A entrada em Tripoli dos bandos do auto denominado Conselho Nacional de Transição e a ocupação da residência e quartel general de Muamar Kadhafi foram aclamados pelo presidente Obama, os governos da União Europeia e as media ocidentais como desfecho da cruzada libertadora da Líbia e vitória da democracia e da liberdade sobre a tirania e a barbárie.
Poucas vezes na Historia a desinformação cientificamente montada ao serviço de ambições inconfessáveis terá tido tanto êxito em transformar a mentira em verdade, ocultando o significado da agressão a um povo.
Desde o inicio em Março dos bombardeamentos selvagens a Tripoli, a oratória farisaica de Obama, Sarkozy e Cameron funcionou como cobertura de um projecto imperial que, sob o manto de pretensa «intervenção humanitária destinada a proteger as populações», tinha como predestinado objectivo tomar posse do petróleo e do gás, bem como dos importantes activos financeiros do estado Líbio.
Planearam o crime com muita antecedência. A «insurreição» de Benghazi foi preparada por agentes da CIA; comandos britânicos treinaram uma escória de mercenários armada pelos EUA e pela Grã-bretanha; a chamada Zona de Exclusão Aérea não passou de um slogan para facilitar a passagem pelo Conselho de Segurança e iludir o propósito da subsequente intervenção militar; a anunciada não participação da Força Aérea Americana, nos primeiros dias dos bombardeamentos, foi só uma farsa porque a NATO, que assumiu a direcção da guerra, é um instrumento dos EUA por estes controlada, e porque as próprias forças aeronavais estado-unidenses interviriam activamente nos bombardeamentos e na guerra cibernética.
Mas as coisas não correram como eles desejavam. Os «rebeldes» somente entraram em Tripoli transcorridos seis meses. As suas vitórias foram forjadas pela comunicação social. A NATO acreditava poder repetir o que aconteceu na Jugoslávia, onde os bombardeamentos aéreos forçaram Mihailovich a capitular. Kadhafi resistiu, apoiado por grande parte do povo líbio. Independentemente do balanço que se faça da sua intervenção na Historia em quatro décadas de poder absoluto, Muamar Kadhafi resistiu com bravura à agressão desencadeada pelas maiores potencia militares Ocidentais. A tropa fandanga do CNT foi um exército ficcional que somente avançava à medida que as bombas da NATO reduziam a ruínas as infra-estruturas líbias. Milhares de civis líbios foram massacrados nesta guerra repugnante.
Nos últimos dias, uma orgia de violência irracional atingiu Tripoli. O bombardeamento sónico, para aterrorizar a população, coincidiu com as bombas que caíam do céu. Os invasores submeteram a cidade a um saque medieval, matando, saqueando, violando, num cenário de horror. Os media europeus e norte americanos difundiam noticias falsas. A bandeira da corrupta monarquia senussita foi hasteada em Terraços donde «rebeldes» disparavam sobre o povo.
Os muitos milhares de milhões de dólares do povo líbio depositados na banca internacional foram confiscados pelos governos ocidentais.
Mas, para frustração de Washington e seus aliados, a resistência prossegue enquanto que o paradeiro de Kadhafi e outros responsáveis líbios, que não se submeteram, é desconhecido.
Sobre o CNT, um saco de gatos mascarado de governo provisório, chovem agora felicitações.
Cavaco Silva e Passos Coelho, obviamente, associaram-se a esse coro da desvergonha, cumprindo o seu papel de pequenos sátrapas coloniais.
Os Editores de odiario.info
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Fonte: ODiario.info :: http://www.odiario.info ::
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
domingo, 21 de agosto de 2011
'Belo Monte é um compromisso do governo federal com empreiteiras e grupos políticos'
Dion Monteiro é representante do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que luta contra a construção da usina de Belo Monte. É economista do Instituto Amazônia Solidária e Sustentável (IAMAS) e mestre em Planejamento de do Desenvolvimento pela UFPA. Nesta entrevista, Monteiro explica as conseqüências da usina para o meio ambiente e as comunidades indígenas e ribeirinhas, e revela os verdadeiros interesses por trás do projeto
Willian Pessoa da Mota, de Belém (PA)
Portal do PSTU: Quais os principais impactos sociais, econômicos e ambientais da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte?
