sábado, 30 de abril de 2011

Assim não, companheiro Chavez!

Por Carlos Aznárez


O jornalista Joaquín Perez Becerra, algemado como se fosse um delinquente, é trasladado pela Guarda Nacional venezuelana e enviado à Colômbia: Uma página vergonhosa para a história revolucionária latino-americana.

Esta segunda-feira, 25 de abril, passará para a história das lutas revolucionárias como o dia em que atiraram ao lixo os princípios mais elementares de solidariedade internacionalista. Não é possível permanecer calado, nem fingir que não vemos quando um irmão, um colega, um companheiro, um revolucionário, é enviado à tortura e ao cárcere na Colômbia, por culpa de acordos espúrios (quase sempre econômicos, porque o maldito dinheiro, você sabe, cheira à enxofre, companheiro Chávez).

O que, por lógica, não poderia acontecer, aconteceu: Joaquín Pérez, excelente jornalista da agência alternativa ANNCOL, que nutre o profissionalismo daqueles que praticam o jornalismo sem vendê-lo e nem alugá-lo, foi deportado pelo governo revolucionário, para que o governo fascista de Juan Manuel dos Santos o julgue e o maltrate.

Isto, companheiro Chávez, sua (nossa) admirada Cuba não teria feito e nos consta que não o fez em seus 52 anos de existência rebelde. Jamais teria cedido um milímetro (sempre esteve sendo pressionada, tanto como agora) pelos inimigos dos povos latino-americanos. No entanto, não podemos dizer o mesmo de seu governo, apesar de, você bem sabe, termos colocado nossa cabeça a prêmio para respaldar-lhe à frente de seu povo. Não somos daqueles que se emudecem quando percebem que algo anda mal, porém também não somos do tipo que colocam paus na roda, tampouco fazemos o jogo do inimigo, conspirando ao primeiro erro de um processo revolucionário. Por conta do ocorrido (que não foi uma coisa pequena), dizemos a você, companheiro Chávez: lamentavelmente, este erro grave deixará sequelas.

É claro que já existiam antecedentes em seu governo. Foram eles que nos advertiram sobre o equivocado caminho trilhado, principalmente no que se refere à solidariedade internacionalista. Primeiro, no começo de seu governo, um companheiro basco, que se encontrava legalmente refugiado na Venezuela, foi expulso. Em seguida, começou o romance com Santos e foram enviados para a Colômbia, da pior maneira possível, vários companheiros do ELN e das FARC. É preciso recordar que o internacionalista basco também foi expulso sem nenhuma razão, mesmo sabendo-se que, na Espanha, (a do Rei que o insultou com aquele bordão “Por que não se cala?”, e de Zapatero) se violam todos os direitos humanos de bascos e bascas. E agora, a cereja do bolo, em função do acordado na reunião com Santos.

Nos dá raiva escrever esta nota. Nunca pensamos ter que escrevê-la, mas nos ensinaram na política da rua, essa que se pratica nos bairros, nas fábricas, nas comunidades, que o pior que pode ocorrer a um homem ou uma mulher é não se sensibilizar frente a injustiça ou, em nome das benditas “políticas de Estado”, buscar argumentos para, finalmente, abrir mão de valores, de forma submissa, perante os inimigos de nossos povos.

Companheiro Chávez, nós que apoiamos sua revolução desde fins de 1998, que nos mobilizamos no exterior para defendê-la quando o fascista Carmona tentou frustrá-la ou quando a oligarquia petroleira tentou o mesmo em 2002, nós que defendemos a ALBA e tudo o que isso significa, perguntamos a você: temos que ter cuidado ao viajar para a Venezuela para que não nos acusem de terroristas?

Nós que não calamos e nem deixamos de defender os que lutam no mundo contra o fascismo e o imperialismo, por isso respaldamos os lutadores independentistas bascos, os combatentes das FARC e do ELN e todos os que, como eles, dão suas vidas pela liberdade e pela soberania, nos perguntamos: seremos os próximos expulsos, extraditados, entregues aos inimigos da Revolução Bolivariana?

Hoje, nos sentimos feridos, doloridos, desconcertados, porém alertas. Sabemos que nos covis dos inimigos, dos nossos e dos seus, companheiro Chávez, ocorre uma fenomenal festa. Imaginamos a senhora Clinton, o Obama, a oligarquia colombiana, os escritores de "El Tiempo" ou "El Expectador" e toda essa máfia de assassinos, torturadores e gestores da destruição de povos inteiros, rirem e dizerem – desta vez, com razão – que obtiveram uma vitória contra a solidariedade, povo a povo.

Repetimos, companheiro Chávez: humilde, mas revolucionariamente, você se equivocou. Infelizmente, este erro não tem desculpa, não possui maneira alguma de minimizar o que foi feito ao companheiro Pérez Becerra. Só nos resta pedir que reflita por um momento, que pense em como se sentia quando esteve algemado, juntamente com seu Movimento Bolivariano Revolucionário, em 2000. Como seria seu destino ante uma circunstância parecida? Assim, seguramente você compreenderá a decepção descomunal gerada pela atitude tomada por seu governo.

Novamente, a partir da Argentina, voltamos a pedir que a solidariedade seja defendida com todas as forças. É por isso que abraçamos o companheiro Joaquín Pérez Becerra e exigimos sua liberdade imediata. Antes, perdemos a batalha, fazendo o mesmo pedido ao governo revolucionário da Venezuela. Agora, exigimos o pronto atendimento de nossa reivindicação ao governo contra-revolucionário da Colômbia e conclamamos a todos que redobrem sua mobilização até alcançá-la.

Fonte:http://anncol-brasil.blogspot.com/2011/04/assim-nao-companheiro-chavez.html

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Brasil não aceita mais as políticas imperiais, diz Dilma no Itamaraty

Por http://www.horadopovo.com.br/2011/abril/2952-22-04-2011/P2/pag2a.htm



Presidenta afirma dar continuidade a uma política externa “afinada com nosso projeto nacional”

A presidenta Dilma Rousseff, afirmou, quarta-feira (20), em Brasília, durante a cerimônia de formatura da Turma 2009-2011 do Instituto Rio Branco, que seu governo tem “condições extraordinárias para dar continuidade a uma política externa afinada com o nosso projeto nacional”. Uma política externa que, segundo Dilma, “logrou por três vezes – duas com o presidente Lula e uma comigo – obter o apoio da sociedade brasileira”.

