" Um amigo enviou-me esse artigo e o considerei extremamente importante por isso estou divulgando.Na verdade, o texto contém um alerta sobre o perigo que SEMPRE vem dos EEUU, de uma forma ou de outra"(Ninféia G)
O "Ovo da Serpente" reaparece 100 anos depois, com o quadro de mais uma (e talvez mais grave) crise cíclica do capitalismo, desemprego em larga escala, desestruturação social, emergência do fascismo, xenofobia, intolerância....
O PONTO A QUE CHEGAMOS:
O MUNDO NAS MÃOS DO TEA PARTY
Os republicanos querem manter Obama sob rédea curta e aprovar uma elevação do endividamento público dos EUA suficiente para mais seis meses à base de pão e água. Depois, negociam mais meia cuia de água. Assim por diante, até Obama chegar às eleições de 2012 como um cachorro velho, mudo e sem dente. Um cão arrastado pelo rabo.
Mas a extrema direita do partido, meia centena de membros do Tea Party, acha pouco e entornou o caldo da votação do pacote conservador na Câmara, deixando as finanças do mundo de cabelos em pé. O Tea Party quer recolher Obama/'a gastança' na carrocinha e é já. Um clamor uníssino de vozes cortou a narrativa dominante do Financial Times ao Globo, qualificando os indômitos seguidores de Sarah Palin de demenciais. É preciso cautela. O Tea Paty pode ser tudo, mas não é um hospício encastoado na alavanca republicana que embalou Bush, concluiu a desregulação das finanças até o colapso de 2008, dizimou o Iraque, retalhou o Afeganistão e agora incendeia a Líbia, entre outras miudezas do ramo.
O neonazista norueguês que encravou balas dum-dum nas vísceras de um pedaço da juventude progressista do seu país tampouco é um demente, como querem rapidamente resolver o caso certos veículos e personagens do conservadorismo urbi et orbi. Tea Patty e Andres Behring Breivik são um produto refinado da história.
De anos --décadas-- de ódios e pregação conservadora contra o Estado, contra a justiça fiscal; contra o pluralismo religioso; contra os valores que orientam a convivência compartilhada. Sobretudo, o princípio da igualdade e da solidariedade que norteia a destinação dos fundos públicos à universalização do amparo aos doentes, à velhice, aos desempregados, aos famintos, aos loosers brancos ou negros, nacionais ou imigrantes. Breivik e o Tea Party assimilaram o cânone. Se agora escapam ao criador, louve-se a competência da madrassa neoliberal. Na crise, ambos apenas confirmam a esférica densidade da formação que receberam e investem contra a desordem. Com fé no mercado e o dedo no gatilho.
Fonte: Carta Maior; 6º feira, 29/07/ 2011)
sexta-feira, 29 de julho de 2011
sexta-feira, 15 de julho de 2011
O Massacre de Corumbiara, em Rondonia, 9 de agosto de 1995- Eventos da realidade do Brasil, um país de muita terra em mãos de pouquíssimos donos.
Por Ninféia G
Nas minhas andanças pelo universo virtual fiz mais um amigo. Fiquei impressionada com sua historia. Ele é um sobrevivente de um massacre e vive clandestinamente há 15anos pois foi jurado de morte.
Naturalmente que, diante do quadro assustador das lutas no campo, com a falta da reforma agrária, com a omissão das autoridades governamentais para esse problema secular, ele não é o primeiro e nem será o ultimo a estar nessa situação.
O Massacre de Corumbiara, em Rondônia, Norte do Brasil, mais precisamente na região amazônica, ocorreu em 9 de agosto de 1995, Um ano e 4 meses antes do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará.
Os dois episódios, claro, têm algo em comum: as vítimas são trabalhadores sem terra. (Ninféia G)
Pequeno Histórico:“
O Massacre de Corumbiara tem a mesma origem de tantos outros que já ocorreram ao longo de 500 anos de luta pelo acesso e posse da terra no Brasil, pelas políticas agrárias que ao longo de séculos legitimam o latifúndio. E o país ainda não resolveu a questão agrária. Os trabalhadores, através de suas lutas, têm tentado romper os 500anos de repressão
No dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias de sem terra ocuparam uma parte da fazenda Santa Elina e na madrugada do dia 09 de agosto, policiais e jagunços fortemente armados atacaram o acampamento, o que foi o massacre de Corumbiara, onde pessoas foram executadas sumariamente.
O conflito da Fazenda Santa Elina era tão somente uma ocupação de terras improdutivas, e o massacre de Corumbiara mostrou como agem e reagem as elites do poder nesse país frente as reivindicações dos trabalhadores. Corumbiara é um tempo presente, é o lugar onde ainda ecoam os gemidos dos posseiros, os gritos das crianças, o desespero das mães... tudo ainda acusa, denuncia e clama por justiça.
Rondônia é uma área de ocupação capitalista recente. Na década de 70 e 80, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), como órgão coordenador da política agrária, criou os Projetos Integrados de Colonização (PIC), os Projetos de Assentamento Rápido (PAR) e os Projetos de Assentamento Dirigidos (PAD). Os Projetos de Assentamentos (PA) por sua vez só foram criados a partir das ocupações feitas pelas famílias que acabaram sobrando dos projetos de colonização.
O modelo de política de colonização funcionou como atrativo para populações de outras regiões do país, e o seu desdobramento gerou uma brutal diferenciação entre os seguimentos de migrantes. Aqueles que possuíam capital financeiro e influência política, se apropriaram das melhores áreas e das melhores terras, para expandirem seus empreendimentos ou simplesmente, se apoderarem das terras como reserva de valor. Os que para Rondônia se dirigiram, porque já haviam sido desterrados de outros lugares, quando conseguiam entrar nas terras, acabavam por valorizá-las com o seu trabalho e contraditoriamente torná-las, assim, inacessíveis a eles mesmos. Vêem então, seus sonhos frustrados pela ação dos grileiros e fazendeiros com a conivência dos organismos do Estado. Surge aí, um considerável contingente de sem terras que não se conformam com a situação e, organizados ou não, ocupam as áreas improdutivas, e em muitos casos, forçam o INCRA a tomar medidas para assentá-los. Dezenas de assentamentos de Rondônia, tiveram suas origens em ocupações. Este é o caso do PA Adriana, o PA Verde Seringal e Vitória da União no mesmo município, que também foram oriundos de grandes lutas.
O Conflito da Santa Elina
No dia 14 de julho, em caminhões provenientes de diversos pontos do município de Corumbiara e das estradas próximas, centenas de famílias chegaram à fazenda Santa Elina. Levaram com eles tudo que possuíam, especialmente a grande esperança de conquistar a terra. O local escolhido para o acampamento ficava junto a área comunitária do PA Adriana, apenas separadas por um pequeno riacho. A idéia era: assim que o cerco ao acampamento se tornasse insustentável, os posseiros se locomoveriam para aquele lugar, onde havia, um campo de futebol na área comunitária do PA. Entretanto, nos dias 8 e 9 de agosto, a Polícia Militar (PM) montou o seu Comando de Operações (QG) naquele local. A coordenação escolheu a Santa Elina em função de notícias que haviam sido publicadas na imprensa regional, afirmando que a área não estava regularizada, e era em grande parte área improdutiva. Nenhuma notícia da imprensa ou mesmo os autos, ou em qualquer informação dava a extensão correta da Santa Elina. Os números noticiados a respeito da sua dimensão variavam de sete mil a dezesseis mil hectares, mas na realidade ela tem cerca de vinte mil hectares .
Do dia 14 de julho até 8 de agosto a ocupação da fazenda Santa Elina era mais um dos quatrocentos e quarenta conflitos de terra que aconteceram em 1995 no Brasil e um dos quinze que aconteceram só em Rondônia naquele ano. Portanto, pode-se concluir que no dia 14/07/95 estava começando o que foi uma tragédia anunciada: O Massacre de Corumbiara.
A escolha da área para a ocupação e o local exato para montar o acampamento foi estratégica por várias razões, primeiro, porque os acampados precisariam de água potável, e o pequeno riacho tinha águas cristalinas. Segundo, a proximidade com o PA Adriana, afinal dois dos mobilizadores eram lá assentados, e muitos moradores apoiaram a ocupação e ajudaram os companheiros. Naquele PA os acampados da Santa Elina encontrariam ajuda e guarida em caso de ataque. Terceiro, a área do lote ocupado era muito fértil e poderiam plantar suas roças imediatamente.
O acampamento ficava em uma espécie de canto do lote, tendo à frente e ao lado esquerdo o PA Adriana e isso nos planos dos coordenadores, facilitaria uma rota de fuga entrando direto em campo amistoso. Foi por onde muitos se salvaram, especialmente os que conheciam a área. Os posseiros sabiam que se errassem o rumo e entrassem dentro da Santa Elina os jagunços estariam esperando armados.
Os caminhões levando os camponeses na madrugada do dia 15 de julho, chegaram até o campo de futebol do PA Adriana. O deslocamento até o local que seria o acampamento foi feito a pé, pois não haviam estradas e a distância era pequena, cerca de um km.
Os caminhões chegaram juntos uns dos outros. Os posseiros tinham uma grande preocupação e medo dos jagunços, por isso procuravam estar juntos em grandes grupos. O transporte das poucas coisas que trouxeram como colchões , lonas, comidas, cacaios e outros objetos, foi feito nas costas e em mutirão. Esta atividade durou o resto da madrugada e quando o dia clareou já estava quase tudo depositado, numa pequena clareira que fora aberta ainda durante a madrugada. Quando o dia amanheceu, no dia 15, sábado, as atividades eram intensas, no sentido de transformar aquele pequeno pedaço de mata em um acampamento de sem terras. Todos trabalhavam. Os participantes descreveram a chegada como momento de grande apreensão, pois tinham medo que jagunços aparecessem e frustrassem os seus planos.
Era muito barulho, barulho de motosserras, de picaretas, árvores caindo, foices limpando tudo. Muita gente falando, cantando e gritando, dando ordens, organizando.
Todos se preocupavam com as crianças, que eram muitas. Logo pela manhã foram escolhidas algumas pessoas para tomarem conta dos piazinhos, para não deixar que se machucassem ou se perdessem. Alguns homens foram destacados para manter vigilância, especialmente no fundo e no lado direito do acampamento, pois era mata fechada dentro da própria Santa Elina.
Como era área de mata, os barracos foram construídos sob as árvores mais altas porque elas ofereciam sombra e podiam camuflar e esconder a pequena cidade de lona dos constantes vôos de intimidação, realizados pelos fazendeiros e pela própria polícia.
No começo da tarde de sábado foi servido o almoço coletivo, foi uma festa, todos já se sentiam como uma grande família, com direitos e obrigações. Uma comissão já circulava com um caderno de anotações onde cadastravam todas as pessoas que estavam no acampamento e anotavam os nomes dos que chegavam..
Os homens começaram a derrubada para fazer uma roça comunitária, onde seria plantado arroz, milho, feijão e mandioca. Os posseiros derrubaram a mata em volta do acampamento para fazer a roça, mas isso acabou facilitando a agressão e dificultando a fuga pela mata, pois assim que a derrubada foi incendiada durante o ataque ao acampamento, aquela rota de fuga foi prejudicada.
Na tarde do dia 15 de julho mais de cinquenta barracos já estavam montados. À medida que o tempo passava, mais barracos iam sendo construídos, pois mais gente ia chegando. No dia 8 de agosto eram cento e cinquenta e quatro barracos. Tinha barraco que abrigava mais de uma família, e os solteiros também ficaram em barracas com até cinco pessoas.
Em pouco tempo o acampamento já estava funcionando com as comissões, alguns coordenadores tinham sido designados antes mesmo da ocupação, enfim formaram as equipes e começaram a trabalhar e o acampamento era uma realidade. Mas uma realidade muito precária como afirmou Sebastião Salgado:
Os menores de rua, os favelados são aqueles que desistiram de lutar para ficar na terra.O acampamento é pior que campo de refugiados, são absolutamente abandonados e são às vezes atacados, mas resistem pela esperança de possuir a terra e ter dignidade.
Enquanto os posseiros organizavam o seu acampamento, os fazendeiros já agiam.
Especialmente Antenor Duarte do Valle, proprietário de grandes latifúndios, pressionava a justiça e a polícia. O processo de reintegração de posse foi sumário.
Alguns fazendeiros, vizinhos da Santa Elina, obtiveram na justiça, liminar de Interdito Proibitório. Vale dizer que estas fazendas deveriam então, ter guarda da PM e se elas fossem invadidas por sem terra, a reintegração de posse seria sumária.
A liminar de reintegração de posse da Santa Elina também foi sumária, três dias depois da ocupação já existia liminar de manutenção de posse e no mesmo dia a PM já estava na área para fazer cumprir a mesma.
Nos casos de ocupação de terras no campo brasileiro, quando feita por trabalhadores, a justiça tem sido sempre rápida, no sentido de atender os latifundiários, e no caso da Santa Elina, não foi diferente. A justiça foi rápida na expedição da liminar de manutenção de posse, e no dia 19, houve uma tentativa frustrada de desocupar a área.
O juiz substituto de Colorado do Oeste, Roberto Gil de Oliveira emitiu a liminar de manutenção de posse no dia 18 e no mesmo dia envia ofício determinando escolta policial para fazer cumprir a liminar, ou seja, para acompanhar o oficial de justiça que deveria ir até o acampamento dar ciência da liminar aos posseiros. Em seu depoimento no júri, o comandante da operação, o major Ventura explicou que recebeu o mandato de reintegração de posse em 19/07 e designou um tenente para acompanhar o oficial de justiça que iria cumprir o mandato, mas segundo o Major Ventura o Mena Mendes se ofereceu para a missão, e o capitão Mena Mendes diz que se ofereceu porque o Major Ventura tinha designado um aspirante para a missão. Essa afirmação do capitão Mena Mendes foi desmentida pelo presidente do Inquérito Policial Militar (IPM), coronel Balbi, pois na ocasião não havia aspirantes na corporação. O Major Ventura, quando soube do que aconteceu no dia 19 de julho no acampamento, ou seja, a tentativa frustada de cumprir o mandato, afirmou que protelou ao máximo o cumprimento da determinação judicial, porém recebeu pressões do juiz, do poder executivo, via comando geral da polícia militar, do fazendeiro e de advogados, chegando ao ponto de ser alertado de que seria processado por desobediência caso não desse cumprimento àquela ordem . As palavras do major contêm as provas das pressões que os fazendeiros e políticos fizeram sobre todos.
Na quarta feira de manhã, dia 19 de julho, começou o pesadelo para os acampados da Santa Elina. Em cima do morro estouraram três foguetes alertando e avisando que tinha problemas. Era um aviso que havia polícia por perto. Todos ficaram alertas e se reuniram rapidamente na parte da frente do acampamento. Por volta das 9 horas da manhã lá estava o capitão Mena Mendes com trinta e cinco policiais acompanhando o oficial de justiça, no acampamento dos posseiros. Os posseiros fizeram uma barreira humana em frente ao acampamento, às margens do riacho, e não permitiram a entrada deles no mesmo. Eles já traziam duas pessoas presas, uma mulher que saíra para trabalhar, e o secretário do STR de Corumbiara.
Os posseiros fizeram muito barulho, muitos gritos, músicas e palavras de ordem, em seguida, fizeram silêncio e o oficial de justiça leu o mandato de manutenção de posse com voz trêmula.
Neste dia, os posseiros resistiram, e como eram em número muito maior gritaram e garantiram sua permanência na área. Houve inclusive um confronto e um posseiro levou um tiro de revólver calibre 38, pelas costas.
Depois dessa visita os camponeses fizeram uma assembléia e comemoraram a primeira batalha vencida, naquilo que seria uma guerra. No dia 20/07 o mesmo juiz substituto envia outro ofício requisitando reforço policial para o cumprimento da liminar, mas o juiz recomenda ponderação e cautela.
Quando o juiz titular, Glodner Luiz Pauletto reassumiu seu cargo encaminhou ofício ao comando geral da PM em Porto Velho reiterando os ofícios anteriores, o primeiro dirigido ao comando de Colorado do Oeste e o segundo dirigido ao próprio capitão Mena Mendes. O ofício foi expedido em 01/08 e recebido no mesmo dia pelo comandante geral da PM no Estado coronel Wellington Luiz de Barros Silva em Porto Velho. Nessa data a Companhia de Operações Especiais (COE) já estava se preparando para ir à Corumbiara.
Enquanto os fazendeiros articulavam tudo para varrer os posseiros do local, os mesmos recebiam apoio dos vizinhos, de alguns políticos, especialmente o vereador Manuel Ribeiro, o Nelinho, do Partido dos Trabalhadores e o suplente de vereador Sebastião Sobrinho, do presidente da Assembléia, do deputado Daniel Pereira e do Sindicato dos Trabalhadores de Corumbiara (STR).
O vereador Nelinho se movimentava no sentido de colocar a questão nos noticiários como forma de chamar a atenção para a gravidade da situação, e acreditava que assim poderia sensibilizar a sociedade para a causa dos camponeses. Para Nelinho seria também uma forma de proteger os sem terra. O que Nelinho mais temia era a ação dos jagunços. Nessa altura dos acontecimentos a ocupação já era notícia nos jornais regionais e nacionais.
Na reunião da Câmara de Vereadores de Corumbiara, no dia primeiro de agosto, Nelinho comentou sobre a comissão de negociações a qual acompanhava, cobrou providências das autoridades no sentido de evitar uma tragédia. O vereador tinha esperança que a liminar fosse suspensa até que a comissão pudesse fazer alguma coisa. Mas a força do latifúndio se impôs mais uma vez. O latifúndio fazia pressões sobre juiz, polícia, e o próprio governador. A Sociedade Rural, braço da União Democrática Ruralista (UDR), pressionava o governador exigindo o cumprimento da liminar e exigindo que o comandante da polícia de Vilhena fosse preso por omissão porque protelava o despejo.
O governador tinha conhecimento real da situação da Santa Elina e não tomou nenhuma providência no sentido de evitar a tragédia que já se anunciava. O secretário de agricultura, que era do Partido dos Trabalhadores, também tinha conhecimento da situação, e foi omisso. Muitos foram omissos.
A correlação de forças era brutalmente desfavorável para os posseiros. Os opositores dos camponeses puderam agir em todos os sentidos. No plano jurídico, pressionando juízes, conseguindo liminar em tempo recorde e ofícios que circularam céleres, colocando as notícias nos jornais e nos demais meios de comunicação sempre a seu favor e desqualificando os camponeses. No plano econômico, foi também muito forte a influência dos fazendeiros, pagando transporte para a tropa, fornecendo alimentação, fornecendo veículos, infiltrando jagunços junto às tropas e emprestando avião e piloto para a PM sobrevoar a área do acampamento. Na verdade, ficou caracterizado que o massacre foi uma empreitada particular, financiada por particulares, onde a polícia estava a serviço de fazendeiros e até certo modo sob o "comando" dos mesmos. Antenor Duarte foi visto no QG da PM e seu capataz José Paulo Monteiro estava tão à vontade naquele lugar, que tirou o posseiro Sérgio dentre os presos, jogou-o dentro de uma Toyota e nenhum policial, oficial, subcomandante ou o comandante, "viu". Os camponeses viram e denunciaram mas suas vozes foram caladas.
Ficaram poucos dias na área, mas o acampamento estava organizado, com as diversas comissões encarregadas de tarefas que proporcionavam o melhor andamento possível da vida no mesmo. No dia 08/09, a imprensa de Vilhena registrou as condições do acampamento e a movimentação dos camponeses com a chegada da polícia.
