sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Natureza: A força do tempo.

Por Ninféia G

Ao conversar com alguém, essa pessoa, que tem mais de 30 anos de idade, me confidenciou não querer nem se imaginar chegando aos 40 anos de idade.

Essa confidência instigou-me e me veio o desejo de fazer uma reflexão em torno desse tema que é o tempo biológico de vida na Terra, ou seja, o ciclo da vida.

Todos nos encontramos, no dia a a dia, com pessoas que ocultam sua verdadeira
idade; com pessoas que não querem nem imaginar chegando aos 40.

Quando eu tinha 40 anos, conheci uma pessoa que não queria nem se imaginar chegando aos 30 e já adquiria, comercialmente, vários produtos cosméticos para que quando essa idade chegasse ela não aparentasse que a tinha.Eu nunca mais vi essa pessoa, portanto não posso falar dos resultados superficiais, mas uma coisa, eu sei, todos sabemos, o tempo ,com certeza, passou.

Certamente, que a sociedade capitalista leva a que as pessoas enalteçam-se por serem jovens ou ainda jovens.E as cirurgias plásticas ,para quem pode pagar, estão aí, fazendo “ milagres”( ou destruindo sonhos ) Mas, ninguém ignora que o ciclo da vida é nascer, viver e morrer. Ainda não ouvi nenhuma noticia , nem mesmo no programa Fantástico ( apesar de que não assisto a rede Globo, mas se alguém já ouviu, por favor, manifeste-se) de que alguém conseguiu permanecer sem envelhecer, ou seja, eterno, “ pra semente”, como dizem popularmente.

Desde cedo, fica evidente que não tem jeito, os anos chegam, tanto que comemoramos a cada ano mais um aniversário.E até os festejamos ou outros festejam para nós!

A questão é como receber esses anos.

Atravessá-los com um mínimo de conflito com relação ao tempo estar passando e
estarmos envelhecendo, é uma tarefa que , ao que se observa cotidianamente, não é a maioria que consegue realizar com sucesso.

Você vai, por exemplo, aos lugares em que tem fila para atendimento e pessoas que percebemos que têm mais de 60 anos ficam aguardando na fila comum a vez para serem atendidas por não quererem que os demais percebam que são” velhas’ Afinal, já não se observa isso, simplesmente, pelos cabelos brancos já que são inúmeros os produtos para camuflá-los.

Há uma rejeição em envelhecer ainda que isso seja obvio e irreversível.

Então, eu escrevi:


IMPLACÁVEL TEMPO

O nascimento é o inicio
Depois, passamos por fases
Pedimos para ficar adultos
Fingindo que o tempo não flui

Mas as marcas fazem o grito
Implacáveis, se impõem
Ainda assim há o susto
Pelo tempo que se foi

Viver passa a ser perigo,
A sociedade depõe,
É ela quem faz o culto

Da eternidade do viço
Do engenho que repõe
Sinais perdidos no curso




Ninféia G – Poeta, Assistente Social , 61 anos de idade ,livre desse tipo de conflito.

domingo, 24 de outubro de 2010

Vermelho- A força da cor.

Por Ninféia G

Um colega de trabalho, militante do PT-Partido dos Trabalhadores, foi interpelado, dentro do Edificio Sede do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, por uma servidora da cúpula administrativa, que ele não deveria estar usando vermelho enquanto todos alí são amarelos.

Bom, que todos alí sejam amarelos, não se deve duvidar e,agora, com o depoimento veemente da alta servidora,isso fica ratificado ,uma vez que ,pelo proprio cargo que ocupa , ela precisa fazer direitinho " o dever de casa". E pelo que se observa, tentou fazer, mas , nosso colega, militante tarimbado, escolado, servidor concursado, da base do Judiciário, sindicalizado, que compõe comissão de reinvidicações, colocou-a no seu devido lugar quando deu a ela todas as orientações a respeito de porque usa a cor vermelho.

Se a convenceu ou não, isso não importa muito, vez que ele está convencido do que pensa e porque pensa.E está consciente do quanto é quase que impossível fazer um amarelo virar vermelho.

Mas , se ela o interpelou, é que ficou incomodada e é aí que observamos a força de um símbolo que não é nada novo.

O Vermelho é uma cor associada ao desafio, e, também símbolo de sangue vertido num processo histórico de lutas por transformação social.

A estrela vermelha de cinco pontas é um símbolo do socialismo em geral.Significa tanto os dedos da mão do trabalhador bem como os cinco continentes.Há uma terceira interpretação de que as cinco pontas da estrela represente os cinco grupos sociais que lideraram a Revolução Russa de Outubro de 1917: a juventude, os militares para proteger e defender o socialismo, o trabalhador industrial, o trabalhador do campo, e a Intelligentsia

Como poeta que sou, e Vermelha de nascimento e evolução, escrevi a poesia abaixo , não apenas pensando no colega que defendeu sua posição com dignidade e convicção mas em todos nós, Vermelhos que, em diversas ocasiões , somos conduzidos a defender nossas posições.


Vermelho

Antes de tudo
Paixão
Acima de tudo
Determinação
Apesar de tudo
Sentimento
Além de tudo
Liderança
No Mundo,
Foi ação
Para o Mundo
Salvação
Fez o Mundo
Diferente
Deu ao Mundo
Esperança.




Ninféia G é Poeta de Belém do Pará ,Assistente Social e Servidora efetiva do Poder Judiciário do Estado do Pará.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dias que condensam décadas

Por Emiliano José

A ilusão na política é uma péssima companhia. De modo geral, esse pecado é cometido não só pela incapacidade de analisar a correlação de forças como também da ausência de conhecimento histórico. Há muito que comentar sobre essa campanha. Como o Serra conseguiu, de longe, ultrapassar o Collor no jogo baixo, sujo, próximo do gangsterismo, do banditismo, envolvendo não só o que o professor Giuseppe Cocco chamou de leilão das paixões tristes (machismo, sexismo, racismo), como também a montagem de um impressionante aparato clandestino de comunicação, um esquema nacional de telemarketing destinado a caluniar, mentir, difamar, tudo dirigido contra uma mulher, Dilma Rousseff.

Cito esses poucos exemplos, para não fazer uma longa lista, que não cabe aqui. Depois da volta das eleições diretas, é a campanha em que a direita joga mais sujo, e talvez nossas ilusões não permitissem antecipar essa possibilidade. Quem sabe confiássemos num jogo democrático, quem sabe de alto nível. Quem sabe imaginássemos um Serra ainda envolto por sua herança pré-64, verde presidente da UNE. Quem sabe o quiséssemos pronto para o debate limpo, ele defendendo o projeto de Brasil que de fato advoga, o Brasil neoliberal, livre das amarras da presença do Estado, que deve ser, nesse projeto, cada vez mais mínimo, que me desculpem a expressão pleonástica. Um Estado voltado a reprimir, o Estado do uso da força, aliás uma de suas propostas mais caras e claras.

Nossas ilusões, talvez, incluíssem, sem que o quiséssemos, a abolição da luta de classes. Esquecemo-nos de lições antigas. Aquelas que aprendemos no passado, e que a vida democrática, tão prezada por nós e que devemos prezar sempre, pode nos levar a esquecer. Vem de Marx, o velho e sempre atual Marx, a lição de que toda a história da humanidade é a história da luta de classes. E nós podemos dizer, com tranqüilidade, que ela está mais viva do que nunca. E o Brasil dessas eleições é uma evidência disso. Os campos se definem claramente, e agora o que antes poderia parecer um jogo civilizado, deixou de sê-lo, e isso desde o primeiro turno, sem que acordássemos devidamente para isso. Descambou para o que sem medo de errar podemos chamar, como o fazíamos antes, de ódio de classe. Um ódio que faz questão de mostrar a cara.

A campanha do Serra mergulhou atrás do ódio. Tentou plantar na sociedade brasileira pelos métodos mais sórdidos a semente do ódio. Até o bordão de que comunista come criancinha voltou quase que literalmente, para sacrificar a mulher no altar hediondo de um moralismo medieval, como disse num texto para o Terra Magazine. Não importa que tantas mulheres, milhares delas, morram por ano no País devido à falta de atendimento por conta de abortos feitos em condições miseráveis, aviltantes, que atentam contra a dignidade humana. Não importa que ele mesmo, Serra, tenha, como ministro da Saúde, determinado o atendimento a essas mulheres. Ele mente, ele nega, e ele não cora ao mentir. É só lembrar o caso de Paulo Preto, que ele nega hoje, e amanhã o acolhe, temeroso da ameaça pública que o seu auxiliar lhe fez. O senso comum o compararia a Pedro, que negou Cristo três vezes, ou a Judas, que traiu Cristo, como diz a tradição bíblica. Talvez mais, muito mais Judas, do que Pedro.

Nós não tínhamos o direito de nos iludir. Não tínhamos o direito de ignorar as leis da luta de classes, que aprendemos com tanto rigor anteriormente. Será que ao nos convertermos à democracia, e digo nos convertermos porque durante algum tempo muitos de nós, da esquerda, a víamos como algo tático, será que então pensamos nela como um solene baile de valsa? Como um teatro onde todos se respeitam? Uma democracia onde as regras são aceitas e cumpridas? Onde os projetos são tratados habermasianamente? Todas essas ilusões se firmaram, talvez, porque nem nós mesmos ainda alcançamos a dimensão, o significado do projeto político que estamos encabeçando no Brasil, a importância que ele tem para o povo brasileiro e para o mundo, especialmente para os povos dos países mais pobres, os povos do Sul da humanidade.

Seria possível imaginar que esse projeto era do agrado de todos? Será que não compreendemos que esse era um governo de esquerda para as condições do Brasil e do mundo? E por isso suscetível de gerar tanto ódio? Será que não tínhamos a dimensão de que forças internacionais torcem, e queiramos que seja só torcida, para que esse projeto seja derrotado? Será que não sabíamos que o projeto político que estamos levando à frente criou uma impressionante rede de solidariedade entre nós e a América do Sul, o Caribe, a África, a Ásia? E que isso não pode agradar aos EUA? Será que um projeto que distribui renda como nós o fizemos, a maior distribuição de renda de toda a nossa história, ia ser tratado com punhos de renda pela direita brasileira?

O ódio deles tem razão de ser. E os métodos deles, é lamentável dizer isso, tinham de ser esperados por nós. Era previsto que eles agissem assim. Esperamos uma direita civilizada, ao contrário de tudo o que nos diz a nossa história. E digo isso não para afirmar qualquer coisa na linha de que deveríamos responder na mesma moeda. Se já tivéssemos compreendido isso desde o primeiro turno, deveríamos ter nos mobilizado, estimulado muito mais a nossa militância, deveríamos ter nos preparado para a hipótese do segundo turno, deveríamos também chamar para nós algumas teses caras à nossa juventude, tratado melhor os sonhos de tanta gente, que ainda quer ir além do que estamos fazendo, e ainda bem que há essa gente.

Temos poucos dias. Eles são decisivos. Estamos vivendo aqueles dias que condensam décadas. Aqueles dias que decidem o destino da Nação. O destino do povo brasileiro. Nossa inserção no mundo. Decide-se se o Brasil irá continuar a ser um protagonista central no mundo, um aliado fundamental dos países mais pobres, ou se voltará a ser vassalo dos grandes centros do capitalismo mundial, tal e qual o foi o governo demo-tucano, sob o professor Fernando Henrique Cardoso. Os militantes do PT, com sua vitalidade, seus sonhos de sempre, têm que ganhar as ruas, como estão fazendo mais e mais nas últimas horas. E têm que chamar a todos os que têm compromissos com esse projeto, da esquerda ao centro, para que não descansem até a vitória. As pesquisas têm indicado uma consolidação da preferência do povo brasileiro, que tem amadurecido muito nos últimos anos. Isso, no entanto, não nos autoriza a descansar um minuto que seja. Afirmar a democracia no Brasil é lutar para que esse País continue a distribuir renda e a crescer, e isso só é possível com a vitória de Dilma. O povo brasileiro vencerá.