Após saudar os novos embaixadores, Dilma fez duras críticas à atual ordem mundial com suas “políticas imperiais” e as frequentes “saídas guerreiras” para os conflitos. “No momento em que debatemos como serão a economia, o clima e a política internacional no século XXI, fica patente que, do ponto de vista da segurança, a ONU envelheceu”, afirmou. “Os eventos mais recentes nos Países Árabes e no norte da África mostram uma saudável onda de democracia, que desde o seu início apoiamos. Refletem também a complexidade dos desafios dos tempos em que vivemos”, argumentou. “Lidamos com fenômenos que não mais aceitam políticas imperiais, certezas categóricas e as respostas guerreiras de sempre”, destacou Dilma.

Ela garantiu que a América do Sul seguirá sendo prioridade da política externa de seu governo. “Sinalizei essa prioridade ao fazer, à Argentina, minha primeira viagem ao exterior. Não há espaços para discórdias e rivalidades que nos separaram no passado. Os países do nosso continente tornaram-se valiosos parceiros políticos e econômicos do Brasil, e nós sabemos que os destinos da América do Sul, os destinos de cada um dos países e os nossos estão indelevelmente ligados”, destacou a presidenta.

MERCOSUL

“Nossa região teve um crescimento médio de 7,2% em 2010 e transformou-se em um polo dinâmico do crescimento mundial”, destacou Dilma sobre o crescimento das atividades comerciais entre o países sul-americanos depois de 20 anos da criação do Mercosul. “Nesse período, o comércio intrablocos saltou de US$ 4,3 bilhões para US$ 44 bilhões”, informou. “Expandimos o Mercosul horizontalmente, transformando um projeto, inicialmente comercial-tarifário, em uma integração mais profunda entre o Brasil e seus vizinhos do Cone Sul”.

UNASUL

A presidenta disse que, com a criação da Unasul, “inauguramos processo histórico de coordenação e de promoção do crescimento mais harmonioso da América do Sul”. “Nela dialogamos com nossos vizinhos na esfera política, energética, de infraestrutura, de defesa, tecnológica, de saúde e de combate ao narcotráfico, o que revela o desejo da região de enfrentar, de forma unida, os desafios da globalização e de transformar-se em polo importante do mundo que hoje está se construindo”, sinalizou. “A integração sul-americana revelou-se importante instrumento para a aproximação de toda a região, o que se expressou na criação da Comunidade dos Povos da América Latina e do Caribe, a Celac”, acrescentou.

Dilma destacou também a escolha do presidente Lula para paraninfo da turma “como um justo reconhecimento a esse filho do Brasil, a esse cidadão do mundo, que associou sua vida às transformações que estão moldando o nosso país”. “Os brasileiros recuperaram sua autoestima nesse período, de forma inequívoca. Todos nós, e cada um em particular, deixamos de ver o Brasil como um país pequeno, impotente diante de seus desafios históricos. O Brasil se levantou sobre seus próprios pés”, prosseguiu. Paulo Nogueira Batista foi escolhido como patrono.

ONU

A presidenta fez questão de enfatizar aos jovens formandos que “a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas não é um capricho do Brasil”. Para ela, as mudanças que ocorreram no mundo “refletem a necessidade de ajustar esse importante instrumento da governança mundial à correlação de forças do século XXI. Significa atribuir aos temas da paz e da segurança efetiva importância. Mais do que isso, exige que as grandes decisões a respeito sejam tomadas por organismos representativos e, por essa razão, mais legítimos”.

Participaram da solenidade o vice-presidente, Michel Temer, o chanceler Antônio Patriota, o embaixador Georges Lamazière, diretor do Instituto Rio Branco, o embaixador Paulo Nogueira Batista, orador da turma, entre outras autoridades. Dilma resgatou a qualidade do desempenho do Itamaraty nos últimos 50 anos que “fez dele uma instituição internacionalmente respeitada” e disse que “a Turma 2009-2011 do Instituto Rio Branco manterá e aprofundará essa tradição que marca a diplomacia brasileira”.

“A política externa de um país”, afirmou Dilma, “é mais do que sua projeção na cena internacional. Ela é também um componente essencial de um projeto nacional de desenvolvimento, sobretudo em um mundo cada vez mais interdependente. As dimensões interna e externa da política de um país são, pois, inseparáveis”. “Depois de décadas de estagnação, o Brasil retomou o crescimento - um crescimento distinto daquele do passado – agora, a partir do governo do presidente Lula, acompanhado de intensa distribuição de renda e de forte inclusão social”, completou.
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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Moção de Solidariedade refuta acusações de terrorismo vinculadas à comunidade árabe de Foz do Iguaçu promovidas pela Revista Veja

"É como eu sempre escrevo: tem coisas que é imprescindível que se divulgue.Nosso país é um país amigo de váriosm outros países, não somos hostis a nenhum povo.Mas a Revista Veja está querendo macular essa tradição"(Ninféia G)

Por Blog do Lago

“É um instrumento de solidariedade aos insultados e também busca refutar a ação sistemática da Veja em denegrir a imagem da comunidade árabe e da fronteira”. Este é o papel da Moção de Solidariedade n°06/2011, aprovada na sessão de hoje, 12, de autoria do vereador Nilton Bobato (PCdoB), ao Sr. Sael Atari e ostensiva à comunidade árabe em decorrência das acusações falsas de terrorismo patrocinadas pela Revista Veja contra os árabes da fronteira. A moção de solidariedade é uma reação do vereador à matéria veiculada na última edição da Revista Veja, que afirmou a ligação dos árabes residentes na fronteira com às células terroristas da Al Qaeda no Brasil.

A entrega da moção acontecerá na sessão da próxima terça-feira, 19, às 8h30.

A moção cita a afirmação do jornalista, Reinaldo Azevedo, divulgada na revista, onde ele disse que “a Polícia Federal tem provas de que a Al Qaeda e outras quatro organizações terroristas usam o Brasil para divulgar propaganda, planejar atentados, financiar operações e aliciar militantes”. A Revista citou como líder da organização terrorista em Foz do Iguaçu, o Senhor Sael Atari, que segundo Nilton Bobato, “é um personagem de Foz do Iguaçu respeitado e admirado por todos que o conhecem”.