O acampamento dos posseiros era vigiado por pessoas da Santa Elina que informavam ao capitão Mena Mendes sobre os passos dos posseiros. O PM Walter de Souza informou que no dia 8/08 o capitão Mena Mendes, esteve na residência do caseiro da Santa Elina, e nesse mesmo dia ele fez reconhecimento da área do perímetro do acampamento.
Os posseiros ficaram no acampamento somente vinte e quatro dias. Foram momentos muito marcantes para todos. Momentos de tensão e medo quando o acampamento era sobrevoado por aviões. Muito medo quando da primeira tentativa de evacuar a área. Mas estes momentos eram intercalados com outros de confraternização e muita esperança. A esperança e até uma certa dose de otimismo surgiu, durante a visita da comissão de negociação, e depois da saída da mesma. As conversas foram animadoras e cheias de esperança com a possibilidade de intervenção daquelas autoridades, para resolver o problema e no mínimo suspender, ainda que temporariamente, a execução da liminar de manutenção de posse. Outro fator que dava alguma tranquilidade era a possibilidade estratégica de saírem da área e ir para o PA Adriana. Eles planejaram correr para o PA Adriana se o cerco ao acampamento se tornasse insustentável e armariam novo acampamento no campo de futebol. Os coordenadores tinham planejado este detalhe. Sabiam que poderiam ficar acampados naquele local, do PA Adriana, onde a PM e os jagunços perderiam a possibilidade de atacá-los, pelo menos legalmente.
Afinal naquele campo eles seriam os convidados dos amigos assentados. Assim, através dessa estratégia, apreendida com as experiências do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), logo que a situação "esfriasse" voltariam para a Santa Elina. No caso da ocupação do PA Adriana, chegaram a ser despejados da área por três vezes. Tudo indica que no caso da Santa Elina, os opressores queriam mais que um despejo, queriam uma "lição de violência", para que as ocupações cessassem na região. No dia 08 de agosto, chega em frente ao acampamento o Comandante Ventura e a imprensa de Vilhena. Há uma conversa amistosa entre o comando da PM e os representantes dos posseiros, testemunhada pela imprensa. Depois da conversa com o Major Comandante, os posseiros comemoraram, pois pensaram que tinham vencido mais uma batalha. O que eles não sabiam era que seus opositores estavam ali preparados para fazer uma guerra, uma guerra contra mulheres, crianças, jovens e velhos. Suas armas de defesa e caça eram dois revólveres, um calibre 38 e outro 22 e espingardas velhas que usavam para a caça, e as ferramentas de trabalho, inclusive motosserras, emprestadas por quem queria ajudar.
Em contrapartida as armas da PM , somente de policiais do 3o Batalhão de Polícia Militar (BPM), foram: cento e setenta e cinco revólveres calibre 38; doze escopetas de calibre 12; cinco metralhadoras de 9mm; quatro pistolas; cinco mosquetes calibre 7,32; e cinco carabinas. Isso sem contar as armas da COE, dos PM que estavam de férias e estavam a serviço do fazendeiro, e ainda as armas e munições dos jagunços e da chamada PM2. Somente parte das armas da PM foram periciadas e só três provas de balística foram positivas. As três balas eram de revólveres de PM e foram encontrados nos corpos de Hercílio e José Marconde, posseiros que foram executados sumariamente como atestam os laudos tanatoscópicos.
Mesmo com tantas evidências as autoridades de Rondônia insistem em negar que houve massacre em Corumbiara. Tanto o juiz de Colorado do Oeste, como o promotor não aceitam chamar o episódio da Santa Elina de massacre. E o promotor assim o definiu:
Não houve massacre porque ninguém foi massacrado, houve um conflito onde, infelizmente, algumas pessoas morreram .
A imprensa, naquele episódio, teve papel muito importante, pois registrou em áudio e vídeo momentos relevantes dentro do acampamento e na entrada do mesmo, conversou com posseiros e gravou uma longa entrevista com um dos coordenadores do acampamento, que com muita clareza e objetividade, explicou as condições que estavam ali, quem os apoiava, as necessidades daqueles camponeses e a firme decisão de lutar pela terra, e fez graves denúncias sobre as pressões que os posseiros da Santa Elina e até assentados dos PA próximos estavam sofrendo de jagunços e dos fazendeiros.
O Massacre de Corumbiara
Na madrugada do dia 09/08 o acampamento da Santa Elina foi cercado por todos os lados e começou o que foi o massacre de Corumbiara.
Os posseiros foram pegos de surpresa, pois era noite escura e eles estavam desmobilizados.
Os posseiros foram acordados com bombas de gás lacrimogênio que a todos sufocavam, tiroteio por longas horas com armas muito pesadas, mulheres foram usadas como escudo humano pelos policiais e por jagunços. Segundo relatos um grande número de jagunços, alguns vestidos como policiais entraram infiltrados no meio das tropas e muitos homens estavam encapuzados. O acampamento foi totalmente destruído e depois incendiado. Não sobrou nada do que os camponeses haviam levado para começar o que seria uma vida nova. Tudo se transformou em pesadelo.
O que aconteceu naquela noite e naquela manhã, não foi testemunhado pela imprensa, mas as marcas estão presentes naqueles corpos e naquelas almas que sofreram torturas indescritíveis mas os que sobreviveram puderam contar o que aconteceu ali, embora suas vozes tenham sido sufocadas, desqualificadas, ou simplesmente ignoradas durante as apurações processuais e durante o júri.
Os homens que não morreram ou não conseguiram fugir pela mata foram presos e obrigados a se deitarem no chão com o rosto na lama e policiais e jagunços pisavam sobre eles e os espancavam com chutes em todas as partes do corpo e davam pauladas em qualquer um que ousasse levantar a cabeça. Depois foram amarrados com cordas e arrastados até o QG da PM, no campo de futebol do PA Adriana. Os homens ficaram por longas horas, sem água, sem comida, apanhando e sofrendo todo tipo de humilhações.
As mulheres e as crianças também ficaram presas em cima de caminhões por longas horas sob um sol escaldante passando fome e sede. Os posseiros foram presos, mortos e torturados e o acampamento foi completamente destruído.
Em todas as entrevistas e conversas com os camponeses que estiveram na Santa Elina e seus vizinhos há uma coerência e coincidência nas informações ao descrever o ataque ao acampamento, a entrada dos jagunços e policiais, espancando, atirando e torturando, depois de rendidos, a continuação das torturas e execuções, a retirada dos posseiros presos no local do acampamento até o campo de futebol. Homens e meninos eram arrastados e espancados sistematicamente, foram obrigados a comer terra molhada com sangue. Além de todas as torturas físicas ainda os constrangimentos morais e psicológicas e as agressões com palavras e gestos.
Os depoimentos dos posseiros comprovam que houve realmente um massacre em todos os sentidos da expressão. A vida daquelas centenas de pessoas ficou à prova desde o momento que foi atirada a primeira bomba de gás dentro do acampamento até a chegada do advogado da CPT na delegacia de Colorado do Oeste, no dia 10 de agosto, ou seja, aqueles camponeses viveram mais de vinte e quatro horas de torturas ininterruptas.
Durante todo esse tempo os camponeses foram torturados porque os torturadores queriam saber quem eram os líderes e onde eles estavam. Isto equivale a dizer que aqueles que lideraram aquela ocupação já haviam sido julgados e condenados sumariamente por quem organizara aquela ação repressiva.
Homens, mulheres e crianças foram impedidos de se alimentar, de beber água e inclusive de fazer as necessidades fisiológicas, ficaram ouvindo ameaças de morte, olhando para os mortos estendidos no chão, vendo companheiro sendo retirado e jogado em Toyota. As crianças que não podiam nem chorar em voz alta. Mães tinham de colocar a mão na boca das crianças para que elas não gritassem. Outras mães separadas de filhos, maridos separados de esposas. Era o desespero de não saber onde estava o seu ente querido, se vivo ou morto e não poder sequer perguntar. Via-se um amontoado de homens sentados quase uns sobre os outros. O próprio major Ventura declarou em seu depoimento que, quando voltou do acampamento dos posseiros para o QG, depois do despejo consumado, ali estavam cerca de setecentos e cinquenta pessoas e haviam inúmeros veículos Toyota, ônibus, caminhões e estavam civis portando armamento, e estes não eram da polícia civil, e o major disse ainda que viu, no acampamento, policiais pisando em cima de civis.
Os trezentos e cinquenta e cinco presos que estavam naquele campo foram transportados amontoados em caminhões até a cidade de Colorado do Oeste. Quando saíram do QG já estava escurecendo e o transporte foi a continuação do massacre. Os homens eram colocados uns sobre os outros dentro do caminhão e ainda continuavam sofrendo ameaças. O posseiro Moacir Camargo já estava no caminhão quando levou um tiro que lhe traspassou o corpo.
O transporte dos posseiros presos, do QG da PM até a cidade de Colorado do Oeste, foi a continuação das torturas, pois eles estavam amontoados nos caminhões e, como as estradas eram péssimas, os motoristas faziam questão de aumentar os seus sofrimento s indo em alta velocidade, dando solavancos e ferindo mais ainda aqueles corpos já tão machucados, tão famintos, sedentos, ameaçados...
Chegando em Colorado do Oeste, cerca de setenta desses presos foram encaminhados à delegacia de polícia, e os outros foram confinados no ginásio de esportes. Os presos que foram para o ginásio de esportes tiveram mais sorte, embora estivessem sob vigilância e não tivessem nenhuma assistência, não foram mais torturados fisicamente. O padre José Maria, hoje bispo de Colorado do Oeste, chegou muito cedo ao ginásio e teve dificuldade para entrar, a polícia tentou impedir e ele descreveu o que viu. Ele disse que eram homens e meninos sujos, ensanguentados, famintos, feridos, desesperados. O padre tomou providências para alimentá-los. A população da cidade foi muito solidária com os posseiros e rapidamente foi providenciando roupas e alimentos para todos. Aquelas pessoas, centenas de mulheres e crianças e cerca de trezentos e cinquenta homens, só tinham a roupa do corpo, mesmo assim, muitos estavam rasgados e sujos de lama e sangue. Tudo que eles tinham foi queimado no acampamento.
Depoimentos dos sobreviventes de Corumbiara “Companheiros, sou mais um dos sobreviventes. Chegou a hora de darmos o troco. Estaremos sempre denunciando esses governos corruptos e que nada fazem senão massacrar o povo com promessas que nunca cumprem. Estão, de novo, só mentindo para o povo votar neles nas próximas eleições. Um dia esses filhos da puta vão ter que nos pagar”, afirmou o camponês Dedé.
“Olha, moço, não põe meu nome aí e nem diz que falou comigo. A verdade é que morreram muito mais, entre policiais e camponeses. Não foram apenas os onze que divulgaram. Dizem até que, se tivessem contado a verdade, que morreram mais policiais, estariam estimulando novas ocupações. A imprensa só chegou depois da “limpeza”. Meus sobrinhos viram passar caminhões com cadáveres e presos, muitos presos, todos amontoados, aqui, em Cerejeiras, atrás da cidade. Muita gente foi jogada no rio ou enterrada. Tem gente que passou a morar aqui pertinho, deixando Corumbiara, e até hoje, pergunta por parentes”. “Tem gente que procura até hoje, por familiares que sumiram. E têm muito medo de falar. Sei de mães nesse drama. Então, não foram só as 11 pessoas que morreram, conforme falam, nove companheiros nossos e dois PMs. Tem muita gente que saiu de Corumbiara, tamanho o medo que permanece até hoje, além do trauma. Aquela noite foi de muito horror. Teve uma amiga, a Ana Paula, que ficou viúva com uma filhinha de dois anos. Estava casada há apenas três anos.
Houve um momento de pânico quando os policiais queriam aprisionar todas as mulheres, deixando as crianças com os avós. Só queriam liberar quem tivesse parente morto. Não concordamos, batemos pé firme, mesmo sabendo que poderíamos sofrer graves conseqüências. Alguns jagunços e PMs chegavam a gritar que “vamos acabar com os homens e, depois, vocês”. Isto depois de terem matado muitos companheiros. Só em Colorado do Oeste, para onde levaram os sobreviventes, nos deixaram num Centro Comunitário, e os homens, na delegacia e num ginásio da cidade.
Estou lembrando o caso por solicitação do jornal de vocês, que será o primeiro a publicar a verdade, pois não gosto mais de tocar nesse assunto. E, por favor, não põe meu nome”, disse outra sobrevivente.
"Me aleijaram de tanta pancada"
Praticamente aleijado pelas pancadas que recebeu e escorando-se até pegar o microfone para protestar, Toinho gritou que “nós não é besta, não. Temos que continuar a luta contra esses poderosos que não querem dividir nada e ficam aí mandando matar inocentes. Temos que ser indenizados e os canalhas colocados na cadeia. Os policiais foram indenizados, mas nós, não. Eu mal posso andar. Onde está a Justiça neste país? Quando nós conseguimos um pedacinho de terra e queremos plantar, o governo nos nega apoio, mas se é o rico, o latifundiário, não falta nada.
Não nos dão sequer tratamento médico, uma vergonha e ficamos reclamando o tempo todo, sem que nada aconteça. Mas um dia isso terá fim. Estamos nos organizando para isso”, disse José do Campo.
“Fui massacrado de Corumbiara a Colorado, nu e jogado no chão. Tenho os quadris quebrados até hoje, o que me impede de trabalhar e só me permite fazer tratamento. No hospital de Colorado, um policial quis me matar. Eu era magro e passei a parecer gordo, mas é inchaço das pancadas. É normal a cabeça doer muito. Tem uma companheira, a D. Alzira, que nem está podendo sair de casa, de tanta paulada que atrofiou uma das pernas. Tem companheiro praticamente cego, outros surdos, de tanta pancada que levaram. E teve companheiro, hoje ausente do convívio normal, tamanho o trauma criado, que foi obrigado a comer cérebro. É o Paulo, mais conhecido hoje, por Zé Miolo”.
Messias levou um tiro no pescoço
Os hospitais de Colorado do Oeste, Cerejeiras e Vilhena estavam lotados de posseiros feridos. Apenas Claudemir Gilberto Ramos foi deslocado do hospital de Vilhena para o hospital em Porto Velho. Claudemir estava correndo risco de vida porque tivera ferimentos muito graves, inclusive traumatismo craniano, resultado do espancamento que sofreu no acampamento por parte de policiais e jagunços. Ele corria ainda o risco de ser assassinado, pois sofreu um atentado quando estava no hospital de Vilhena e outro quando estava em Porto Velho.
Para aquelas autoridades era considerado ferido o posseiro que apresentasse lesões graves e principalmente ferimentos por projéteis de arma de fogo. Os que estivessem com a mão quebrada, pés feridos, costelas quebradas, hematomas externos, escoriações, mesmo cortes em diversas partes do corpo e até grandes cortes na cabeça não eram considerados como feridos.
Do lado dos policiais era o contrário, qualquer escoriação era considerado ferimento.
As notícias de que havia acontecido algo muito sério na Santa Elina começaram a circular no final do dia 9/08 mas só no dia 10/08 é que o Brasil e o mundo se consternaram diante das imagens de Corumbiara.
Aí vieram as explicações. Todos tentavam explicar o que era inexplicável.
O governador do Estado Waldir Raup em seus discursos culpou o INCRA pelo massacre e imediatamente atribuiu aos posseiros a responsabilidade por terem emboscado os policiais que estavam cumprindo ordens. O governador foi omisso durante aqueles vinte e quatro dias em que poderia ter interferido e quando o pior aconteceu, tomou a atitude mais cômoda, ou seja, transferiu culpas e responsabilidades.
Foram as explicações do prefeito de Corumbiara se queixando porque não foi notificado da operação; são explicações do comandante geral da PM dizendo que os policiais foram emboscados e que cumpriram o dever de proteger a propriedade.
Naquele dia 9 de agosto de 1995 morreram onze pessoas inclusive a pequena Vanessa, de apenas 6 anos que morreu com um tiro pelas costas que lhe trespassou o corpinho. Vanessa foi atingida quando sua mãe corria com ela e o irmãozinho em direção a mata. Corumbiara continuou fazendo vítimas.
Corumbiara continuou e continua fazendo vítimas Nos casos de violência no campo, o que é mais evidente é que os que praticam todo tipo de violência contra os trabalhadores, contra religiosos, advogados, enfim contra todos os que questionam o latifúndio, é a certeza da impunidade. No caso da Santa Elina não foi diferente, porque Antenor Duarte e o seu capataz José Paulo estão impunes, apesar da ostensiva participação deles em todo o processo que culminou no massacre de Corumbiara. Na investigação dos fatos, pode-se perceber como a justiça ignorou ou desqualificou os depoimentos dos posseiros e de todos que os apoiam, inclusive do Bispo Dom Geraldo Verdier, do padre, dos vizinhos... prevalecendo a voz dos próprios policiais e dos fazendeiros. O massacre de Corumbiara teve repercussões e consequências nacionais e internacionais e é um marco definitivo na história dos quinhentos anos de luta no campo.
Até hoje tem gente doente, morrendo ou sem poder trabalhar por causa das lesões sofridas. As viúvas e os órfãos estão desamparados. Ainda existe gente desaparecida até hoje. Outra grande vítima de Corumbiara foi o vereador Nelinho, assassinado em dezembro de 1995, depois de ter sofrido muitas ameaças de morte. Os pistoleiros que emboscaram Nelinho foram controlados pelo vereador do PMDB, Percílio. O vereador do PT era filho de camponeses e um defensor de seus pares.
E no júri popular que aconteceu em Porto Velho no período de 14/08 a 06/09/2000, os sem terra Cícero Pereira Leite Neto e Claudemir Gilberto Ramos foram condenados, mesmo sem provas nos autos. Cícero e Claudemir são mais duas vítimas de Corumbiara e do latifúndio. “
FONTE: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/06/06/escondido-da-justica-e-de-pistoleiros-filho-de-campones-morto-em-rondonia-vive-clandestino-ha-15-anos.jhtm)
Como Assistente Social, Poeta, servidora pública, mulher, cidadã, mãe e avó, preocupam-me muito essa realidade em que pessoas que trabalham na terra, que produzem os alimentos que comemos, não têm condições de fazer seu trabalho e nem ao menos de prover a subsistência de sua família porque os governos todos entram e saem sem promover a reforma agrária, ou seja, distribuição de terras para quem quer trabalhar nela, acabando com as imensas terras que servem a monoculturas de soja, laranjas, etc. (para a exportação) e para o pasto.
A terra é para todos poderem usufruir dos bens que ela pode produzir; nada de plantar apenas uma coisa, mas, sim tudo o que se consome no dia a dia para o saudável desenvolvimento das pessoas.
As pessoas que ocupam terras não são vândalos, bandidos, infratores, meliantes, elas são pessoas que querem ser trabalhadoras da terra. Basta ver os exemplos dos assentamentos , comunidades onde as pessoas vivem, trabalham, estudam, ou seja, levam uma vida sem glamour, mas que lhes dá a certeza de sua dignidade.
Eu sou totalmente solidária com Claudemir Ramos, pois é um homem jovem, potencialmente capaz, um lavrador, que não pode estar com sua família, não pode trabalhar, não pode exercer seus direitos de cidadãos porque Além de ser procurado por pistoleiros pagos por latifundiários por ser líder de movimento, passou a ser fugitivo da Justiça por ter perdido todos os recursos judiciais uma vez que foi condenado, segundo informes técnicos, sem aparecer nem a arma do crime.