Dion Monteiro:São diversos os impactos de Belo Monte, porém dois se destacam. O primeiro deles refere-se à afirmação do governo federal de que aproximadamente 100 mil pessoas migrarão para a região a procura de emprego. Alguns especialistas, a partir de outras experiências, falam que este número será de no mínimo 150 mil pessoas. A Eletrobrás observa no EIA/RIMA que aproximadamente 40 mil postos de trabalho serão gerados, entre diretos e indiretos, ou seja, nas contas do próprio governo aproximadamente 60 mil pessoas migrarão para a região de Altamira e não terão emprego em nenhum momento, juntando-se aos milhares de desempregados que já existem no local, aumentando o desemprego e o caos social.
A outra situação de grande impacto esta relacionada à construção da barragem principal da usina de Belo Monte, pois com esse barramento, uma área de aproximadamente 100 km do rio Xingu terá a sua vazão de água reduzida, restando aproximadamente 20% daquilo que corre hoje. O parecer técnico nº114/2009, assinado por seis analistas ambientais do IBAMA, e um dos documentos base para a emissão da Licença Prévia, foi categórico em afirmar que o estudo encomendado pelo governo “não apresenta informações que concluam acerca da manutenção da biodiversidade, a navegabilidade e as condições de vida das populações do TVR [Trecho de Vazão Reduzida]”.
Quais os interesses que estão por detrás da construção da Usina? Quem se beneficiará com Belo Monte?
Economicamente o objetivo de Belo Monte é atender com energia barata as empresas do centro-sul do Brasil. Aproximadamente 80% da energia gerada serão para atender estas empresas, e até 20% ficarão para atender empresas eletrointensivas que atuam no Estado do Pará, principalmente as transnacionais Vale e Alcoa, gerando vantagens competitivas para estes grupos no cenário internacional, mas não prevendo nem 1 quilowatt (KW) para atender as comunidades amazônicas que até hoje não possuem energia elétrica.
Politicamente Belo Monte é um compromisso do governo federal com empreiteiras e grupos políticos. Aqui é bom lembrar que 40% dos recursos de campanha da presidente eleita, Dilma Rousseff, vieram de grandes empreiteiras como Camargo Correa, Andrade Gutierrez e Norberto Odebrecht, justamente as maiores interessadas na construção desta e de outras usinas. Este foi o setor que mais investiu na campanha da petista. Em segundo lugar ficaram os banqueiros.
Em que fase está o processo de licenciamento ambiental e de construção da Usina?
Em fevereiro de 2010 IBAMA emitiu a Licença Prévia nº 342/2010 de Belo Monte, mesmo tendo os técnicos deste órgão se posicionado contrariamente em vários documentos, como no Parecer Técnico nº 114, emitido em novembro de 2009; no Parecer Técnico nº 06, emitido em janeiro de 2010; e na Nota Técnica nº 04, também emitida no mês de janeiro/2010. Todos estes documentos confirmavam as pendências em relação à avaliação ambiental de Belo Monte.
Em janeiro de 2011 o governo federal emitiu uma Licença de Instalação parcial, nº 770/2011. Em relação a esta licença os técnicos da Funai, falando sobre o componente indígena, emitiram vários pareceres contrários, como os constantes da Informação nº565 de novembro de 2010 e Informação nº22, de janeiro de 2011. Mesmo assim a presidência da Funai deu parecer positivo, e a licença parcial foi emitida. Esta ação deu origem a 10ª Ação Civil Pública do Ministério Público Federal contra a construção de Belo Monte.