Emiliano José é Jornalista, escritor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Politica eleitoreira é mesmo algo muito dúbio, nada confiável!!!

Por Ninféia G

Pensei que não era verdade quando me contaram, mas, o Vermelho, Jornal virtual do PC DO B, divulgou o apoio do ex- governador Almir Gabriel à Ana Julia, do PT, aqui no Pará.

http://www.vermelho.org.br/pa/noticia.php?id_noticia=139359&id_secao=85

ALMIR GABRIEL, para quem não sabe, foi o governador que determinou que a PM desocupasse a estrada em Eldorado dos Carajás, a qualquer custo, onde o MST fazia uma manifestação totalmente PACÍFICA!!!


Se o Almir Gabriel está contra o Jatene e o Serra e está apoiando a Ana Julia e a Dilma,está acontecendo alguma coisa muito errada!!!

Ninguém que tenha um mínimo de sensibilidade, pode esquecer o Massacre de Eldorado dos Carajás em 17 de abril de 1996 quando o ex governador deu a ordem para a Policia Militar desocupar a estrada a qualquer custo!! O custo TODOS,nós sabemos: Foram 19 assassinados e muitos mutilados!!E os autores ficram impunes!!!

Fico matutando: se ele está contra a gente a que pertenceu durante tanto tempo, o que será que não sobrou mais para ele? Ou será que éporque está num ponto em que precisa estar correndo atrás de novos parceiros e nem sua gente o quer mais???

Ou, talvez, a sua gente,agora, sabe que ter em suas fileiras um autor de um massacre sem precedentes, pode queimar seu filme? Não é de bom tom?

Mas agora , vai queimar o filme do PT.Para mim, pelo menos, já queimou, sinceramente!!Na verdade, queimado já estava mas ainda dava para relevar, agora, entretanto,carbonizou.

Em memória dos 19 agricultores assassinados e dos mais de 60 mutilados em Eldorado dos Carajás, votemos nulo!



Ninféia G- Poetisa de Belém-Pará

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma reflexão de mulher e cidadã!

Por Ninféia G

Teocrático.
Sociedade em que a autoridade, considerada como emanação de Deus, é exercida pelos seus ministros.
Governo em que o poder está na mão do clero.

Laico
Que não pertence ao clero.
Que não sofre influência ou controlo por parte da igreja

Que ou quem não fez votos religiosos.

Um Estado secular ou estado laico é uma nação ou país que é oficialmente neutro em relação às questões religiosas, não apoiando nem opondo à nenhuma religião. Um estado secular trata todos seus cidadãos igualmentes independentes de sua escolha religiosa e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião. O contrário de um estado secular, ou seja, um estado onde há uma única religião oficial, é denominado estado teocrático ou teocracia (como é o caso do Vaticano e do Irã).

O Estado secular deve garantir e proteger a liberdade religiosa de cada cidadão. Um Estado secular evita que alguma religião exerça controle ou interfira em questões políticas.


Com esses conceitos, que estão todos nos dicionários fartamente divulgados na Internet, percebe-se que pelo menos oficialmente, o Brasil é um estado secular ou laico, ou seja, não tem aquela religião oficial,única e que também, exerce a liderança maior sobre o governo.

O Irã,é um exemplo bem significativo de teocracia e eu só o cito aqui uma vez que” é um país detestado, odiado, execrado, em que o poder religioso decide todos os destinos.”

Mas,e o B rasil???Não!!!O Brasil não tem religião oficial, o Brasil tem todos os tipos de religião, aliás, apesar de na constituição Deus estar sendo mencionado, claro, Deus é Alah, Jeová, a N atureza, etc.. , também.

Se o Brasil é um estado secular e laico, seu povo pode ter a religião que quiser ou não ter nenuma religião.

Não é isso?

Então, quando se fala na questão do aborto, o estado vira teocrático?Que negócio é esse?

Da mesma forma que a religão, que é algo individual, de escolha de cada um, muito particular, meu corpo me pertence, tanto que se eu não cuidar dele fico fraca e morro.Quando é que o Estado me obriga a cuidar dele?

Claro, aí tem todas umas variações: o governo que não cuida bem do seu povo, claro que os corpos desse povo logo enfraquecem e morrem, como é o caso das crianças que passam fome e vão pedir nos semáforos para limpar para- brisas em troca de centavos para comprar algo para comer.Voces ,que andam de carro, têm películas e ,agora, estão com raiva porque acham que a candidata ao governo do país quer “ matar cirancinhas”, não acham que essas crianças mereciam outra situação? Não acham que elas tinham que ter o mesmo que os filhos de voces têm? Não seria o justo?Ou será que lá no fundo de seus pensamentos ocultos acham que elas nem deveriam ter nascido para não os estar importunando ou então” tentando enganá-los para os assaltarem”?

Então, existem problemas muito mais sérios que ficar discutindo se aborto deve ou não ser descriminalizado.

O aborto na verdade, acaba sendo uma escolha, minha gente.

Olha só: eu trabalho em serviço público, trabalho com colocação em lar substituto, com guarda, tutela e adoçao, ou seja, trabalho colocando crianças que um dia foram deixadas em abrigos, foram entregues por seus pais biológicos a terceiros porque eles não têm dinheiro para sustentá-las.

Mas tem outro tipo de criança que está em abrigo e eu garanto a voces que nunca fiz uma colocação de nenhuma dessas crianças em familia substituta nos meus quase trinta anos de atividades nessa área: as criaças PNE-PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS.

Aquelas crianças que antes de virem para este mundo cruel, quando ainda estavam no ventre materno, quando até foram geradas, já tinham esses problemas.

Essas crianças também foram deixadas em abrigos por seus pais biológicos porque eles não têm recursos para alimentá-la e muito menos para tratar de seu problema especial, jamais serão adotadas e os abrigos que às acolhem estão cheios, pelo país a fora.E AGORA? Quem vai tomar conta dessas crianças? Vão dar uma olhada, vão ver como elas vivem nos abrigos.

Isso é só um exemplo.

Aí vão dizer: mas as pessoas engravidam porque são irresponsáveis!!! E aí eu respondo : as adolescentes e jovens de classe média não engravidam ,talvez, porque tem dinheiro para comprar camisinha, têm mesada muitas vezes maior que um salário de um trabalhador.

Mas uma adolescente ou jovem da pobreza, ou seja,daquela massa excluida da sociedade, daquela que voces, que têm em carrões, com peliculas, não abrem o vidro do carro nos semáforos porque pensam que são assaltantes, essas aí não tem dinheiro para comprar camisinha e por isso, não podem gozar? Não podem transar? Não podem sentir o que todas nós seres humanos de classe média e priviliegiados gostamos de sentir?

Tem alguma coisa errada aí nessa reflexão feita pelos teocráticos.

Que adanta alguém ser tão religioso se se afasta ,na rua, de qualquer jovem, que não seja da cor branca, que seja um mulato ou negro, que esteja em uma bicicleta, achando que, porque ele está de bicicleta “ deve ser um assaltante”? Que religião é essa?

A interrupção da graviudez indesejada e não apenas nos casos de estupro ou de risco de vida para a mãe, mas para os casos em que “ transei mas não tive dinheiro para a acamisinha mas estava com vontade de transar porque sou ser humano como todos os jovens de classe média”, deveria sim ser muito bem refletido. E se ,por ventura, tem uma candidata ao governo maior do país que pense assim, TOMARA QUE ELA GANHE!!!

Claro, que o ideal é que todo mundo possa comprar camisinha!! Mas já viram quanto é um pacote com três unidades? Quase cinco ou seis reais e não tem nos postos de saúde, assim,para distribuior, não.

Quer dizer, nosso contexto , sistema de governo, é o neo -lberal, ou seja, o mercado é quem manda; por isso, quem não pode investir no mercado, ou seja ,por exemplo, comprar camisinhas, tem que ser punido: não pode transar porque é pobre?! E se transar e ficar grávida não pode interroper a gravidez porque aí será um " pecado contra as leis de Deus) O mesmo deus que permite e exclusão social?!)

Tem alguma coisa errada nisso tudo!

Ninféia G- Poeta e Assistente Social de Vara da Infância e Juventude em Belém-Pa

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vamos eleger Dilma Rousseff presidenta do Brasil

Do Letraviva MST

No início do processo eleitoral deste ano, os movimentos sociais e a Via Campesina Brasil tomaram a decisão política de empenhar esforços para eleger o maior número possível de parlamentares e governadores identificados com as bandeiras populares da classe trabalhadora, com o aprofundamento da democracia e soberania brasileira e com políticas que combatam a concentração da propriedade e da renda em nosso país.

Quanto à eleição presidencial, as organizações populares que compõem a Via Campesina decidiram lutar para que não houvesse a vitória eleitoral de uma proposta neoliberal, representando pela candidatura do tucano José Serra.

Passando o primeiro turno dessa campanha eleitoral, realizado em 3 de outubro, queremos, com este comunicado ao povo brasileiro, manifestar nossa decisão política frente às eleições deste ano.

Avaliação do 1º turno

As renovações que aconteceram nas Assembleias estaduais, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, além da eleição e reeleição de governadores progressistas, são alvissareiras. No Senado Federal, especialmente, fomos vitoriosos com a eleição de companheiros e companheiras identificadas com as nossas lutas e com a não eleição de senadores que se notabilizaram pela perseguição aos movimentos sociais, identificados com os interesses do agronegócio.

Destacamos como vitória a derrota eleitoral do governo tucano de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, que se notabilizou, juntamente com o governo tucano de São Paulo, pelo controle da mídia, criminalização dos movimentos sociais e repressão à luta pela Reforma Agrária, aos movimentos de moradia e ao movimento dos professores da rede pública estadual.

Em relação às campanhas presidenciais, não transcorreram debates em torno de projetos políticos e dos problemas principais que afetam a população brasileira. A campanha de Dilma Rousseff (PT) buscou apenas, de forma pragmática, divulgar o desenvolvimento econômico e as políticas sociais do governo Lula, apoiando-se na popularidade e nos enorme índices de aprovação do atual governo. Com essa estratégia, obteve quase 47% dos votos, que foram insuficientes para vencer no primeiro turno.

A candidatura de José Serra (PSDB) nos surpreendeu, não por sua identificação com as políticas neoliberais, e sim pelo baixo nível da sua campanha presidencial. Foi agressivo e perseguiu jornalistas em entrevistas, tentou interferir em julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), espalhou mentiras e acusações infundadas.

Chegou a usar a própria esposa, que percorreu as ruas de Niterói (RJ) dizendo que Dilma Rousseff “é a favor de matar as criancinhas”. Somente uma candidatura sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade, contando com o total controle sobre a mídia, pode desenvolver uma campanha de tão baixo nível. A biografia do candidato já é a maior derrotada nestas eleições.

A candidatura de Marina Silva (PV) cumpriu o objetivo a que se propôs: provocar o segundo turno nesta campanha eleitoral. O tempo dirá se o seu êxito serviu para fortalecer a democracia ou simplesmente foi utilizada pelas forças conservadoras, para que retornassem ao governo.

Já as candidaturas identificadas com os partidos de esquerda, que utilizaram o espaço eleitoral para defender os interesses da classe trabalhadora, infelizmente tiveram uma votação inexpressiva.

O descenso social que temos há duas décadas em nosso país, a fragmentação das organizações da classe trabalhadora e a fragilidade da política de comunicação com a sociedade certamente influíram no resultado eleitoral. Cabe uma auto-crítica aos partidos políticos que se limitam apenas às campanhas eleitorais para dialogar com a sociedade. E que não falte daqui pra frente trabalho de base e a formação política permanente.

As eleições deste ano demonstraram o poder nefasto e antidemocrático da mídia. Mas, por outro lado, foi potencializada uma rede de comunicadores independentes, comprometidos com a liberdade de expressão e com o direito à informação, e que enfrentam aguerridamente o monopólio dos meios de comunicação em nosso país. São avanços rumo à democratização da informação e na construção de uma comunicação democrática e plural, com a participação da sociedade.

