terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os direitos humanos e a Presidente.

Por Laerte Braga

É compreensível que Dilma Roussef queira uma posição clara e definida do
Brasil sobre direitos humanos em todo o mundo. Deve querer inclusive no
Brasil. A abertura dos arquivos da ditadura militar. Ela própria vítima da
boçalidade dos patriotas e redentores da pátria.

Por outro lado é incompreensível que a iraniana tenha sido condenada a morte
por crime de adultério e co-autoria na morte do marido. Que a pena de morte
se materialize num apedrejamento é a negação do caráter libertador da
revolução islâmica no Irã.

Há dias um preso foi executado num estado norte-americano com uma injeção
destinada a sacrificar animais doentes. Padeceu dezoito minutos de
insuficiência respiratória antes do óbito. A injeção letal estava em falta,
alguns dos seus componentes e um deles o anestésico, o analgésico.

É característica de uma sociedade doentia, a dos EUA.

As instruções divulgadas pela mídia sobre a determinação da presidente ao
ministro das Relações Exteriores para que não haja omissão de voto
brasileiro sobre esse tema, direitos humanos, no todo, em si, soam
imprecisas.

Como tratar o campo de concentração de Guantánamo? Prisioneiros sem culpa
formada, seqüestrados em seus países, tratados como animais?

Ou nas prisões do Iraque durante a guerra naquele país, agora no Afeganistão
e as condições bárbaras e cruéis que o estado fascista de Israel impõe a
presos palestinos?

Uma das exigências do governo do conglomerado terrorista EUA/ISRAEL
TERRORISMO S/A é que seus soldados e agentes não sejam submetidos ao
tribunal internacional que trata do tema, podendo, assim, praticar toda a
sorte de barbáries que praticam no mundo, aí está o WIKILEAKS a mostrar a
natureza hedionda da sociedade norte-americana.

A determinação da presidente se aplica apenas ao caso da iraniana, ou vai se
estender ao terrorismo de estado dos EUA e de ISRAEL?

E ao fazê-lo dá a sensação que no governo do ex-presidente Lula o assunto
era tratado com desdém, ou com omissão. Foi a ação do ex-ministro Celso
Amorim que evitou que Sakineh fosse apedrejada e esteja viva até hoje.

Quando de eventuais acordos entre Brasil e EUA o governo brasileiro não
aceitou a impunidade pretendida por norte-americanos para ações no Brasil,
exceto aquelas previstas no direito internacional e comuns a todos os
países. Os acordos não foram fechados.

A violência está inoculada no ser humano nos dias atuais. Virou de tal forma
uma situação banal que não espanta ninguém, pelo contrário.

Multidões acorrem aos cinemas para assistir a oficialização do esquadrão da
morte agora chamado de BOPE. BATALHÃO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS. Atua à margem
da lei e acaba sendo uma versão cabocla do serviço secreto inglês na versão
de Ian Fleming, naquele negócio de duplo zero. O direito de matar.

Há uma frase célebre de um policial que depois se descobriu corrupto,
elegeu-se deputado por conta disso, o tal Sivuca, que bandido bom é bandido
morto.

Que tal os direitos humanos das vitimas de Daniel Dantas nas suas trapaças?

Ou nos índios e camponeses desalojados por Ermírio de Moraes e suas empresas
no afã do tal progresso? Que progresso?

O que transforma um estado inteiro, o extinto Espírito Santo em um campo de
concentração de grandes grupos econômicos acobertados por autoridades e
garantidos por pistoleiros oficiais e não oficiais?

É preciso explicar melhor esse negócio de não se abster, de não se omitir na
questão dos direitos humanos.

Existem centenas de famílias de brasileiros esperando informações sobre o
paradeiro de seus entes desaparecidos nos quartéis da ditadura. Essa atitude
impositiva vai valer também para efeitos internos, ou só para estigmatizar o
Irã, fechando portas à própria condição de prisioneira de Sakineh?

Na Colômbia milhares de jovens foram assassinados por paramilitares no
governo de Álvaro Uribe e como fica isso, se Uribe é um dos homens de
confiança de Washington em missões sobre exatamente “direitos humanos.

O WIKILEAKS jogou por terra a máscara que caracterizava a hipocrisia
norte-americana sobre o assunto, como é que vai ser a posição do novo
governo sobre o assunto?

No Haiti, onde em tese o Brasil tem o comando das forças de intervenção da
OEA – ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS , Cuba tem perto de 1320 médicos
tratando haitianos vítimas de cólera e alcançando índices surpreendentes de
cura num menor espaço de tempo possível. Os médicos brasileiros que lá estão
puderam contatar os cubanos e conhecer o tratamento aplicado por eles. Obama
proibiu os norte-americanos de fazê-lo.