Em junho de 2011 o IBAMA emitiu a Licença de Instalação (definitiva) de Belo Monte, nº 795/2011. Pautado nas irregularidades verificadas, o MPF deu entrada na 11ª ACP, que aguarda julgamento. Aqui é importante observar que das 11 ações apresentadas pelo MPF, 10 ainda esperam sentença definitiva.
Mesmo o leilão de Belo Monte tendo se realizado em abril de 2010, ou seja, há um ano e quatro meses, a empresa responsável, Norte Energia S.A (NESA), muita pouca coisa fez na região. Praticamente nada quando nos referimos às ações sócio-ambientais que pudessem diminuir os impactos de Belo Monte. No que se refere à obra em si, algumas máquinas começaram no mês de julho a preparar o terreno para que sejam construídos os primeiros canteiros, porém mesmo esta ação ainda está em fase bem inicial.
Qual a opinião da maioria dos setores sociais (índios, ribeirinhos, pescadores, trabalhadores) que serão atingidos na região do rio Xingu com a construção da Usina?
Os guerreiros indígenas já disseram (muitas e muitas vezes) que não vão aceitar a construção de Belo Monte, afirmando que esta barragem será responsável pelo início do fim de sua cultura, pelo desaparecimento de seus cemitérios e áreas sagradas, do meio onde vivem, enfim, de sua vida.
Os pescadores e ribeirinho também dizem que não aceitam a obra, pois não terão mais de onde tirar o seu sustento, garantir o futuro de seus filhos, e o seu próprio futuro.
As quase 50 mil pessoas que serão remanejadas compulsoriamente de suas casas e de suas terras, não sabendo até o momento para onde irão, pois nem o governo e nem a NESA informam, estão inseguras e temerosas com a construção da obra.
Organizações e movimentos sociais, trabalhadores das áreas rurais e urbanas, pesquisadores, juristas, associações cientificas, entre outros grupos, denunciam a todo o momento a inviabilidade e ilegalidade de Belo Monte.
Quem compõe e como atua o Movimento Xingu Vivo para Sempre?
Muitas das organizações que fazem parte do Movimento Xingu Vivo lutam há décadas contra a construção de Belo Monte. Porém em 2008, com o segundo encontro dos povos indígenas do Xingu, essas organizações resolveram unificar a luta, reunindo-se em um grande fórum de discussão e ação, assim foi criado o Movimento Xingu Vivo para Sempre, coletivo que hoje conta com mais de 250 organizações.
No geral, podemos dizer que a forma de atuação do movimento tem se dado em frentes de ação, como a frente jurídica, que atua identificando as ilegalidades da obra; a frente científica, que atua analisando tecnicamente o projeto de Belo Monte, identificando a insustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e mesmo política desta usina; a frente da comunicação, que divulga o que ocorre em relação a Belo Monte, os abusos do governo, os interesses das empreiteiras e políticos corruptos, fazendo com que todos saibam da situação que os povos da região estão submetidos; e finalmente temos a frente política, que faz o trabalho de base, ajudando na mobilização e organização da luta contra Belo Monte.
Existe alternativa de modelo energético viável para a Amazônia e o Brasil?
Inicialmente devemos destacar a questão dos modelos de desenvolvimento pensados para a região Amazônica, e para o Brasil. O ex-presidente Lula da Silva, no discurso que fez em Altamira em junho de 2010, falando sobre a região, disse querer que “esta região passe a ser uma região industrializada, que possa gerar emprego e renda para que as pessoas possam viver dignamente”. Nesse caso ele estava se referindo diretamente ao beneficiamento primário do minério extraído na Amazônia.