O 2º Turno

Nós reafirmamos nosso compromisso em defesa das bandeiras de lutas da classe trabalhadora e na construção de um país democrático, socialmente justo e soberano. Independentemente do governo eleito, seja ele qual for, iremos lutar de forma intransigente pela expansão das liberdades e dos direitos democráticos oprimidos.

Vamos lutar também por mudanças nas instituições e serviços públicos, em benefício da ampla maioria da população; combater aos monopólios para o desenvolvimento com soberania e distribuição de renda; defender as conquistas trabalhistas, a redução da jornada de trabalho, o direito de greve para os servidores públicos; a Previdência Social pública, de boa qualidade, pelo fim do fator previdenciário

Defendemos também a realização de uma reforma urbana, com moradia, saneamento básico, transporte público e segurança; a construção de serviços de saúde universal e de boa qualidade; reformas na educação pública e promoção da cultura nacional-popular com caráter universal; o fim do latifúndio, limite do capital estrangeiro sobre os nossos recursos naturais e a realização de uma Reforma Agrária anti-latifundiária; a implantação de novas relações da sociedade com o meio ambiente e efetivação uma política externa de autodeterminação, solidariedade aos povos e que priorize a integração dos povos do continente latino-americano e do Caribe.

Infelizmente, os avanços do governo Lula em direção a essas bandeiras democrático-populares foram insuficientes, em em que pese o acerto de sua política externa. Também nos preocupa constatar que, no arco de alianças da candidatura de Dilma Rousseff, há forças políticas que se contrapõem a essas demandas sociais.

Porém, temos uma certeza: José Serra, por sua campanha, pelo seu governo no Estado de São Paulo e pelos oito anos de governo FHC, tornou-se o inimigo dessas bandeiras de lutas. Pelo caráter anti-democrático e anti-popular dos partidos que compõem sua aliança eleitoral e por sua personalidade autoritária, estamos convictos que uma possível vitória sua significará um retrocesso para os movimentos sociais e populares em nosso país, para as conquistas democráticas em nosso continente e uma maior subordinação ao império dos Estados Unidos. Esse retrocesso não queremos que aconteça.

Nossa posição nessa conjuntura

Assim, os movimentos sociais e a Via Campesina Brasil afirmam o seu apoio e compromisso de lutar para eleger a candidata Dilma Rousseff para o cargo de presidenta do Brasil. Queremos nos juntar aos movimentos sindicais, populares, estudantis, religiosos e progressistas para promover debates com a sociedade, desmascarar a propaganda enganosa dos neoliberais e autoritários e exigir avanços na democracia, nas políticas públicas que favoreçam a população, no combate aos corruptos e corruptores e na democratização do poder em nosso país.

Precisamos derrotar a candidatura Serra, que representa as forças direitistas e fascistas do país. Devemos seguir organizando o povo para que lute por seus direitos e mudanças sociais, mantendo sempre nossa autonomia política frente aos governos.

Conclamamos a militância de todos os movimentos sociais, os lutadores e lutadoras do povo brasileiro, para se engajarem nessa luta, que é importantíssima para a classe trabalhadora.

Vamos à luta!! Vamos eleger Dilma Rousseff presidenta do Brasil.

Via Campesina Brasil

Movimento dos Atingidos por Barragens- MAB

Movimento das Mulheres Camponesas- MMC

Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil- FEAB

Assembléia Popular- PE

Centro de Estudos Barão de Itararé

Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Marcha Mundial das Mulheres- MMM

Movimento Camponês Popular- MCP

Rede Brasileira de Integração dos Povos- REBRIP

Rede de Educação Cidadã Sudeste- RECID

Sindicato dos Engenheiros do Paraná- Senge-PR

Uniao de Estudantes Afrodescendentes-UNEAFRO

Projeto Popular


http://www.mst.org.br/Vamos-eleger-Dilma-Rousseff-presidenta-do-Brasil

Modelo capitalista não serve mais para os povos‏

Por Lula Falcão

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos anunciaram no dia 14 de setembro que 925 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo, 98 milhões menos que o 1,23 bilhão calculado no ano passado. "Como uma criança morre a cada seis segundos devido a problemas relacionados com a desnutrição, a fome continua sendo a maior tragédia e escândalo do mundo", declarou o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.

Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou relatório em 17 setembro, apontando que 8,1 milhões de crianças morrem antes de completar cinco anos e 70% dessas mortes ocorrem no primeiro ano de vida. No total, entre 15 e 20 milhões de pessoas morrem anualmente devido à fome. Logo, a redução do número de famintos seria menor caso se levasse em conta o número de pessoas que morreram por passar fome.

Como bem disse Yukko Omura, vice-presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida): "Os famintos do mundo não são só uma cifra. São pessoas, homens e mulheres pobres, que lutam por retirar seus filhos dessa situação e oferecer-lhes um futuro melhor de jovens que tentam construir um futuro".

Em agosto, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) informou que a taxa de desemprego juvenil no mundo atingiu seu maior nível na história: 13% ou 81 milhões de jovens desempregados, 7,8 milhões a mais que em 2007. Segundo ainda a OIT, outros 152 milhões de jovens, 28% de todos os jovens trabalhadores do mundo, embora trabalhem, vivem em situação de extrema pobreza.

No dia 21 de setembro, a Campanha Global pela Educação divulgou que este ano 69 milhões de crianças foram retiradas da escola em razão da crise econômica.

Ainda em setembro, os Estados Unidos da América, principal e mais rico país capitalista do mundo, registraram o maior número de pobres dos últimos 51 anos: 43,6 milhões, ou seja, um em cada sete cidadãos norte-americanos é considerado pobre. Eram 39,8 milhões em 2008. O número oficial de desempregados também cresceu e bateu novo recorde: 14,9 milhões.

Na União Europeia, uma das regiões mais ricas do mundo, 17% da população não tem os meios necessários para satisfazer as suas necessidades mais básicas e o desemprego atingiu mais de 23 milhões de pessoas nos 27 Estados-membros.

A consequência desse gigantesco número de crianças vivendo com fome e de milhões de jovens desempregados é o crescimento da prostituição e do tráfico de drogas em todos os países capitalistas. Com efeito, sem ter o que comer e sem ter como trabalhar, milhões de crianças são forçadas a se prostituir. Hoje, de acordo com o Unicef, 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos menores de 18 anos - um total de 223 milhões - são vítimas de exploração sexual no mundo. No Brasil, mais de 500 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente para garantir a própria sobrevivência, informa a Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

Magnatas aumentam riquezas

Do outro lado, o lado dos ricos, menos de 1% da população mundial, reina a felicidade.

De acordo com a revista Forbes, 217 magnatas estão hoje mais ricos que no ano passado. Os bilionários listados pela Forbes têm US$ 1,37 trilhão de patrimônio. Em 2009, eles tinham US$ 1,27 trilhão. O fundador da Microsoft, Bill Gates, por exemplo, elevou sua riqueza de US$ 50 bilhões em 2009 para US$ 54 bilhões este ano. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, triplicou sua fortuna: saiu de US$ 2 bilhões para US$ 6,9 bilhões.

O JP Morgan, grupo financeiro dos EUA que recebeu bilhões do governo estadunidense, informou que seu lucro líquido cresceu 76,2% no segundo trimestre deste ano, atingindo a cifra de US$ 4,795 bilhões. No mesmo período no ano passado, o JP Morgan tinha lucrado US$ 2,721 bilhões.

Apenas nos primeiros três meses deste ano, os 14 maiores bancos de investimento norte-americanos tiveram uma receita de US$ 78,8 bilhões. Foi o melhor resultado desses bancos nos últimos três anos. Não é difícil imaginar o que os bancos fizeram com esse aumento de receita: entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, 17 bancos que receberam ajuda do governo dos EUA pagaram a seus acionistas bônus de US$ 1,6 bilhão.

Em resumo, a crise está aumentando os já gordos lucros da pequena mas poderosa oligarquia financeira.

Quem paga a conta da crise

Para a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), órgão da ONU, "a recuperação da economia mundial está se dando de forma frágil e desigual. Frágil porque existe o risco de os países mais afetados retirarem os estímulos fiscais e provocarem uma nova recessão". (Relatório da Unctad, 14 de setembro).

Por sua vez, a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê para este ano um crescimento de 10% no volume do comércio mundial, "devido ao dinamismo da economia chinesa".

O crescimento chinês, porém, é resultado dos subsídios dos bancos estatais às empresas capitalistas e da superexploração dos trabalhadores do país. De fato, após as reformas capitalistas implantadas no final da década de 1970, os operários chineses passaram a ter os piores salários do mundo. Na maioria das fábricas das regiões industriais da China, os trabalhadores recebem por mês apenas 675 yuans - ou R$ 175.

Por esta razão, as greves se multiplicam atormentando o governo chinês e o seu "socialismo" de mercado¹. Entre as centenas de greves realizadas este ano estão as dos operários da Toyota, da Honda e da Foxconn Tecnology, fabricante dos i-phones e i-pads da Apple e da Sony.

Para salvar esse modelo capitalista que produz fome, desemprego, prostituição, crescimento do tráfico de drogas e guerras, os governos capitalistas, endividados pelos pacotes de ajuda à oligarquia financeira, adotam planos econômicos para rebaixar o salário dos trabalhadores e cortar verbas dos programas sociais. Tudo para aumentar a mais-valia - e, consequentemente, o lucro dos patrões capitalistas - visando a tornar as empresas de seus países mais competitivas no mercado mundial ou obter recursos financeiros para novos pacotes de ajuda à economia de mercado.

Não há hoje um só governo que não esteja implementando ou discutindo planos de cortes nos serviços públicos, aumento da idade para o trabalhador se aposentar, demissão de funcionários públicos, novas privatizações, ampliação da jornada de trabalho e redução dos impostos para as grandes empresas e bancos, conforme à receita do Fundo Monetário Internacional (FMI)

Na França, o governo do ditador Nicolas Sarkozy encaminhou ao Parlamento projeto para aumentar a idade mínima de aposentadoria integral para 67 anos, além de expulsar milhares de trabalhadores imigrantes romenos e búlgaros do país.

O governo espanhol quer acabar com a negociação coletiva nas empresas que se declararem em dificuldades financeiras, o que significa dar ao patrão a liberdade de demitir sem pagar nenhum direito ao trabalhador e impulsionar a terceirização do trabalho em vários setores.

Em Portugal, o governo implementou o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado, que proíbe aumento de salários, e um novo Código do Trabalho que retira direitos dos trabalhadores. Também é objetivo do governo português privatizar empresas que prestam serviços sociais à população, bem como as linhas férreas, aeroportos e estaleiros navais.

A Alemanha, maior país capitalista da Europa, demitiu 10 mil servidores públicos e até hoje se recusa a estabelecer um salário mínimo nacional. A Inglaterra planeja cortes de 20% nos programas sociais.

Na Itália, o governo do fascista Silvio Berlusconi persegue os trabalhadores imigrantes, proíbe o direito de greve, ataca o Estatuto dos Trabalhadores e corta verbas para a educação pública e para os deficientes físicos.

Nos EUA, o Congresso, mesmo sabendo que nunca foi tão difícil conseguir um emprego, votou contra a ampliação do seguro-desemprego de seis meses para um ano. E milhares de imigrantes são presos e expulsos do país.

No Equador, o governo da Rafael Correa impõe estado de sitio para impor ao povo uma nova Lei do Serviço Público, que abrirá as portas para a privatização de serviços fundamentais, demissão dos servidores públicos e corte de salários e das aposentadorias.

Como se vê, a saída do capitalismo para a crise econômica, a maior e mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial, é impor mais sofrimento aos trabalhadores e aos pobres do mundo.

Entretanto, ao mesmo tempo em que reduz direitos e corta investimentos sociais, os países imperialistas aumentam os gastos militares e ameaçam desencadear novas guerras. Em 2010, os gastos em armamentos no mundo atingiram 1,5 trilhão de dólares e somente os EUA gastarão US$ 700 bilhões. Dinheiro usado não só para promover as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas para manter as 1.000 bases militares espalhadas por 40 países e financiar golpes militares, como o de Honduras em julho do ano passado.