Amigo Claudemir, não nos conhecemos além do espaço virtual que felizmente hoje em dia existe para que possamos estar conhecendo mais pessoas e ter mais informações sobre o mundo, mas te considero um companheiro, pois tua causa deve ser a causa de qualquer pessoa que se revolte com a INJUSTIÇA SOCIAL.
Ninfeia G
www.reflexoesemversos.com.br
P.S- Adelino Ramos, pai de Claudemir Ramos e também lider do movimento corumbiara, foi assassinado há cerca de um mês atrás, em Rondonia.
Nas minhas andanças pelo universo virtual fiz mais um amigo. Fiquei impressionada com sua historia. Ele é um sobrevivente de um massacre e vive clandestinamente há 15anos pois foi jurado de morte.
Naturalmente que, diante do quadro assustador das lutas no campo, com a falta da reforma agrária, com a omissão das autoridades governamentais para esse problema secular, ele não é o primeiro e nem será o ultimo a estar nessa situação.
O Massacre de Corumbiara, em Rondônia, Norte do Brasil, mais precisamente na região amazônica, ocorreu em 9 de agosto de 1995, Um ano e 4 meses antes do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará.
Os dois episódios, claro, têm algo em comum: as vítimas são trabalhadores sem terra. (Ninféia G)
Pequeno Histórico:“
O Massacre de Corumbiara tem a mesma origem de tantos outros que já ocorreram ao longo de 500 anos de luta pelo acesso e posse da terra no Brasil, pelas políticas agrárias que ao longo de séculos legitimam o latifúndio. E o país ainda não resolveu a questão agrária. Os trabalhadores, através de suas lutas, têm tentado romper os 500anos de repressão
No dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias de sem terra ocuparam uma parte da fazenda Santa Elina e na madrugada do dia 09 de agosto, policiais e jagunços fortemente armados atacaram o acampamento, o que foi o massacre de Corumbiara, onde pessoas foram executadas sumariamente.
O conflito da Fazenda Santa Elina era tão somente uma ocupação de terras improdutivas, e o massacre de Corumbiara mostrou como agem e reagem as elites do poder nesse país frente as reivindicações dos trabalhadores. Corumbiara é um tempo presente, é o lugar onde ainda ecoam os gemidos dos posseiros, os gritos das crianças, o desespero das mães... tudo ainda acusa, denuncia e clama por justiça.
Rondônia é uma área de ocupação capitalista recente. Na década de 70 e 80, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), como órgão coordenador da política agrária, criou os Projetos Integrados de Colonização (PIC), os Projetos de Assentamento Rápido (PAR) e os Projetos de Assentamento Dirigidos (PAD). Os Projetos de Assentamentos (PA) por sua vez só foram criados a partir das ocupações feitas pelas famílias que acabaram sobrando dos projetos de colonização.
O modelo de política de colonização funcionou como atrativo para populações de outras regiões do país, e o seu desdobramento gerou uma brutal diferenciação entre os seguimentos de migrantes. Aqueles que possuíam capital financeiro e influência política, se apropriaram das melhores áreas e das melhores terras, para expandirem seus empreendimentos ou simplesmente, se apoderarem das terras como reserva de valor. Os que para Rondônia se dirigiram, porque já haviam sido desterrados de outros lugares, quando conseguiam entrar nas terras, acabavam por valorizá-las com o seu trabalho e contraditoriamente torná-las, assim, inacessíveis a eles mesmos. Vêem então, seus sonhos frustrados pela ação dos grileiros e fazendeiros com a conivência dos organismos do Estado. Surge aí, um considerável contingente de sem terras que não se conformam com a situação e, organizados ou não, ocupam as áreas improdutivas, e em muitos casos, forçam o INCRA a tomar medidas para assentá-los. Dezenas de assentamentos de Rondônia, tiveram suas origens em ocupações. Este é o caso do PA Adriana, o PA Verde Seringal e Vitória da União no mesmo município, que também foram oriundos de grandes lutas.
O Conflito da Santa Elina
No dia 14 de julho, em caminhões provenientes de diversos pontos do município de Corumbiara e das estradas próximas, centenas de famílias chegaram à fazenda Santa Elina. Levaram com eles tudo que possuíam, especialmente a grande esperança de conquistar a terra. O local escolhido para o acampamento ficava junto a área comunitária do PA Adriana, apenas separadas por um pequeno riacho. A idéia era: assim que o cerco ao acampamento se tornasse insustentável, os posseiros se locomoveriam para aquele lugar, onde havia, um campo de futebol na área comunitária do PA. Entretanto, nos dias 8 e 9 de agosto, a Polícia Militar (PM) montou o seu Comando de Operações (QG) naquele local. A coordenação escolheu a Santa Elina em função de notícias que haviam sido publicadas na imprensa regional, afirmando que a área não estava regularizada, e era em grande parte área improdutiva. Nenhuma notícia da imprensa ou mesmo os autos, ou em qualquer informação dava a extensão correta da Santa Elina. Os números noticiados a respeito da sua dimensão variavam de sete mil a dezesseis mil hectares, mas na realidade ela tem cerca de vinte mil hectares .
Do dia 14 de julho até 8 de agosto a ocupação da fazenda Santa Elina era mais um dos quatrocentos e quarenta conflitos de terra que aconteceram em 1995 no Brasil e um dos quinze que aconteceram só em Rondônia naquele ano. Portanto, pode-se concluir que no dia 14/07/95 estava começando o que foi uma tragédia anunciada: O Massacre de Corumbiara.
A escolha da área para a ocupação e o local exato para montar o acampamento foi estratégica por várias razões, primeiro, porque os acampados precisariam de água potável, e o pequeno riacho tinha águas cristalinas. Segundo, a proximidade com o PA Adriana, afinal dois dos mobilizadores eram lá assentados, e muitos moradores apoiaram a ocupação e ajudaram os companheiros. Naquele PA os acampados da Santa Elina encontrariam ajuda e guarida em caso de ataque. Terceiro, a área do lote ocupado era muito fértil e poderiam plantar suas roças imediatamente.
O acampamento ficava em uma espécie de canto do lote, tendo à frente e ao lado esquerdo o PA Adriana e isso nos planos dos coordenadores, facilitaria uma rota de fuga entrando direto em campo amistoso. Foi por onde muitos se salvaram, especialmente os que conheciam a área. Os posseiros sabiam que se errassem o rumo e entrassem dentro da Santa Elina os jagunços estariam esperando armados.
Os caminhões levando os camponeses na madrugada do dia 15 de julho, chegaram até o campo de futebol do PA Adriana. O deslocamento até o local que seria o acampamento foi feito a pé, pois não haviam estradas e a distância era pequena, cerca de um km.
Os caminhões chegaram juntos uns dos outros. Os posseiros tinham uma grande preocupação e medo dos jagunços, por isso procuravam estar juntos em grandes grupos. O transporte das poucas coisas que trouxeram como colchões , lonas, comidas, cacaios e outros objetos, foi feito nas costas e em mutirão. Esta atividade durou o resto da madrugada e quando o dia clareou já estava quase tudo depositado, numa pequena clareira que fora aberta ainda durante a madrugada. Quando o dia amanheceu, no dia 15, sábado, as atividades eram intensas, no sentido de transformar aquele pequeno pedaço de mata em um acampamento de sem terras. Todos trabalhavam. Os participantes descreveram a chegada como momento de grande apreensão, pois tinham medo que jagunços aparecessem e frustrassem os seus planos.
Era muito barulho, barulho de motosserras, de picaretas, árvores caindo, foices limpando tudo. Muita gente falando, cantando e gritando, dando ordens, organizando.
Todos se preocupavam com as crianças, que eram muitas. Logo pela manhã foram escolhidas algumas pessoas para tomarem conta dos piazinhos, para não deixar que se machucassem ou se perdessem. Alguns homens foram destacados para manter vigilância, especialmente no fundo e no lado direito do acampamento, pois era mata fechada dentro da própria Santa Elina.
Como era área de mata, os barracos foram construídos sob as árvores mais altas porque elas ofereciam sombra e podiam camuflar e esconder a pequena cidade de lona dos constantes vôos de intimidação, realizados pelos fazendeiros e pela própria polícia.
No começo da tarde de sábado foi servido o almoço coletivo, foi uma festa, todos já se sentiam como uma grande família, com direitos e obrigações. Uma comissão já circulava com um caderno de anotações onde cadastravam todas as pessoas que estavam no acampamento e anotavam os nomes dos que chegavam..
Os homens começaram a derrubada para fazer uma roça comunitária, onde seria plantado arroz, milho, feijão e mandioca. Os posseiros derrubaram a mata em volta do acampamento para fazer a roça, mas isso acabou facilitando a agressão e dificultando a fuga pela mata, pois assim que a derrubada foi incendiada durante o ataque ao acampamento, aquela rota de fuga foi prejudicada.
Na tarde do dia 15 de julho mais de cinquenta barracos já estavam montados. À medida que o tempo passava, mais barracos iam sendo construídos, pois mais gente ia chegando. No dia 8 de agosto eram cento e cinquenta e quatro barracos. Tinha barraco que abrigava mais de uma família, e os solteiros também ficaram em barracas com até cinco pessoas.
Em pouco tempo o acampamento já estava funcionando com as comissões, alguns coordenadores tinham sido designados antes mesmo da ocupação, enfim formaram as equipes e começaram a trabalhar e o acampamento era uma realidade. Mas uma realidade muito precária como afirmou Sebastião Salgado:
Os menores de rua, os favelados são aqueles que desistiram de lutar para ficar na terra.O acampamento é pior que campo de refugiados, são absolutamente abandonados e são às vezes atacados, mas resistem pela esperança de possuir a terra e ter dignidade.
Enquanto os posseiros organizavam o seu acampamento, os fazendeiros já agiam.
Especialmente Antenor Duarte do Valle, proprietário de grandes latifúndios, pressionava a justiça e a polícia. O processo de reintegração de posse foi sumário.
Alguns fazendeiros, vizinhos da Santa Elina, obtiveram na justiça, liminar de Interdito Proibitório. Vale dizer que estas fazendas deveriam então, ter guarda da PM e se elas fossem invadidas por sem terra, a reintegração de posse seria sumária.
A liminar de reintegração de posse da Santa Elina também foi sumária, três dias depois da ocupação já existia liminar de manutenção de posse e no mesmo dia a PM já estava na área para fazer cumprir a mesma.
Nos casos de ocupação de terras no campo brasileiro, quando feita por trabalhadores, a justiça tem sido sempre rápida, no sentido de atender os latifundiários, e no caso da Santa Elina, não foi diferente. A justiça foi rápida na expedição da liminar de manutenção de posse, e no dia 19, houve uma tentativa frustrada de desocupar a área.
O juiz substituto de Colorado do Oeste, Roberto Gil de Oliveira emitiu a liminar de manutenção de posse no dia 18 e no mesmo dia envia ofício determinando escolta policial para fazer cumprir a liminar, ou seja, para acompanhar o oficial de justiça que deveria ir até o acampamento dar ciência da liminar aos posseiros. Em seu depoimento no júri, o comandante da operação, o major Ventura explicou que recebeu o mandato de reintegração de posse em 19/07 e designou um tenente para acompanhar o oficial de justiça que iria cumprir o mandato, mas segundo o Major Ventura o Mena Mendes se ofereceu para a missão, e o capitão Mena Mendes diz que se ofereceu porque o Major Ventura tinha designado um aspirante para a missão. Essa afirmação do capitão Mena Mendes foi desmentida pelo presidente do Inquérito Policial Militar (IPM), coronel Balbi, pois na ocasião não havia aspirantes na corporação. O Major Ventura, quando soube do que aconteceu no dia 19 de julho no acampamento, ou seja, a tentativa frustada de cumprir o mandato, afirmou que protelou ao máximo o cumprimento da determinação judicial, porém recebeu pressões do juiz, do poder executivo, via comando geral da polícia militar, do fazendeiro e de advogados, chegando ao ponto de ser alertado de que seria processado por desobediência caso não desse cumprimento àquela ordem . As palavras do major contêm as provas das pressões que os fazendeiros e políticos fizeram sobre todos.
Na quarta feira de manhã, dia 19 de julho, começou o pesadelo para os acampados da Santa Elina. Em cima do morro estouraram três foguetes alertando e avisando que tinha problemas. Era um aviso que havia polícia por perto. Todos ficaram alertas e se reuniram rapidamente na parte da frente do acampamento. Por volta das 9 horas da manhã lá estava o capitão Mena Mendes com trinta e cinco policiais acompanhando o oficial de justiça, no acampamento dos posseiros. Os posseiros fizeram uma barreira humana em frente ao acampamento, às margens do riacho, e não permitiram a entrada deles no mesmo. Eles já traziam duas pessoas presas, uma mulher que saíra para trabalhar, e o secretário do STR de Corumbiara.
Os posseiros fizeram muito barulho, muitos gritos, músicas e palavras de ordem, em seguida, fizeram silêncio e o oficial de justiça leu o mandato de manutenção de posse com voz trêmula.
Neste dia, os posseiros resistiram, e como eram em número muito maior gritaram e garantiram sua permanência na área. Houve inclusive um confronto e um posseiro levou um tiro de revólver calibre 38, pelas costas.
Depois dessa visita os camponeses fizeram uma assembléia e comemoraram a primeira batalha vencida, naquilo que seria uma guerra. No dia 20/07 o mesmo juiz substituto envia outro ofício requisitando reforço policial para o cumprimento da liminar, mas o juiz recomenda ponderação e cautela.
Quando o juiz titular, Glodner Luiz Pauletto reassumiu seu cargo encaminhou ofício ao comando geral da PM em Porto Velho reiterando os ofícios anteriores, o primeiro dirigido ao comando de Colorado do Oeste e o segundo dirigido ao próprio capitão Mena Mendes. O ofício foi expedido em 01/08 e recebido no mesmo dia pelo comandante geral da PM no Estado coronel Wellington Luiz de Barros Silva em Porto Velho. Nessa data a Companhia de Operações Especiais (COE) já estava se preparando para ir à Corumbiara.
Enquanto os fazendeiros articulavam tudo para varrer os posseiros do local, os mesmos recebiam apoio dos vizinhos, de alguns políticos, especialmente o vereador Manuel Ribeiro, o Nelinho, do Partido dos Trabalhadores e o suplente de vereador Sebastião Sobrinho, do presidente da Assembléia, do deputado Daniel Pereira e do Sindicato dos Trabalhadores de Corumbiara (STR).
O vereador Nelinho se movimentava no sentido de colocar a questão nos noticiários como forma de chamar a atenção para a gravidade da situação, e acreditava que assim poderia sensibilizar a sociedade para a causa dos camponeses. Para Nelinho seria também uma forma de proteger os sem terra. O que Nelinho mais temia era a ação dos jagunços. Nessa altura dos acontecimentos a ocupação já era notícia nos jornais regionais e nacionais.
Na reunião da Câmara de Vereadores de Corumbiara, no dia primeiro de agosto, Nelinho comentou sobre a comissão de negociações a qual acompanhava, cobrou providências das autoridades no sentido de evitar uma tragédia. O vereador tinha esperança que a liminar fosse suspensa até que a comissão pudesse fazer alguma coisa. Mas a força do latifúndio se impôs mais uma vez. O latifúndio fazia pressões sobre juiz, polícia, e o próprio governador. A Sociedade Rural, braço da União Democrática Ruralista (UDR), pressionava o governador exigindo o cumprimento da liminar e exigindo que o comandante da polícia de Vilhena fosse preso por omissão porque protelava o despejo.
O governador tinha conhecimento real da situação da Santa Elina e não tomou nenhuma providência no sentido de evitar a tragédia que já se anunciava. O secretário de agricultura, que era do Partido dos Trabalhadores, também tinha conhecimento da situação, e foi omisso. Muitos foram omissos.
A correlação de forças era brutalmente desfavorável para os posseiros. Os opositores dos camponeses puderam agir em todos os sentidos. No plano jurídico, pressionando juízes, conseguindo liminar em tempo recorde e ofícios que circularam céleres, colocando as notícias nos jornais e nos demais meios de comunicação sempre a seu favor e desqualificando os camponeses. No plano econômico, foi também muito forte a influência dos fazendeiros, pagando transporte para a tropa, fornecendo alimentação, fornecendo veículos, infiltrando jagunços junto às tropas e emprestando avião e piloto para a PM sobrevoar a área do acampamento. Na verdade, ficou caracterizado que o massacre foi uma empreitada particular, financiada por particulares, onde a polícia estava a serviço de fazendeiros e até certo modo sob o "comando" dos mesmos. Antenor Duarte foi visto no QG da PM e seu capataz José Paulo Monteiro estava tão à vontade naquele lugar, que tirou o posseiro Sérgio dentre os presos, jogou-o dentro de uma Toyota e nenhum policial, oficial, subcomandante ou o comandante, "viu". Os camponeses viram e denunciaram mas suas vozes foram caladas.
Ficaram poucos dias na área, mas o acampamento estava organizado, com as diversas comissões encarregadas de tarefas que proporcionavam o melhor andamento possível da vida no mesmo. No dia 08/09, a imprensa de Vilhena registrou as condições do acampamento e a movimentação dos camponeses com a chegada da polícia.
O acampamento dos posseiros era vigiado por pessoas da Santa Elina que informavam ao capitão Mena Mendes sobre os passos dos posseiros. O PM Walter de Souza informou que no dia 8/08 o capitão Mena Mendes, esteve na residência do caseiro da Santa Elina, e nesse mesmo dia ele fez reconhecimento da área do perímetro do acampamento.
Os posseiros ficaram no acampamento somente vinte e quatro dias. Foram momentos muito marcantes para todos. Momentos de tensão e medo quando o acampamento era sobrevoado por aviões. Muito medo quando da primeira tentativa de evacuar a área. Mas estes momentos eram intercalados com outros de confraternização e muita esperança. A esperança e até uma certa dose de otimismo surgiu, durante a visita da comissão de negociação, e depois da saída da mesma. As conversas foram animadoras e cheias de esperança com a possibilidade de intervenção daquelas autoridades, para resolver o problema e no mínimo suspender, ainda que temporariamente, a execução da liminar de manutenção de posse. Outro fator que dava alguma tranquilidade era a possibilidade estratégica de saírem da área e ir para o PA Adriana. Eles planejaram correr para o PA Adriana se o cerco ao acampamento se tornasse insustentável e armariam novo acampamento no campo de futebol. Os coordenadores tinham planejado este detalhe. Sabiam que poderiam ficar acampados naquele local, do PA Adriana, onde a PM e os jagunços perderiam a possibilidade de atacá-los, pelo menos legalmente.
Afinal naquele campo eles seriam os convidados dos amigos assentados. Assim, através dessa estratégia, apreendida com as experiências do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), logo que a situação "esfriasse" voltariam para a Santa Elina. No caso da ocupação do PA Adriana, chegaram a ser despejados da área por três vezes. Tudo indica que no caso da Santa Elina, os opressores queriam mais que um despejo, queriam uma "lição de violência", para que as ocupações cessassem na região. No dia 08 de agosto, chega em frente ao acampamento o Comandante Ventura e a imprensa de Vilhena. Há uma conversa amistosa entre o comando da PM e os representantes dos posseiros, testemunhada pela imprensa. Depois da conversa com o Major Comandante, os posseiros comemoraram, pois pensaram que tinham vencido mais uma batalha. O que eles não sabiam era que seus opositores estavam ali preparados para fazer uma guerra, uma guerra contra mulheres, crianças, jovens e velhos. Suas armas de defesa e caça eram dois revólveres, um calibre 38 e outro 22 e espingardas velhas que usavam para a caça, e as ferramentas de trabalho, inclusive motosserras, emprestadas por quem queria ajudar.