Ao apontar este modelo, e sua continuidade, o ex-presidente também decreta a necessidade de mais hidrelétricas para atender a demanda das mineradoras. É por este motivo que, além das usinas no rio Xingu, já se encontra em estudo ou construção dezenas de outras hidrelétricas, nos rios Tapajós, Jamanxin, Tocantins, Teles Pires, Araguaia, Madeira, etc. O Movimento Xingu Vivo e o Comitê Metropolitano avaliam que este modelo de desenvolvimento, pautado na exploração intensa dos recursos naturais para atender a um consumo desenfreado e desnecessário não apresenta nenhuma sustentabilidade. Os graves problemas ambientais mundiais já comprovam isto.
Outras formas de desenvolvimento, onde se inclui o modelo energético, passa necessariamente pelo fortalecimento do bioma amazônico e o desenvolvimento sócio-ambiental das populações originárias, tradicionais, rurais e urbanas desta região, exercitando relações verdadeiramente equilibradas entre os seres humanos e o meio onde ele esta inserido. Neste sentido, o aproveitamento da energia solar, eólica, dos resíduos da biomassa, entre outras são fundamentais. Paralelamente a isto, a simples recuperação e repotenciação das linhas de transmissão e equipamentos já existentes trariam quase o dobro da energia que Belo Monte em média produziria (4,5 mil MW), gastando um terço do que se estima gastar inicialmente com esta usina (R$ 30 bilhões). De fato, alternativas não faltam para a diversificação, e mesmo mudança da matriz energética brasileira, porém isso implicaria necessariamente em abrir mão de interesses políticos, e principalmente econômicos, interesses estes que dão sustentação ao modelo de desenvolvimento vigente.
Ainda é possível barrar a construção de Belo Monte? Quais são as próximas ações do movimento?
Barrar Belo Monte é mais do que possível, é imperativo para o futuro da Amazônia, do Brasil, e mesmo do mundo, pois esta obra é apenas uma de centenas de outras imensas hidrelétricas previstas para serem construídas na Amazônia brasileira e internacional.
Quanto às ações, continuamos desenvolvendo diversas atividades no campo cientifico, pesquisando e denunciando a inviabilidade de Belo Monte, em consonância com o expresso na carta enviada à presidente Dilma Rousseff no último dia 19 de maio, assinada por 20 das mais importantes associações científicas brasileiras, como a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que manifestaram preocupação e pediram a suspensão do licenciamento de Belo Monte.
Continuamos também desenvolvendo ações no campo jurídico, pois Belo Monte infringe a constituição e a legislação ambiental do Brasil, e inclusive acordos internacionais, fato denunciado por diversas organizações de direitos humanos, pela OAB e pelo Ministério Público Federal.
Continuamos, sobretudo, realizando ações políticas, protestos, manifestações de rua, nos organizando e mobilizando para que Belo Monte seja de uma vez por todas enterrada, lembrada somente como um imenso pesadelo que um dia assombrou os povos do Xingu.
É por tudo isso que pedimos apoio a todas as pessoas mundo, para que de forma coletiva possamos estar nesta decisiva batalha, barrando os mais pesados ataques que o capital já desferiu, até hoje, contra a floresta, os rios, os povos e a vida na Amazônia, no Brasil, e no planeta Terra.
Willian Pessoa da Mota, de Belém (PA)
Portal do PSTU: Quais os principais impactos sociais, econômicos e ambientais da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte?
Dion Monteiro:São diversos os impactos de Belo Monte, porém dois se destacam. O primeiro deles refere-se à afirmação do governo federal de que aproximadamente 100 mil pessoas migrarão para a região a procura de emprego. Alguns especialistas, a partir de outras experiências, falam que este número será de no mínimo 150 mil pessoas. A Eletrobrás observa no EIA/RIMA que aproximadamente 40 mil postos de trabalho serão gerados, entre diretos e indiretos, ou seja, nas contas do próprio governo aproximadamente 60 mil pessoas migrarão para a região de Altamira e não terão emprego em nenhum momento, juntando-se aos milhares de desempregados que já existem no local, aumentando o desemprego e o caos social.