O governo alemão, além de ter duplicado as exportações de armas, suspendeu a proibição constitucional de as suas forças armadas invadirem outros países. A Rússia renova sua frota de navios de guerra e seu sistema de defesa aérea e espacial, e gastará mais de US$ 140 bilhões em compra de armamentos.

A reação dos trabalhadores

Com o intuito de enganar a opinião pública, o G20, reunião dos chefes dos governos das 21 maiores economias do mundo, debate a criação de um imposto global sobre as movimentações financeiras no mercado mundial.

Acontece que essa proposta foi apresentada pela primeira vez no início dos anos 70, pelo economista norte-americano James Tobin, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1981. Pela proposta de Tobin, toda movimentação financeira realizada no mercado mundial seria taxada em 0,1% e o dinheiro recolhido seria utilizado para combater a fome e a pobreza do mundo. Portanto, há 40 anos a proposta existe e até hoje não saiu do papel. Mas, mesmo que tal medida fosse aplicada, não teríamos uma alteração substancial na situação de profunda desigualdade existente no mundo. Sem dúvida, a taxação de 0,1% permitiria aos governos arrecadar US$ 170 bilhões por ano. Somente o primeiro pacote de ajuda aos bancos do governo dos EUA foi de US$ 700 bilhões e o total no mundo da ajuda dos governos aos monopólios e bancos foi de 24 trilhões de dólares.

Mas os famélicos da terra e os trabalhadores não estão de maneira nenhuma passivos diante dessa ofensiva dos capitalistas e de seus governos para jogar o ônus da crise nas suas costas.

Na Grécia, os trabalhadores já realizarem cinco greves gerais este ano.

Os trabalhadores franceses organizaram uma greve geral contra a reforma da previdência no dia 23, um movimento que pôs 2,7 milhões de trabalhadores nas ruas em defesa da aposentadoria, empregos e salários.

Na Espanha, greve geral convocada pelos sindicatos UGT e CCOO no dia 29 de setembro teve a adesão de 72% da população contra o plano do governo Zapatero de reduzir o salário dos funcionários públicos e congelar o salário dos aposentados.

Também, no dia 29 de setembro, os trabalhadores de Portugal, Letônia, Lituânia, Polônia, República Checa, Romênia, Sérvia, Chipre e Itália pararam e realizaram manifestações no dia de ação europeia em defesa do emprego e contra as reformas capitalistas.

Na África do Sul, os funcionários públicos, após 19 dias parados no mês passado, garantiram a elevação dos seus salários. E os operários da Toyota, Volkswagen e General Motors conseguiram 10% de aumento salarial depois de uma longa greve.

Portanto, ao contrário do que alguns pensam e outros dizem, é o modelo capitalista que não funciona mais nos Estados Unidos, na Europa, na China ou em qualquer outro lugar do mundo. Em estado terminal, o capitalismo sobrevive graças à pilhagem que realiza do dinheiro público, do roubo das riquezas de inúmeros países por meio de guerras e ao apoio do Estado burguês, cada vez mais armado e endividado. Por isso, como gritaram os trabalhadores espanhóis na greve geral do dia 29, "À frente! Ganhamos a greve, agora vamos ganhar o futuro".


Lula Falcão é membro do comitê central do Partido Comunista Revolucionário

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eleições presidenciais 2010: em leilão, os ovários das mulheres!

Por Fátima Oliveira

“Isso aqui”, o Brasil, não é um colônia religiosa, não é um Reino e nem um Império, é uma República! Dado o clima do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, parece que as urnas vão parir uma Rainha ou um Rei de Sabá, uma Imperatriz ou um Imperador, que tudo pode, manda em tudo e que suas vontades e ideias, automática e obrigatoriamente, viram lei! Não é bem assim…


Bastam dois neurônios íntegros para nos darmos conta que o macabro leilão de ovários (com os ovários de todas as brasileiras!), em que o aborto virou cortina de fumaça, objetiva encobrir o discurso necessário para o povo brasileiro do que significa, timtim por timtim, eleger Dilma ou Serra.


No tema do aborto a tendência mundial é, no mínimo, o aumento dos permissivos legais, que no Brasil são dois, desde 1940: gravidez resultante de estupro e risco de vida da gestante. Pontuando que legalização do aborto ou o acesso a um permissivo legal existente não significa jamais a obrigatoriedade de abortar, apenas que a cidadã que dele necessitar não precisa fazê-lo de modo clandestino, praticando desobediência civil e nem arriscando a sua saúde e a sua vida, cabe ao Estado laico e democrático colocar à disposição de suas cidadãs também os meios de acessar um procedimento médico seguro, como o abortamento.


Negá-lo, como tem feito o Brasil, que se gaba de possuir um dos sistemas de saúde mais badalados do mundo que garante acesso universal a TODOS os procedimentos médicos que não estão em fase de experimentação, é imoral, pois quebra o princípio do acesso universal do direito à saúde! Eis os termos éticos para o debate sobre o aborto numa campanha eleitoral. Nem mais e nem menos!


Então, o que estamos assistindo nas discussões do atual processo eleitoral é uma disputa para ver quem é a candidatura mais CAPAZ de desrespeitar os princípios do SUS, pasmem, em nome de Deus, num Estado laico! Ora, quem ocupa a presidência da República pode até ser carola de carteirinha, mas para consumo pessoal e não para impor seus valores para o conjunto da sociedade, pois a República não é sua propriedade privada!


Repito, não podemos esquecer que isso aqui, o Brasil, é uma República que se pauta por valores republicanos a quem todos nós devemos respeito, em decorrência, não custa nada dizer às candidaturas que limitem as demonstrações exacerbadas de carolice ao campo do privado, no recesso dos seus lares e de suas igrejas, pois não estão concorrendo ao governo de um Estado teocrático, como parece que acreditam. Como cidadã, sinto-me desrespeitada com tal postura.


As opções religiosas são direitos pétreos e questões do fórum íntimo das pessoas numa democracia. Jamais o norte legislativo de uma Nação laica, democrática e plural. Para professor uma fé e defendê-la é preciso liberdade de religião, só possível sob a égide do Estado laico, onde o eixo das eleições presidenciais é a escolha de quem a maioria do povo considera mais confiável para trilhar rumo a um país menos miserável, de bem-estar social, uma pátria-mátria para o seu povo.


Ou há pastores/as e padres que insistem em ignorar a realidade? “Chefe religioso” ignorante de que a sua religião necessita das liberdades democráticas como do ar que respiramos, não merece o lugar que ocupa, cabendo aos seus fiéis destituí-los do cargo, aí sim em nome de Deus, amém!


O leilão de ovários em curso resulta de vigarices e pastorices deslavadas, de má-fé e falta de escrúpulos que manipulam crenças religiosas de gente de boa-fé para enganá-las, como a uma manada de vaquinhas de presépio, vaquejadas por uma Madre Não Sei das Quantas, cristã caridosa e reacionária disfarçada de santa, exemplar perfeito de que pessoas desse naipe só a miséria gera. Num mundo sem miséria, madres lobas em pele de cordeiro são desnecessárias e dispensáveis. É pra lá que queremos ir e o leilão de ovários quer impedir!


Quem porta uma gota de lucidez tem o dever, moral e político, de não permitir que a escória fundamentalista de qualquer religião, que faz da religião um balcão de negociatas que vende Deus, pratica pedofilia e fica impune e ainda tem a cara de pau de defender a impunidade para pedófilos e os acoberta desde os tempos mais remotos, nos engabele e ande por aí com uma bandeja de ovários transformando a escolha de quem presidirá a República num plebiscito pra definir quem tem mais mão de ferro pra mandar mais no território do corpo feminino!


Cadê a moral dessa gente desregrada para querer ditar normas de comportamento segundo a sua fé religiosa para o conjunto da sociedade, como se o Brasil fosse a sua “comunidade religiosa”? Ora, qualquer denominação religiosa em terras brasileiras está também obrigada ao cumprimento das leis nacionais, ou não? Logo o que certas multinacionais da religião fizeram no processo eleitoral 2010 tem nome, chama-se ingerência estrangeira na soberania nacional. E vamos permitir sem dar um pio?


Diante dessa juquira (brotação da mata pós-desmatamento), onde só medrou urtiga e cansanção, cito Brizola, que estava coberto de razão quando disse: “O Brasil é um país sem sorte”, pois em pleno Século 21 conta com candidaturas presidenciais (não sobra uma, minha gente!) reféns dos setores mais arcaicos e feudais de algumas religiões mercantilistas de Deus.


É hora de dar um trato ecológico na juquira que empana os ideais e princípios republicanos, fora dos ditames da “moderna” agenda verde financeira neoliberal da “nova política”, que no Brasil é infectada de carcomidas figuras, que bem sabemos de onde vieram e pra onde vão, se o sonho é fazer do Brasil um jardim de cidadania, similar ao que Cecília Meireles tão lindamente poetou.


“Quem me compra um jardim com flores?/ borboletas de muitas cores,/ lavadeiras e passarinhos,/ ovos verdes e azuis nos ninhos?/ Quem me compra este caracol?/ Quem me compra um raio de sol?/ Um lagarto entre o muro e a hera,/ uma estátua da Primavera?/ Quem me compra este formigueiro?/ E este sapo, que é jardineiro?/ E a cigarra e a sua canção?/ E o grilinho dentro do chão?/ (Este é meu leilão!)” [Leilão de Jardim, Cecília Meireles].


Em 2010 em nosso país o que está em jogo é também a luta por uma democracia que se guie pela deferência à liberdade reprodutiva e que considere a maternidade voluntária um valor moral, político e ético, logo respeita e apoia as decisões reprodutivas das mulheres, independente da fé que professam. Nada a ver com a escolha de quem vai mandar mais no território dos corpos das mulheres! Então, xô, tirem as mãos dos nossos ovários!



Fátima Oliveira é médica e escritora. Feminista. Integra o Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR) e o Conselho Consultivo da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe (RSMLAC). Escreve uma coluna semanal no jornal O Tempo (BH, MG), desde 3 de abril de 2002. Uma das 52 brasileiras indicadas ao Nobel da Paz 2005, pelo projeto 1000 Mulheres para o Nobel da Paz 2005. Autora dos seguintes livros de divulgação e popularização da ciência: Engenharia genética: o sétimo dia da criação (Moderna, 1995 – 14a. impressão, atualizada em 2004); Bioética: uma face da cidadania (Moderna, 1997 – 8a. impressão atualizada, 2004); Oficinas Mulher Negra e Saúde (Mazza Edições, 1998); Transgênicos: o direito de saber e a liberdade de escolher (Mazza Edições, 2000); O estado da arte da Reprodução Humana Assistida em 2002 e Clonagem e manipulação genética humana: mitos, realidade, perspectivas e delírios (CNDM/MJ, 2002); Saúde da população Negra, Brasil 2001 (OMS-OPS, 2002). Autora dos seguintes romances: A hora do Angelus (Mazza Edições, 2005); Reencontros na travessia: a tradição das carpideiras (Mazza Edições, 2008); e Então, deixa chover (no prelo). E-mail: fatimaoliveira@ig.com.br Texto publicado como ESPECIAL PARA O VIOMUNDO, em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/fatima-oliveira-comeca-a-reacao-das-mulheres-contra-o-aiatola-serra.html




Fonte: http://espacoacademico.wordpress.com/2010/10/13/eleicoes-presidenciais-2010-em-leilao-os-ovarios-das-mulheres/



Mandaram pras cucuias a separação entre Igreja e Estado

Por Fátima Oliveira

Afinal, o que é República (do latim, res publica: coisa pública)? E a pauta de quem aspira governá-la? Parece óbvio que o debate eleitoral numa República (regime de governo) tem como eixo a defesa dos valores e dos princípios republicanos. Sob a democracia (regime político) nunca vi uma eleição para a Presidência da República tão carente de espírito republicano quanto a que está em curso. Alguém esqueceu que "isso aqui", o Brasil, é uma República?