Em contrapartida as armas da PM , somente de policiais do 3o Batalhão de Polícia Militar (BPM), foram: cento e setenta e cinco revólveres calibre 38; doze escopetas de calibre 12; cinco metralhadoras de 9mm; quatro pistolas; cinco mosquetes calibre 7,32; e cinco carabinas. Isso sem contar as armas da COE, dos PM que estavam de férias e estavam a serviço do fazendeiro, e ainda as armas e munições dos jagunços e da chamada PM2. Somente parte das armas da PM foram periciadas e só três provas de balística foram positivas. As três balas eram de revólveres de PM e foram encontrados nos corpos de Hercílio e José Marconde, posseiros que foram executados sumariamente como atestam os laudos tanatoscópicos.
Mesmo com tantas evidências as autoridades de Rondônia insistem em negar que houve massacre em Corumbiara. Tanto o juiz de Colorado do Oeste, como o promotor não aceitam chamar o episódio da Santa Elina de massacre. E o promotor assim o definiu:
Não houve massacre porque ninguém foi massacrado, houve um conflito onde, infelizmente, algumas pessoas morreram .
A imprensa, naquele episódio, teve papel muito importante, pois registrou em áudio e vídeo momentos relevantes dentro do acampamento e na entrada do mesmo, conversou com posseiros e gravou uma longa entrevista com um dos coordenadores do acampamento, que com muita clareza e objetividade, explicou as condições que estavam ali, quem os apoiava, as necessidades daqueles camponeses e a firme decisão de lutar pela terra, e fez graves denúncias sobre as pressões que os posseiros da Santa Elina e até assentados dos PA próximos estavam sofrendo de jagunços e dos fazendeiros.
O Massacre de Corumbiara
Na madrugada do dia 09/08 o acampamento da Santa Elina foi cercado por todos os lados e começou o que foi o massacre de Corumbiara.
Os posseiros foram pegos de surpresa, pois era noite escura e eles estavam desmobilizados.
Os posseiros foram acordados com bombas de gás lacrimogênio que a todos sufocavam, tiroteio por longas horas com armas muito pesadas, mulheres foram usadas como escudo humano pelos policiais e por jagunços. Segundo relatos um grande número de jagunços, alguns vestidos como policiais entraram infiltrados no meio das tropas e muitos homens estavam encapuzados. O acampamento foi totalmente destruído e depois incendiado. Não sobrou nada do que os camponeses haviam levado para começar o que seria uma vida nova. Tudo se transformou em pesadelo.
O que aconteceu naquela noite e naquela manhã, não foi testemunhado pela imprensa, mas as marcas estão presentes naqueles corpos e naquelas almas que sofreram torturas indescritíveis mas os que sobreviveram puderam contar o que aconteceu ali, embora suas vozes tenham sido sufocadas, desqualificadas, ou simplesmente ignoradas durante as apurações processuais e durante o júri.
Os homens que não morreram ou não conseguiram fugir pela mata foram presos e obrigados a se deitarem no chão com o rosto na lama e policiais e jagunços pisavam sobre eles e os espancavam com chutes em todas as partes do corpo e davam pauladas em qualquer um que ousasse levantar a cabeça. Depois foram amarrados com cordas e arrastados até o QG da PM, no campo de futebol do PA Adriana. Os homens ficaram por longas horas, sem água, sem comida, apanhando e sofrendo todo tipo de humilhações.
As mulheres e as crianças também ficaram presas em cima de caminhões por longas horas sob um sol escaldante passando fome e sede. Os posseiros foram presos, mortos e torturados e o acampamento foi completamente destruído.
Em todas as entrevistas e conversas com os camponeses que estiveram na Santa Elina e seus vizinhos há uma coerência e coincidência nas informações ao descrever o ataque ao acampamento, a entrada dos jagunços e policiais, espancando, atirando e torturando, depois de rendidos, a continuação das torturas e execuções, a retirada dos posseiros presos no local do acampamento até o campo de futebol. Homens e meninos eram arrastados e espancados sistematicamente, foram obrigados a comer terra molhada com sangue. Além de todas as torturas físicas ainda os constrangimentos morais e psicológicas e as agressões com palavras e gestos.
Os depoimentos dos posseiros comprovam que houve realmente um massacre em todos os sentidos da expressão. A vida daquelas centenas de pessoas ficou à prova desde o momento que foi atirada a primeira bomba de gás dentro do acampamento até a chegada do advogado da CPT na delegacia de Colorado do Oeste, no dia 10 de agosto, ou seja, aqueles camponeses viveram mais de vinte e quatro horas de torturas ininterruptas.
Durante todo esse tempo os camponeses foram torturados porque os torturadores queriam saber quem eram os líderes e onde eles estavam. Isto equivale a dizer que aqueles que lideraram aquela ocupação já haviam sido julgados e condenados sumariamente por quem organizara aquela ação repressiva.
Homens, mulheres e crianças foram impedidos de se alimentar, de beber água e inclusive de fazer as necessidades fisiológicas, ficaram ouvindo ameaças de morte, olhando para os mortos estendidos no chão, vendo companheiro sendo retirado e jogado em Toyota. As crianças que não podiam nem chorar em voz alta. Mães tinham de colocar a mão na boca das crianças para que elas não gritassem. Outras mães separadas de filhos, maridos separados de esposas. Era o desespero de não saber onde estava o seu ente querido, se vivo ou morto e não poder sequer perguntar. Via-se um amontoado de homens sentados quase uns sobre os outros. O próprio major Ventura declarou em seu depoimento que, quando voltou do acampamento dos posseiros para o QG, depois do despejo consumado, ali estavam cerca de setecentos e cinquenta pessoas e haviam inúmeros veículos Toyota, ônibus, caminhões e estavam civis portando armamento, e estes não eram da polícia civil, e o major disse ainda que viu, no acampamento, policiais pisando em cima de civis.
Os trezentos e cinquenta e cinco presos que estavam naquele campo foram transportados amontoados em caminhões até a cidade de Colorado do Oeste. Quando saíram do QG já estava escurecendo e o transporte foi a continuação do massacre. Os homens eram colocados uns sobre os outros dentro do caminhão e ainda continuavam sofrendo ameaças. O posseiro Moacir Camargo já estava no caminhão quando levou um tiro que lhe traspassou o corpo.
O transporte dos posseiros presos, do QG da PM até a cidade de Colorado do Oeste, foi a continuação das torturas, pois eles estavam amontoados nos caminhões e, como as estradas eram péssimas, os motoristas faziam questão de aumentar os seus sofrimento s indo em alta velocidade, dando solavancos e ferindo mais ainda aqueles corpos já tão machucados, tão famintos, sedentos, ameaçados...
Chegando em Colorado do Oeste, cerca de setenta desses presos foram encaminhados à delegacia de polícia, e os outros foram confinados no ginásio de esportes. Os presos que foram para o ginásio de esportes tiveram mais sorte, embora estivessem sob vigilância e não tivessem nenhuma assistência, não foram mais torturados fisicamente. O padre José Maria, hoje bispo de Colorado do Oeste, chegou muito cedo ao ginásio e teve dificuldade para entrar, a polícia tentou impedir e ele descreveu o que viu. Ele disse que eram homens e meninos sujos, ensanguentados, famintos, feridos, desesperados. O padre tomou providências para alimentá-los. A população da cidade foi muito solidária com os posseiros e rapidamente foi providenciando roupas e alimentos para todos. Aquelas pessoas, centenas de mulheres e crianças e cerca de trezentos e cinquenta homens, só tinham a roupa do corpo, mesmo assim, muitos estavam rasgados e sujos de lama e sangue. Tudo que eles tinham foi queimado no acampamento.
Depoimentos dos sobreviventes de Corumbiara “Companheiros, sou mais um dos sobreviventes. Chegou a hora de darmos o troco. Estaremos sempre denunciando esses governos corruptos e que nada fazem senão massacrar o povo com promessas que nunca cumprem. Estão, de novo, só mentindo para o povo votar neles nas próximas eleições. Um dia esses filhos da puta vão ter que nos pagar”, afirmou o camponês Dedé.
“Olha, moço, não põe meu nome aí e nem diz que falou comigo. A verdade é que morreram muito mais, entre policiais e camponeses. Não foram apenas os onze que divulgaram. Dizem até que, se tivessem contado a verdade, que morreram mais policiais, estariam estimulando novas ocupações. A imprensa só chegou depois da “limpeza”. Meus sobrinhos viram passar caminhões com cadáveres e presos, muitos presos, todos amontoados, aqui, em Cerejeiras, atrás da cidade. Muita gente foi jogada no rio ou enterrada. Tem gente que passou a morar aqui pertinho, deixando Corumbiara, e até hoje, pergunta por parentes”. “Tem gente que procura até hoje, por familiares que sumiram. E têm muito medo de falar. Sei de mães nesse drama. Então, não foram só as 11 pessoas que morreram, conforme falam, nove companheiros nossos e dois PMs. Tem muita gente que saiu de Corumbiara, tamanho o medo que permanece até hoje, além do trauma. Aquela noite foi de muito horror. Teve uma amiga, a Ana Paula, que ficou viúva com uma filhinha de dois anos. Estava casada há apenas três anos.
Houve um momento de pânico quando os policiais queriam aprisionar todas as mulheres, deixando as crianças com os avós. Só queriam liberar quem tivesse parente morto. Não concordamos, batemos pé firme, mesmo sabendo que poderíamos sofrer graves conseqüências. Alguns jagunços e PMs chegavam a gritar que “vamos acabar com os homens e, depois, vocês”. Isto depois de terem matado muitos companheiros. Só em Colorado do Oeste, para onde levaram os sobreviventes, nos deixaram num Centro Comunitário, e os homens, na delegacia e num ginásio da cidade.
Estou lembrando o caso por solicitação do jornal de vocês, que será o primeiro a publicar a verdade, pois não gosto mais de tocar nesse assunto. E, por favor, não põe meu nome”, disse outra sobrevivente.
"Me aleijaram de tanta pancada"
Praticamente aleijado pelas pancadas que recebeu e escorando-se até pegar o microfone para protestar, Toinho gritou que “nós não é besta, não. Temos que continuar a luta contra esses poderosos que não querem dividir nada e ficam aí mandando matar inocentes. Temos que ser indenizados e os canalhas colocados na cadeia. Os policiais foram indenizados, mas nós, não. Eu mal posso andar. Onde está a Justiça neste país? Quando nós conseguimos um pedacinho de terra e queremos plantar, o governo nos nega apoio, mas se é o rico, o latifundiário, não falta nada.
Não nos dão sequer tratamento médico, uma vergonha e ficamos reclamando o tempo todo, sem que nada aconteça. Mas um dia isso terá fim. Estamos nos organizando para isso”, disse José do Campo.
“Fui massacrado de Corumbiara a Colorado, nu e jogado no chão. Tenho os quadris quebrados até hoje, o que me impede de trabalhar e só me permite fazer tratamento. No hospital de Colorado, um policial quis me matar. Eu era magro e passei a parecer gordo, mas é inchaço das pancadas. É normal a cabeça doer muito. Tem uma companheira, a D. Alzira, que nem está podendo sair de casa, de tanta paulada que atrofiou uma das pernas. Tem companheiro praticamente cego, outros surdos, de tanta pancada que levaram. E teve companheiro, hoje ausente do convívio normal, tamanho o trauma criado, que foi obrigado a comer cérebro. É o Paulo, mais conhecido hoje, por Zé Miolo”.
Messias levou um tiro no pescoço
Os hospitais de Colorado do Oeste, Cerejeiras e Vilhena estavam lotados de posseiros feridos. Apenas Claudemir Gilberto Ramos foi deslocado do hospital de Vilhena para o hospital em Porto Velho. Claudemir estava correndo risco de vida porque tivera ferimentos muito graves, inclusive traumatismo craniano, resultado do espancamento que sofreu no acampamento por parte de policiais e jagunços. Ele corria ainda o risco de ser assassinado, pois sofreu um atentado quando estava no hospital de Vilhena e outro quando estava em Porto Velho.
Para aquelas autoridades era considerado ferido o posseiro que apresentasse lesões graves e principalmente ferimentos por projéteis de arma de fogo. Os que estivessem com a mão quebrada, pés feridos, costelas quebradas, hematomas externos, escoriações, mesmo cortes em diversas partes do corpo e até grandes cortes na cabeça não eram considerados como feridos.
Do lado dos policiais era o contrário, qualquer escoriação era considerado ferimento.
As notícias de que havia acontecido algo muito sério na Santa Elina começaram a circular no final do dia 9/08 mas só no dia 10/08 é que o Brasil e o mundo se consternaram diante das imagens de Corumbiara.
Aí vieram as explicações. Todos tentavam explicar o que era inexplicável.
O governador do Estado Waldir Raup em seus discursos culpou o INCRA pelo massacre e imediatamente atribuiu aos posseiros a responsabilidade por terem emboscado os policiais que estavam cumprindo ordens. O governador foi omisso durante aqueles vinte e quatro dias em que poderia ter interferido e quando o pior aconteceu, tomou a atitude mais cômoda, ou seja, transferiu culpas e responsabilidades.
Foram as explicações do prefeito de Corumbiara se queixando porque não foi notificado da operação; são explicações do comandante geral da PM dizendo que os policiais foram emboscados e que cumpriram o dever de proteger a propriedade.
Naquele dia 9 de agosto de 1995 morreram onze pessoas inclusive a pequena Vanessa, de apenas 6 anos que morreu com um tiro pelas costas que lhe trespassou o corpinho. Vanessa foi atingida quando sua mãe corria com ela e o irmãozinho em direção a mata. Corumbiara continuou fazendo vítimas.
Corumbiara continuou e continua fazendo vítimas Nos casos de violência no campo, o que é mais evidente é que os que praticam todo tipo de violência contra os trabalhadores, contra religiosos, advogados, enfim contra todos os que questionam o latifúndio, é a certeza da impunidade. No caso da Santa Elina não foi diferente, porque Antenor Duarte e o seu capataz José Paulo estão impunes, apesar da ostensiva participação deles em todo o processo que culminou no massacre de Corumbiara. Na investigação dos fatos, pode-se perceber como a justiça ignorou ou desqualificou os depoimentos dos posseiros e de todos que os apoiam, inclusive do Bispo Dom Geraldo Verdier, do padre, dos vizinhos... prevalecendo a voz dos próprios policiais e dos fazendeiros. O massacre de Corumbiara teve repercussões e consequências nacionais e internacionais e é um marco definitivo na história dos quinhentos anos de luta no campo.
Até hoje tem gente doente, morrendo ou sem poder trabalhar por causa das lesões sofridas. As viúvas e os órfãos estão desamparados. Ainda existe gente desaparecida até hoje. Outra grande vítima de Corumbiara foi o vereador Nelinho, assassinado em dezembro de 1995, depois de ter sofrido muitas ameaças de morte. Os pistoleiros que emboscaram Nelinho foram controlados pelo vereador do PMDB, Percílio. O vereador do PT era filho de camponeses e um defensor de seus pares.
E no júri popular que aconteceu em Porto Velho no período de 14/08 a 06/09/2000, os sem terra Cícero Pereira Leite Neto e Claudemir Gilberto Ramos foram condenados, mesmo sem provas nos autos. Cícero e Claudemir são mais duas vítimas de Corumbiara e do latifúndio. “
FONTE: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/06/06/escondido-da-justica-e-de-pistoleiros-filho-de-campones-morto-em-rondonia-vive-clandestino-ha-15-anos.jhtm)
Como Assistente Social, Poeta, servidora pública, mulher, cidadã, mãe e avó, preocupam-me muito essa realidade em que pessoas que trabalham na terra, que produzem os alimentos que comemos, não têm condições de fazer seu trabalho e nem ao menos de prover a subsistência de sua família porque os governos todos entram e saem sem promover a reforma agrária, ou seja, distribuição de terras para quem quer trabalhar nela, acabando com as imensas terras que servem a monoculturas de soja, laranjas, etc. (para a exportação) e para o pasto.
A terra é para todos poderem usufruir dos bens que ela pode produzir; nada de plantar apenas uma coisa, mas, sim tudo o que se consome no dia a dia para o saudável desenvolvimento das pessoas.
As pessoas que ocupam terras não são vândalos, bandidos, infratores, meliantes, elas são pessoas que querem ser trabalhadoras da terra. Basta ver os exemplos dos assentamentos , comunidades onde as pessoas vivem, trabalham, estudam, ou seja, levam uma vida sem glamour, mas que lhes dá a certeza de sua dignidade.
Eu sou totalmente solidária com Claudemir Ramos, pois é um homem jovem, potencialmente capaz, um lavrador, que não pode estar com sua família, não pode trabalhar, não pode exercer seus direitos de cidadãos porque Além de ser procurado por pistoleiros pagos por latifundiários por ser líder de movimento, passou a ser fugitivo da Justiça por ter perdido todos os recursos judiciais uma vez que foi condenado, segundo informes técnicos, sem aparecer nem a arma do crime.
Amigo Claudemir, não nos conhecemos além do espaço virtual que felizmente hoje em dia existe para que possamos estar conhecendo mais pessoas e ter mais informações sobre o mundo, mas te considero um companheiro, pois tua causa deve ser a causa de qualquer pessoa que se revolte com a INJUSTIÇA SOCIAL.
Ninfeia G
www.reflexoesemversos.com.br
P.S- Adelino Ramos, pai de Claudemir Ramos e também lider do movimento corumbiara, foi assassinado há cerca de um mês atrás, em Rondonia.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
WikiLeaks: Massacre da Praça da Paz Celestial foi um mito
Quantas vezes já nos disseram que os Estados Unidos são uma sociedade "aberta" e a mídia é "livre"? Geralmente tais frases são usadas para criticar outros países que não são "abertos", principalmente quando esses países não seguem a cartilha de Washington.
Por Deirdre Griswold, no Workers World
Se você mora nos Estados Unidos e depende da mídia comercial supostamente "livre" e "aberta" para se informar, sem sombra de dúvidas você acreditará que o governo chinês massacrou "centenas, talvez milhares" de estudantes na Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989. Desde então, essa frase foi repetida milhares de vezes pela mídia dos Estados Unidos.
Mas isso é um mito. Ainda por cima, o governo dos Estados Unidos sabe que é um mito. E todas as grandes mídias também sabem disso. Mas elas se recusam a corrigir a informação, por causa da hostilidade exibida pela classe dirigente do imperialismo americano contra a China.
E baseado em que faço essa afirmação? Diversas fontes.
A mais recente é a transmissão de vários telegramas, vazada pelo site WikiLeaks, da embaixada dos Estados Unidos em Pequim para ao Departamento de Estado dos EuA em junho de 1989, poucos dias depois dos acontecimentos na China.
A segunda é uma afirmação, feita em novembro de 1989 pelo chefe da sucursal pequinesa do jornal americano The New York Times, uma afirmação que jamais foi repetida pelo jornal.
E a terceira é o relato feito pelo próprio governo chinês do que aconteceu, o que é corroborado pelas duas fontes anteriores.
Somente um grande jornal do ocidente publicou os telegramas vazados pelo WikiLeaks a respeito do assunto. Foi o britânico The Telegraph, de Londres, que publicou material sobre o assunto exatamente no dia 4 de junho, exatamente 22 anos depois que o governo chinês colocou as tropas nas ruas de Pequim.
