quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Líbia e Colômbia: farsas e fossas da mídia pró-EUA (II)

Por Leonardo Severo

Em agosto de 2010, pouco depois de uma audiência pública em La Macarena, foi informada “a suposta detenção, desaparição e execução extrajudicial da senhora Norma Irene Perez, identificada com o CC 40.206.080, de quem não se voltou a ter conhecimento desde o dia 7 de agosto de 2010, entre 7h e 8h da manhã, quando dirigia-se a sua casa depois de sair de uma assembleia com a junta de ação comunal da referida localidade. Posteriormente seu corpo foi encontrado nas estranhas circunstâncias no dia 13 de agosto de 2010 na jurisdição de La Unión, do município de La Macarena, do departamento de Meta. A comunidade afirma que o exército encontra-se na aldeia dos oásis, local próximo de onde ocorreu o fato”.

Agricultora, mãe de quatro crianças, Norma era presidenta do Comitê de Direitos Humanos de La Unión e membro do comitê regional de direitos humanos da região de Guayabero do departamento do Meta, onde há uma base militar dos EUA, mas nenhum órgão de imprensa.

Conforme relataram Felipe Cantera e Laura Bouza, que participaram da audiência pública, os testemunhos de vizinhos e familiares das vítimas, deixaram “em evidência as ameaças de morte, torturas, assassinatos, execuções extrajudiciais e desaparições forçadas – conhecidas e mal chamadas de ‘falsos positivos’ pelo exército”. Esta era a senha para que os civis fossem identificados como “guerrilheiros mortos em combate” e levados por helicópteros do exército até o cemitério de La Macarena. “O óbvio é que não se pode negar o que salta aos olhos. Na atualidade, os meios de comunicação oficiais colombianos têm a digital da família Santos, que hoje em dia é o presidente da Colômbia e anteriormente era seu ministro da Defesa”.

Cifrões e mais cifrões

Da mesma forma que na Líbia as transnacionais buscam tomar de assalto o petróleo, na Colômbia diferentes empresas estrangeiras buscam explorar 200 mil hectares da região de La Macarena e convertê-la em área para o monocultivo de agrocombustível, como a palma africana. Além disso, conforme denuncia o movimento sindical e social, o departamento de Meta é a porta da Amazônia e de todo o controle genético da zona, abrindo caminho para o transporte de minérios e de petróleo até a capital.

De acordo com documentos “desclassificados” pelo governo dos EUA - (jargão técnico que indica a liberação oficial de informações secretas), mais da metade dos recursos do Plano Colômbia em 2009 foram direcionados a multinacionais norte-americanas para desenvolver, promover e impulsionar a guerra irregular no país sul-americano. Conforme a advogada americana-venezuelana Eva Golinger, os documentos comprovam que houve uma “privatização total da guerra na Colômbia”. “Essas transnacionais mercenárias não têm a obrigação de responder legalmente a nenhum sistema judicial do mundo. Em outras palavras, gozam de total imunidade”, acrescentou. Na lista foram encontradas 31 multinacionais estadunidenses ligadas ao Departamento de Estado mas que, apesar de serem empresas americanas contratadas pelo Pentágono, não estão sujeitas a nenhuma lei pública dos EUA. “Como parte do acordo binacional, na Colômbia têm imunidade total, ou seja, não respondem a ninguém por seus crimes, ações e operações”.

Entre as empresas de maior relevância destacam-se a Lockheed-Martin, gigante do complexo industrial-militar que tem 95% de seu orçamento anual vinculado ao Departamento de Defesa dos EUA, a Dyn Corp International – que tem no currículo a participação na Guerra do Vietnã, contra a insurgência de El Salvador e no Golfo Pérsico -, a Oackley Network (que entrega softwares de monitoração de internet), a tristemente célebre ITT - transnacional de telecomunicações comprometida até a medula no golpe de estado contra Salvador Allende no Chile - e o Grupo Rendón, que elabora campanhas que mexem com “operações psicológicas” na mídia.

Seu proprietário, John Rendon, é um dos propagandistas preferidos de Washington por seus métodos de mentira, difamação e calúnia. É dele a invenção da história da soldado Jessica Lynch, de 19 anos, que teria sido resgatada das garras de Saddam em um hospital de Bagdá durante a segunda guerra do Golfo, em 2003. Empenhado em satanizar o presidente iraquiano, o “guerreiro da informação” e “dirigente de percepções” inventou que Jessica havia sido capturada durante uma “batalha sangrenta”, mas por ter resistido como uma leoa foi “torturada e estuprada” por sádicos médicos iraquianos. Na verdade, foram os médicos que doaram seu próprio sangue para salvar a vida da soldada invasora, tendo sido levada ao hospital pelas tropas especiais iraquianas.

Na Colômbia, entre as multinacionais que apostaram suas fichas nos grupos de extermínio para limpar o terreno e facilitar sua entrada no território de La Macarena está a petroleira BP, iniciais da British Petroleum. Muito conhecida na Líbia, ao lado da francesa Total, da espanhola Repsol YPF e da italiana Eni. Todas, igualmente, bastante parceiras de certa mídia. E de seus crimes.

http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5225

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