No segundo turno piorou. Candidaturas abriram mão dos ideais republicanos, mandando pras cucuias um princípio basilar da República: a separação entre a Igreja (religião) e o Estado, esquecendo que as religiões contrárias ao aborto sabem que a postura delas é inútil para detê-lo até entre suas fiéis, portanto não pregam contra o aborto, mas contra a existência, e até a possibilidade, de leitos hospitalares para o aborto, tanto que onde eles não existem não há polêmica! Não é fanatismo religioso, é indiferença para com a vida das mulheres como princípio.

Sou mesmo uma besta quadrada, pois não sabia que Dilma ou Serra eram os papa-hóstias que dizem ser agora, só faltando dizerem que Deus é brasileiro e as urnas vão sacramentar a reencarnação Dele! Convicta de que a liberdade de religião é um direito constitucional, defendo que qualquer pessoa, quando bem lhe aprouver, torne pública sua religião. Porém, não silencio ao perceber que uma opção religiosa acena interferir nos rumos da República.

É o que está acontecendo agora de modo mais acirrado. Se o país vai bem e parte expressiva do povo saiu da miséria, pode piorar politicamente [Tiririca não estava com a razão ("pior do que está não fica")], caso as candidaturas insistam no veio não-republicano do engalfinhamento religioso, alçando o aborto à questão central do debate eleitoral de 2010, tema que, num olhar republicano, é do campo da cidadania e diz respeito a como a República cuida de suas cidadãs - e a nossa ainda deve muito às mulheres.

Urge que o embate eleitoral tome o rumo da deferência aos pilares que sustentam a República, que são o bem comum acima dos interesses individuais e das coletividades (grupos sociais); o laicismo; e a democracia. Em nome de quê se desrespeita aquilo a que se candidata a preservar? Ou é apenas proselitismo eleitoreiro dos mais rasteiros? Não sei responder às duas indagações. Mas elas evidenciam que vivemos tempos de indigência política e o espectro do fundamentalismo religioso ronda o Estado laico.

Estou bestificada de ver que o empenho das candidaturas (que viraram "a cara de uma o ‘fucim’ da outra") não é genuinamente re-pu-bli-ca-no, mas provar quem detém o monopólio da carolice e da confiança da turba que se rege pelo fundamentalismo religioso, numa flagrante incompreensão do que é o regime de governo republicano e o regime político da democracia! Diante de tal cenário, conjecturo que ambos sequer leram o "Manifesto Republicano" (1870). Se o leram, esqueceram.

Diante da carolice desvairada, pedindo voto em nome de Deus - que nem é candidato a nada e nem precisa, pois para quem nele acredita, ele é TUDO -, não me contenho o grito: republicanos, uni-vos! E ouso dizer que quero a minha República terrena de volta, já! Quero a minha República de volta pelo simbolismo dos ideais libertários. Eu a quero também pelo que significa para o Brasil e sua gente - concreta, nascida, que materializa o princípio republicano de que "toda a autoridade política tem um mandato originado no voto popular".



Fátima Oliveira é Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.



Fonte: http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=3544&id_coluna=20

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O grande final

Por Ninféia G

Estamos há pouco mais de quinze dias do que eu chamo de final da maratona eleitoral.

E estamos aí, nesse impasse: se o que está, ficar, o que de melhor fará? É possivel que se toque, sim ,de que fez pouco onde deveria ter feito muito mais?

Mas...se o que era, retornar, estaremos dando, literalmente,um enorme passo atrás, talvez, com poucas ppssibilidades de volta.

E, então, como será o amanhecer do dia 1 de Novembro?Ou o fim de noite do dia 31 de outubro?Vamos chorar de dor pela volta de um passado nefasto? Ou vamos sorrir, simplesmente, porque o melhor do que ainda não é o bom, ficou?

Refletindo nisso e pela angústia que estou sentindo desde o dia 3 de outubro sob essa ameaça da direita no ar, eu escrevi:

O GRANDE FINAL

São momentos finais
De uma maratona
Cujo resultado
Pode ser o pior

São momentos reais
Da imensa zona,
De um espetáculo
Desalentador

Não são cordiais
Os que se aprontam
Para o desenlace

E não há mais
Variedade de escolha
Apenas impasse.



Ninféia G- Poeta

O que você pensa sobre Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Marilena Chaui,...,?

O que você pensa sobre

Leonardo Boff
Maria Conceição Tavares
Oscar Niemeyer
Marilena Chaui
José Luis Fiori
Emir Sader
Theotonio dos Santos
Fernando Morais
Nilcea Freire
Laura Tavares
Walnice Galvão
Eric Nepomuceno
Martha Vianna
Felipe Nepomuceno
Pablo Gentili
Florencia Stubrin
Flavio Aguiar
Renato Guimarães
Ivana Bentes
Vera Niemeyer
Giuseppe Cocco
Sergio Amadeu
Hugo Carvana
Martha Alencar
Carlos Alberto Almeida
Luiz Alberto Gomez de Souza
Ingrid Sarti
Gaudêncio Frigotto
Isa Jinkings
Leila Jinkings
Sidnei Liberal
Sueli Rolnik
Celio Turino
José Gondin
Lejeune Mirhan
Monica Bruckman
Izaias Almada
Clarice Gatto
Fernando Vieira
Rafael Alonso
José Fernando Balby
Breno Altman
Elisabeth Sekulic
Carlos Otavio Reis
Cassio Sader
Tatiana Roque
Monica Rocha
Carlos Augusto Peixoto
Antonio Lancetti
Benjamin Albagli Neto
Geo Brito
Barbara Szaniecki
Henrique Antoun
Francisco de Guimaraens
Mauricio Rocha
Cibele Cittadino
Adriano Pilatti
Marcio Tenambaum
Jô Gondar
Rodrigo Guéron
Paulo Halm
Maria Candida Bordenave
André Fetterman Coutinho
Carlos Eduardo Martins
Lucia Ribeiro
Helder Molina
Elizabeth Serra Oliveira
Isadora Melo Silva
Janes Rodriguez
Claudio Cerri
Gloria Moraes
Peter Pal Pelbart
Mari Helena Lastres
Cecilia Boal
Alexandre Mendes
Mauro Rego Costa
Ana Miranda Batista
Ana Maria Muller
Ronald Duarte
Osmar Coelho Barboza
Joaquim Palhares
Marco Weissheimer
Silvio Lima
Isabella Jinkings
Marcia Aran
Cezar Migliorin
Susana de Castro
Ricardo Rezende Figueira
Eiiana Schueler
Virgilio Roma Filho
Ana Lucia Magalhaes Barros
Maria de Jesus Leite
Marcos Costa Lima
Alberto Rubim
José Cassiolato
Beth Formaggini
Marilia Danny
Fabrício Toledo
Ana Maria Bonjour
Ana Maria Alvarenga de Barros
Marcio Miranda Ferreira
Marcio Pessoa
Marco Nascimento Pereira
Vanessa Santos do Canto
Monica Horta
Ana Maria Muller
Fernanda Reznik Santos
Eliete Ferrer
Felipe Cavalcanti
Francini Lube Guizardi
Rodrigo Pacheco
Edna Krauss
Luis Felipe Bellintani Ribeiro
Rosa Maria Dias
Leneide Duarte-Plon
Licoln de Abreu Penna
Marcelo Saraiva
Francisco Bernardo Karan
Lucy Paixão Linhares
Luiz Carlos de Sousa Santos
Eliana Dessaune Madeira
Lucio Manfredo Lisboa
Isabel Moraes da Costa
Sandra Menna Barreto
Angelo Ricardo de Souza
Roberto Elias Salomão
Angelo Ricardo de Souza
Ricardo Elias Salomão
Eleny Guimarães Teixeira
Elisa Pimentel
Leonora Corsini
Maria Helena Correa
Isis Proença
José Adelio Ramos
Albertita Dornelles Ramos
Deborah Dornelles Ramos
Tamarah Dornelles Ramos
Xavier Cortez
Rodrigo Gueron
Aparecida Martins Paulino
Leonardo Palma
Paulo Roberto Andrade
Urariano Mota
Lea Maria Reis
Ferreira Palmar
Gabriel Rebello
AGFilho
Newton Pimentel
Patricia Ferraz
Pedro Alves Filho
José Antonio Garcia
Afonso Lana Leite
Mariana Rodrigues Pimentel
Jussara Rodrigues Pimentel
Affonso Henriques
Ana Muller
Mario Jakobskind
Fabio Malini
Dayse Marques Souza
Tania Roque
Jussara Ribeiro de Oliveira
Rita de Cassia Matos
Fernando Santoro
Washington Queiroz
Araken Vaz Galvão
Paulo Costa Lima
Carlos Roberto Franke?

Pois saiba que eles são responsáveis pelo texto abaixo:

À NAÇÃO

Em uma democracia nenhum poder é soberano.
Soberano é o povo.

É esse povo – o povo brasileiro – que irá expressar sua vontade
soberana no próximo dia 3 de outubro, elegendo seu novo Presidente e 27
Governadores, renovando toda a Câmara de Deputados, Assembléias
Legislativas e dois terços do Senado Federal.

Antevendo um desastre eleitoral, setores da oposição têm buscado
minimizar sua derrota, desqualificando a vitória que se anuncia dos
candidatos da coalizão Para o Brasil Seguir Mudando, encabeçada por Dilma
Rousseff.

Em suas manifestações ecoam as campanhas dos anos 50 contra Getúlio
Vargas e os argumentos que prepararam o Golpe de 1964. Não faltam
críticas ao “populismo”, aos movimentos sociais, que apresentam como
“aparelhados pelo Estado”, ou à ameaça de uma “República
Sindicalista”, tantas vezes repetida em décadas passadas para justificar
aventuras autoritárias.

O Presidente Lula e seu Governo beneficiam-se de ampla aprovação da
sociedade brasileira. Inconformados com esse apoio, uma minoria com acesso
aos meios, busca desqualificar esse povo, apresentando-o como
“ignorante”, “anestesiado” ou “comprado pelas esmolas” dos
programas sociais.
Desacostumados com uma sociedade de direitos, confunde-na sempre com uma
sociedade de favores e prebendas.

O manto da democracia e do Estado de Direito com o qual pretendem encobrir
seu conservadorismo não é capaz de ocultar a plumagem de uma Casa Grande
inconformada com a emergência da Senzala na vida social e política do
país nos últimos anos. A velha e reacionária UDN reaparece “sob nova
direção”.
Em nome da liberdade de imprensa querem suprimir a liberdade de expressão.
A imprensa pode criticar, mas não quer ser criticada.

É profundamente anti-democrático – totalitário mesmo – caracterizar
qualquer crítica à imprensa como uma ameaça à liberdade de imprensa. Os
meios de comunicação exerceram, nestes últimos oito anos, sua atividade
sem nenhuma restrição por parte do Governo. Mesmo quando acusaram sem
provas.
Ou quando enxovalharam homens e mulheres sem oferecer-lhes direito de
resposta. Ou, ainda, quando invadiram a privacidade e a família do
próprio Presidente da República.

A oposição está colhendo o que plantou nestes últimos anos. Sua
inconformidade com o êxito do Governo Lula, levou-a à perplexidade. Sua
incapacidade de oferecer à sociedade brasileira um projeto alternativo de
Nação, confinou-a no gueto de um conservadorismo ressentido e arrogante.
O Brasil passou por uma grande transformação.

Retomou o crescimento. Distribuiu renda. Conseguiu combinar esses dois
processos com a estabilidade macroeconômica e com a redução da
vulnerabilidade externa. E – o que é mais importante – fez tudo isso
com expansão da democracia e com uma presença soberana no mundo.

Ninguém nos afastará desse caminho. Viva o povo brasileiro.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma estória do cotidiano

Por Ninféia G

Uma pessoa amiga vai ter que ir embora de sua cidade natal, por causa de um homem, seu ex-companheiro, que acha que porque um dia ele e ela sentiram atração um pelo outro, se relacionaram, foram viver juntos, tiveram um filho, ela é propriedade dele e o que é pior, para sempre.

Eles não estão mais juntos há alguns meses, porque depois de algum tempo não foi mais possível, a ela, conviver com ele devido ao seu comportamento agressivo e violento.