Dois telegramas, datados de 7 de julho de 1989, mais de um mês depois dos acontecimentos, relata o seguinte:
"Um diplomata chileno foi testemunha viva dos soldados entrando na Praça da Paz Celestial. Ele viu os militares entrarem na praça e não observou nenhum disparo em massa sobre a multidão, embora tenha escutado disparos esporádicos. ele disse que a maioria das tropas que entrou na praça estava armada apenas com dispositivos anti-motim, como escudos e cassetetes; eles foram apoiados por soldados armados".
Um outro telegrama dizia o seguinte: "Um diplomata chileno testemunhou no local os soldados ocupando a Praça da Paz Celestial: embora alguns disparos pudessem ser ouvidos, ele disse que não viu nenhum fogo contra a massa de estudantes, viu apenas alguns deles apanharem".
Deve-se lembrar que o Chile ainda vivia sob a ditadura do general Augusto Pinochet, que chegou ao poder via um violento golpe de extrema-direita, anti-socialista, apoiado pela direita dos Estados Unidos, no qual milhares de esquerdistas, incluindo o presidente do país, Salvador Allende, foram mortos. O tal diplomata chileno presente nos eventos na China não poderia ser considerado, jamais, um simpatizante da China.
Nenhum jornal americano, rede de televisão aberta ou a cabo, reportou ou comentou esses telegramas revelados pelo WikiLeaks, nem sequer a matéria do Telegraph sobre eles. Como sempre agem nessas ocaisões, fizeram um silêncio profundo sobre o tema.
Será que foi porque eles não acreditaram que a matéria do Telegraph tivesse credibilidade? Dificilmente.
Eles sabiam a verdade em 1989
O The New York Times sabe que tinha credibilidade. Seu próprio chefe de sucursal em Pequim na época, Nicholas Kristof, confirmou isso em um longo artigo, intitulado "Atualização da China: Como os linha-duras venceram", publicado na edição de domingo do caderno Sunday Times, em 12 de novembro de 1989, apenas cinco meses depois do suposto massacre na praça.
Bem no fim do artigo, cujo propósito era mostrar "por dentro" o debate entre a liderança do Partido Comunista Chinês, Kristof afirma categoricamente: "Baseado em minhas observações nas ruas, nenhuma versão está certa, nem a oficial nem as feitas por estrangeiros. Não houve massacre na Praça da Paz Celestial, embora tenha havido muitas mortes em outras partes".
Mesmo considerando que o artigo de Kristof é excessivamente crítico em relação à China, sua declaração de que "não houve massacre na Praça da Paz Celestial" fez com que virasse alvo das críticas de vários detratores da China nos Estados Unidos, como se viu nos dias posteriores na coluna de cartas do jornal.
Houve conflitos em Pequim? Claro que sim. Mas não houve massacre de estudandes desarmados na praça. O que aconteceu foi uma invenção do Ocidente para demonizar o governo chinês e aumentar a simpatia pública por uma contra-revolução.
A viragem no rumo de uma economia de mercado sob o governo de Deng Xioping alienou muitos trabalhadores. Houve também um elemento contra-revolucionário, tentando obter vantagem com o descontentamento popular para restaurar completamente o capitalismo na China.
Os imperialistas torciam para que os conflitos em Pequim trouxessem a um colapso o Partido Comunista da China e destruísse a planificação da economia – semelhante ao que ocorreu dois anos depois à União Soviética. Eles queriam "abrir" a China, não de verdade, mas para permitir aos bancos e corporações imperialistas o saque dos bens públicos.
Após ter ficado de sobreaviso por algum tempo, o Exército Popular de Libertação foi chamado e a sublevação foi esmagada. A China não se extinguiu como a União Soviética. Sua economia não implodiu nem caíram os padrões de vida. Muito pelo contrário. Salários e condições sociais foram melhorados ao mesmo tempo que trabalhadores ao redor do mundo são obrigados a arcar com severas crises do capitalismo.
A despeito de profundas concessões ao capitalismo, estrangeiro e doméstico, a China continua a ter uma economia planejada, baseada em uma forte infraestrutura estatal.
Fonte: Workers Workd: E-mail: dgriswold@workers.org
Por Deirdre Griswold, no Workers World
Se você mora nos Estados Unidos e depende da mídia comercial supostamente "livre" e "aberta" para se informar, sem sombra de dúvidas você acreditará que o governo chinês massacrou "centenas, talvez milhares" de estudantes na Praça da Paz Celestial, em 4 de junho de 1989. Desde então, essa frase foi repetida milhares de vezes pela mídia dos Estados Unidos.
Mas isso é um mito. Ainda por cima, o governo dos Estados Unidos sabe que é um mito. E todas as grandes mídias também sabem disso. Mas elas se recusam a corrigir a informação, por causa da hostilidade exibida pela classe dirigente do imperialismo americano contra a China.
E baseado em que faço essa afirmação? Diversas fontes.
A mais recente é a transmissão de vários telegramas, vazada pelo site WikiLeaks, da embaixada dos Estados Unidos em Pequim para ao Departamento de Estado dos EuA em junho de 1989, poucos dias depois dos acontecimentos na China.
A segunda é uma afirmação, feita em novembro de 1989 pelo chefe da sucursal pequinesa do jornal americano The New York Times, uma afirmação que jamais foi repetida pelo jornal.
E a terceira é o relato feito pelo próprio governo chinês do que aconteceu, o que é corroborado pelas duas fontes anteriores.
Somente um grande jornal do ocidente publicou os telegramas vazados pelo WikiLeaks a respeito do assunto. Foi o britânico The Telegraph, de Londres, que publicou material sobre o assunto exatamente no dia 4 de junho, exatamente 22 anos depois que o governo chinês colocou as tropas nas ruas de Pequim.
Dois telegramas, datados de 7 de julho de 1989, mais de um mês depois dos acontecimentos, relata o seguinte:
"Um diplomata chileno foi testemunha viva dos soldados entrando na Praça da Paz Celestial. Ele viu os militares entrarem na praça e não observou nenhum disparo em massa sobre a multidão, embora tenha escutado disparos esporádicos. ele disse que a maioria das tropas que entrou na praça estava armada apenas com dispositivos anti-motim, como escudos e cassetetes; eles foram apoiados por soldados armados".
Um outro telegrama dizia o seguinte: "Um diplomata chileno testemunhou no local os soldados ocupando a Praça da Paz Celestial: embora alguns disparos pudessem ser ouvidos, ele disse que não viu nenhum fogo contra a massa de estudantes, viu apenas alguns deles apanharem".
Deve-se lembrar que o Chile ainda vivia sob a ditadura do general Augusto Pinochet, que chegou ao poder via um violento golpe de extrema-direita, anti-socialista, apoiado pela direita dos Estados Unidos, no qual milhares de esquerdistas, incluindo o presidente do país, Salvador Allende, foram mortos. O tal diplomata chileno presente nos eventos na China não poderia ser considerado, jamais, um simpatizante da China.
Nenhum jornal americano, rede de televisão aberta ou a cabo, reportou ou comentou esses telegramas revelados pelo WikiLeaks, nem sequer a matéria do Telegraph sobre eles. Como sempre agem nessas ocaisões, fizeram um silêncio profundo sobre o tema.
Será que foi porque eles não acreditaram que a matéria do Telegraph tivesse credibilidade? Dificilmente.
Eles sabiam a verdade em 1989
O The New York Times sabe que tinha credibilidade. Seu próprio chefe de sucursal em Pequim na época, Nicholas Kristof, confirmou isso em um longo artigo, intitulado "Atualização da China: Como os linha-duras venceram", publicado na edição de domingo do caderno Sunday Times, em 12 de novembro de 1989, apenas cinco meses depois do suposto massacre na praça.
Bem no fim do artigo, cujo propósito era mostrar "por dentro" o debate entre a liderança do Partido Comunista Chinês, Kristof afirma categoricamente: "Baseado em minhas observações nas ruas, nenhuma versão está certa, nem a oficial nem as feitas por estrangeiros. Não houve massacre na Praça da Paz Celestial, embora tenha havido muitas mortes em outras partes".
Mesmo considerando que o artigo de Kristof é excessivamente crítico em relação à China, sua declaração de que "não houve massacre na Praça da Paz Celestial" fez com que virasse alvo das críticas de vários detratores da China nos Estados Unidos, como se viu nos dias posteriores na coluna de cartas do jornal.
Houve conflitos em Pequim? Claro que sim. Mas não houve massacre de estudandes desarmados na praça. O que aconteceu foi uma invenção do Ocidente para demonizar o governo chinês e aumentar a simpatia pública por uma contra-revolução.
A viragem no rumo de uma economia de mercado sob o governo de Deng Xioping alienou muitos trabalhadores. Houve também um elemento contra-revolucionário, tentando obter vantagem com o descontentamento popular para restaurar completamente o capitalismo na China.
Os imperialistas torciam para que os conflitos em Pequim trouxessem a um colapso o Partido Comunista da China e destruísse a planificação da economia – semelhante ao que ocorreu dois anos depois à União Soviética. Eles queriam "abrir" a China, não de verdade, mas para permitir aos bancos e corporações imperialistas o saque dos bens públicos.
Após ter ficado de sobreaviso por algum tempo, o Exército Popular de Libertação foi chamado e a sublevação foi esmagada. A China não se extinguiu como a União Soviética. Sua economia não implodiu nem caíram os padrões de vida. Muito pelo contrário. Salários e condições sociais foram melhorados ao mesmo tempo que trabalhadores ao redor do mundo são obrigados a arcar com severas crises do capitalismo.
A despeito de profundas concessões ao capitalismo, estrangeiro e doméstico, a China continua a ter uma economia planejada, baseada em uma forte infraestrutura estatal.
Fonte: Workers Workd: E-mail: dgriswold@workers.org
terça-feira, 12 de julho de 2011
Sobre o guerrilheiro cantor Julian Conrado
Manuel Olate
Julho 2011
Desde a sua aldeia Turbaco, de Santa Marta até a Serra Nevada, Julián Conrado fez um longo percurso. Contava que antes de terminar a escola já era ameaçado de morte por ser comunista e sindicalista.
Relatava também que de simples estudante , boêmio e também, cantor, , transformou-se em um militante da causa de Tirofijo.
Atingiu, com sua arte e sua poesia, Mau para os tiros, inimigos da Colômbia Após uma entrevist em fevereiro de 2008 ,na selva equatoriana, não soube mais dele até há algumas semanas.
Os melhores artistas da época subiam às montanhas, entre acordeonistas, guitarristas ,gravavam clandestinamente os acordes para que Julián pudesse mostrar seu trabalho.
Conrado é o máis rebelde entre os rebeldes. Quando, no Caribe, o criticaram porque emalgums de suas canções usa uma linguagem demasiado coloquial, revelou-se e decidiu não gravar mais devido aos chamados de atenção semelhantesà censura.
O pensamento crítico e a disidencia en certos temas, como nas canções –e sobre tudo nas canções, temas demasiados serios para deixar de lado, sempre será benvido em qualquer revolução.Portanto, asumiu essa postura.
Há algumas semanas foi detido na Venezuela, na pátria bolivariana, o comandante Julián Conrado. Contrariando sua natureza, não cantou. Passou dois dias em silêncio, provavelmente tentando entender como era possível que precisamente aí, onde desde o início do século passado patriotas venezuelanos como Carlos Leão assinalavam que a liberdade e a revolução não têm pátria, ele havia sido preso por acreditar que estaria seguro.
É possível que a revolução não é o mesma para o resto da esquerda latino-americana. Que palavras como companheiro, revolução, socialismo ou morte e essa série de lugares comuns que tanto gostamos na esquerda não tem o mesmo significado. Só assim poderemos entender o que se passa na Venezuela.
Con Julián Conrado são seis compañeiros que a revolución bolivariana entrega à Colombia, a democracia máis antiga de América segundo Bush e terceiro país do mundo en recibir ajuda militar por parte dos gringos. Que cada un tire as súas próprias conclusões.
O líder dessa pátria bolivariana costuma se comparar com Allende, abusa ao dizer que o processo é atacado pela direita e esquerda, tal como a UP.Dve ser esclarecido a esse lider que Allende não entregou revolucionários, nem se deixou pressionar pelas famosas razões de Estado. Para Salvador Allende, o governo socialista entrou em aberta contradição com os interesses do império.
O exemplo mais claro é o dos guerrilheiros argentinos que chegaram a Puerto Montt em 1972, segundo e frágil ano da UP, a direita clamou aos quatro ventos que o Chile era refúgio de extremistas, mas Allende não cedeu. “Este é um governo socialista, merda, não entregamos colegas, “disse. Claro, o Chicho tinha antecedentes: alguns anos antes, sendo Senador, foi receber os guerrilheiros que sobreviveram ao Che, na Bolívia. Não, Allende não cedeu, como ainda se costuma cantar nas marchas, e assim passou à história como o nosso companheiro.
Dizer que eram tempos diferentes, é claro que eram sim. Naquela época a solução do império eram ditaduras sangrentas e assassinas, hoje assustam com pacotes econômicos.
Chávez não é Fidel, nem Marulanda, e, definitivamente, não é Allende. Espero com sinceridade que a história lhe guarde um lugar ou que o absolva. Enquanto isso, tento explicar a enorme distância entre o discurso e a prática revolucionária; como auto-crítica militante reconheço que guardei um respeitoso silêncio, mais parecido com o pudor. No entanto, o silêncio e a complacência são outras formas de aumentar as distâncias entre discurso e prática, categorias que meu pai me ensinou que sempre devem ir juntas.
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O original encontra-se em
http://estoutrasnotaspoliticas.blogspot.com/
Julho 2011
Desde a sua aldeia Turbaco, de Santa Marta até a Serra Nevada, Julián Conrado fez um longo percurso. Contava que antes de terminar a escola já era ameaçado de morte por ser comunista e sindicalista.
Relatava também que de simples estudante , boêmio e também, cantor, , transformou-se em um militante da causa de Tirofijo.
Atingiu, com sua arte e sua poesia, Mau para os tiros, inimigos da Colômbia Após uma entrevist em fevereiro de 2008 ,na selva equatoriana, não soube mais dele até há algumas semanas.
Os melhores artistas da época subiam às montanhas, entre acordeonistas, guitarristas ,gravavam clandestinamente os acordes para que Julián pudesse mostrar seu trabalho.
Conrado é o máis rebelde entre os rebeldes. Quando, no Caribe, o criticaram porque emalgums de suas canções usa uma linguagem demasiado coloquial, revelou-se e decidiu não gravar mais devido aos chamados de atenção semelhantesà censura.
O pensamento crítico e a disidencia en certos temas, como nas canções –e sobre tudo nas canções, temas demasiados serios para deixar de lado, sempre será benvido em qualquer revolução.Portanto, asumiu essa postura.
Há algumas semanas foi detido na Venezuela, na pátria bolivariana, o comandante Julián Conrado. Contrariando sua natureza, não cantou. Passou dois dias em silêncio, provavelmente tentando entender como era possível que precisamente aí, onde desde o início do século passado patriotas venezuelanos como Carlos Leão assinalavam que a liberdade e a revolução não têm pátria, ele havia sido preso por acreditar que estaria seguro.
É possível que a revolução não é o mesma para o resto da esquerda latino-americana. Que palavras como companheiro, revolução, socialismo ou morte e essa série de lugares comuns que tanto gostamos na esquerda não tem o mesmo significado. Só assim poderemos entender o que se passa na Venezuela.
Con Julián Conrado são seis compañeiros que a revolución bolivariana entrega à Colombia, a democracia máis antiga de América segundo Bush e terceiro país do mundo en recibir ajuda militar por parte dos gringos. Que cada un tire as súas próprias conclusões.
O líder dessa pátria bolivariana costuma se comparar com Allende, abusa ao dizer que o processo é atacado pela direita e esquerda, tal como a UP.Dve ser esclarecido a esse lider que Allende não entregou revolucionários, nem se deixou pressionar pelas famosas razões de Estado. Para Salvador Allende, o governo socialista entrou em aberta contradição com os interesses do império.
O exemplo mais claro é o dos guerrilheiros argentinos que chegaram a Puerto Montt em 1972, segundo e frágil ano da UP, a direita clamou aos quatro ventos que o Chile era refúgio de extremistas, mas Allende não cedeu. “Este é um governo socialista, merda, não entregamos colegas, “disse. Claro, o Chicho tinha antecedentes: alguns anos antes, sendo Senador, foi receber os guerrilheiros que sobreviveram ao Che, na Bolívia. Não, Allende não cedeu, como ainda se costuma cantar nas marchas, e assim passou à história como o nosso companheiro.
Dizer que eram tempos diferentes, é claro que eram sim. Naquela época a solução do império eram ditaduras sangrentas e assassinas, hoje assustam com pacotes econômicos.
Chávez não é Fidel, nem Marulanda, e, definitivamente, não é Allende. Espero com sinceridade que a história lhe guarde um lugar ou que o absolva. Enquanto isso, tento explicar a enorme distância entre o discurso e a prática revolucionária; como auto-crítica militante reconheço que guardei um respeitoso silêncio, mais parecido com o pudor. No entanto, o silêncio e a complacência são outras formas de aumentar as distâncias entre discurso e prática, categorias que meu pai me ensinou que sempre devem ir juntas.
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O original encontra-se em
http://estoutrasnotaspoliticas.blogspot.com/
domingo, 10 de julho de 2011
Uma declaração brilhante e corajosa
Por Fidel Castro Ruz-Cuba Debate
A atenção a outros assuntos prioritários, me separam momentaneamente da freqüência com que elaborei reflexões durante o ano de 2010, no entanto, o anúncio do líder revolucionário Hugo Chávez Frías na quinta-feira (30) obriga-me a escrever estas linhas.
O presidente da Venezuela é um dos homens que mais fizeram pela saúde e educação de seu povo, como são temas nos que acumulou mais experiência a Revolução Cubana, com imenso prazer, colaboramos ao máximo em ambos os campos com esse país irmão.
Não se trata, em absoluto, de que esse país carecesse de médicos, pelo contrário, possuía em abundância, incluindo entre eles profissionais de qualidade, como em outros países da América Latina. Se trtata de uma questão social. Os melhores médicos e os mais sofisticados equipamentos poderiam estar, como em todos os países capitalistas, a serviço da medicina privada. Às vezes nem isso, porque no capitalismo subdesenvolvido, como o que existia na Venezuela, a classe rica dispunha de meios suficientes para ir aos melhores hospitais dos Estados Unidos ou da Europa, algo que era habitual e ninguém pode negar.
Pior, os EUA e a Europa têm sido caracterizados por seduzir os melhores especialistas de qualquer país explorado do Terceiro Mundo a abandonar sua pátria e emigrem para as sociedades de consumo. Formar médicos para esse mundo, nos países desenvolvidos, envolve enormes somas, que milhões de famílias pobres na América Latina e Caribe, não poderiam pagar nunca. Em Cuba acontecia isso até a revolução que aceitou o desafio, não só para treinar médicos capazes de servir o nosso país, mas outros países da América Latina, o Caribe ou do mundo.
Nunca arrebatamos as inteligências de outros povos. Ao contrário, em Cuba têm-se formado , gratuitamente, dezenas de milhares de médicos e outros profissionais de alto nível para devolvê-los aos seus próprios países.
Graças às profundas revoluções bolivariana e martianas, Venezuela e Cuba são países onde a saúde e a educação se desenvolveram extraordinariamente. Todos os cidadãos têm direito real a receber, gratuitamente, educação geral e formação profissional, algo que os Estados Unidos não puderam e nem poderão garantir a todos os seus habitantes. A realidade é que o governo desse país investe a cada ano um trilhão de dólares com aparatos militares e suas aventuras bélicas. É também o maior exportador de armas e instrumentos de morte e é o maior mercado de drogas no mundo. Devido a esse tráfico, dezenas de milhares de latino-americanos perdem suas vidas a cada ano.