Os insultos da Revista Veja repercutiram tanto na comunidade quanto no legislativo de Foz do Iguaçu, cidade que possui a maior colônia árabe do país, e divide, com os povos de várias etnias, a convivência pacífica e harmoniosa. Para Nilton Bobato, “a Casa de Leis que representa a pluralidade e a diversidade étnica de Foz do Iguaçu não poderia ficar indiferente aos insultos promovidos pela revista Veja, uma vez que as informações levianas e infundadas nada coincidem com a realidade harmônica entre os povos que vivem na fronteira”, disse.

Segundo o vereador, outro fator que chama a atenção é que a matéria publicada é a repetição de um texto divulgado pela Revista há quatro anos atrás. “A leviandade da revista é tamanha que a recente matéria publicada pelo veículo de comunicação é repetição de um texto que já havia sido publicado em 2006. A calúnia e a difamação sob o mesmo número de caracteres, linhas e parágrafos”.

De acordo com o texto da moção, esta não foi a primeira vez que a Revista Veja insulta a comunidade árabe que reside em Foz ao vinculá-la ao terrorismo e a um suposto programa de ações de inteligência e divulgação da propaganda terrorista no país. A mesma revista já patrocinou, inclusive, especulações sobre uma suposta estada de Bin Laden em Foz do Iguaçu, logo após o seu suposto desaparecimento do Oriente Médio. Na ocasião, a comunidade iguaçuense também reagiu contra os insultos da revista, e até chegou a ironizar a possível estada de Bin Laden na região em vários jornais, como atitude de repúdio às informações veiculadas pela Veja.

Para o vereador, os ataques sistemáticos da Revista Veja demonstram a prioridade do veículo com o sensacionalismo em detrimento à informação verídica e expõe o editorial conservador da revista. “A revista Veja provoca estas matérias de terrorismo justo em contextos de guerra no Oriente Médio, para reforçar a necessidade de ataques no Oriente Médio em benefício do imperialismo. Isto demonstra claramente que suas invenções chamadas de matérias escondem interesses obscuros de sua linha editorial, e coloca em cheque a credibilidade da informação deste veículo de comunicação”.

Nilton Bobato questiona “Existe lei que considera crime inafiançável o terrorismo psicológico engendrado por determinados meios de comunicação?”, em resposta a crítica da revista Veja pelo fato de a Constituição Brasileira considerar crime o terror crime inafiançável e imprescritível, porém sem existir lei para puni-lo.


Palestino, Sael Atari reside em Foz do Iguaçu desde 1990. É casado com a brasileira Leila Atari com quem tem três filhas. Atari é comerciante têxtil na cidade e contribui significativamente com a geração de emprego e renda em Foz do Iguaçu.


Mais informações: Nilton Bobato (45) 99222679.


Fonte:http://www.blogdolago.com/mocao-de-solidariedade-refuta-acusacoes-de-terrorismo-vinculadas-a-comunidade-arabe-de-foz-do-iguacu-promovidas-pela-revista-veja/

sábado, 16 de abril de 2011

Beto Almeida direto de Teerã

Energia nuclear para todos

Chegamos ao Aeroporto Internacional Khomeini, em Teerã, às 2 horas da madrugada, após 17 horas e meia de voo e vimos nos monitores de tv a informação ao Dia Internacional da Energia Nuclear, que havia motivado a pronunciamento do presidente Mahmoud Armadinejad reafirmando a determinação do Irã de alcançar o pleno uso desta modalidade de energia para uso civil. Como sabemos, esta determinação vem causando controvérsia internacional e já levou as grandes potencias atÃ?micas, puxadas pelos EUA, a aprovarem sanções contra o Irã na ONU, revelando, uma vez mais, sua robusta hipocrisia e suas regras de dupla moral, cujo sentido claro é impedir que outras nações emergentes também dominem este fator que representa enorme salto tecnológico e produtivo.

Lembrei-me, imediatamente, da polêmica internacional em torno do tema, envolvendo também o Brasil e a Turquia, que patrocinaram um acordo tripartite com o Irã, que fará um ano em junho próximo. Acordo que o Conselho de Segurança da ONU optou por não construir. A posição assumida pelo Brasil e Turquia revelaram o potencial de diálogo que pode ser aplicado em soluções controvérsias, enquanto a ONU inclinou-se, uma vez mais, pela ruptura, a truculência, a via do porrete, do castigo.

Teerã tem aproximadamente 9 milhões de habitantes, é a décima maior cidade do mundo e nela está instalada o principal da economia iraniana, que inclui uma indústria nacional de automóveis, caminhões, motocicletas, aviação, medicamentos, com expressivo desenvolvimento da tecnologia nacional, sobretudo, a partir de uma situação imposta pela guerra Irã-Iraque, com este último país apoiado pelos EUA. O Irã deu um salto produtivo e tecnológico. Hoje fabrica seus próprios submarinos, tem um programa nuclear avançado e prepara-se para lançar, no próximo ano, seu primeiro cosmonauta ao espaço. A média de idade dos cientistas iranianos é de 30 anos. A Revolução Islâmica tem 32 anos e durante este período foram realizadas 30 eleições diretas para os vários níveis de representação do país.

Enquanto Teerã ia surgindo diante de nossos olhos como uma cidade pujante, moderna, bem cuidada, sem favelas, servida de metro, linhas de onibus de tecnologia chinesa e movidos a gás, pensava no discurso feito pelo presidente Ahmadinejad perante a Assembléia Geral da ONU, quando ele levou à entidade a proposta de que assumisse, sem mais, sem dupla moral, sem mais hipocrisia em favor das nações super-armadas contra as desarmadas uma linha política clara e equilibrada: “Energia Nuclear para Todos!, Armas Nucleares para Ninguém!”.