É crime. É violação dos direitos humanos.

Mas, sempre o mas, as reservas petrolíferas na costa haitiana são imensas e
vai daí que, pois é.

Registre-se que Cuba não pertence a OEA e está lá por decisão humanitária do
seu governo.

A grande preocupação dos EUA hoje é exatamente a simpatia dos haitianos
pelos cubanos por conta do trabalho realizado e dos resultados alcançados.

Quando em visita a Alemanha o ex-presidente Lula, na coletiva que deu junto
com a chanceler Angela Merkel, ouviu da alemã que era preciso adotar medidas
para pressionar o Irã e evitar que o país construísse ou venha a construir
armas nucleares.

De bate pronto o presidente brasileiro respondeu assim. Que concordava, mas
é preciso que quem pede isso tenha moral para fazê-lo, ou seja, não tenha
armas atômicas. Merkel não disse nada, Lula estava se referindo aos EUA e a
Alemanha é hoje colônia do conglomerado terrorista, com mais de duzentas
ogivas nucleares em seu território contra um inimigo que não existe. As tais
bases da OTAN “ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE “.

Uma palestina que protestava contra o muro construído pelo governo sionista
de Israel em terras palestinas roubadas e saqueadas, foi morta em ação
repressiva dos invasores sionistas. O Brasil de Dilma vai protestar contra
esse fato vergonhoso? Foi no final da semana passada.

O filho de Sakineh pediu perdão pelo crime da mãe, em entrevista a jornais
ocidentais (A GLOBO não fala nada, lógico, está no bolso dos donos do
mundo), pediu que a mãe não seja executada. A culpa? Co-autoria no
assassinato do marido.

Dois pesos e duas medidas no voto brasileiro a partir de agora?

Quando Dilma estava presa, depois de ter sido torturada, submetida a toda a
sorte de humilhações pelos militares brasileiros, o embaixador dos EUA aqui
dizia a Nixon, presidente do conglomerado terrorista que a “a situação dos
direitos humanos no Brasil é trágica. A resposta de Nixon foi simples :
mas fazer o que o general Médice é um bom aliado nosso.

Política da hipocrisia, do cinismo.

Ou a presidente esclarece esse trem direito, ou vai ficar a impressão que
amigos podem matar a vontade e inimigos não.

Isso é cinismo. Um grande equívoco e um péssimo início no campo da política
externa.

Na história dos EUA não existe, nos últimos cem anos, um único registro de
governador ou presidente da República que tenha dado o perdão a um preso
condenado a morte.

Bush tem o mais alto índice de condenação quando governador do Texas.

Em dois de maio de 1960 o mundo inteiro ficou
chocado com a execução de Caryl Chessman na prisão de San Quentin, câmara de
gás, depois de anos a fio lutando para ter sua pena comutada para prisão
perpétua.

À porta da prisão figuras como Marlon Brando, Paul Newman, Norman Mailer,
milhares de cidadãos comuns. Em várias capitais de países europeus,
latino-americanos, asiáticos, africanos, manifestações contra a condenação
de Chessman.

Eisenhower deu uma banana para o mundo inteiro. Chessman foi executado.

Ahmadinejad acolheu o pedido de Lula e Celso Amorim, suspendeu a execução de
Sakineh por apedrejamento e mandou rever o processo.

Mais de mil condenados aguardam execução em penitenciárias norte-americanas
nos estados onde ainda existe a pena de morte.

É possível que Dilma tenha levado em consideração que ao contrário de
Sakineh, os norte-americanos, mesmo os mortos por injeções destinadas a
sacrificar animais doentes, têm direito a uma última refeição, um último
cigarro e a extrema unção.

Deve ser por aí.


Laerte Braga é jornalista, trabalhou no Diário Mercantil e no Diário da Tarde de Juiz de Fora, para os Diários Associados e pela agência Meridional (primeira grande agência de notícias do Brasil) e também dos Diários e Emissoras Associadas, tendo sido correspondente do Estado de Minas de Juiz de Fora e Zona da Mata, e também trabalhou como freelancer para revistas e jornais do Brasil e de outros países. Laerte escreve semanalmente ao Diário Liberdade.

Um comentário:

  1. E ainda tem gente que entende que ela( a Presidente)não deve mexer no passado( deve dar uma de Tancredo que disse qu não mexeria no passado)esse mesmo passado no qual ela foi ntorturada, humilhada, e seus companheiros assassinados pór lutarem contra a pressão.
    E ainda tem que diga que o Irã é um país mau!!!
    Maniqueismo é mesmo uma praga!!!

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