É algo tão real e tão conhecido, que mais de 50 anos atrás, um Presidente de origem militar denúnciou, com tom amargo, o poder decisivo acumulada pelo complexo militar industrial desse país.
Estas palavras seriam excessivas se não fosse a odiosa e repugnante campanha desencadeada pelos meios de comunicação da oligarquia venezuelana, ao serviço desse império, usando as dificuldades da saúde que atravessa o Presidente bolivariano. A isto nos une uma estreita e indescutível amizade, que surgiu a partir da primeira visita ao nosso país, em 13 de dezembro de 1994.
Alguns estranharam a coincidência da sua visita a Cuba com a necessidade de atenção médica que se produziu. O presidente venezuelano visitou nosso país para o mesmo fim que o levou ao Brasil e Equador. Não havia intenção alguma de receber serviços médicos em nosso país.
Como é sabido, um grupo de especialistas de saúde cubanos prestam, ha anos, os seus serviços ao presidente venezuelano, que, fiel aos seus princípios bolivarianos, jamais viu neles estrangeiros indesejáveis, mas filhos da grande pátria latino-americana pelaqual lutou o Libertador até o último suspiro de sua vida.
O primeiro contingente de médicos cubanos partiram para a Venezuela, quando aconteceu a trágedia no estado de Vargas, que custou milhares de vidas a este nobre povo. Esta ação de solidariedade não era nova, constituia uma tradição arraigada em nossa Pátria desde os primeiros anos da Revolução; desde que há quase meio século médicos cubanos foram enviados à recém independizada Argélia. Essa tradição foi aprofundada a medida que a Revolução Cubana, em meio a um bloqueio cruel, formava médicos internacionalistas.
Países como o Peru, Nicarágua de Somoza e outros do hemisfério e do Terceiro Mundo sofreram trágedias por terremotos ou outras causas que exigiram a solidariedade de Cuba. Assim, nosso país tornou-se a nação no mundo com o maior número de médicos e pessoal especializado na saúde, com altos níveis de experiência e capacidade profissional.
O Presidente Chávez se esforçou para dar atenção ao nosso pessoal de saúde. Assim nasceu e se desenvolveu o vínculo de confiança e amizade entre ele e os médicos cubanos que sempre foram muito sensíveis ao trato do líder venezuelano, o qual por sua parte, foi capaz de criar milhares de postos de saúde e proporcionar-lhes o equipamento necessário para prestar serviços gratuitos a todos os venezuelanos. Nenhum governo no mundo fez tanto em tão breve tempo pela saúde do seu povo.
Uma elevada percentagem de pessoal cubano da saúde prestou serviços na Venezuela e muitos deles também atuaram como professores em certas disciplinas ensinadas na formação de mais de 20 mil jovens venezuelanos que estão começando a se formar como médicos. Muitos deles iniciaram os seus estudos em nosso próprio país. Os médicos internacionais do Batalhão 51, graduados na Escuela Lationamericana de Medicina ganharam uma reputação sólida no desempenho de missões complexas e difíceis. Sobre estas bases foram desenvolvidas nesse campo as minhas relações com o presidente Hugo Chávez.
Devo acrescentar que há mais de 12 anos a partir de 02 de fevereiro de 1999, o presidente e líder da Revolução venezuelana não descansou um dia, e que ocupa um lugar único na história deste hemisfério. Todas as suas energias, tem sido dedicada à Revolução.
Pode-se afirmar que por cada hora extra que Chávez dedica a seu trabalho, um presidente dos Estados Unidos, descansa duas.
Era difícil, quase impossível, que sua saúde não sofresse qualquer quebranto, e isso ocorreu nos últimos meses.
Pessoa acostumada aos rigores da vida militar, suportava estoicamente as dores e incômodos que com crescente freqüência o afetavam. Dadas as relações de amizade desenvolvidas e os intercambios constantes entre Cuba e Venezuela, juntamente com minha experiência pessoal com relação à saúde, que vivi desde o anúncio em 30 de Julho de 2006, não é extranho que eu me desse conta da necessidade de uma checagem rigorosa da saúde do Presidente. É demasiadamente generoso de sua parte, atribuir-me algum mérito especial neste assunto.
Admito, desde já, que não foi fácil a tarefa que me impus. Não foi difícil para mim perceber que sua saúde não andava bem. Haviam trascorrido 7 meses desde que ele fez sua última visita a Cuba. A equipe médica dedicada ao cuidado de sua saúde me havia rogado que fizesse essa gestão. Desde o primeiro momento a atitude do presidente era informar ao povo, com absoluta clareza, sobre seu estado de saúde. Por isso, estando a ponto de regressar, através do seu Ministro de Relações Exteriores, informou ao povo sobre sua saúde até aquele momento e prometeu manter o povo informado.
Cada cura era acompanhada por rigorosa análise de células e de laboratório, que em tais circunstâncias se realizavam.
Um dos exames, vários dias após da primeira intervenção, trouxe resultados que determinaram uma medida cirúrgica mais radical e tratamento especial ao paciente.
Na sua digna mensagem de 30 de junho, o presidente, notavelmente recuperado, fala do seu estado de saúde de forma clara.
Admito que para mim não foi ácil informar ao amigo a nova situação. Pude apreciar a dignidade com a qual ele recebeu a notícia de que, para ele, - com tantas tarefas importantes que ele tinha em mente, incluindo a comemoração do bicentenário e a formalização do acordo sobre a unidade da América Latina e o Caribe - muito mais do que o sofrimento físico implicados por uma cirurgia radical, significa um prova, como expressou, em comparação com os tempos difíceis que teve de enfrentar na sua vida de combatente inflexível.
Junto a ele, a equipe de pessoas que o atende e que ele qualificou como sublimes, enfrentou a magnífica batalha da qual tenho sido testemunha.
Sem vacilação afirmo que os resultados são impressionantes e que o paciente tem enfrentado uma batalha decisiva que o conduzirá, e com ele a Venezuela, a uma grande vitória.
É preciso fazer que sua declaração seja comunicada ao pé da letra em todas as línguas, mas, sobretudo, que seja traduzida e legendada em Inglês, uma língua que pode ser entendida neste Torre de Babel, em que o imperialismo tem convertido o mundo.
Agora os inimigos externos e internos de Hugo Chavez estão à mercê de suas palavras e suas iniciativas. Haverá, sem dúvida surpresas para eles. Brindemos-lhe ao mais firme apoio e confiança. As mentiras do império e a traição dos traidores serão derrotadas. Hoje, existem milhões de venezuelanos combativos e conscientes de que a oligarquia e o império não os poderão voltar a submeter jamais.
A atenção a outros assuntos prioritários, me separam momentaneamente da freqüência com que elaborei reflexões durante o ano de 2010, no entanto, o anúncio do líder revolucionário Hugo Chávez Frías na quinta-feira (30) obriga-me a escrever estas linhas.
O presidente da Venezuela é um dos homens que mais fizeram pela saúde e educação de seu povo, como são temas nos que acumulou mais experiência a Revolução Cubana, com imenso prazer, colaboramos ao máximo em ambos os campos com esse país irmão.
Não se trata, em absoluto, de que esse país carecesse de médicos, pelo contrário, possuía em abundância, incluindo entre eles profissionais de qualidade, como em outros países da América Latina. Se trtata de uma questão social. Os melhores médicos e os mais sofisticados equipamentos poderiam estar, como em todos os países capitalistas, a serviço da medicina privada. Às vezes nem isso, porque no capitalismo subdesenvolvido, como o que existia na Venezuela, a classe rica dispunha de meios suficientes para ir aos melhores hospitais dos Estados Unidos ou da Europa, algo que era habitual e ninguém pode negar.
Pior, os EUA e a Europa têm sido caracterizados por seduzir os melhores especialistas de qualquer país explorado do Terceiro Mundo a abandonar sua pátria e emigrem para as sociedades de consumo. Formar médicos para esse mundo, nos países desenvolvidos, envolve enormes somas, que milhões de famílias pobres na América Latina e Caribe, não poderiam pagar nunca. Em Cuba acontecia isso até a revolução que aceitou o desafio, não só para treinar médicos capazes de servir o nosso país, mas outros países da América Latina, o Caribe ou do mundo.
Nunca arrebatamos as inteligências de outros povos. Ao contrário, em Cuba têm-se formado , gratuitamente, dezenas de milhares de médicos e outros profissionais de alto nível para devolvê-los aos seus próprios países.
Graças às profundas revoluções bolivariana e martianas, Venezuela e Cuba são países onde a saúde e a educação se desenvolveram extraordinariamente. Todos os cidadãos têm direito real a receber, gratuitamente, educação geral e formação profissional, algo que os Estados Unidos não puderam e nem poderão garantir a todos os seus habitantes. A realidade é que o governo desse país investe a cada ano um trilhão de dólares com aparatos militares e suas aventuras bélicas. É também o maior exportador de armas e instrumentos de morte e é o maior mercado de drogas no mundo. Devido a esse tráfico, dezenas de milhares de latino-americanos perdem suas vidas a cada ano.
É algo tão real e tão conhecido, que mais de 50 anos atrás, um Presidente de origem militar denúnciou, com tom amargo, o poder decisivo acumulada pelo complexo militar industrial desse país.
Estas palavras seriam excessivas se não fosse a odiosa e repugnante campanha desencadeada pelos meios de comunicação da oligarquia venezuelana, ao serviço desse império, usando as dificuldades da saúde que atravessa o Presidente bolivariano. A isto nos une uma estreita e indescutível amizade, que surgiu a partir da primeira visita ao nosso país, em 13 de dezembro de 1994.
Alguns estranharam a coincidência da sua visita a Cuba com a necessidade de atenção médica que se produziu. O presidente venezuelano visitou nosso país para o mesmo fim que o levou ao Brasil e Equador. Não havia intenção alguma de receber serviços médicos em nosso país.
Como é sabido, um grupo de especialistas de saúde cubanos prestam, ha anos, os seus serviços ao presidente venezuelano, que, fiel aos seus princípios bolivarianos, jamais viu neles estrangeiros indesejáveis, mas filhos da grande pátria latino-americana pelaqual lutou o Libertador até o último suspiro de sua vida.
O primeiro contingente de médicos cubanos partiram para a Venezuela, quando aconteceu a trágedia no estado de Vargas, que custou milhares de vidas a este nobre povo. Esta ação de solidariedade não era nova, constituia uma tradição arraigada em nossa Pátria desde os primeiros anos da Revolução; desde que há quase meio século médicos cubanos foram enviados à recém independizada Argélia. Essa tradição foi aprofundada a medida que a Revolução Cubana, em meio a um bloqueio cruel, formava médicos internacionalistas.
Países como o Peru, Nicarágua de Somoza e outros do hemisfério e do Terceiro Mundo sofreram trágedias por terremotos ou outras causas que exigiram a solidariedade de Cuba. Assim, nosso país tornou-se a nação no mundo com o maior número de médicos e pessoal especializado na saúde, com altos níveis de experiência e capacidade profissional.
O Presidente Chávez se esforçou para dar atenção ao nosso pessoal de saúde. Assim nasceu e se desenvolveu o vínculo de confiança e amizade entre ele e os médicos cubanos que sempre foram muito sensíveis ao trato do líder venezuelano, o qual por sua parte, foi capaz de criar milhares de postos de saúde e proporcionar-lhes o equipamento necessário para prestar serviços gratuitos a todos os venezuelanos. Nenhum governo no mundo fez tanto em tão breve tempo pela saúde do seu povo.
Uma elevada percentagem de pessoal cubano da saúde prestou serviços na Venezuela e muitos deles também atuaram como professores em certas disciplinas ensinadas na formação de mais de 20 mil jovens venezuelanos que estão começando a se formar como médicos. Muitos deles iniciaram os seus estudos em nosso próprio país. Os médicos internacionais do Batalhão 51, graduados na Escuela Lationamericana de Medicina ganharam uma reputação sólida no desempenho de missões complexas e difíceis. Sobre estas bases foram desenvolvidas nesse campo as minhas relações com o presidente Hugo Chávez.
Devo acrescentar que há mais de 12 anos a partir de 02 de fevereiro de 1999, o presidente e líder da Revolução venezuelana não descansou um dia, e que ocupa um lugar único na história deste hemisfério. Todas as suas energias, tem sido dedicada à Revolução.
Pode-se afirmar que por cada hora extra que Chávez dedica a seu trabalho, um presidente dos Estados Unidos, descansa duas.
Era difícil, quase impossível, que sua saúde não sofresse qualquer quebranto, e isso ocorreu nos últimos meses.
Pessoa acostumada aos rigores da vida militar, suportava estoicamente as dores e incômodos que com crescente freqüência o afetavam. Dadas as relações de amizade desenvolvidas e os intercambios constantes entre Cuba e Venezuela, juntamente com minha experiência pessoal com relação à saúde, que vivi desde o anúncio em 30 de Julho de 2006, não é extranho que eu me desse conta da necessidade de uma checagem rigorosa da saúde do Presidente. É demasiadamente generoso de sua parte, atribuir-me algum mérito especial neste assunto.
Admito, desde já, que não foi fácil a tarefa que me impus. Não foi difícil para mim perceber que sua saúde não andava bem. Haviam trascorrido 7 meses desde que ele fez sua última visita a Cuba. A equipe médica dedicada ao cuidado de sua saúde me havia rogado que fizesse essa gestão. Desde o primeiro momento a atitude do presidente era informar ao povo, com absoluta clareza, sobre seu estado de saúde. Por isso, estando a ponto de regressar, através do seu Ministro de Relações Exteriores, informou ao povo sobre sua saúde até aquele momento e prometeu manter o povo informado.
Cada cura era acompanhada por rigorosa análise de células e de laboratório, que em tais circunstâncias se realizavam.
Um dos exames, vários dias após da primeira intervenção, trouxe resultados que determinaram uma medida cirúrgica mais radical e tratamento especial ao paciente.
Na sua digna mensagem de 30 de junho, o presidente, notavelmente recuperado, fala do seu estado de saúde de forma clara.
Admito que para mim não foi ácil informar ao amigo a nova situação. Pude apreciar a dignidade com a qual ele recebeu a notícia de que, para ele, - com tantas tarefas importantes que ele tinha em mente, incluindo a comemoração do bicentenário e a formalização do acordo sobre a unidade da América Latina e o Caribe - muito mais do que o sofrimento físico implicados por uma cirurgia radical, significa um prova, como expressou, em comparação com os tempos difíceis que teve de enfrentar na sua vida de combatente inflexível.
Junto a ele, a equipe de pessoas que o atende e que ele qualificou como sublimes, enfrentou a magnífica batalha da qual tenho sido testemunha.
Sem vacilação afirmo que os resultados são impressionantes e que o paciente tem enfrentado uma batalha decisiva que o conduzirá, e com ele a Venezuela, a uma grande vitória.
É preciso fazer que sua declaração seja comunicada ao pé da letra em todas as línguas, mas, sobretudo, que seja traduzida e legendada em Inglês, uma língua que pode ser entendida neste Torre de Babel, em que o imperialismo tem convertido o mundo.
Agora os inimigos externos e internos de Hugo Chavez estão à mercê de suas palavras e suas iniciativas. Haverá, sem dúvida surpresas para eles. Brindemos-lhe ao mais firme apoio e confiança. As mentiras do império e a traição dos traidores serão derrotadas. Hoje, existem milhões de venezuelanos combativos e conscientes de que a oligarquia e o império não os poderão voltar a submeter jamais.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
A professora Dignidade
Poucos homens têm coragem para recusar honrarias. A vaidade é uma praga que atinge a quase todos indistintamente. Até os melhores já se renderam a ela, e, ao cederem à tentação, se rebaixaram, justamente quando pensavam atingir degraus mais elevados em suas vidas.
Quanto aos medíocres, então, nem se fala. Alguns são tão ingênuos que acreditam mesmo ser merecedores da homenagem, da indicação, do prêmio, da comenda, dos salamaleques. Não sei se hoje o comércio desse tipo de medalhas ainda prospera, mas era bem ativo antigamente. Toda pequena comunidade tinha o seu "comendador", geralmente um bobo-alegre que pensava que aquela medalhinha no peito lhe dava o status de um bom sujeito, um tipo especial perante seus pares.
Há alguns casos de personalidades que recusaram honrarias e nem por isso ficaram com a fama de temperamentais, geniosas ou coisas do gênero. Continuaram a brilhar em suas atividades. Passaram à posteridade como expoentes nas suas áreas. br /> Para elas, porém, fazer isso não deve ter sido tão difícil, pois já eram pessoas famosas: em alguns casos, mais célebres até que as entidades que pretendiam homenageá-las.
Diante de tudo isso, causa até um choque saber que a professora potiguar Amanda Gurgel, que se tornou figura pública depois de denunciar as condições em que trabalham os professores do Rio Grande do Norte numa audiência da Assembleia Legislativa - o seu vídeo virou hit na internet - recusou um prêmio de uma entidade empresarial.
No seu blog, ela explica os motivos de uma forma tão lúcida quanto o depoimento disseminado na rede. Fosse ela uma arrivista qualquer, certamente teria ido, segunda-feira, à cerimônia dos empresários, teria recebido muitos aplausos, teria sorrid o para os fotógrafos, seria abraçada e beijada. Conquistaria seus 15 minutos de fama.
Felizmente, para ela e para todos os brasileiros que desejam um país melhor, a professora não foi receber a comenda dos empresários. O que ganhou com a recusa tem um valor muito maior: a dignidade de uma pessoa não tem preço.
A seguir, a íntegra de sua carta ao PNBE antecedida das explicações que deu aos leitores de seu blog:
Oi,
Nesta segunda,o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Natal, 2 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após u m curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
Quanto aos medíocres, então, nem se fala. Alguns são tão ingênuos que acreditam mesmo ser merecedores da homenagem, da indicação, do prêmio, da comenda, dos salamaleques. Não sei se hoje o comércio desse tipo de medalhas ainda prospera, mas era bem ativo antigamente. Toda pequena comunidade tinha o seu "comendador", geralmente um bobo-alegre que pensava que aquela medalhinha no peito lhe dava o status de um bom sujeito, um tipo especial perante seus pares.
Há alguns casos de personalidades que recusaram honrarias e nem por isso ficaram com a fama de temperamentais, geniosas ou coisas do gênero. Continuaram a brilhar em suas atividades. Passaram à posteridade como expoentes nas suas áreas. br /> Para elas, porém, fazer isso não deve ter sido tão difícil, pois já eram pessoas famosas: em alguns casos, mais célebres até que as entidades que pretendiam homenageá-las.
Diante de tudo isso, causa até um choque saber que a professora potiguar Amanda Gurgel, que se tornou figura pública depois de denunciar as condições em que trabalham os professores do Rio Grande do Norte numa audiência da Assembleia Legislativa - o seu vídeo virou hit na internet - recusou um prêmio de uma entidade empresarial.
No seu blog, ela explica os motivos de uma forma tão lúcida quanto o depoimento disseminado na rede. Fosse ela uma arrivista qualquer, certamente teria ido, segunda-feira, à cerimônia dos empresários, teria recebido muitos aplausos, teria sorrid o para os fotógrafos, seria abraçada e beijada. Conquistaria seus 15 minutos de fama.