A outra situação de grande impacto esta relacionada à construção da barragem principal da usina de Belo Monte, pois com esse barramento, uma área de aproximadamente 100 km do rio Xingu terá a sua vazão de água reduzida, restando aproximadamente 20% daquilo que corre hoje. O parecer técnico nº114/2009, assinado por seis analistas ambientais do IBAMA, e um dos documentos base para a emissão da Licença Prévia, foi categórico em afirmar que o estudo encomendado pelo governo “não apresenta informações que concluam acerca da manutenção da biodiversidade, a navegabilidade e as condições de vida das populações do TVR [Trecho de Vazão Reduzida]”.
Quais os interesses que estão por detrás da construção da Usina? Quem se beneficiará com Belo Monte?
Economicamente o objetivo de Belo Monte é atender com energia barata as empresas do centro-sul do Brasil. Aproximadamente 80% da energia gerada serão para atender estas empresas, e até 20% ficarão para atender empresas eletrointensivas que atuam no Estado do Pará, principalmente as transnacionais Vale e Alcoa, gerando vantagens competitivas para estes grupos no cenário internacional, mas não prevendo nem 1 quilowatt (KW) para atender as comunidades amazônicas que até hoje não possuem energia elétrica.
Politicamente Belo Monte é um compromisso do governo federal com empreiteiras e grupos políticos. Aqui é bom lembrar que 40% dos recursos de campanha da presidente eleita, Dilma Rousseff, vieram de grandes empreiteiras como Camargo Correa, Andrade Gutierrez e Norberto Odebrecht, justamente as maiores interessadas na construção desta e de outras usinas. Este foi o setor que mais investiu na campanha da petista. Em segundo lugar ficaram os banqueiros.
Em que fase está o processo de licenciamento ambiental e de construção da Usina?
Em fevereiro de 2010 IBAMA emitiu a Licença Prévia nº 342/2010 de Belo Monte, mesmo tendo os técnicos deste órgão se posicionado contrariamente em vários documentos, como no Parecer Técnico nº 114, emitido em novembro de 2009; no Parecer Técnico nº 06, emitido em janeiro de 2010; e na Nota Técnica nº 04, também emitida no mês de janeiro/2010. Todos estes documentos confirmavam as pendências em relação à avaliação ambiental de Belo Monte.
Em janeiro de 2011 o governo federal emitiu uma Licença de Instalação parcial, nº 770/2011. Em relação a esta licença os técnicos da Funai, falando sobre o componente indígena, emitiram vários pareceres contrários, como os constantes da Informação nº565 de novembro de 2010 e Informação nº22, de janeiro de 2011. Mesmo assim a presidência da Funai deu parecer positivo, e a licença parcial foi emitida. Esta ação deu origem a 10ª Ação Civil Pública do Ministério Público Federal contra a construção de Belo Monte.
Em junho de 2011 o IBAMA emitiu a Licença de Instalação (definitiva) de Belo Monte, nº 795/2011. Pautado nas irregularidades verificadas, o MPF deu entrada na 11ª ACP, que aguarda julgamento. Aqui é importante observar que das 11 ações apresentadas pelo MPF, 10 ainda esperam sentença definitiva.
Mesmo o leilão de Belo Monte tendo se realizado em abril de 2010, ou seja, há um ano e quatro meses, a empresa responsável, Norte Energia S.A (NESA), muita pouca coisa fez na região. Praticamente nada quando nos referimos às ações sócio-ambientais que pudessem diminuir os impactos de Belo Monte. No que se refere à obra em si, algumas máquinas começaram no mês de julho a preparar o terreno para que sejam construídos os primeiros canteiros, porém mesmo esta ação ainda está em fase bem inicial.
Qual a opinião da maioria dos setores sociais (índios, ribeirinhos, pescadores, trabalhadores) que serão atingidos na região do rio Xingu com a construção da Usina?
Os guerreiros indígenas já disseram (muitas e muitas vezes) que não vão aceitar a construção de Belo Monte, afirmando que esta barragem será responsável pelo início do fim de sua cultura, pelo desaparecimento de seus cemitérios e áreas sagradas, do meio onde vivem, enfim, de sua vida.