Felizmente, a Lei Maria da Penha, foi bem eficiente.

Vejam o que aconteceu:

Ele foi buscar o filho para sair e minha amiga acabou indo junto. Entretanto, como ele quer por todo jeito que ela volte ao convívio dele e ela não quer de jeito nenhum, começou a destratá-la, ofendê-la moralmente; ela então disse que queria sair do carro( eles estavam em um veículo recentemente adquirido pro ele). E quando ele parou o veículo e ela tentou descer com a criança, ele não permitiu, a criança acabou se machucando; nessa contenda toda uma pessoa que estava na via pública (uma mulher) não gostou do que estava presenciando e chamou a policia, que chegou e prendeu o sujeito em flagrante. Diante do Delegado ele assinou um termo se comprometendo a não chegar próximo da ex mulher .

Vemos muito isso nos filmes estadunidenses, mas, aqui, parece coisa do outro mundo. Mas, aconteceu. Em plena via pública, em um bairro de subúrbio.

A mãe de minha amiga, não satisfeita apenas com esse termo de compromisso e por já conhecer a natureza agressiva, violenta, machista do ex-genro, uma vez que ele morou em sua casa com a minha amiga e ela mesma presenciou seus desmandos para com sua filha, resolveu afastá-la e ao neto, da cidade. O próprio delegado aconselhou minha amiga a ir embora.

Essa é uma estória do cotidiano de seres humanos, mas que eu quis narrar aqui não apenas por ser mulher, mas por perceber que existem seres humanos preocupados com o melhor estar de outros seres humanos.

Minha amiga e seu filho vão fazer muita falta. Eu e ela temos uma amizade de quase 10anos, presenciei várias de suas dores e suas alegrias e ela as minhas.
Só posso desejar a ela que nunca mais um ser tão abominável cruze seu caminho.

E, também, desejar que outras mulheres quando alvo das violências de seus ex-maridos ou companheiros, despertem a atenção de outras mulheres ou de qualquer outro ser humano transeunte indignado com esse tipo de comportamento execrável.



Ninféia G, poetisa.

A questão do aborto influenciará o seu voto?

Por Kátia Mello

Na disputa presidencial entre os candidatos Dilma Rousseff do PT e José Serra do PSDB neste segundo turno, um tema polêmico está em debate: o aborto e sua descriminalização. O Partido dos Trabalhadores de Dilma já discute como conduzirá agora essa temática, que talvez tenha sido responsável por uma considerável perda de votos para a candidata para Marina Silva, do Partido Verde (PV). Marina, como se sabe, é evangélica e se colocou claramente contra a legalização do aborto.

Tanto Dilma quanto Serra emitiram posições mais ou menos cautelosas, dependendo dos ventos. Os jornais já estão recolhendo frases dos dois sobre esse assunto. Em 2007, Dilma disse: “Acho que tem de haver a descriminalização do aborto”. Já neste ano, a candidata do PT afirmou: “Tanto eu quanto o presidente Lula não defendemos o aborto.

Defendemos o cumprimento da lei”. Serra, por sua vez, também parece ter mudado surfando conforme as ondas. Em 1998, enquanto ministro da Saúde foi o responsável por assinar uma lei que permite a realização do aborto em casos de vítimas de estupro e riscos para a grávida. Durante debate da TV Record, o candidato do PSDB afirmou ser contra o plebiscito sobre o aborto, assim como é contra o plebiscito da pena de morte. Já em entrevista recente a ÉPOCA, Serra admitiu essa possibilidade.”Se eu vier a ser presidente da República, não vou propor mudança na lei atual, mas vou permitir que essa discussão se tenha amplamente no Brasil, no âmbito do Congresso, eventualmente até por meio de consulta à população”, disse ele.


Para aprofundar mais esse assunto, entrevistei a antropóloga Debora Diniz, de 40 anos, professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. Atualmente, Debora é pesquisadora visitante na Faculdade de Direito na Universidade de Toronto, onde desenvolve pesquisas sobre aborto e direitos humanos.

Nesta eleição presidencial, a questão do aborto se tornou mais importante para o eleitor brasileiro?

A resposta pode ser “sim” ou “não”. A resposta é sim se considerarmos que o aborto ilegal e inseguro é uma importante questão de saúde pública no Brasil. Aos 40 anos, uma em cada cinco mulheres já fez um aborto. Isso representa um contingente de mais de 5 milhões de mulheres entre 18 e 39 anos. Elas abortam com métodos inseguros e temem ir para a cadeia. Elas correm risco em clínicas ilegais ou com medicamentos adulterados, e acabam finalizando o aborto nos hospitais públicos. Portanto, o aborto importa ao eleitor brasileiro, pois é uma questão de saúde pública e de direitos fundamentais das mulheres. A resposta é não se considerarmos o contexto em que o tema foi posto para o segundo turno das eleições. O aborto se transformou em uma moeda de troca para angariar votos, em particular das comunidades evangélicas e católicas. As concessões políticas feitas pelos candidatos devem ser consideradas ameaças democráticas, pois indicam a força das religiões no espaço público. Não é o tema do aborto e a saúde das mulheres o que está sendo discutido, mas se as plataformas religiosas devem regular ou não a sexualidade e a reprodução das mulheres

Como vê a mudança do PT em retirar do debate a defesa da descriminalização do aborto das eleições presidenciais neste segundo turno?

Caso ocorra essa mudança na plataforma política, esse é um fato que deve ser considerado de extrema gravidade para a democracia. Não representa uma alteração em um plano de governo, como resultado de mudanças de conjunturas econômicas, por exemplo, o que justificaria uma mudança em uma política monetária. É um sinal claro do quanto o Estado brasileiro é frágil frente ao poder das religiões no espaço público. Qualquer mudança desta natureza deve ser considerada uma ameaça à separação entre Estado e religiões, o que chamamos de laicidade do Estado.

Em entrevista a ÉPOCA, o candidato do PSDB, José Serra, disse que eventualmente poderia acontecer um plebiscito sobre essa questão. Já no último debate da TV Record, ele descarta essa possibilidade. Em 1988, Serra também foi criticado por grupos contra o aborto por normatizar a lei do aborto que prevê realização em casos de gravidez após estupro. Como analisa essa mudança de posição de Serra?

Aborto não é matéria para plebiscito. A democracia se move por duas forças: de um lado, a vontade da maioria, o que agora nos leva a eleger o novo Presidente da República; de outro lado, a proteção dos direitos das minorias. Questões de ética privada, como união civil entre pessoas do mesmo sexo ou aborto, não são matérias plebiscitárias, mas de garantia de direitos fundamentais. Convidar a população a um plebiscito sobre aborto é apostar na força das comunidades religiosas para impedir uma mudança na legislação penal de aborto. É simplesmente um artifício para não conduzir o debate sobre no aborto nos únicos termos possíveis para uma democracia que são as evidências de pesquisa e o marco de direitos humanos. Não me interessa saber a opinião moral de Dilma Rousseff ou José Serra sobre aborto, mas sim como eles pensam em cuidar desses milhões de mulheres que chegam aos hospitais públicos para finalizar um aborto, com que fundamento legal e ético eles sustentariam a proibição do aborto em caso de estupro ou se eles acreditam que uma mulher deva ser forçada a se manter grávida mesmo sabendo que o feto não irá sobreviver. Essas são perguntas para um debate político sobre aborto e não questionamentos sobre quem é a favor ou contra o aborto.

Como vê a campanha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em defesa da vida nesta campanha presidencial?

As igrejas são livres para defender suas posições morais aos seus membros. Cabe às instituições democráticas demarcar o espaço legítimo reservado a elas, inclusive desmentindo-as em casos importantes para a vida social. Por exemplo, se uma determinada comunidade religiosa classificar a contracepção de emergência, hoje distribuída no Brasil pelo SUS, como abortiva, cabe ao Ministério da Saúde publicamente desmentir. As igrejas, entre elas a CNBB, que representa a Igreja Católica, têm diversas isenções de impostos por serem entidades de cunho religioso, portanto, não são partidos políticos. Essa é uma fronteira que cabe à sociedade civil monitorar quando ultrapassada. Outro ponto, que já ocorreu na Cidade do México, por ocasião da mudança da lei penal do aborto, que passou a ser permitido, foi a Igreja Católica ameaçando de excomunhão os juízes da Suprema Corte. Atitudes como essa devem ser repudiadas em uma democracia, pois significam o uso da força para impedir as mudanças

Como analisa o tema aborto em eleições presidenciais fora do Brasil?

Neste momento considera-se que o tema do aborto é capaz de decidir as eleições para Presidente da República no Brasil. Isso é um absurdo e pelo menos por três razões, algumas delas só nossas, outras que dialogam com o cenário internacional. A primeira razão é que há dezenas de outras questões fundamentais para os rumos do país, e que precisamos de clareza sobre as proposições dos candidatos, tais como a desigualdade social, a violência urbana, ou a questão rural. Colocar o aborto como questão prioritária é uma estratégia perversa de silenciar os temas que verdadeiramente importam para o debate político. A segunda razão é que esse fenômeno atualiza no Brasil o que foi o estilo Bush de governar, com o fortalecimento das religiões na política. Recentemente, Espanha e Portugal enfrentaram embates políticos semelhantes tendo o tema do aborto como questão central e em ambos o aborto foi reafirmado como um direito das mulheres. O retrocesso da legislação do estado da Califórnia sobre união entre pessoas do mesmo sexo foi um caso claro da interferência das religiões cristãs na política, em especial dos mórmons, e com apelo ao plebiscito. Por fim, é perverso ignorar o impacto que a ilegalidade do aborto tem na vida de uma mulher. As mulheres morrem e adoecem ao fazer um aborto ilegal. O risco não está no aborto como um ato médico, mas na ilegalidade do aborto. Elas passam a ser criminosas por resistirem à imposição do Estado em serem mães contra a vontade.


E você? A posição dos candidatos sobre o aborto influenciará em seu voto para presidente? Por quê?

*Nota de esclarecimento: por conta das perguntas dos leitores, gostaria de esclarecer alguns pontos sobre o aborto no Brasil:
1) A prática é ilegal, salvo quando a vida da mulher está em risco ou quando a gravidez é resultado de um estupro. Se a mulher realizar aborto pode pegar de um a dez anos de prisão. O médico que responsável pela prática também é punido.
2) A interrupção de gravidez realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nesses dois casos citados acima apenas acontece no início da gravidez e não aos nove meses de gestação, como perguntaram alguns aqui.

Kátia Mello - Paulistana, 44 anos, editora de Comportamento de ÉPOCA.

domingo, 10 de outubro de 2010

Por trás do golpe no Equador: a direita contra a ALBA

Por Eva Golinger

Organizações financiadas pela USAID e NED pedem a renúncia do presidente Correa, apoiando o golpe de Estado promovido por setores da polícia equatoriana, profundamente penetrada pelos Estados Unidos.

Uma nova tentativa de golpe contra um país da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) atenta contra a integração latinoamericana e o avanço dos processos de revolução democrática. A direita está no ataque. Seu êxito em 2009 em Honduras contra o governo de Manuel Zelaya encheu-a de energia, força e confiança para poder arremeter contra os povos e governos de revolução na América Latina.

As eleições do domingo, 26 de setembro, na Venezuela, apesar de que resultaram vitoriosas, principalmente para o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), cederam espaço às mais reacionárias e perigosas forças de desestabilização que estão a serviço dos interesses imperiais. Os Estados unidos conseguiram colocar suas peças chaves na Assembleia Nacional da Venezuela, dando-lhes uma plataforma para avançar com seus planos conspirativos para socavar a democracia venezuelana.

No dia seguinte às eleições na Venezuela, a líder pela paz na Colômbia, Piedad Córdoba, foi desabilitada como Senadora da República da Colômbia pela Procuradoria Nacional, baseando-se em acusações e evidências falsas. Porém, o ataque contra a Senadora Piedad simboliza um ataque contra as forças do progresso na Colômbia que buscam soluções verdadeiras e pacíficas ao conflito de guerra em que vivem por mais de 60 anos.