Felizmente, para ela e para todos os brasileiros que desejam um país melhor, a professora não foi receber a comenda dos empresários. O que ganhou com a recusa tem um valor muito maior: a dignidade de uma pessoa não tem preço.
A seguir, a íntegra de sua carta ao PNBE antecedida das explicações que deu aos leitores de seu blog:
Oi,
Nesta segunda,o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Natal, 2 de julho de 2011
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após u m curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.
Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Banda Larga de 1 mega a 35 reais é uma farsa!!Eita governinho bom que só!!!
Tem noticias que é impossível e até desumano não se divulgar. O governo está anunciando aos quatro ventos a tal banda larga " barata" a 35,00, o tal programa MiniCon, mas olhem só a verdade das coisas .
Segue um artigo publicado em A hora do povo.
Interessante fazer a pergunta"E o Governo, pra que serve?"
( Ninféia G)
MiniCom e teles celebram banda lenta, cara e com venda casada
Por Carlos Lopes
Mbps a R$ 35,00 só vale por um ano. Se quiser mais velocidade, terá que pagar mais
O “termo de compromisso” das teles com o Ministério das Comunicações (MiniCom) tem tanto a ver com o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) quanto o assalto ao trem pagador tem a ver com a obra filantrópica da Irmã Dulce.
Difícil, leitor, é saber por onde começar a descrição do que só é lícito classificar, no mínimo, de pouca (haja pouca) vergonha. O melhor que conseguimos foi esse resumo em 13 pontos:
1) Não há metas – o ministro Paulo Bernardo considerou, na entrevista coletiva em que, ao lado do presidente da Telefónica, Antonio Carlos Valente, anunciou o “termo de compromisso”, que é “compreensível” as teles não divulgarem onde e quando vão implantar a suposta banda larga de 1 Mbps a R$ 35,00, por causa da “concorrência”. Mas as metas são do governo ou das teles?
2) A velocidade de 1 Mbps é “nominal”, disse o ministro, ou, dizem as teles, “estatística” - em suma, não é nada. As teles não aceitaram limite mínimo de velocidade (falava-se em 20% a 40% da velocidade “nominal”) e o MiniCom cedeu, transferindo o problema para a Anatel. Hoje, as teles oferecem 1/16 da velocidade que está no contrato com o usuário, abaixo do exíguo limite da Anatel (10% da “nominal”). Mas nem o limite da Anatel consta do “termo de compromisso”. Portanto, as teles foram autorizadas a vender galo velho por peru de Natal, enquanto o cidadão paga pelo que não recebe.
3) As teles foram autorizadas, esclareceu o consultor jurídico do Ministério, Rodrigo Zerbone (de onde saem esses almofadinhas?), a diminuírem a velocidade se o usuário ultrapassar 300 Mbytes de “download” por mês (ou 500 Mbytes no caso da Oi). Esse limite seria aumentado para 600 Mbytes em 2012 e um Gbyte em 2013. Nas conexões móveis, que serão 85% dessa (para não ofender) imbecilidade, o limite é menor ainda: 150 Mbytes. Mesmo que o cidadão não assista vídeos, não receba por e-mail algumas fotos de qualidade razoável, nem fique escutando música, alguns dias navegando esgotarão o seu limite. Literalmente, diz o “termo de compromisso”: “Se ultrapassado o limite mensal de download (...) o Grupo poderá reduzir temporariamente a velocidade do serviço”. Portanto, quem definirá a velocidade será a operadora. O mesmo consultor esclareceu que, se o usuário quiser mais velocidade, terá de pagar mais. E nós pensando que o objetivo fosse pagar menos...
4) O preço de R$ 35,00 já não é muito baixo, mas é só por um ano. Depois, as teles poderão aumentá-lo. Esse preço, pelo compromisso de Bernardo com as teles, é agora fictício. Disse o presidente da Telefónica que “é muito difícil” oferecer banda larga a esse preço. Dificílimo. Sobretudo quando o Ministério das Comunicações o autoriza a escalpelar o usuário. É preciso, segundo a Telefónica, um “combo”, ou seja, empurrar junto serviço de voz e TV por assinatura – naturalmente, não a R$ 35,00.
5) Pois foi exatamente o que o MiniCom aceitou. As negativas de Bernardo de que não haverá venda “casada” (o “combo” do presidente da Telefónica) valem tanto que a nota das teles diz explicitamente: “... será também oferecida, por meio da Telefônica/Telesp, banda larga fixa (na tecnologia ADSL) de 1 megabit por segundo, por R$ 35,00, dentro de um plano alternativo que inclui telefonia fixa, com custo total para o consumidor de R$ 65,00”. E, diz o “termo de compromisso”, esses R$ 65,00 são “sem prejuízo da cobrança pelo tráfego [do telefone], pela prestação de utilidades ou comodidades e/ou por outros serviços”. Quanto à rede móvel, a “venda casada” foi liberada.
6) O preço das teles para fornecimento de linhas aos provedores é R$ 1.200,00 para 2 Mbps. O preço da Telebrás é R$ 230,00 para a mesma velocidade (e R$ 150,00 para 1 Mbps). Segundo o secretário executivo do Minicom, Cezar Alvarez, “comparado aos termos do mercado atual [R$ 1.800], sem dúvida [R$ 1.200] é melhor”. Comparado a um preço de monopólio maior, um preço de monopólio menor é melhor. Mas a ideia do PNBL era, exatamente, quebrar o monopólio – porque só assim é possível a universalização da banda larga, já que monopólio é, precisamente, o antônimo de universalização. Mesmo apenas no início, o PNBL foi bem sucedido: daí o preço da Telebrás. Não por acaso as teles queriam e querem acabar com a Telebrás e o PNBL. Diz Alvarez que a Telebrás “ainda não consegue atender a demanda de todo o país”. Nem vai conseguir, com o Bernardo colaborando com as teles. O preço destas, que o MiniCom aceitou, é para esmagar os pequenos provedores privados. Assim é a grande consideração do ministro Bernardo pela iniciativa privada. Contanto que ela seja monopolista...
7) As teles “oferecerão” ao usuário um “provedor gratuito” (putz!) - certamente, aquele que é de sua propriedade. Se o usuário não aceitar, terá de pagar mais por outro.
8) Quando for necessário um modem, será por conta do usuário.
9) Mas o “termo de compromisso” deixará de valer se as ligações (“backhauls”) das teles nos municípios não tiverem capacidade disponível. As teles, para aumentar a capacidade, poderão cobrar R$ 2 mil como taxa de instalação.
10) As punições às teles por infrações, nem ao menos serão simbólicas: não haverá processo administrativo se o compromisso (?) for desrespeitado. Em caso de irregularidades, as teles serão apenas notificadas, na esperança de que as corrijam. Se, por fim, forem multadas, poderão “transformar” o dinheiro das multas em “investimentos”. Isto é, ficar com o dinheiro das multas. Se a Anatel disser que houve correção da irregularidade, as multas serão extintas – sem que o dinheiro saia do caixa das teles.
11) Em troca de tais compromissos, o governo aceitou retirar as metas para banda larga do III Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo (PGMU, v. Capítulo IV, artigos 21 a 24, DOU, 30/06/2011). O presidente da Telefónica disse que o PGMU, em sua “nova” versão – já publicada no Diário Oficial da União (DOU) - é “bastante positivo”. Até na telefonia fixa, o “novo” PGMU dispensou as teles de obrigações na área rural, se não se interessarem em explorar as faixas de 451 Mhz a 458 Mhz ou de 461 Mhz a 468 Mhz (cf. artigo 9º, parágrafo 2º, DOU, 30/06/2011). Note-se que, ao contrário da banda larga, a telefonia fixa está sob regime público. Mas as teles é que decidem.
12) O “termo de compromisso” deixa de valer caso as teles aleguem que os seus custos aumentaram.
13) O ministro anunciou uma nova subsidiária da Eletrobrás (não sabíamos que ele também havia assumido o Ministério das Minas e Energia). O objetivo dessa nova empresa seria administrar a rede pública de fibras óticas – isto é, a Telebrás, que foi reativada para isso, seria apenas uma das empresas a usar essa rede. As outras, que o ministro chamou de “parceiras”, são as teles.
Bem, isso é tudo, por enquanto, leitores. Resta lembrar que o PNBL foi instituído pelo presidente Lula, e a Telebrás reativada, para universalizar a banda larga. O grande obstáculo à universalização, evidentemente, é o monopólio das teles, com seus preços escorchantes e absurda concentração nas faixas e locais de maior renda, apesar da péssima qualidade que oferecem ao usuário - em suma, esses bandidos para os quais o Paulo Bernardo está acabando com o Plano Nacional de Banda Larga.
CARLOS LOPES,m jornalista de A Hora do Povo.
http://www.horadopovo.com.br/2011/julho/2973-06-07-2011/P2/pag2a.htm
Segue um artigo publicado em A hora do povo.
Interessante fazer a pergunta"E o Governo, pra que serve?"
( Ninféia G)
MiniCom e teles celebram banda lenta, cara e com venda casada
Por Carlos Lopes
Mbps a R$ 35,00 só vale por um ano. Se quiser mais velocidade, terá que pagar mais
O “termo de compromisso” das teles com o Ministério das Comunicações (MiniCom) tem tanto a ver com o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) quanto o assalto ao trem pagador tem a ver com a obra filantrópica da Irmã Dulce.
Difícil, leitor, é saber por onde começar a descrição do que só é lícito classificar, no mínimo, de pouca (haja pouca) vergonha. O melhor que conseguimos foi esse resumo em 13 pontos:
1) Não há metas – o ministro Paulo Bernardo considerou, na entrevista coletiva em que, ao lado do presidente da Telefónica, Antonio Carlos Valente, anunciou o “termo de compromisso”, que é “compreensível” as teles não divulgarem onde e quando vão implantar a suposta banda larga de 1 Mbps a R$ 35,00, por causa da “concorrência”. Mas as metas são do governo ou das teles?
2) A velocidade de 1 Mbps é “nominal”, disse o ministro, ou, dizem as teles, “estatística” - em suma, não é nada. As teles não aceitaram limite mínimo de velocidade (falava-se em 20% a 40% da velocidade “nominal”) e o MiniCom cedeu, transferindo o problema para a Anatel. Hoje, as teles oferecem 1/16 da velocidade que está no contrato com o usuário, abaixo do exíguo limite da Anatel (10% da “nominal”). Mas nem o limite da Anatel consta do “termo de compromisso”. Portanto, as teles foram autorizadas a vender galo velho por peru de Natal, enquanto o cidadão paga pelo que não recebe.
3) As teles foram autorizadas, esclareceu o consultor jurídico do Ministério, Rodrigo Zerbone (de onde saem esses almofadinhas?), a diminuírem a velocidade se o usuário ultrapassar 300 Mbytes de “download” por mês (ou 500 Mbytes no caso da Oi). Esse limite seria aumentado para 600 Mbytes em 2012 e um Gbyte em 2013. Nas conexões móveis, que serão 85% dessa (para não ofender) imbecilidade, o limite é menor ainda: 150 Mbytes. Mesmo que o cidadão não assista vídeos, não receba por e-mail algumas fotos de qualidade razoável, nem fique escutando música, alguns dias navegando esgotarão o seu limite. Literalmente, diz o “termo de compromisso”: “Se ultrapassado o limite mensal de download (...) o Grupo poderá reduzir temporariamente a velocidade do serviço”. Portanto, quem definirá a velocidade será a operadora. O mesmo consultor esclareceu que, se o usuário quiser mais velocidade, terá de pagar mais. E nós pensando que o objetivo fosse pagar menos...
4) O preço de R$ 35,00 já não é muito baixo, mas é só por um ano. Depois, as teles poderão aumentá-lo. Esse preço, pelo compromisso de Bernardo com as teles, é agora fictício. Disse o presidente da Telefónica que “é muito difícil” oferecer banda larga a esse preço. Dificílimo. Sobretudo quando o Ministério das Comunicações o autoriza a escalpelar o usuário. É preciso, segundo a Telefónica, um “combo”, ou seja, empurrar junto serviço de voz e TV por assinatura – naturalmente, não a R$ 35,00.
5) Pois foi exatamente o que o MiniCom aceitou. As negativas de Bernardo de que não haverá venda “casada” (o “combo” do presidente da Telefónica) valem tanto que a nota das teles diz explicitamente: “... será também oferecida, por meio da Telefônica/Telesp, banda larga fixa (na tecnologia ADSL) de 1 megabit por segundo, por R$ 35,00, dentro de um plano alternativo que inclui telefonia fixa, com custo total para o consumidor de R$ 65,00”. E, diz o “termo de compromisso”, esses R$ 65,00 são “sem prejuízo da cobrança pelo tráfego [do telefone], pela prestação de utilidades ou comodidades e/ou por outros serviços”. Quanto à rede móvel, a “venda casada” foi liberada.
6) O preço das teles para fornecimento de linhas aos provedores é R$ 1.200,00 para 2 Mbps. O preço da Telebrás é R$ 230,00 para a mesma velocidade (e R$ 150,00 para 1 Mbps). Segundo o secretário executivo do Minicom, Cezar Alvarez, “comparado aos termos do mercado atual [R$ 1.800], sem dúvida [R$ 1.200] é melhor”. Comparado a um preço de monopólio maior, um preço de monopólio menor é melhor. Mas a ideia do PNBL era, exatamente, quebrar o monopólio – porque só assim é possível a universalização da banda larga, já que monopólio é, precisamente, o antônimo de universalização. Mesmo apenas no início, o PNBL foi bem sucedido: daí o preço da Telebrás. Não por acaso as teles queriam e querem acabar com a Telebrás e o PNBL. Diz Alvarez que a Telebrás “ainda não consegue atender a demanda de todo o país”. Nem vai conseguir, com o Bernardo colaborando com as teles. O preço destas, que o MiniCom aceitou, é para esmagar os pequenos provedores privados. Assim é a grande consideração do ministro Bernardo pela iniciativa privada. Contanto que ela seja monopolista...
7) As teles “oferecerão” ao usuário um “provedor gratuito” (putz!) - certamente, aquele que é de sua propriedade. Se o usuário não aceitar, terá de pagar mais por outro.
8) Quando for necessário um modem, será por conta do usuário.
9) Mas o “termo de compromisso” deixará de valer se as ligações (“backhauls”) das teles nos municípios não tiverem capacidade disponível. As teles, para aumentar a capacidade, poderão cobrar R$ 2 mil como taxa de instalação.
10) As punições às teles por infrações, nem ao menos serão simbólicas: não haverá processo administrativo se o compromisso (?) for desrespeitado. Em caso de irregularidades, as teles serão apenas notificadas, na esperança de que as corrijam. Se, por fim, forem multadas, poderão “transformar” o dinheiro das multas em “investimentos”. Isto é, ficar com o dinheiro das multas. Se a Anatel disser que houve correção da irregularidade, as multas serão extintas – sem que o dinheiro saia do caixa das teles.
11) Em troca de tais compromissos, o governo aceitou retirar as metas para banda larga do III Plano Geral de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo (PGMU, v. Capítulo IV, artigos 21 a 24, DOU, 30/06/2011). O presidente da Telefónica disse que o PGMU, em sua “nova” versão – já publicada no Diário Oficial da União (DOU) - é “bastante positivo”. Até na telefonia fixa, o “novo” PGMU dispensou as teles de obrigações na área rural, se não se interessarem em explorar as faixas de 451 Mhz a 458 Mhz ou de 461 Mhz a 468 Mhz (cf. artigo 9º, parágrafo 2º, DOU, 30/06/2011). Note-se que, ao contrário da banda larga, a telefonia fixa está sob regime público. Mas as teles é que decidem.
12) O “termo de compromisso” deixa de valer caso as teles aleguem que os seus custos aumentaram.
13) O ministro anunciou uma nova subsidiária da Eletrobrás (não sabíamos que ele também havia assumido o Ministério das Minas e Energia). O objetivo dessa nova empresa seria administrar a rede pública de fibras óticas – isto é, a Telebrás, que foi reativada para isso, seria apenas uma das empresas a usar essa rede. As outras, que o ministro chamou de “parceiras”, são as teles.
Bem, isso é tudo, por enquanto, leitores. Resta lembrar que o PNBL foi instituído pelo presidente Lula, e a Telebrás reativada, para universalizar a banda larga. O grande obstáculo à universalização, evidentemente, é o monopólio das teles, com seus preços escorchantes e absurda concentração nas faixas e locais de maior renda, apesar da péssima qualidade que oferecem ao usuário - em suma, esses bandidos para os quais o Paulo Bernardo está acabando com o Plano Nacional de Banda Larga.
CARLOS LOPES,m jornalista de A Hora do Povo.
http://www.horadopovo.com.br/2011/julho/2973-06-07-2011/P2/pag2a.htm
domingo, 3 de julho de 2011
Aleida Guevara, 50 anos, uma dos cinco filhos de Che
Por Valmir Moratelli, iG Rio de Janeiro | 28/06/2011 14:45
Poucas pessoas no mundo carregam um fardo tão grande quanto Aleida Guevara. O sobrenome único substitui qualquer outra apresentação. Ela é filha de Che Guevara, o guerrilheiro, herói e líder da revolução cubana. Como herdeira desse ícone, Aleida precisa conviver com todas as questões que o sobrenome lhe traz. Ainda que isso não pareça um problema aparente em seu discurso. “Tenho um privilégio espetacular de ser filha de quem sou. A luta dele não foi para me dar um bom futuro, mas pelo futuro de todo o povo. Sou fruto do amor de um homem e uma mulher e, mais do que isso, do amor de um homem pelo seu povo”, afirma.
Dos líderes socialistas Aleida herdou a disposição para falar por horas a fio, sem interrupção, em pé. E é para cerca de 150 pessoas que ela discursa por exatas 3 horas e 15 minutos, na noite fria de uma segunda-feira chuvosa, no Leblon, zona sul do Rio. Fãs de Che, militantes de esquerda e políticos, como o ex-senador Saturnino Braga, que ficou ao seu lado quase o tempo todo, lotaram até as escadas do atual teatro Oi Casa Grande, que comemora 45 anos com uma série de palestras.
Aleida chega pontualmente às 20h. Faz um discurso de mais de uma hora, sobre o atual momento político de Cuba. Temas previsíveis se sucedem. Arranca os primeiros aplausos ao proferir duras críticas ao bloqueio econômico dos Estados Unidos. Defende o MST como o “movimento social mais importante das Américas, por lutar pela reforma agrária”; critica a democracia como um “modelo criado pelo gregos que nem eles praticaram”; classifica a igreja católica como “ultrapassada por colocar a mulher em papel secundário desde o século 11”; e fala do projeto de “um satélite chino-venezuelano, que levará internet a todos em Cuba”.
Bochechas coradas
A senhora de 50 anos é a segunda dos cinco filhos de Che. Não usa maquiagem. As bochechas são rosadas naturalmente. Não tem as unhas feitas nem é adornada por nenhum tipo de joia, a não ser por um relógio branco. Nada mais. Aleida tinha 7 anos quando o pai morreu. Mas o tal “fardo” pelo sobrenome que carrega parece possibilitar que ela fale muito no passado. “É a revolução em pleno curso”, diz o tempo todo. Cita que “Cuba está sendo alvo de ataques não apenas verbais, mas também bacteriológicos”. E dá como exemplo um surto de dengue hemorrágica na ilha em 1980, que teria matado 151 cubanos, 101 crianças dentre eles. A plateia ouve em silêncio.