Os pescadores e ribeirinho também dizem que não aceitam a obra, pois não terão mais de onde tirar o seu sustento, garantir o futuro de seus filhos, e o seu próprio futuro.
As quase 50 mil pessoas que serão remanejadas compulsoriamente de suas casas e de suas terras, não sabendo até o momento para onde irão, pois nem o governo e nem a NESA informam, estão inseguras e temerosas com a construção da obra.
Organizações e movimentos sociais, trabalhadores das áreas rurais e urbanas, pesquisadores, juristas, associações cientificas, entre outros grupos, denunciam a todo o momento a inviabilidade e ilegalidade de Belo Monte.
Quem compõe e como atua o Movimento Xingu Vivo para Sempre?
Muitas das organizações que fazem parte do Movimento Xingu Vivo lutam há décadas contra a construção de Belo Monte. Porém em 2008, com o segundo encontro dos povos indígenas do Xingu, essas organizações resolveram unificar a luta, reunindo-se em um grande fórum de discussão e ação, assim foi criado o Movimento Xingu Vivo para Sempre, coletivo que hoje conta com mais de 250 organizações.
No geral, podemos dizer que a forma de atuação do movimento tem se dado em frentes de ação, como a frente jurídica, que atua identificando as ilegalidades da obra; a frente científica, que atua analisando tecnicamente o projeto de Belo Monte, identificando a insustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e mesmo política desta usina; a frente da comunicação, que divulga o que ocorre em relação a Belo Monte, os abusos do governo, os interesses das empreiteiras e políticos corruptos, fazendo com que todos saibam da situação que os povos da região estão submetidos; e finalmente temos a frente política, que faz o trabalho de base, ajudando na mobilização e organização da luta contra Belo Monte.
Existe alternativa de modelo energético viável para a Amazônia e o Brasil?
Inicialmente devemos destacar a questão dos modelos de desenvolvimento pensados para a região Amazônica, e para o Brasil. O ex-presidente Lula da Silva, no discurso que fez em Altamira em junho de 2010, falando sobre a região, disse querer que “esta região passe a ser uma região industrializada, que possa gerar emprego e renda para que as pessoas possam viver dignamente”. Nesse caso ele estava se referindo diretamente ao beneficiamento primário do minério extraído na Amazônia.
Ao apontar este modelo, e sua continuidade, o ex-presidente também decreta a necessidade de mais hidrelétricas para atender a demanda das mineradoras. É por este motivo que, além das usinas no rio Xingu, já se encontra em estudo ou construção dezenas de outras hidrelétricas, nos rios Tapajós, Jamanxin, Tocantins, Teles Pires, Araguaia, Madeira, etc. O Movimento Xingu Vivo e o Comitê Metropolitano avaliam que este modelo de desenvolvimento, pautado na exploração intensa dos recursos naturais para atender a um consumo desenfreado e desnecessário não apresenta nenhuma sustentabilidade. Os graves problemas ambientais mundiais já comprovam isto.
Outras formas de desenvolvimento, onde se inclui o modelo energético, passa necessariamente pelo fortalecimento do bioma amazônico e o desenvolvimento sócio-ambiental das populações originárias, tradicionais, rurais e urbanas desta região, exercitando relações verdadeiramente equilibradas entre os seres humanos e o meio onde ele esta inserido. Neste sentido, o aproveitamento da energia solar, eólica, dos resíduos da biomassa, entre outras são fundamentais. Paralelamente a isto, a simples recuperação e repotenciação das linhas de transmissão e equipamentos já existentes trariam quase o dobro da energia que Belo Monte em média produziria (4,5 mil MW), gastando um terço do que se estima gastar inicialmente com esta usina (R$ 30 bilhões). De fato, alternativas não faltam para a diversificação, e mesmo mudança da matriz energética brasileira, porém isso implicaria necessariamente em abrir mão de interesses políticos, e principalmente econômicos, interesses estes que dão sustentação ao modelo de desenvolvimento vigente.