E agora, na quinta-feira, 30 de setembro, o Equador amanheceu sob golpe. Policiais insubordinados tomaram várias instalações na capital, Quito, criando caos e pânico no país. Supostamente, protestavam contra uma nova lei aprovada pela Assembleia Nacional na quarta-feira passada, que, segundo eles, recortava seus benefícios trabalhistas.

O presidente Rafael Correa, em uma tentativa de resolver a situação, dirigiu-se à polícia insubordinada; porém, foi atacado com objetos contundentes e bombas de gás lacrimogêneo, causando-lhe um ferimento na perna e asfixia devido ao gás. Foi trasladado ao hospital militar na cidade de Quito, onde, em seguida foi sequestrado e mantido à força, sem poder sair.

Enquanto isso, movimentos populares tomavam as ruas de Quito, reclamando a libertação de seu presidente, reeleito democraticamente no ano passado com uma imensa maioria. Milhares de equatorianos levantaram sua voz em apoio ao presidente Correa, tentando resgatar sua democracia das mãos de forças golpistas que buscavam provocar a saída forçada do governo nacional.

Apesar dos acontecimentos, há fatores externos envolvidos nessa tentativa de golpe, que movem de novo suas peças.

Polícia infiltrada

Segundo o jornalista Jean-Guy Allard, um informe oficial do Ministro da defesa do Equador, Javier Ponce, difundido em outubro de 2008, revelou que "diplomatas estadunidenses se dedicavam a corromper a polícia e as forças armadas".

O informe afirmou que unidades da polícia "mantêm uma dependência econômica informal com os Estados Unidos, para o pagamento de informantes, capacitação, equipamento e operações".

Em resposta à informação, a embaixadora dos Estados Unidos no Equador, Heather Hodges, declarou: "Nós trabalhamos com o governo do Equador, com os militares e com a polícia para fins muito importantes para a segurança", justificando a colaboração. Segundo Hodges, o trabalho com as forças de segurança do Equador está relacionado com a "luta contra o narcotráfico".

Embaixatriz

A embaixatriz Heather Hodges foi enviada ao Equador, em 2008, pelo então Presidente George W. Bush. Anteriormente, teve uma gestão exitosa como embaixatriz na Moldávia, país socialista que antes fazia parte da União Soviética. Na Moldávia, deixou semeada a pista para uma "revolução de cores", que aconteceu, sem êxito, em abril de 2009, contra a maioria eleita do Partido Comunista, no Parlamento.

Hodges esteve à frente do Escritório de Assuntos Cubanos, como vice-diretora em 1991, divisão do Departamento de Estado, que se dedica a promover a desestabilização em Cuba. Dois anos depois, foi enviada a Nicarágua para consolidar a gestão de Violeta Chamorro, presidente selecionada pelos Estados Unidos, após a guerra suja contra o governo sandinista, que saiu do poder em 1989.

Quando Bush a enviou ao Equador era com a intenção de semear a desestabilização contra Correa, no caso de que o presidente equatoriano se negasse a subordinar-se à agenda de Washington. Hodges conseguiu incrementar o orçamento da USAID e NED para organizações sociais e grupos políticos que promovem os interesses dos Estados Unidos, inclusive no setor indígena.

Ante a reeleição do presidente Correa, em 2009, baseada na nova Constituição aprovada em 2008 por uma maioria contundente de equatorianos, a embaixada começou a fomentar a desestabilização.

Ajuda externa

Alguns grupos sociais progressistas expressaram seu descontento com as políticas do governo de Correa. Não há dúvida de que existem legítimas queixas a seu governo. Nem todos os grupos ou organizações que estão contra as políticas de Correa são agentes imperiais. Porém, é certo que existe um setor dentro deles que recebe financiamento e linhas para provocar situações de desestabilização no país, além das expressões naturais de crítica ou oposição a um governo.

Em 2010, o Departamento de Estado aumentou o orçamento da USAID no Equador para mais de 38 milhões de dólares. Nos últimos anos, um total de $ 5.640.000 em fundos foi investido no trabalho de "descentralização" no país. Um dos principais executores dos programas da USAID no Equador é a mesma empresa que opera com a direita na Bolívia: a Chemonics. Ao mesmo tempo, a NED outorgou um convênio de $ 125.806 para o Centro para a Empresa Privada (CIPE), para promover os Tratados de Livre Comércio, a globalização e a autonomia regional através da rádio, TV e imprensa equatorianas, juntamente com o Instituto Equatoriano de Economia Política.

Organizações no Equador, como Participação Cidadã e Pró-Justiça dispõem de financiamento da USAID e NED tanto como membros e setores de CODEMPE, Pachakutik, CONAIE, a Corporação Empresarial Indígena do Equador e a Fundação Qellkaj.

Durante os acontecimentos da quinta-feira, 30 de setembro no Equador, um dos grupos com setores financiados pela USAID e NED, o movimento Pachakutik, emitiu um comunicado apoiando a polícia golpista, exigindo a renúncia do presidente Rafael Correa e responsabilizando-o pelos fatos. Inclusive, o acusou de manter uma "atitude ditatorial":

"PACHAKUTIK PEDE A RENÚNCIA DO PRESIDENTE CORREA E CHAMA A CONFORMAR UMA SÓ FRNETE NACIONAL

Boletim de Imprensa 141

O Chefe do Bloco do Movimento Pachakutik, Cléver Jiménez, diante da grave comoção política e crise interna gerada pela atitude ditatorial do Presidente Rafael Correa, ao violentar os direitos dos servidores públicos e da sociedade em seu conjunto, convocou ao movimento indígena, movimentos sociais, organizações políticas democráticas a constituir uma só frente nacional para exigir a saída do presidente Correa, ao amparo do que estabelece o Art. 130, inciso 2 da Constituição, que diz ‘A Assembleia Nacional poderá destituir o presidente da República nos seguintes casos:

2) Por grave crise política e comoção interna’.
Jiménez respaldou a luta dos servidores públicos do país, incluindo aos policiais de tropa que se encontram mobilizados contra as políticas autoritárias do regime que pretende prejudicar direitos trabalhistas adquiridos. A situação dos policiais e membros das Forças Armadas deve ser entendida como uma justa ação de servidores públicos, cujos direitos foram vulnerados.
Pachakutik está convocando para esta tarde a todas as organizações do movimento indígena, aos trabalhadores, homens e mulheres democráticos a construir a unidade e preparar novas ações em rechaço ao autoritarismo de Correa, em defesa dos direitos e garantias de todos os equatorianos.
Responsável de Imprensa
Bloco Pachakutik".

A guia utilizada na Venezuela e em Honduras se repete. Tentam responsabilizar ao Presidente e ao governo pelo "golpe", forçando sua saída do poder. O golpe contra o Equador é a próxima fase da agressão permanente contra a Alba e os movimentos revolucionários na região.

O povo equatoriano se mantém mobilizado em rechaço à tentativa golpista, enquanto as forças progressistas da região se agrupam para expressar sua solidariedade e respaldo ao presidente Correa e ao seu governo.


Eva Golinger é advogada venezuelano-estadunidense.

sábado, 9 de outubro de 2010

Marina está numa sinuca de bico e o PT flerta com a derrota

Eu encontro essas análises inteligentes sobre o contexto eleitoral e posto aqui para divulgar.(Ninféia G)

Marina está numa sinuca de bico e o PT flerta com a derrota

Por : Celso Lungaretti


O day after foi melancólico.

De um lado, os demotucanos estão sendo bem persuasivos nas tentativas para convencer Marina Silva a suicidar-se politicamente.

Tomara que ela não ouça o canto dessas sereias -- como as mitológicas, carnívoras.

Se fizer uma composição com os representantes da ganância capitalista exacerbada e sem limites, ajudará a devolver o poder à pior direita brasileira.

Em termos ambientais, será um desastre.

E, claro, isto lhe seria cobrado adiante: sua responsabilidade pessoal num grave retrocesso histórico.

Iria virar uma morta sem sepultura, como o ex-Gabeira.

Voltar à esfera de influência do PT para receber um Ministério mais importante desta vez? É pouco para a dimensão que ela atingiu. Só se lhe oferecerem bem mais.

O pior é que seu partido já não é mais verde: amadureceu e apodreceu. Está traindo o compromisso assumido de combater as práticas ambientais predatórias, ao aliar-se com quem as encarna.

Então, Marina está numa sinuca de bico.

Como a decisão de a quem apoiar no 2º turno é impostergável, a sabedoria política manda que fique neutra, liberando o voto do seu eleitorado.

Assim, conservará intacto o patrimônio político que acumulou como terceira via, preservando-se para passos mais ambiciosos no futuro.

Depois, com mais vagar, vai ter de escolher um partido para o projeto 2014 , já que o PV virou mera linha auxiliar da direitona.

Aliás, a única afirmação reveladora de Marina nesta 2ª feira, desconsiderado o blablablá convencional sobre as consultas que fará antes de anunciar sua decisão, foi esta:

"O resultado que tivemos de aprovação ao projeto meu e do [vice] Guilherme [Leal] é muito maior que o nosso partido ".

Corretíssimo. Ela precisará de um partido mais adequado para suas pretensões vindouras, nem que tenha de criar um, como Fernando Collor fez (PRN).

Suas próximas decisões determinarão se ela é uma estrela que veio para ficar ou uma supernova que logo irá perdendo o brilho, como Heloísa Helena.

FASCINADOS PELO ABISMO

Já as avaliações que petistas fizeram do resultado frustrante foi mais frustrante ainda: aconselharam a campanha de Dilma a perseverar nos erros.

Uns falam em esclarecer melhor a questão do aborto, no sentido de tentar iludir o eleitorado, martelando sem parar que, desde criancinha, ela nega às mulheres o direito de opção.

Cogitam até a retirada da descriminalização do aborto do programa do PT.

Então, estamos combinados: se filmes repulsivos como Tropa de Elite conseguirem convencer contingente expressivo do eleitorado de que a tortura é válida, o PT correrá a apoiar a tortura...

O recuo em questão só servirá para fazê-la parecer oportunista e falsa, pois o que disse no passado está publicado e será relembrado ad nauseam pelos antagonistas.

Outros dirigentes petistas recomendam a insistência nas comparações entre os governos de Lula e de FHC, quando a comparação a ser feita é bem outra: entre um projeto político esquerdista, sintonizado com a justiça social, e um projeto político direitista, sintonizado com a desigualdade e a exclusão inerentes ao capitalismo.

Caso seja necessário, ilustrarei com desenhos: O PT NÃO VAI GANHAR ESTA ELEIÇÃO SEM SUA MILITÂNCIA IDEALISTA, AQUELA QUE SÓ SE MOBILIZARÁ POR MUDANÇAS EM PROFUNDIDADE E NÃO POR RETOQUES COSMÉTICOS NA FACE MONSTRUOSA DO CAPITALISMO .

Para esvaziar a ofensiva ideológica direitista, terá de guinar à esquerda.

Se continuar em cima do muro, ambíguo e cauteloso, alienará seus apoios naturais e nem sequer vai conquistar o eleitorado conservador de classe média, que sempre se colocará na trincheira contrária.

Trata-se da receita infalível para ser inapelavelmente batido, jogando no ralo uma eleição que estava 99% ganha.


Celso Lungaretti é Jornalista e escritor.
naufrago-da-utopia.blogspot.com

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Crianças em ação: Por escola, terra e dignidade

Jornada Sem Terrinha deve envolver 12 mil crianças entre 5 e 15 de outubro em todo o Brasil

No mês de outubro, se comemora o Dia das Crianças.

A data foi oficializada na década de 1920, pelo decreto nº 4.867, de 5 de novembro de 1924.

Mas só se tornou “popular” em 1960, quando a fábrica de brinquedos Estrela, em conjunto com a Johnson & Johnson, fez uma promoção para aumentar suas vendas, lançando a "Semana do Bebê Robusto".

Desde então a criança é uma “peça chave” para o consumo. O mercado tenta manipular seus desejos para promover vendas de produtos de todo tipo.

O MST fez do mês outubro uma referência de luta das crianças Sem Terrinha.