Este foi o nosso primeiro contato direto com a Nação e o povo iraniano. Visitamos ainda dois museus organizadíssimos, repletos de jovens e de turistas de vários países. Um deles onde morava o Xá Reza Pahlevi, que dominou o Irã por décadas, sendo colocado no poder por um golpe de estado patrocinado pela Cia e pela Inglaterra, a cujos interesses serviu com odiosa repressão aos movimentos sociais, trabalhadores e intelectuais. E a quem entregou as riquezas nacionais, sobretudo o petróleo. O povo nunca tivera acesso antes a este conjunto de Palácios, agora um museu público, aberto pela Revolução Islâmica de 1979 à visitação de todos. Também pudemos ter um emocionante contato com um balé popular, bailarinos de regiões desérticas, comunicando sua humanidade, seu vigor, sua arte agregadora e comovente, para um público que lotava os jardins da Casa dos Artistas Irani anos, instituição estatal que promove a diversificada e multifacética expressão artísticas deste povo de cultura milenar. Povo que hoje caminha com suas próprias pernas por uma linha de desenvolvimento soberano e independente, razão das ameaças que sofre das grandes potências acostumadas a imporem submissão e vassalagem. Os iranianos têm cultura e valor próprios para rejeitar formas de neocolonialismo e para assumir, como galhardia e nobreza, o seu próprio destino histórico.

Beto Almeida, Membro da Junta Diretiva da Telesur e do Pátria Latina

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Os primeiros 100 dias do governo Dilma e perspectivas

Por:Editorial da Edição 450 do Jornal Inverta

O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva tinha um sonho. Assim como qualquer operário, sonhava em tirar a massa trabalhadora da miséria e do sofrimento imposto pelo mundo do capital em anos e anos a fio de dominação. Sonhava com o pleno emprego, aumento salarial, moradia, saúde, educação, ajudar aos povos irmãos, em suma, uma vida decente para aqueles que dependem exclusivamente de sua força de trabalho para a subsistência de sua modesta família. Para realizar seu sonho, uma vez conquistado o comando do governo federal por meio de massiva votação popular, passou a realizar inúmeras reformas estruturais nas mais variadas esferas da máquina burguesa e saiu distribuindo verbas para que suas reformas fossem aprovadas.

Depois de 8 anos, mesmo comprando votos, acabou por não realizar o sonho. No fim do seu governo, Lula, orgulhoso, enchia o peito para falar que seu governo foi quem pagou a bilionária e duvidosa dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Enquanto falava com zombaria que agora é o Brasil que é credor da instituição imperialista, se desculpava por não quitar a histórica dívida com o seu próprio povo trabalhador, aquele que lhe propiciou o comando do país. Para se justificar perante ao povo e eleger seu sucessor, falou que o tempo foi pouco, que foi traído.

Dilma Roussef foi eleita para dar continuidade às conquistas do governo Lula e sob a promessa de erradicar de uma vez por todas a extrema miséria que ainda aterroriza milhões de trabalhadores e seus entes queridos. É certo que a primeira presidenta do país conquistou milhões de votos graças ao prestígio e popularidade de Lula. Também é claro que esta transferência não seria concretizada se não fosse o ódio da população das forças reacionárias das oligarquias - "de oposição", segundo a mídia - contra o governo Lula e a campanha do PT e aliados, forças aglutinadas em torno da candidatura de José Serra e seus aliados boys neoliberais (PSDB, PFL, PPS e cúpula do PV). Serra representa o retrocesso à cartilha neoliberal e à aventura imperialista das oligarquias, apesar de a mídia apresentar em sua telinha mágica que esta tal "oposição" é quem deve ser a vanguarda do povo, como, por exemplo, a fraude de sua defesa de um Salário Mínimo de R$ 600,00, justamente eles que, quando no governo, o jogaram para o valor mais baixo da história! A "oposição" seduziu só a esquerda oportunista.

Assim como o seu companheiro antecessor, Dilma foi eleita massivamente pela população pobre, mas, para governar, está amarrada a um amplo arco de alianças no Executivo e Parlamento, num leque maior que o do governo Lula. No sistema representativo burguês, a massa acompanha de longe o governo quando elege o candidato de sua preferência; a base aliada, isto é, as forças e frações que compõem a chapa eleita, ao contrário, não só cobram imediatamente a fatura das urnas como lutam pela maior e melhor fatia do recém governo em nome da governabilidade. A aliança com setores da direita (médios e grandes empresários nacionais, fração do agronegócio e de banqueiros) e com o velho "centrão" (funcionalismo, entidades representativas) não só viabilizou a eleição e o governo Lula como também desencadeou toda a podridão que se viu (corrupção, mensalão, cartões corporativos, nomeações secretas, caixa dois). Dilma assume uma estrutura administrativa burguesa arcaica loteada pelos velhos aliados e ainda tem que acomodar os aliados de última hora.

Podemos ver as amarras, a equação governo + aliados, por exemplo, no setor elétrico. Secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul (1993 a 1994), no governo Olívio Dutra, e Ministra de Minas e Energia (2003 a 2005), no governo Lula, a presidenta fez sua carreira política precisamente no setor elétrico. Só saiu daí para assumir a Casa Civil, o segundo cargo mais importante da República. Apesar de toda sua força no setor e no governo Lula, quem joga as cartas no setor é o PMDB, particularmente pelas mãos do senador e ex-presidente José Sarney. O ministro que sucedeu Dilma ainda durante o governo Lula na pasta de energia foi Edison Lobão (PMDB-MA), nome indicado por Sarney. Lobão foi reconduzido à pasta pela presidenta Dilma uma vez que havia se afastado para disputar um cargo no Senado. Também são ligados ao senador o novo presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto (Cemig), e o de Furnas, Flávio Decat (Eletronorte), nomeados recentemente por Dilma.

Dilma não vai conseguir mudar o país em 100 dias, tampouco tomar medidas ousadas e imediatas que beneficie o povo pobre. Esse discurso poderia até ser aceito por qualquer analfabeto político. O loteamento que ocorre no ministério de Minas e Energia pelo PMDB de Sarney também se dá em outros ministérios e autarquias, distribuídos entre os principais líderes dos partidos da base aliada, o PT (de Palocci a Carlos Lessa), PMDB, PR, PSB, PP, PCdoB. Nem sequer os ministérios do Trabalho ou da Previdência foram entregues às mãos de um nome ligado às centrais sindicais, por mais pelega que seja. O mesmo ocorre com o Ministério da Reforma Agrária e os camponeses. Quem está na frente da reforma agrária são os senhores ligados ao agronegócio. Por isso que a coisa não avança no nosso sentido, só avança em sentido contrário aos interesses da maioria da população. A extrema direita e os grandes banqueiros e multinacionais foram fragorosamente derrotados nas eleições. Perder a disputa pelo governo ou administração da coisa pública não significa perder o poder sobre todos os meios de produção, distribuição e propaganda. A manutenção do poder sobre estes meios acaba por exercer de forma indireta, e até mesmo de forma bem direta, influência nos rumos da política econômica e, consequentemente, na direção do desenvolvimento em geral e nos setores que vão prosperar ou quebrar. A grande mídia, órgão ideológico da extrema direita e dos megas negócios especulativos no país, pressiona o governo como um todo, e o próprio povo, para que Dilma exerça uma administração "técnica" e não "política", negando com isso o resultado das urnas. Com uma bela palavra (técnica no sentido de "arte" ou "ciência"), que encanta à esquerda oportunista, procura manobrar o governo e o povo para adotar medidas e políticas orientadas pela literatura liberal e "moderna", qual seja, a cartilha neoliberal! Nos dizem que o governo não pode ser guiado pelo "barulho" das ruas, isto é, não pode ser político, no sentido de classe (não no sentido vulgar, da politicagem), mas é exatamente isso que queremos.

