de mudar balas por votos, senão que vai mais além do eleitoral e fixa seu olhar no futuro, no bem viver em democracia e dignidade das novas gerações.
Enquanto avançamos para o Congresso Constitutivo do novo partido, preparamos nossas bandeiras que são os mesmos sentimentos do povo querendo tremular. Enquanto isso, como José Arcadio em seu laboratório de alquimia, preparamos a massa que há de servir para unir os sonhos dispersos de decoro e pátria para todos. Necessitamos da unidade como do ar para respirar.
Queremos que em Colômbia irrompa a abundância sonora da concórdia até que a inunde e a transborde mais além das fronteiras. Não somos os incendiários da inimizade entre os povos e sim os embandeirados do estabelecimento de relações de respeito e amizade com os vizinhos e nações do continente, os propagadores da solidariedade e do amor entre os povos, os sonhadores de um velho sonho de Pátria Grande que palpita no firmamento, e que nos momentos estelares da história nos recorda que unidos seremos fortes e mereceremos respeito; divididos e isolados, pereceremos.
Ninguém poderá contra a esperança se esta está encarnada em milhões de almas que reclamam humanidade e NÃO VIOLÊNCIA. A esperança nos pertence a todos; é do campesino e do empresário, do índio puro e do diretor de imprensa, dos jovens e das mulheres, do guerrilheiro, do militar e do policial. Também do paramilitar que não quer mais sangue. Do negro e do branco. A esperança é do cristão e é do opositor cego ainda pelo ódio, porque a paz é de todos. Ninguém pode ficar atrás do trem da paz que começou a andar.
Definitivamente, entre todos, podemos virar a ensanguentada página da violência que foi escrita com letras de exclusão e desprezo ao ser humano. Para isso, se necessita da VERDADE acerca do ocorrido ao longo deste triste conflito. Que ninguém tenha medo da verdade, que ninguém fuja dela como o diabo da cruz. Como diz Zaffaroni: há gravíssimas feridas que requerem da verdade para reconciliar, porque senão essas feridas se infectam. Queremos reiterar os sentimentos de Timochenko em Cartagena de Índias ao firmar o Acordo de Paz: perdão pelas afetações que tenhamos causado neste longo conflito, o mais prolongado de Nuestra América. Aquele que esteja sem pecado que atire a primeira pedra.
Que a comissão de seleção em sua sabedoria eleja aos integrantes da Comissão de Esclarecimento da Verdade e aos magistrados da paz da Colômbia. Sejam bem-vindos.
Algo nos diz que esse Governo tem as chaves para entregar à Colômbia inteira seu inalienável direito a viver em paz e dignidade. A consolidação da paz tem a ferramenta da Constituição e há que utilizá-la para evitar que qualquer irresponsável cumpra sua ameaça de torná-la colcha de retalhos. Enquanto a guerra é o fracasso do direito, a paz enaltece a vida, como diz Álvaro Leyva.
Sempre defendemos que o destino da Colômbia não pode ser a guerra. Não, não, NÃO! Temos que elevar a Colômbia desde o lodo da guerra para o cume da humanidade. Em muito pouco tempo, esperamos poder escutar a sinfonia de vozes da inclusão, que é a verdadeira democracia, proclamando que ganhamos a mais bela de todas as batalhas: a da paz.
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