Leia mais sobre os desafios de Cuba
Entretanto, é quando se deixa mostrar mais na intimidade que Aleida conquista os presentes não tão alinhados com seu pensamento. Moradora de Havana, conta que tem duas filhas, uma de 22 e outra de 21 anos. “Discutimos em casa a cada cinco minutos”, afirma. “A mais velha está cursando Economia. Ela é jovem e quer ter roupa bonita, ter algum dinheiro para consumir uma bebida. Mas sabe que tem que se limitar”. Aleida fala das diferenças de discurso que a nova geração da família Guevara profere nas ruas. Recentemente, ela ouviu a filha conversando com um amigo que quer sair do seu país. “Ela disse para ele ter consciência do que estava falando, para pensar com calma numa atitude que não teria volta. Se fosse comigo, teria dado um esporro nele, aos gritos”, avisa. O público reage com aplausos.
Assim como o pai, ela seguiu carreira médica. Nas horas seguintes, o teatro é envolvido por um clima romantizado em que o público a ouve contar, entre outras coisas, que ganha o equivalente a 35 CUCs por mês como pediatra (a moeda cubana para turistas, quantia equiparada a 35 dólares
Sorrisos raros
Aleida também sabe ser divertida. Conta que, há algumas semanas, precisou de um carpinteiro para consertar uma gaveta de sua cozinha. Profissão cuja mão de obra é escassa na ilha. O homem tirou as medidas e fez um orçamento estrondoso. “Me cobrou 575 pesos cubanos! De onde eu ia tirar isso tudo? Pela mãe que o pariu! Não tem como. Agradeci e o mandei ir embora”, conta ela, aos risos.
E como faz com a gaveta? “Tem que se buscar alternativas. Apesar de sermos uma sociedade socialista, vivemos neste planeta”. É com metáforas que Aleida se municia para explicar como se vive em Cuba desde o desmantelamento da União Soviética, então maior patrocinadora do regime. “Imagina uma pessoa pintando o teto de casa, vem alguém e lhe tira a escada. Não podemos deixar as conquistas da revolução desaparecerem. Mas agora temos que construir uma escada própria para continuarmos pintando o teto”, diz.
A herdeira de Che tem também humor para rir de suas próprias convicções. Conta que um fictício jornalista chega em Havana e vai a uma casa para entrevistar uma dona de casa. A senhora, fraca de fome, aceita o papo. “Ah, sim....”. Ele quer saber com quem ela vive. “Ah... com... meu pai”. Daí aparece um senhor nu, bem magro e igualmente fraco. A mulher o intercede. “Papai, tape seus testículos. Temos visita”. O jornalista completa: “Isso, mande-o tapar seus ovos”. A mulher então se assusta. “Não diga esta palavra, que ele pode pensar que é de comer”. A plateia aplaude efusivamente. Fidel não faria melhor.
“Diários de Motocicleta”
O líder da revolução cubana, símbolo maior da utopia socialista, figura da pop-art cult das décadas seguintes, mascote da torcida do Flamengo, o jovem pueril de “Diários de Motocicleta” ou ainda, para ficar com outro exemplo mais recente do cinema, o “Che” que Benicio del Toro interpretou em dois longas de Steve Soderbergh. Todos estes podem ser chamados de pais de Aleida, visto que a história se serviu de diferentes visões do controverso personagem argentino.
Mas a filha de Che prefere a visão de Walter Salles à de Soderbergh, o Che vivido por Gael Garcia Bernal do que por Del Toro. “É que o ‘Diários’ é um filme todo latino, feito em parceria com vários países latinos. O outro é de Hollywood, não tem a ternura que o Walter soube dar à história. Gael é mais Che do que Benício”, analisa.
A única vez que Aleida cita o pai é para explicar o que considera o maior desafio da revolução na atualidade. “Che falava em trabalho voluntário. Quando você trabalha, tem ganância. Mas quando se trabalha pelo outro, você tem a noção do que é ser útil. Perder esta consciência social é um risco imenso para o que ganhamos até aqui”.
“Yankees não”
Após a palestra Aleida respondeu perguntas do público durante mais de uma hora. Alguém quer saber o que ela aconselha para o Brasil. Um senhor chuta a resposta, baixinho: “Educação para os niños”. Errado. “Reforma agrária”, ela diz, para delírio dos presentes.
Às 23h15, ela encerra a rodada de perguntas. Aleida é então cercada por gente munida de máquinas fotográficas, camisetas e fotos de seu pai. Todos querem um autógrafo, um pedaço de história. Com braços levantados, os mais exaltados gritam: “Cuba sim/ yankees não/ viva Fidel / e a revolução”. Aleida posa para algumas fotos. Já não é a defensora política de Cuba em cena. Mas a guardiã da posição de popstar que seu pai se tornou. Logo ela se desvencilha da multidão que a cerca, direto para um táxi que a espera na calçada. Não é fácil ser filha de quem é.
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/filha+de+che+guevara+no+leblon+discuto+com+minha+filha+a+cada+5+minutos/n1597051413806.html
Poucas pessoas no mundo carregam um fardo tão grande quanto Aleida Guevara. O sobrenome único substitui qualquer outra apresentação. Ela é filha de Che Guevara, o guerrilheiro, herói e líder da revolução cubana. Como herdeira desse ícone, Aleida precisa conviver com todas as questões que o sobrenome lhe traz. Ainda que isso não pareça um problema aparente em seu discurso. “Tenho um privilégio espetacular de ser filha de quem sou. A luta dele não foi para me dar um bom futuro, mas pelo futuro de todo o povo. Sou fruto do amor de um homem e uma mulher e, mais do que isso, do amor de um homem pelo seu povo”, afirma.
Dos líderes socialistas Aleida herdou a disposição para falar por horas a fio, sem interrupção, em pé. E é para cerca de 150 pessoas que ela discursa por exatas 3 horas e 15 minutos, na noite fria de uma segunda-feira chuvosa, no Leblon, zona sul do Rio. Fãs de Che, militantes de esquerda e políticos, como o ex-senador Saturnino Braga, que ficou ao seu lado quase o tempo todo, lotaram até as escadas do atual teatro Oi Casa Grande, que comemora 45 anos com uma série de palestras.
Aleida chega pontualmente às 20h. Faz um discurso de mais de uma hora, sobre o atual momento político de Cuba. Temas previsíveis se sucedem. Arranca os primeiros aplausos ao proferir duras críticas ao bloqueio econômico dos Estados Unidos. Defende o MST como o “movimento social mais importante das Américas, por lutar pela reforma agrária”; critica a democracia como um “modelo criado pelo gregos que nem eles praticaram”; classifica a igreja católica como “ultrapassada por colocar a mulher em papel secundário desde o século 11”; e fala do projeto de “um satélite chino-venezuelano, que levará internet a todos em Cuba”.
Bochechas coradas
A senhora de 50 anos é a segunda dos cinco filhos de Che. Não usa maquiagem. As bochechas são rosadas naturalmente. Não tem as unhas feitas nem é adornada por nenhum tipo de joia, a não ser por um relógio branco. Nada mais. Aleida tinha 7 anos quando o pai morreu. Mas o tal “fardo” pelo sobrenome que carrega parece possibilitar que ela fale muito no passado. “É a revolução em pleno curso”, diz o tempo todo. Cita que “Cuba está sendo alvo de ataques não apenas verbais, mas também bacteriológicos”. E dá como exemplo um surto de dengue hemorrágica na ilha em 1980, que teria matado 151 cubanos, 101 crianças dentre eles. A plateia ouve em silêncio.
Leia mais sobre os desafios de Cuba
Entretanto, é quando se deixa mostrar mais na intimidade que Aleida conquista os presentes não tão alinhados com seu pensamento. Moradora de Havana, conta que tem duas filhas, uma de 22 e outra de 21 anos. “Discutimos em casa a cada cinco minutos”, afirma. “A mais velha está cursando Economia. Ela é jovem e quer ter roupa bonita, ter algum dinheiro para consumir uma bebida. Mas sabe que tem que se limitar”. Aleida fala das diferenças de discurso que a nova geração da família Guevara profere nas ruas. Recentemente, ela ouviu a filha conversando com um amigo que quer sair do seu país. “Ela disse para ele ter consciência do que estava falando, para pensar com calma numa atitude que não teria volta. Se fosse comigo, teria dado um esporro nele, aos gritos”, avisa. O público reage com aplausos.
Assim como o pai, ela seguiu carreira médica. Nas horas seguintes, o teatro é envolvido por um clima romantizado em que o público a ouve contar, entre outras coisas, que ganha o equivalente a 35 CUCs por mês como pediatra (a moeda cubana para turistas, quantia equiparada a 35 dólares
Sorrisos raros
Aleida também sabe ser divertida. Conta que, há algumas semanas, precisou de um carpinteiro para consertar uma gaveta de sua cozinha. Profissão cuja mão de obra é escassa na ilha. O homem tirou as medidas e fez um orçamento estrondoso. “Me cobrou 575 pesos cubanos! De onde eu ia tirar isso tudo? Pela mãe que o pariu! Não tem como. Agradeci e o mandei ir embora”, conta ela, aos risos.
E como faz com a gaveta? “Tem que se buscar alternativas. Apesar de sermos uma sociedade socialista, vivemos neste planeta”. É com metáforas que Aleida se municia para explicar como se vive em Cuba desde o desmantelamento da União Soviética, então maior patrocinadora do regime. “Imagina uma pessoa pintando o teto de casa, vem alguém e lhe tira a escada. Não podemos deixar as conquistas da revolução desaparecerem. Mas agora temos que construir uma escada própria para continuarmos pintando o teto”, diz.
A herdeira de Che tem também humor para rir de suas próprias convicções. Conta que um fictício jornalista chega em Havana e vai a uma casa para entrevistar uma dona de casa. A senhora, fraca de fome, aceita o papo. “Ah, sim....”. Ele quer saber com quem ela vive. “Ah... com... meu pai”. Daí aparece um senhor nu, bem magro e igualmente fraco. A mulher o intercede. “Papai, tape seus testículos. Temos visita”. O jornalista completa: “Isso, mande-o tapar seus ovos”. A mulher então se assusta. “Não diga esta palavra, que ele pode pensar que é de comer”. A plateia aplaude efusivamente. Fidel não faria melhor.
“Diários de Motocicleta”
O líder da revolução cubana, símbolo maior da utopia socialista, figura da pop-art cult das décadas seguintes, mascote da torcida do Flamengo, o jovem pueril de “Diários de Motocicleta” ou ainda, para ficar com outro exemplo mais recente do cinema, o “Che” que Benicio del Toro interpretou em dois longas de Steve Soderbergh. Todos estes podem ser chamados de pais de Aleida, visto que a história se serviu de diferentes visões do controverso personagem argentino.
Mas a filha de Che prefere a visão de Walter Salles à de Soderbergh, o Che vivido por Gael Garcia Bernal do que por Del Toro. “É que o ‘Diários’ é um filme todo latino, feito em parceria com vários países latinos. O outro é de Hollywood, não tem a ternura que o Walter soube dar à história. Gael é mais Che do que Benício”, analisa.
A única vez que Aleida cita o pai é para explicar o que considera o maior desafio da revolução na atualidade. “Che falava em trabalho voluntário. Quando você trabalha, tem ganância. Mas quando se trabalha pelo outro, você tem a noção do que é ser útil. Perder esta consciência social é um risco imenso para o que ganhamos até aqui”.
“Yankees não”
Após a palestra Aleida respondeu perguntas do público durante mais de uma hora. Alguém quer saber o que ela aconselha para o Brasil. Um senhor chuta a resposta, baixinho: “Educação para os niños”. Errado. “Reforma agrária”, ela diz, para delírio dos presentes.
Às 23h15, ela encerra a rodada de perguntas. Aleida é então cercada por gente munida de máquinas fotográficas, camisetas e fotos de seu pai. Todos querem um autógrafo, um pedaço de história. Com braços levantados, os mais exaltados gritam: “Cuba sim/ yankees não/ viva Fidel / e a revolução”. Aleida posa para algumas fotos. Já não é a defensora política de Cuba em cena. Mas a guardiã da posição de popstar que seu pai se tornou. Logo ela se desvencilha da multidão que a cerca, direto para um táxi que a espera na calçada. Não é fácil ser filha de quem é.
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/filha+de+che+guevara+no+leblon+discuto+com+minha+filha+a+cada+5+minutos/n1597051413806.html
sábado, 2 de julho de 2011
Cuba-Lançam anticancerígeno homeopático elaborado com veneno de
[extraído de La Jornada, [México] quarta-feira 22 de junho de 2011]
Tradução do espanhol: Joaquim Lisboa Neto
O produto foi conquistado pela firma cubana Labiofam a partir de uma
espécie endêmica da Ilha. Só é possível adquiri-lo lá, ainda que se encontre
em trâmite de registro para sua venda em outros países, incluído México.
México, DF. Depois de 15 anos de rigorosos exames, o grupo empresarial
cubano Labiofam lançou no mercado um medicamento homeopático
coadjuvante no tratamento de qualquer tipo de câncer.
Vidatox 30CH é o nome da fórmula elaborada a partir do veneno do
escorpião Rhopalurus junceus – espécie endêmica de Cuba – que, em
março passado, obteve o registro sanitário das autoridades cubanas que
permite sua comercialização. Por enquanto, o Vidatox, que contribui para
melhorar em até 85% [oitenta e cinco por cento] a qualidade de vida dos
enfermos de câncer, só se pode adquirir em Cuba, mas já se encontra em
trâmite de registro em vários países, incluído México.
A cientista cubana Caridad C. Rodríguez Torres, que realizou nesta quarta-
feira uma exposição ante a imprensa mexicana sobre o que foi o processo
de experimentação até a elaboração do medicamento, advertiu que neste
momento qualquer produto que se venda fora de Cuba com as supostas
características de Vidatox é fraudulento.
De acordo com a especialista, o câncer constitui a segunda causa de morte
a nível mundial e tende a converter-se na primeira. O medicamento aparece
como uma alternativa de tratamento natural, econômica e eficiente.
Em Cuba existem 47 espécies de escorpiões, delas 42 são endêmicas e
dentro da família Buthidae se encontra o escorpião Rhopalurus junceus,
cujo veneno tem sido utilizado tradicionalmente desde há mais de dois
séculos para aliviar a dor, a inflamação e para as enfermidades neoplásicas.
O Grupo Empresarial LABIOFAM, desde há aproximadamente 15 anos, tem
realizado estudos que demonstram as potencialidades e segurança em
seu uso deste veneno e que conduziram à obtenção do registro sanitário
da primeira formulação a partir deste princípio ativo: VIDATOX 30 CH,
bioterapêutico homeopático, que tem como princípio ativo o veneno do
Rhopalurus junceus em diluição 30 centesimal e se indica como adjuvante
no tratamento das neoplasias e dos sinais e sintomas associados.
Cubanos apresentarão produto alternativo no tratamento do câncer
[Notimex]
México, 21 junho. [Notimex]- Pesquisadores cubanos apresentarão na
quarta-feira 22 de junho os resultados de uma pesquisa médica realizada
durante 15 anos sobre o uso do veneno do escorpião como alternativa no
tratamento do câncer.
A Embaixada de Cuba no México informou que os pesquisadores Hidelio
Pérez Martínez e Caridad Rodríguez Torres apresentarão os resultados
de seu trabalho, realizado com base no veneno do escorpião da espécie
Rhopalurus junceus.
Se trata de uma das 42 espécies endêmicas de escorpião na ilha, cujo
veneno tem demonstrado uma alta efetividade como coadjuvante no
tratamento de neoplastias e seus sintomas associados, que não exclui nem
limita os tratamentos oncológicos tradicionais.
Na sede diplomática, os pesquisadores darão a conhecer características
bioquímicas, enzimáticas, farmacológicas e toxicológicas deste remédio.
Além disso, exporão os resultados de estudos sobre a melhoria da qualidade
de vida em pacientes que foram submetidos a tratamento com o produto
fabricado com o veneno.
A representação cubana detalhou que o protocolo de pesquisa científica já
obteve o Registro Sanitário para o produto, que é potencialmente não tóxico
e se consome por via oral.
Tradução do espanhol: Joaquim Lisboa Neto
O produto foi conquistado pela firma cubana Labiofam a partir de uma
espécie endêmica da Ilha. Só é possível adquiri-lo lá, ainda que se encontre
em trâmite de registro para sua venda em outros países, incluído México.
México, DF. Depois de 15 anos de rigorosos exames, o grupo empresarial
cubano Labiofam lançou no mercado um medicamento homeopático
coadjuvante no tratamento de qualquer tipo de câncer.
Vidatox 30CH é o nome da fórmula elaborada a partir do veneno do
escorpião Rhopalurus junceus – espécie endêmica de Cuba – que, em
março passado, obteve o registro sanitário das autoridades cubanas que
permite sua comercialização. Por enquanto, o Vidatox, que contribui para
melhorar em até 85% [oitenta e cinco por cento] a qualidade de vida dos
enfermos de câncer, só se pode adquirir em Cuba, mas já se encontra em
trâmite de registro em vários países, incluído México.
A cientista cubana Caridad C. Rodríguez Torres, que realizou nesta quarta-
feira uma exposição ante a imprensa mexicana sobre o que foi o processo
de experimentação até a elaboração do medicamento, advertiu que neste
momento qualquer produto que se venda fora de Cuba com as supostas
características de Vidatox é fraudulento.
De acordo com a especialista, o câncer constitui a segunda causa de morte
a nível mundial e tende a converter-se na primeira. O medicamento aparece
como uma alternativa de tratamento natural, econômica e eficiente.
Em Cuba existem 47 espécies de escorpiões, delas 42 são endêmicas e
dentro da família Buthidae se encontra o escorpião Rhopalurus junceus,
cujo veneno tem sido utilizado tradicionalmente desde há mais de dois
séculos para aliviar a dor, a inflamação e para as enfermidades neoplásicas.
O Grupo Empresarial LABIOFAM, desde há aproximadamente 15 anos, tem
realizado estudos que demonstram as potencialidades e segurança em
seu uso deste veneno e que conduziram à obtenção do registro sanitário
da primeira formulação a partir deste princípio ativo: VIDATOX 30 CH,
bioterapêutico homeopático, que tem como princípio ativo o veneno do
Rhopalurus junceus em diluição 30 centesimal e se indica como adjuvante
no tratamento das neoplasias e dos sinais e sintomas associados.
Cubanos apresentarão produto alternativo no tratamento do câncer
[Notimex]
México, 21 junho. [Notimex]- Pesquisadores cubanos apresentarão na
quarta-feira 22 de junho os resultados de uma pesquisa médica realizada
durante 15 anos sobre o uso do veneno do escorpião como alternativa no
tratamento do câncer.
A Embaixada de Cuba no México informou que os pesquisadores Hidelio
Pérez Martínez e Caridad Rodríguez Torres apresentarão os resultados
de seu trabalho, realizado com base no veneno do escorpião da espécie
Rhopalurus junceus.
Se trata de uma das 42 espécies endêmicas de escorpião na ilha, cujo
veneno tem demonstrado uma alta efetividade como coadjuvante no
tratamento de neoplastias e seus sintomas associados, que não exclui nem
limita os tratamentos oncológicos tradicionais.
Na sede diplomática, os pesquisadores darão a conhecer características
bioquímicas, enzimáticas, farmacológicas e toxicológicas deste remédio.
Além disso, exporão os resultados de estudos sobre a melhoria da qualidade
de vida em pacientes que foram submetidos a tratamento com o produto
fabricado com o veneno.
A representação cubana detalhou que o protocolo de pesquisa científica já
obteve o Registro Sanitário para o produto, que é potencialmente não tóxico
e se consome por via oral.
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