A tal imparcialidade e tecnicidade cultuadas pela mídia, extrema direta e esquerda oportunista significa colocar os /Chicago Boys/ nos postos chaves do comando da economia, um atalho para a cartilha neoliberal de FHC e Collor no governo de Dilma. As nomeações pela presidenta de Antonio Palocci, para chefiar a Casa Civil, Guido Mantega, para o Ministério da Fazenda, e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, representam uma grave concessão à cartilha neoliberal do império (EUA). É só observar as velhas medidas de choque da "imparcialidade técnica" da política monetária: sob a possibilidade (não realidade) de um eventual aumento de inflação para além de uma tal meta acertada com o mercado financeiro, o governo aumentou em duas reuniões do Banco Central, não "político", duas vezes consecutivas a taxa Selic - taxa básica de referência da política monetária e de juros cobradas pelo mercado. A taxa se mantém no patamar mais alto do planeta, mantendo o Brasil no centro da especulação mundial.

A literatura liberal ensina também que, para conter o monstro da inflação, é só adotar uma simples receita: reduzir o consumo, a demanda ou a procura, em palavras não "técnicas, reduzir salários e benefícios trabalhistas. Mantega, que por ironia é do Partido dos Trabalhadores (PT), segurou o Salário Mínimo abaixo do mínimo necessário, os R$ 545,00, para não provocar o descontrole da inflação, sangrar a meta fiscal e quebrar o país! O velho antídoto do terror econômico neoliberal contra o monstro da inflação. Se não bastasse essa tragédia, Mantega fechou o seu discurso no Parlamento, de maioria governista, com a farsa: segurou o mínimo porque veio justamente "para defender a política de valorização do salário mínimo". Em suma, não há arte, ciência ou técnica nestas medidas, mas sim o medíocre repeteco da cartilha neoliberal - política dos que votaram em José Serra; tampouco há imparcialidade nelas, uma vez que beneficiam diretamente banqueiros, especuladores e empresários contra a massa trabalhadora e população pobre do país - os que votaram em Dilma.

O tratamento dispensado à visita do presidente do império em nosso país também foi digno de uma autêntica colônia, como nos tempos de FHC. A escolta que a segurança e o exército nacional propiciaram ao chefe do terror imperialista não teve par em nossa história, uma operação de guerra para proteger a ave de rapina. Para participar da palestra de Barack Obama (B.O.) no Fórum Empresarial Brasil-Estados Unidos ("Brasil" na frente mesmo), até ministros de estado de nosso país tiveram que passar pelo "constrangimento" (como nossa imprensa é subserviente) da revista feita pelos jagunços da segurança do presidente ianque. E o discurso foi feito em nosso país e a convite do nosso governo, o governo Dilma! Como não havia equipamento de tradução simultânea, os nossos ministros nacionalistas deixaram o Fórum.


Diante da fortaleza e segurança dada pelo nosso país e após o primeiro encontro com a presidenta Dilma, B. O. ordenou o início dos ataques aéreos na Líbia. Após o seu discurso no Fórum Empresarial, B. O. se reuniu sob portas fechadas com apenas jornalistas dos Estados Unidos para comunicar o início da ofensiva contra mais um país "hostil". A extrema direita e a mídia comemoram não só o ataque, mas o ataque a partir de nossa terra pacífica. Em troca, Dilma pediu o alívio das barreiras alfandegárias sobre alguns produtos, o fim da necessidade do visto para quem for visitar o monstro de dentro e uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. O Círculo de Fogo se fecha sobre nós, mas nenhuma palavra foi pronunciada contra o terrorismo de estado praticado pelos EUA e nenhuma palavra contra a violação de direitos humanos praticados pelos EUA. Ao contrário, a primeira medida tomada pelo governo Dilma foi a aprovação de resolução da ONU que autoriza o uso da força contra a Líbia.


A direita consegue manobrar o governo e a sociedade não apenas por dominar a economia como um todo e as estruturas arcaicas da democracia burguesa, mas, sobretudo, pela divisão dentro da esquerda institucional (PV, PSOL, PSTU, PCO).


A direita manobrou a esquerda para forjar o segundo turno das eleições e manobra agora para desgastar os setores minimamente progressistas existente dentro do governo do PT e aliados. Em troca de um pequenino espaço que a mídia lhe concede nos momentos decisivos, esta esquerda oportunista faz a mesma critica que a velhaca direitona faz. É a farsa em troca do seu minuto de fama. Usam o precioso espaço midiático não para chamar o povo para lutar por melhores condições de trabalho, vida e internacionalismo proletário, mas para defender as mesmas bandeiras da direita (defesa do salário de R$ 600,00; por um governo "técnico", luta contra as mesmas "ditaduras" assim rotuladas pelo imperialismo; intransigência contra a aliança dos povos latino-americanos). O povo tem seu modo de dar o seu recado nesta caricatura de esquerda: elegendo o humorista Tiririca.


