sexta-feira, 1 de abril de 2011

Líbia, hipocrisia e traição por parte da ONU

A Líbia começará [começou] a ser atacada no dia, ou quase no dia, que marca o
8º aniversário do início da destruição do Iraque, 20 de março, pelo calendário
europeu. E, como o Iraque, a Líbia também será destruída – escolas, sistema
educacional, sistema de água, a infraestrutura, os hospitais, os prédios
públicos. Haverá quantidade enorme de “trágicos erros”, “danos colaterais”,
pais, mães, crianças, filhos, irmãos, bebês, avós, avôs perdidos, e serão
inauguradas escolas para mutilados, para cegos, para surdos e o rol completo
das ações humanitárias, que sempre vêm depois que os países são destruídos,
arrasados. E, com o tempo, a história da Líbia, como aconteceu no Iraque e no
Afeganistão, será apagada da memória humana.

A infraestrutura nacional destruída e com as sanções e embargo vigentes,
nenhuma reconstrução será possível sem a participação dos “libertadores”
ocidentais. EUA, Grã-Bretanha e França se reunirão e decidirão que o país tem
de ser “estabilizado” antes de ser “reconstruído”: a destruição da Líbia, como
a destruição do Iraque não tem história; é como se não tivesse acontecido. Em
seguida, os mesmos EUA-França-Grã-Bretanha se (re)instalarão na Líbia,
neossenhores dos campos de petróleo, das refinarias, da água. O povo líbio
será apenas uma inconveniência, um incômodo; bem rapidamente, com a ajuda dos
jornais e televisões, o povo líbio passará a ser chamado de “o inimigo”. Então
haverá “insurgentes”, “terroristas”, e o povo líbio será morto a tiros, ou em
antros de tortura – e EUA-França-Grã-Bretanha instalarão na Síria um governo-
fantoche seu aliado.


Os invasores e ocupantes invadem e ocupam com exércitos, mas também com suas
empresas, e algumas daquelas empresas serão premiadas com contratos “de
reconstrução”. O dinheiro – como o dinheiro líbio que já foi confiscado e está
congelado em bancos também invasores e ocupantes – como que desaparecerá sem
deixar rastros. E a ação humanitária de EUA-França-Grã-Bretanha na Líbia
deixará sobre a terra exclusivamente seu rastro de ruínas, roubos e mortes.

E as televisões e rádios em toda a Europa e nos EUA festejarão a “ação
humanitária do ocidente” e da “coalizão internacional”, como aconteceu no
Iraque. Europeus e norte-americanos voltarão para casa, certos de que não lhes
choverão bombas sobre o telhado, que os bebês não terão surtos de tremores
incontroláveis, que não acordarão no meio da noite, aos gritos, em pânico, ao
mais remoto sinal de som de algum avião que cruze o céu.

Estamos assistindo à operação “Choque e pavor” versão Líbia. Vergonha. Só
vergonha cobre hoje os EUA, a França, a Grã-Bretanha e a ONU. É mentira que
tenham sequer tentado “salvar do horror da guerra sucessivas gerações”.

Cada viúva, cada criança morta ou mutilada para sempre, na Líbia, como no
Iraque, terão esses nomes – EUA, França, Grã-Bretanha, ONU – gravados a fogo
na própria carne, para sempre. Para toda uma geração de árabes, de fato, em
todo o mundo, EUA, França, Grã-Bretanha e ONU já são sinônimos de morte.

E a imprensa divulgará os ataques que o ocidente move contra povos soberanos,
ataques de guerra, gestos assassinos – como se fossem gestos de amizade, para
levar democracia, para libertar a Líbia do “novo Hitler”, do “açougueiro de
Bengazi”.

Os mesmos países que se associaram em gangue, dessa vez, para derrubar o
governo soberano da Líbia, pode-se dizer, repetem os crimes que já foram
julgados e condenados em Nuremberg: “Supremo crime internacional, que só
difere de outros crimes de guerra porque carrega em si o mal acumulado de
todos os crimes contra todos os povos”. De diferente que, dessa vez, embora os
criminosos sejam os mesmos de sempre, a vítima é outra. O governo da Líbia é
governo soberano. Nenhuma falsa “legalidade” que esconde o próprio crime por
trás de uma ‘resolução’ arrancada à ONU por chantagem enganará todos, por
muito tempo. O mundo já viu o que agora apenas se repete.

No que tenha a ver com os salvadores ocidentais de povos árabes e portadores
de ‘democracia’ à ponta de sabres, muito cuidado com o que se pede a Deus. Em
seis meses, a maioria dos líbios, e por pior que tenha sido a história dos
últimos 40 anos, estarão maldizendo o dia em que entregaram seu país aos
invasores, ocupantes, assaltantes de sempre.

http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/03/onu-traicao-e-hipocrisia-contra-
libia.html

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Um outro mundo é possível. Um outro Brasil é necessário

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