terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sobre costumes, cultura e soberania.

Por Ninféia G

O que um ser humano transtornado por desejos pessoais de vingança faria é um assunto.

O que o Estado lúcido e ponderado, na figura de seus magistrados deve fazer , é outro assunto.

Cada país tem suas próprias leis, seu próprio sistema jurídico, para exercer essa lucidez e ponderação, portanto, seu próprio sistema de caracterizar os crimes, de determinar quais os que são passíveis de punição com pena de morte.

Não são todos os países do mundo que adotam a pena de morte como forma de punição.O Brasil está entre aqueles que não a adotam, felizmente.E aí reside um pequeno indício de nosso desenvolvimento humano.

Atualmente está muito em foco o caso da mulher que foi condenada no Irã a morrer por apedrejamento por crime de adultério e assassinato.

Pessoalmente, acho um absurdo alguém ser condenado à morte por qualquer tipo de crime, mas não é esse o ponto que quero comentar.

Os países ditos civilizados do Ocidente (porque o Ocidente meteu na cabeça, não sei se por influencia de alguma país de mais porte do próprio Ocidente ou por livre e espontânea vontade ) que ele, o Ocidente, é o mundo civilizado e que o outro mundo, o Oriente, não é, justamente por causa de suas culturas que o Ocidente abomina e tenta de todo jeito menosprezar e até destruir, quando tem esse poder.


Como é que um país que tem várias formas legais de punição por pena de morte, como os EEUU, por exemplo, ou seja, injeção letal, câmara de gás, pode ter moral para movimentar campanha contra outro país, no caso, o Irã, por ter o apedrejamento como modalidade legal de pena de morte ?

Além do mais, impressionantemente,faz parte da campanha divulgar que a mulher condenada alega inocência, mas assim mesmo foi julgada e condenada pelo sistema judiciário de seu país.

Aqui no Brasil, por exemplo, os Nardoni alegaram inocência todo tempo, mas mesmo assim foram condenados por indícios ,em júri popular, e a opinião publica não admite que pudesse ter sido diferente.E aí? Somos maus ,também, como o são os iranianos?

No Irã, aconteceu a mesma coisa: a mulher foi condenada, alega inocência, mas os indícios levaram um júri a decidir que era culpada.

Então, é tudo uma questão de legislação de cada país, de soberania.

Dessa forma, por que não fazer uma campanha para que seja abolida no mundo inteiro, em todos os países que tenham pena de morte, essa forma de punição?

O motivo pelo qual o Irã, especificamente, está sendo alvo dessa campanha contra a sua soberania, não é difícil de ser conhecido por mentes esclarecidas, mas não é o tema desse artigo.

Segundo SEHRIF ABDEL AZIM, um ativista mulçumano, Engenheiro Elétrico e escritor, em seu livro A MULHER NO ISLÃ, que recebi de presente no Stand Islâmico na Bienal do livro em São Paulo,” acredita-se, no Ocidente, que o Islã é o símbolo por excelência da subordinação das mulheres. A fim de compreendermos como está enraizada tal crença, basta mencionar que o ministério da Educação da França, a terra de Voltaire, recentemente ordenou a expulsão das escolas francesas, de todas as jovens mulçumanas que vestissem o *Hijab! Na França, é negado a uma jovem mulçumana, que usa um lenço, o direito à educação, enquanto que estudantes católicos podem usar uma cruz ou um estudante judeu pode usar um solidéu.”

Os EEUU mata, saqueia, invade o país dos outros, promove desordem, mata civis sem conta, foi autor daquelas barbaridades que o mundo todo conheceu nas prisões do Iraque, mantém prisioneiros em condições bárbaras em Guantánamo e onde está a campanha contra esse país que só faz destruir? Contra esse país que detém armamento nuclear para poder meter medo no mundo, ninguém diz que eles não podem ter armas nucleares?Ninguém vai atrás de alguma característica cultural desse país a fim de colocar o mundo contra ele porque ele ousou ter seu programa nuclear, da mesma forma como ele está orientando o mundo a fazer contra o Irã?Porque o problema não é a condenção a morte da mulher mas ,sim, o programa nuclear do Irã, quem não vê essa verdade,apenas enxerga, não usa a mente para refletir.

O que eu penso é que estamos equivocados em nossas campanhas,! O apedrejamento , assim como qualquer outra forma de pena de morte,não é certo em sociedades ditas civilizadas até porque é o Estado fazendo a mesma coisa que o criminoso fez, só que amparado por lei.

Deveríamos ,sim, fazer campanhas para que criminosos condenados sejam reeducados em programas criados para isso, pelo proprio Estado, para poder ser útil à sociedade em um futuro próximo ,quando uma avaliação séria, em país sério, de sistema de governo sério, assim entender. E, enquanto presos, devem trabalhar para sustentar suas famílias que lá fora ficaram, sem suporte por conta de suas atitudes inconseqüentes e assim, não onerar o Estado. E quem não tem profissão, deve aprender.

É assim que se pune: reeducando e não matando ou trancafiando em uma prisão por 30 anos, jogando famílias na marginalidade, conduzindo crianças e jovens, também, ao crime, para sobreviver.

Encerro meu texto com alguns trechos do livro A MULHER NO ISLÃ, de Sherif Abdesl Azim- “ Ninguém pode ser mulçumano sem acreditar em Moisés ou Jesus como grandes profetas de Deus”

“Muitas pessoas confundem cultura com religião, e outras não sabem o que os seus livros religiosos dizem, e outras ainda, nem sequer se preocupam com isso.”

Ninfeia G é Assistente Social e Poetisa de Belém do pará.

Nota(1):

*Considerado pelo Ocidente como o maior símbolo de opressão e servidão da mulher, o véu, ou a cabeça coberta.Entretanto,no Brasil, a novela O Clone, da Rede Globo, fez o maior sucesso e era mais quem elogiava os véus caros usados pelas mulçumanas. Nesse ponto, tenho que usar uma expressão muito minha: “ Me poupem”(Ninféia G)



Nota (2):

Dr. Sherif Abdel Azeem é um ativista muçulmano Tem doutorado em Engenharia Elétrica da Universidade Queen (Kingston, Ontário, Canadá) é membro do departamento de Engenharia Elétrica na Universidade do Cairo. É autor de vários artigos sobre o Islã e questões contemporâneas islâmicas, Memorizou todo o Alcorão e é presidente da Resala,uma organização sem fins lucrativos com sede no Egito além de ser Professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Cairo. Ele também dá palestras na AUC (American University no Cairo).

Um comentário:

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