De nada adianta o minuto de fama da esquerda ou o espetáculo dos humoristas. Temos que criar comitês de luta, não eleitoreiros, contra o terrorismo neoliberal e imperialista. Comitês voltados diretamente para objetivos imediatos e de longo prazo do povo brasileiro, fundamentalmente a defesa e luta pelo emprego, pelo desenvolvimento econômico através de obras de infraestrutura básica (escolas, hospitais, saneamento, energia), pela segurança alimentar, pela manutenção dos setores estratégicos do país (pré-sal, petróleo, energia elétrica, telecomunicações, transporte público), pela defesa das reservas de água e biodiversidade, pelo avanço da integração econômica, política e militar com os demais países da América Latina, África e Ásia. Em suma, as bases antagônicas à cartilha técnica neoliberal e a hegemonia imparcial ianque.


A unidade das forças progressistas da sociedade em torno destes comitês deve ser, como medida imediata, para pressionar o governo Dilma a cumprir os compromissos e objetivos assumidos com o povo trabalhador brasileiro. A crítica deve ser direcionada contra qualquer retrocesso às condições de vida do governo FHC, contra a cartilha neoliberal e contra a ameaça imperialista e das oligarquias locais de agressão aos países irmãos da América Latina, África e Ásia.

Fora com todas as bases militares norte-americanas no continente!

Fora OTAN da Líbia, Iraque e Afeganistão!

Contra a anexação da Colômbia pelos Estados Unidos!

Pela libertação dos Cinco Heróis Cubanos!

Pela libertação de todos os presos políticos do império!

Pelo fim do bloqueio a Cuba!

Ousar Lutar! Ousar Vencer! Venceremos!

Redação do OC

1964: Não podemos dormir novamente

Gilson Caroni

Escrever sobre o golpe de Estado de 1964, passados 47 anos, não deixa de ser um trabalho de reconstituição que conserva toda a sua atualidade política no momento em que o sermão pelo esquecimento do passado, pelo desarmamento das vontades, continua sendo pregado pelas mesmas classes e grupos que apoiaram, e depois conduziram o regime autoritário. É bom lembrar que essas forças políticas romperam, na undécima hora, com o núcleo decisório da ditadura, forjando uma transição por alto, que desidratou todos os projetos políticos da oposição progressista.

Isso explica, como que, num passe de mágica, José Sarney, o presidente do PDS, após comandar no Parlamento a batalha contra as "Diretas-já", tenha ressurgido como um dos líderes da redemocratização e candidato à vice-presidência na chapa de oposição junto a Tancredo Neves. Não estamos falando apenas de um projeto pessoal oportunista bem sucedido, mas da incrustação no próprio centro de decisões, de setores políticos e econômicos comprometidos com as concepções do regime político anterior. Não compreender as implicações desse processo nos dias de hoje pode levar a um voluntarismo pueril. Aceitá-lo como fato incontornável é uma resignação em tudo, e por tudo, pusilânime.

O golpe veio para barrar a emergência de um movimento de massas. Não foi para atingir personalidades, ainda que muitas delas tenham desempenhado um papel importante na abertura dos espaços para essa nova dinâmica, mas para conter o crescimento popular.

Como destacou Almino Afonso, ministro do Trabalho no governo João Goulart, o movimento tinha dois objetivos: "Primeiro, barrar o avanço dos movimentos sociais; segundo, impedir a tomada de consciência nacional que começava a esboçar uma linha de resistência internacional com uma nitidez nunca havida antes em nosso passado. Esses dois fatores confluíram gradualmente para um todo mais ou menos homogêneo e, embora não tivéssemos nem partido político para ser expressão desse despertar, nem lideranças claras para se converterem em porta-vozes desses novos atores, essa emergência foi suficientemente forte para alarmar os setores dirigentes do país e seus aliados internacionais, que se associaram na implantação da ditadura" (Folha de S. Paulo, 1/4/1984)

Numa retrospectiva das medidas tomadas naquela época, é impressionante ver, no governo de Jango, a quantidade de iniciativas que foram adotadas, projetadas e enviadas ao Congresso Nacional. Na sua totalidade é inequívoca a vontade de atacar os pilares da estrutura capitalista num país subdesenvolvido.

Disciplinou a remessa dos lucros das empresas estrangeiras, estabeleceu o monopólio da compra do petróleo, desapropriou as refinarias privadas, bem como os latifúndios improdutivos nas margens das rodovias, congelou os aluguéis e buscou o apoio dos sargentos, cabos e soldados, diretamente. Atacando a todos simultaneamente, João Goulart facilitou a aglutinação dos interesses econômicos contrariados em torno dos generais da direita, que chegaram a receber a garantia do Pentágono, conforme documentos divulgados em Washington.

A índole dos golpistas pôde ser apreciada desde os primeiros atos legislativos baixados. Seguiu-se a arrasadora repressão, ampla entrega do subsolo, compra pela União das empresas de serviços públicos pertencentes à Bond & Share (American Power) e depois os da Light, por preços absurdamente abaixo do valor de mercado. A corrupção generalizada nos negócios do Estado e a censura à imprensa - apesar do apoio do baronato do campo midiático - fizeram da noite dos generais a luxúria dos cartéis e grandes corporações.

Apesar de tudo, um fio de continuidade, transverso e denso, percorre a história desses anos. A história dos tempos de arbítrio é a história de uma crise feita de muitas dimensões: das sucessivas crises militares, dos esforços de Geisel e Figueiredo de usar a “abertura” como garantia do monopólio do poder a serviço do grande capital. É, no entanto, no crescimento do movimento popular - da luta pela anistia, da reabertura da UNE à criação do Partido dos Trabalhadores - que se avolumam os choques maiores e as contradições mais profundas do regime. Um ciclo se esgota, mas a história não se encerra. Mobilizar a vontade nacional, tendo como fundamento um pacto social mais justo e não excludente, em defesa da soberania nacional, da cultura brasileira, da sua integridade, visando a realização do bem comum é o projeto nacional posto em pauta desde 2003.

Para continuar sendo exeqüível, é fundamental não ceder terreno. Reafirmar os princípios do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, cumprir as propostas aprovadas na Confecom, avançar na questão agrária e na manutenção do diálogo com os movimentos sociais são passos decisivos para construir uma nação moderna e organizada. Não fazê-lo é conviver com o permanente risco de retrocesso. E nunca é bom desconsiderar o aspecto trágico da História e o papel motriz da violência em sua caminhada. Os golpistas esperam o sono dos justos para lançar os dados do nosso destino. Não podemos dormir novamente.