Desde 1994, buscamos desenvolver os Encontros Sem Terrinha nos estados onde estamos organizados. Os encontros são momentos de muita mística para toda a organização, pois as crianças se envolvem desde sua preparação até a realização.

É um espaço em que as crianças levam seu jeito de lutar, brincando, aprendendo e reivindicando.

Neste ano, 15 estados realizarão encontros estaduais e regionais, reunindo mais de 12 mil crianças em todo o Brasil.

O lema que nos motivará é o que construímos ao longo de nossa história e ainda é muito atual: “Por escola, terra e dignidade!”

Leia mais sobre esse movimento em :

http://www.mst.org.br/jornada-sem-terrinha-2010

O consenso fraudado da democracia

Por Roberto Numeriano

Uma das principais discussões dos teóricos da Ciência Política brasileira é sobre a qualidade da democracia do país. Como cientista político e agente político, percebo que esta discussão, embora necessária, está cada vez mais subordinada (e seqüestrada) por uma matriz norte-americana, cujos focos de pesquisa e interesses são, no que concerne à democracia brasileira, estreitos em termos político-ideológicos e propriamente políticos. Não me ocupo, a seguir, de uma análise das causas dessa subordinação (um dia, nossos cientistas políticos, tão solenes em falar obviedades a partir de estatísticas eleitorais, talvez consigam olhar o Brasil sem as viseiras teóricas anglo-saxãs). Pretendo, em breves linhas, tratar de algo perigoso e invisível, pois aparentemente natural no cotidiano da política e dos políticos brasileiros: a consagração de uma ideologia de natureza neofascista e o fim da política, efeito direto do enfraquecimento do nosso regime semidemocrático.

A olhos vistos, estão visivelmente desmanchando-se, no Brasil, alguns elementos condicionantes do que podemos chamar de uma institucionalidade política de corte liberal. Esta institucionalidade nunca foi robusta, está / estava apenas em formação, em forma e conteúdo, por meio de institutos e órgãos públicos e privados que lhe davam / dão uma funcionalidade e um perfil. Sua fraqueza acentua-se, entre outras coisas: a) pela judicialização da política; b) pela ausência / desprezo da isonomia na disputa eleitoral (assegurada pelos próprios TSE / STF); c) pelo abusivo poder discricionário da mídia em ignorar candidatos diferenciados, em termos político-ideológicos; e d) pela falta total de vigilância / controle sobre a ação do capital privado (industrial e financeiro, sobretudo) em “apoiar” uma rede de candidatos do capital, cartelizando a disputa em todos os níveis.

Estas causas produzem, a cada eleição, um consenso fraudado da representação política nas casas legislativas do país. Poderíamos, nós comunistas do PCB, até “gostar” desse desmanche, dado que talvez pudesse representar dialeticamente a gestação de algo novo, um conteúdo prenunciando uma nova política. Pensar assim (na perspectiva do “quanto pior, melhor”) seria uma rematada estupidez política. Desse quadro não sairá nada de superior, antitético, para conformar uma síntese. O que vemos é a gestação de um ovo da serpente, tanto mais letal na medida em que os políticos burgueses, lambuzando-se no festim dos milhões de votos desse consenso fraudado, nessa democracia de papel, consagram-se sob as bênçãos do capital, das togas autoritárias e da imprensa vil e venal.

A serpente desse ovo é neofascista. Não necessita da força, da ameaça, da perseguição. Ela simplesmente inocula na vida política das instituições e na mentalidade política dos cidadãos uma visão naturalizada dos embustes da semidemocracia brasileira. E cria até mistificações do tipo “Ficha Limpa”, pois esta (embora uma iniciativa positiva) não vem acompanhada da necessária vigilância e efetivo controle sobre o uso (em geral, sujo, para compra de votos) dos milhões de reais “doados” por essas almas de empresários caridosos, durante as campanhas eleitorais. Quem não sabe que qualquer empresário, na verdade, empresta dinheiro aos candidatos da ordem político-ideológica burguesa, e depois cobra com juros de agiota político (que tal auditar as licitações nas quais concorrem empresas da construção civil que “apóiam” os candidatos com chances fortes de vencer?). No Brasil, ser honesto é favor.

Em Pernambuco, nestas eleições, podemos identificar, como fenômenos particulares daquele enfraquecimento institucional referido, o delineamento de dois projetos sociais, políticos e econômicos antagônicos, como propostas de governo, à esquerda e ao centro. Ainda que, nestes campos ideológicos, haja nuances quanto ao grau de radicalidade das propostas político-sociais de cada grupo / coalizão partidária, para menos ou mais, vemos consolidar-se no Estado, a cada eleição, duas agendas opostas que talvez reflitam a) o estreitamento das margens de intervenção / influência, à esquerda, nos processos político-eleitorais, e b) a hegemonização, pelo centro, desses mesmos processos, provocando ao mesmo tempo aquele estreitamento.

Para efeito de ificação, definimos aqui como esquerda política do Estado os partidos PCB, PSOL e PSTU. E de centro o PT e o PSB, pois ainda que seus estatutos e discurso militante retoricamente aludam ao vocábulo socialista, efetivamente, estas duas agremiações concebem e praticam a política em si e as políticas públicas com arranjos institucionais de centro, à guisa de tentar equilibrar a relação capital-trabalho na gestão estatal – o que apenas decalca a mesma prática e concepção do lulismo, em nível nacional. Não tratamos, aqui, dos partidos de direita e / ou centro-direita pelo fato dessas agremiações não formularem uma agenda político-social na qual seja possível discernir diferenças de fundo com a centro-esquerda amestrada pela e financeira e industrial que se apropria do Estado na teoria e na prática. Esta é, aliás, a grande desgraça do DEM, PSDB e PPS: prepararam um belo jantar para os convivas estranhos (PT e PSB) degustarem não apenas os pratos, mas também se apropriarem da cozinha, ou seja, do Estado. Olhem com cuidado e tentem encontrar nas agendas político-sociais de ambos os candidatos das coalizões partidárias de centro e de direita concepções de gestão pública, grau de domínio da tecnocracia, grau de intervenção do poder estatal etc, algum fundamento político-ideológico que, em essência, os antagonizem. Quanto ao PV, não sabemos ainda o que é ideologicamente, ainda que seu discurso também se incline para uma concepção político-ideológica de centro. A rigor, o PV, hoje, podia estar tanto coligado com o PT quanto com o PSDB.

Na judicialização da política (e no seu oposto antitético, ou seja, a politização do Judiciário), vemos a falência das instituições cujo papel é manter / aprimorar os sistemas de controle e fiscalização em nome dos princípios republicanos. Nos últimos anos, a influência do Executivo sobre o Poder Judiciário institucionalizou uma relação de promiscuidade – e aqui incluímos o PT e o PSDB, na mesma medida, pois o fenômeno não começou nas gestões de Lula. O candidato Serra teria ligado para o ministro Gilmar Mendes? Os ministros do STF abençoados pelo PT votam com independência?

A ausência / desprezo da isonomia na disputa eleitoral (assegurada pelos próprios TSE / STF) e o abusivo poder discricionário da mídia em ignorar candidatos diferenciados, em termos político-ideológicos, são outros graves sinais do neofascismo. Como se concebe que uma lei regulamente e permita, pela mídia, tratamento desigual para iguais? Ou não devem ser considerados iguais, na disputa, os candidatos inscritos para concorrer? Afinal, qualquer candidato ao Executivo exercerá seu mandato no início da nova legislatura. Já imaginaram a situação, conforme essa lei autoritária, de o PCB eleger 40 deputados federais ou 10 senadores e os seus candidatos aos governos estaduais e à presidência da República não terem tido espaço nos debates das TVs? Não é absurdo, ainda, uma TV privada, que opera mediante concessão pública do sinal, decidir se convida ou não determinados candidatos majoritários? O PT e o PSDB, que se acusam sobre o tema do cerceamento da liberdade de imprensa e de expressão, sequer tocam nesta questão. É claro que o PT, caso fora do poder e submetido a esta situação, estaria vociferando e pregando “fora, Presidente”, como nos velhos tempos.

Por último, a falta total de vigilância / controle sobre a ação do capital privado (industrial e financeiro, sobretudo) em “apoiar” uma rede de candidatos do capital, cartelizando a disputa em todos os níveis, é outro sinal da falência do processo político-eleitoral. No dia 3 de outubro haverá uma derrame de dezenas de milhões de reais, país afora, no tradicional mercado da compra e venda de votos. Muitos “fichas limpas”, por meio dos seus cabos (bandidos) eleitorais, estarão distribuindo desde 5 a 50 reais pelo voto, sobretudo nas periferias miseráveis das capitais e grandes cidades. Centenas de candidatos serão eleitos neste vergonhoso mercado. As burras cheias pelos Caixas 2 vão se abrir generosamente para dar corpo ao consenso fraudado. O PT e o PSDB querem realmente uma reforma política que crie, por exemplo, o financiamento público e fiscalizado das campanhas? Em dezesseis anos de poder sempre postergaram, em interesse próprio, essa necessidade.

A campanha político-eleitoral de 2010 sedimentou, na forma e no conteúdo, uma institucionalidade política conformada pelo poder do capital privado, que perverte o instituto da representação parlamentar, mesmo nos limites da ideologia política liberal. Não somos adeptos do profetismo político, mas desse quadro de promiscuidade ideológica, corrupção eleitoral e falência das instituições não deverá sair uma democracia robusta. Sobretudo porque, como a história nos ensina, a direita brasileira não suporta viver muito tempo na oposição. O problema, contudo, reside no fato de que o PT, no exercício do poder, não difere em essência dessa mesma direita “social-democrata”, em termos de concepção de Estado e modelo de governança.

O que se conformar na política de Pernambuco estará essencialmente relacionado com o quadro nacional. Caberá à única oposição político-ideológica no Estado, ou seja, aos partidos de esquerda, diagnosticar a situação e formular uma agenda de lutas junto aos movimentos sociais e populares, sobretudo, mas não exclusivamente. Os desafios são gigantescos para poucos militantes e pequenas estruturas. Mas, se resistimos até agora, porque não podemos começar a construir, desde já?



Roberto Numeriano é membro do Comitê Central do PCB e dirigente estadual.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Carta aberta à Marina Silva

Marina,...você se pintou?

Por Maurício Abdalla [1]

“Marina,
morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é
provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher,
militante, ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e
o grito dos pobres”, como diz Leonardo.

Dizem
que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é
certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais
e de pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que
diz respeito a escolhas partidárias?

Mas
ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não
pela causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato
de que as verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não
interessam aos financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de
comunicação. A batalha não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra.
Do governo Lula contra o governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as
“famiglias” que controlam a informação no país. E elas não só decidiram
quem iria duelar, mas também quiseram definir o vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.

Mas
a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava
fazendo água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por
Dilma, mas seu apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em
intenção de voto em sua candidata. Mas “os filhos das trevas são mais
espertos do que os filhos da luz”. Sacaram da manga um ás escondido.
Usar a Marina como trampolim para levar o tucano para o segundo turno e
ganhar tempo para a guerra suja.

Marina,
você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul
tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta
junto aos seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos
grandes meios de comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja,
a FSP, o Estadão jamais se preocuparam com a ecologia profunda. Eles
sempre foram, e ainda são, seus e nossos inimigos viscerais.

Mas
a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não
cansa de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de
grego. Hão de descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua
luta e contra quem ela se dirige.

“Marina,
você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul
tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores
se iludam acreditando que você está mais perto de Serra do que de
Dilma. Que não pensem que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem
que para você “tanto faz”. Que os percalços e dificuldades que você
teve no Governo Lula não a façam esquecer os 8 anos de FHC e os 500
anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja maioria vive na
senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que gosta e
é só dele”.

Dilma,
admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos
mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos
paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina,
você já é bonita com o que Deus lhe deu”.



Maurício Abdalla é Professor de filosofia da UFES, autor de Iara e a Arca da Filosofia (Mercuryo Jovem), dentre outros.
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