Por Antonio Pimenta
Na descrição de um analista paquistanês, os manuais de atentados da Al Qaeda são “muito parecidos” com aqueles manuais que a CIA forneceu para os contras na Nicarágua
A mídia não está cabendo em si de tanta excitação. Depois de um dia inteiro de glamour no casamento de Lady Kate com o príncipe William, em Londres, viveu a surpresa de, dez anos após a invasão do Afeganistão, ter a morte do chefe da Al Qaeda, Osama Bin Laden, afinal anunciada, no início da madrugada da segunda-feira (hora local), pelo presidente dos EUA.
Osama, que já foi visto nas cavernas de Tora Bora e até nas montanhas do Iêmen, foi afinal abatido em uma mansão-fortaleza, a menos de 100 km da capital paquistanesa, Islamabad, e a uns 100 metros da academia militar do país, a Agulhas Negras de lá. Mas tanta comemoração da mídia serviu principalmente para esconder que foi a CIA que o criou, adestrou, armou e controlou de 1979 a 1991.
ESQUADRÃO
Um esquadrão da morte enviado por Washington, e sem aviso ao governo de Islamadad, violou espaço aéreo e território soberanos do Paquistão e executou Osama, embora ainda não se saibam os detalhes, e depois jogou o corpo no mar, segundo cerimônia litúrgica da CIA que ficou muito em voga na Argentina na década de 1970. Repetindo W. Bush, Obama disse que a "justiça foi feita", mas pela pressa, além da falta até de uma mera foto, mais parece queima de arquivo. A falta de qualquer comprovação de que a execução aconteceu e de que o executado foi realmente Osama tem causado estranheza no mundo inteiro.
Filho de um empreiteiro que fez fortuna pegando as beiradas dos acordos da família real com os EUA para aplicação dos petrodólares, Osama ainda na universidade se aproximou do wahabismo, versão extremista do Islã patrocinada pelos sauditas. Entre 1979 e 1991, ele foi uma peça chave da estratégia dos EUA, apoiada pelos petrodólares da Arábia Saudita, e pelo serviço secreto paquistanês, para combater as transformações que a revolução popular vinha realizando no Afeganistão, como os direitos à mulher, educação pública e gratuita, a reforma agrária, a separação igreja-Estado e o combate ao milenar tráfico de ópio. Foi possivelmente, ao lado do psicopata Jonas Savimbi, o carniceiro de Angola, o mais famoso "combatente da liberdade" da época, que o presidente Reagan exaltava.
Apesar de os propagandistas do império dizerem que foi "a invasão do Afeganistão" que causou a enxurrada de "combatentes da liberdade" de que Osama se tornou o principal articulador, o conselheiro de segurança nacional de Carter, Brzezinski, admitiu faz tempo que a decisão da CIA de jogar pesado no Afeganistão com o objetivo de desestabilizar a União Soviética, foi tomada pelo menos seis meses antes. A "Operação Ciclone" foi a maior ação de desestabilização feita até então. Os sauditas entravam com o Wahabismo e os petrodólares, e o serviço secreto paquistanês canalizava até o Afeganistão a avalanche de pessoal, dinheiro e armas liberados pelos EUA. Só da Arábia Saudita, estima-se em 15 mil o total de "voluntários" pró-CIA. Dentro do Afeganistão, a base social era de plantadores de papoulas para o ópio, ladrões, latifundiários e mulás fanatizados.
No início, Osama fazia o recrutamento de contrarrevolucionários e os conduzia ao Afeganistão, mas sem cruzar a fronteira. A partir de 1984, passou a participar das sabotagens e outras operações de guerra, com um grupo de adeptos, que se tornaria a Al Qaeda. Em 1989, a URSS decidiu empreender sua retirada, e o governo popular, apesar de toda a agressão, conseguiu se manter no poder, o que só se tornou inviável em 1992, quando a queda do sistema socialista o deixou sem retaguarda.
Quando os EUA, durante a Guerra do Golfo, desembarcaram tropas em solo sagrado, Meca e Medina, com aprovação dos Saud, Osama rompeu com os antigos patrocinadores, o que se agravou com a permanência das tropas após o fim da agressão ao Iraque, em 1991. A partir daí, a criatura se volta contra o criador, até a execução no domingo. No Afeganistão, a devastação causada pela ação conjunta dos EUA, sauditas e governo paquistanês acabou levando à tomada do poder pelo Taliban, montado e armado pelo serviço secreto de Islamabad.
FOLHA CORRIDA
Em 1994, Osama teve sua cidadania cassada pela realeza. Ele havia se transferido para o Sudão em 1992, de onde teve de se retirar após pressões dos EUA, retornando ao Afeganistão. Em 1998, foram feitos ataques às embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, com 224 mortos e centenas de feridos, atribuídos à Al Qaeda. Em 2000, ação no Iêmen acertou o navio US Cole. Nesse ínterim, a petroleira Unocal iniciou conversações com o Taliban, para construir um oleoduto que escoasse o petróleo do Mar Cáspio, atualmente, controlado principalmente pela Rússia e Irã. Mas as negociações entraram em impasse.
Em 11 de setembro de 2001, as torres gêmeas de Nova Iorque desabam após atingidas em cheio por aviões carregados de combustível e pilotados por agentes supostamente da Al Qaeda. Também é atingido o prédio do Pentágono. A pretexto de capturar Osama, o governo de W. Bush, invade o país, onde os EUA estão atolados há dez anos. Mas até hoje lá está o dedo da CIA: na descrição de um analista paquistanês, os manuais de atentados da Al Qaeda são "muito parecidos" com aqueles manuais que a CIA forneceu aos contras na Nicarágua.
http://www.horadopovo.com.br/2011/maio/2955-04-05-2011/P7/pag7a.htm
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