* Gilson Caroni é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Líbia, hipocrisia e traição por parte da ONU

A Líbia começará [começou] a ser atacada no dia, ou quase no dia, que marca o
8º aniversário do início da destruição do Iraque, 20 de março, pelo calendário
europeu. E, como o Iraque, a Líbia também será destruída – escolas, sistema
educacional, sistema de água, a infraestrutura, os hospitais, os prédios
públicos. Haverá quantidade enorme de “trágicos erros”, “danos colaterais”,
pais, mães, crianças, filhos, irmãos, bebês, avós, avôs perdidos, e serão
inauguradas escolas para mutilados, para cegos, para surdos e o rol completo
das ações humanitárias, que sempre vêm depois que os países são destruídos,
arrasados. E, com o tempo, a história da Líbia, como aconteceu no Iraque e no
Afeganistão, será apagada da memória humana.

A infraestrutura nacional destruída e com as sanções e embargo vigentes,
nenhuma reconstrução será possível sem a participação dos “libertadores”
ocidentais. EUA, Grã-Bretanha e França se reunirão e decidirão que o país tem
de ser “estabilizado” antes de ser “reconstruído”: a destruição da Líbia, como
a destruição do Iraque não tem história; é como se não tivesse acontecido. Em
seguida, os mesmos EUA-França-Grã-Bretanha se (re)instalarão na Líbia,
neossenhores dos campos de petróleo, das refinarias, da água. O povo líbio
será apenas uma inconveniência, um incômodo; bem rapidamente, com a ajuda dos
jornais e televisões, o povo líbio passará a ser chamado de “o inimigo”. Então
haverá “insurgentes”, “terroristas”, e o povo líbio será morto a tiros, ou em
antros de tortura – e EUA-França-Grã-Bretanha instalarão na Síria um governo-
fantoche seu aliado.


Os invasores e ocupantes invadem e ocupam com exércitos, mas também com suas
empresas, e algumas daquelas empresas serão premiadas com contratos “de
reconstrução”. O dinheiro – como o dinheiro líbio que já foi confiscado e está
congelado em bancos também invasores e ocupantes – como que desaparecerá sem
deixar rastros. E a ação humanitária de EUA-França-Grã-Bretanha na Líbia
deixará sobre a terra exclusivamente seu rastro de ruínas, roubos e mortes.

E as televisões e rádios em toda a Europa e nos EUA festejarão a “ação
humanitária do ocidente” e da “coalizão internacional”, como aconteceu no
Iraque. Europeus e norte-americanos voltarão para casa, certos de que não lhes
choverão bombas sobre o telhado, que os bebês não terão surtos de tremores
incontroláveis, que não acordarão no meio da noite, aos gritos, em pânico, ao
mais remoto sinal de som de algum avião que cruze o céu.

Estamos assistindo à operação “Choque e pavor” versão Líbia. Vergonha. Só
vergonha cobre hoje os EUA, a França, a Grã-Bretanha e a ONU. É mentira que
tenham sequer tentado “salvar do horror da guerra sucessivas gerações”.

Cada viúva, cada criança morta ou mutilada para sempre, na Líbia, como no
Iraque, terão esses nomes – EUA, França, Grã-Bretanha, ONU – gravados a fogo
na própria carne, para sempre. Para toda uma geração de árabes, de fato, em
todo o mundo, EUA, França, Grã-Bretanha e ONU já são sinônimos de morte.

E a imprensa divulgará os ataques que o ocidente move contra povos soberanos,
ataques de guerra, gestos assassinos – como se fossem gestos de amizade, para
levar democracia, para libertar a Líbia do “novo Hitler”, do “açougueiro de
Bengazi”.

Os mesmos países que se associaram em gangue, dessa vez, para derrubar o
governo soberano da Líbia, pode-se dizer, repetem os crimes que já foram
julgados e condenados em Nuremberg: “Supremo crime internacional, que só
difere de outros crimes de guerra porque carrega em si o mal acumulado de
todos os crimes contra todos os povos”. De diferente que, dessa vez, embora os
criminosos sejam os mesmos de sempre, a vítima é outra. O governo da Líbia é
governo soberano. Nenhuma falsa “legalidade” que esconde o próprio crime por
trás de uma ‘resolução’ arrancada à ONU por chantagem enganará todos, por
muito tempo. O mundo já viu o que agora apenas se repete.

No que tenha a ver com os salvadores ocidentais de povos árabes e portadores
de ‘democracia’ à ponta de sabres, muito cuidado com o que se pede a Deus. Em
seis meses, a maioria dos líbios, e por pior que tenha sido a história dos
últimos 40 anos, estarão maldizendo o dia em que entregaram seu país aos
invasores, ocupantes, assaltantes de sempre.

http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/03/onu-traicao-e-hipocrisia-contra-
libia.html

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Um outro mundo é possível. Um outro Brasil é necessário

Sociologia aplicada à saúde: modelos de saúde pública vs sistema neoliberal

"Eu sempre digo que têm textos que não se pode deixar de reproduzir, transcrever, divulgar enfim em nome do melhor estar das pessoas e por se tratarem de temas voltados para a transformação social, por mostrarem que é possível haver justiça social"(Ninféia G)


Sociologia aplicada à saúde: modelos de saúde pública vs sistema neoliberal

Por Thatyana Bolfe


Sicko SOS Saúde questiona as razões pelas quais os Estados Unidos, a nação mais rica do mundo, não possui um sistema de saúde pública socializado, a inexistência de cuidados com a saúde gratuitos e as conseqüências desastrosas de um sistema neoliberal. Seguradoras armam planos para evitarem gastos com seus clientes, tratando assim os doentes como simples mercadoria colocando questões econômicas acima da vida e da morte dos cidadãos.

Os sistemas de saúde apresentados, Cuba, Canadá, França e Inglaterra, fazem uma critica a um país que possui um grande poder financeiro, muito maior do que Cuba, por exemplo, e, no entanto, cultua o sucateamento da saúde publica e o caos privado (caos do privado) em contraste com os absurdos lucros das companhias privadas, fato este que certamente é proposital, pois em um sistema neoliberal, em políticas de serviços privatizados o que vale é a lógica do lucro.

No entanto há a discussão a respeito da formação dos profissionais em saúde nos dias atuais e qual seria a ideologia destes, o trabalho em sistemas privados em contraste com serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde, a questão está no que o estado, país, município impõe ao profissional; no Canadá, por exemplo, os pacientes escolhem seu médico e este, por sua vez, não é funcionário publico, ele tem seu consultório particular e compete com outros profissionais pelos bons serviços prestados aos pacientes, vale lembrar que os serviços são gratuitos. Não existem tratamentos diferenciados que implicam em classe social, raça ou doença já existente ou um tipo de tratamento pra quem pode pagar um extra e um para os que não podem pagar, os poucos planos de saúde com fins lucrativos que existem por lá são exclusivamente para gastos que o governo não pode cobrir, isto é, cirurgias estéticas, e mesmo assim em números, o Canadá gasta com saúde menos que os EUA. Então, conclui-se que um profissional em saúde pode trabalhar em uma rede, digamos, privada sem visar apenas o lucro de seus pacientes, competir de maneira honesta pelos serviço que prestar, afinal um bom tratamento garante a indicação do médico a outros que necessitarem, não tratá-los como mercadoria, trabalhar o lado humanista.

E o que se pode dizer a respeito de Cuba, hoje um modelo de sistema de saúde, educação, cultura, esporte, sem discriminação de qualquer tipo, onde há justiça social e respeito aos direitos humanos fundamentais a todo cidadão.

Essas áreas são prerrogativas do Estado Socialista, conquistas básicas desconhecidas pela maioria do nosso povo, e certamente por boa parte de norte-americanos, que aprenderam (ainda aprendem) que a ilha se trata de um presídio a céu aberto e que lá é a residência de Lúcifer , sem nunca imaginar que as conquistas cubanas vão além de medalhas olímpicas, que o povo cubano certamente se orgulha em morar no único país latino americano sem favelas e sem crianças nas ruas pedindo esmolas.

O sistema de saúde cubano baseia-se na promoção, prevenção, cura e reabilitação, bem como proteção a grupos específicos realizando assim um trabalho dirigido ao individuo, a família, a comunidade e ao meio, sistema este, chamado de medicina familiar.

Com o desenvolvimento da medicina familiar preventiva, houve uma queda nos serviços hospitalares, as internações de urgência alem de intervenções cirúrgicas, então, pode-se concluir que um país que previne, certamente não precisará remediar, e que atuação de profissionais nas mais diversas áreas da saúde é fundamental; mesmo reconhecendo que Cuba passa por certas dificuldades econômicas e deficiências em determinados setores a garantia de atendimento médico gratuito a toda população cubana é motivo de orgulho, pois nacionalizou a saúde, levando profissionais da área aos lugares com maiores necessidades.

Em contraste o Brasil e o restante da América Latina, com exceção de Cuba, servem como cobaias de indústrias farmacêuticas multinacionais, que, literalmente despejam suas marcas comerciais, a maioria das quais desnecessárias para o tratamento das maiores das enfermidades.

Para que tantas marcas e nomes comerciais em prateleiras de farmácias? É muito simples, farmácias são, bodegas que qualquer aventureiro sem formação abre em qualquer bairro de uma cidade e para desespero de alguns e felicidade de outros, paga todo mês para ter a assinatura de um profissional da área, sem ética alguma, que apenas entra na farmácia para tal fim não sabendo sequer onde encontrar um medicamento para dor de cabeça, mas o que vale mesmo é lucrar com a ignorância dos cidadãos. Mais uma vez nos deparamos com as políticas neoliberais, o lucro acima de qualquer coisa. Políticas esta cada vez mais cultuada, como formação profissional, por exemplo, no caso de cursar uma instituição privada: Vou querer receber todo dinheiro que gastei por anos de estudo! , sem se preocupar com o lado humanista, realizando seu trabalho de modo automático .

No Brasil contamos com um sistema de saúde pública que, existe, porém, não funciona, e quando funciona, os pacientes (realmente muito pacientes), tem que esperar em filas intermináveis, com dores indescritíveis, amontoados nos corredores de hospitais e esperar pela escolha de quem vai conseguir uma vaga e quem vai morrer, e quando sobrevivem, terão que se submeter aos desígnios de médicos mercenários que impõe de forma criminosa medicamentos inacessíveis pelos altos preços para a maioria dos pacientes que utilizam o SUS, ou seja, cidadãos de baixa renda, quando poderiam simplesmente prescrever genéricos, mas mais uma vez a indústria farmacêutica entra em campo, com propagandas, e porque não dizer com uma porcentagem extra para clínicas, hospitais, médicos, farmácias que criminosamente dispensarem, gerarem mais lucro, de um determinado medicamento, em ação o neoliberalismo!

Deixar o sistema de saúde, algo que devia ser colocado em primeiro plano, nas mãos de interesses nacionais e multinacionais e das leis do mercado é caminhar em direção a um desastre, formar profissionais em saúde com pensamentos neoliberais, com perspectivas que almejam apenas o lucro atuando como senhores do destino dos cidadãos (suas mercadorias!) certamente levará a uma completa catástrofe onde a saúde será a primeira que se encontrará doente (se é que já não se encontra.)

Nos dias atuais, existem cerca de 47.000.000 de norte-americanos sem seguro de saúde, porque será que o nosso país almeja tanto o modelo americano inclusive com a abertura do mercado da saúde, em contraste atualmente, em Cuba existe 1 médico e enfermeira para cada 160 pacientes (99,1 % de cobertura!). Hoje, ao menos em nosso país, ser um bom profissional em saúde não significa ter muitos pacientes, muito trabalho, hoje, significa, ganhar mais dinheiro, se sobrepor aos colegas de trabalho e aos pacientes, ter status social pela profissão que escolheu seguir, esquecendo o juramento que realizou (ao menos na área da saúde todos os juramentos visam o bem estar do paciente em primeiro lugar); sobretudo, atuam com um pensamento individualista.

São poucos os profissionais e porque não dizer acadêmicos em formação, que pensam de maneira diferente, de maneira social, uma maneira que ofereça o bem comum a todos, que não existam tantos com poucos e poucos com muito, que realizem seu trabalho de maneira humana, que não haja aproveitamento da condição paciente , da condição pobreza , da condição ignorância .

Um povo alfabetizado e conscientizado politicamente, não se deixa levar apenas por belos discursos, não se dobra a força de um sistema e sim à dos ideais para um bem comum.

Thatyana Bolfe,Acadêmica do Curso de Farmácia da Universidade de Santa Cruz do Sul
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