Ainda é possível barrar a construção de Belo Monte? Quais são as próximas ações do movimento?
Barrar Belo Monte é mais do que possível, é imperativo para o futuro da Amazônia, do Brasil, e mesmo do mundo, pois esta obra é apenas uma de centenas de outras imensas hidrelétricas previstas para serem construídas na Amazônia brasileira e internacional.
Quanto às ações, continuamos desenvolvendo diversas atividades no campo cientifico, pesquisando e denunciando a inviabilidade de Belo Monte, em consonância com o expresso na carta enviada à presidente Dilma Rousseff no último dia 19 de maio, assinada por 20 das mais importantes associações científicas brasileiras, como a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que manifestaram preocupação e pediram a suspensão do licenciamento de Belo Monte.
Continuamos também desenvolvendo ações no campo jurídico, pois Belo Monte infringe a constituição e a legislação ambiental do Brasil, e inclusive acordos internacionais, fato denunciado por diversas organizações de direitos humanos, pela OAB e pelo Ministério Público Federal.
Continuamos, sobretudo, realizando ações políticas, protestos, manifestações de rua, nos organizando e mobilizando para que Belo Monte seja de uma vez por todas enterrada, lembrada somente como um imenso pesadelo que um dia assombrou os povos do Xingu.
É por tudo isso que pedimos apoio a todas as pessoas mundo, para que de forma coletiva possamos estar nesta decisiva batalha, barrando os mais pesados ataques que o capital já desferiu, até hoje, contra a floresta, os rios, os povos e a vida na Amazônia, no Brasil, e no planeta Terra.
sábado, 20 de agosto de 2011
Carta Aberta aos Membros da Câmara dos Deputados em Defesa da Voz do Brasil
Senhores e senhoras parlamentares,
Encontra-se em análise da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal o projeto de lei No. 595/03 que flexibiliza o horário de exibição do mais antigo programa de rádio do mundo, a Voz do Brasil, criado em 1932.
Como qualquer produto midiático ele também sofreu as influências das diferentes épocas políticas pelas quais o Brasil atravessou, mas, mesmo com isto, não deixou de constituir-se num importante instrumento de informação para uma imensa massa de brasileiros, sua esmagadora maioria, que não dispõe de outra forma para receber informações relevantes sobre as atividades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Pesquisa recente realizada por Instituto de alta notoriedade aponta que um entre cada três brasileiros ouvem rotineiramente A Voz do Brasil. Outra enquete indica que 73 por cento dos entrevistados concordam com a continuidade da veiculação da Voz do Brasil no horário das 19 horas, além de confirmarem a importância do programa para a sua informação. Como sabemos, o Brasil registra uma baixíssima taxa de leitura de jornal e revista, o que faz com que a Voz do Brasil represente, para milhões e milhões de compatriotas, a única forma de obter informações.
Nos últimos anos, a Voz do Brasil vem registrando modificações importantes em sua forma e conteúdo, tornando-se mais adequada a atualidade, além de veicular, também, informações muito relevantes sobre programas governamentais, especificamente, os do Ministério da Educação (Fundeb), do Ministério da Agricultura (Programa de Aquisição de Alimentos), do Ministério da Pesca e também do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Pronaf e Pronera) e do Ministério da Previdência Social. Tal característica pode, perfeitamente, ser aperfeiçoada para oferecer aos brasileiros uma possibilidade mais eficaz ainda para sua informação, acerca de temas de altíssima relevância, nem sempre contemplados adequadamente pela esmagadora maioria das emissoras de rádio espalhadas pelo território nacional, que sequer dispõe de estrutura suficiente para cumprir a exigência de noticiário jornalístico prevista em lei.
Para os integrantes do Legislativo e do Judiciário, a Voz do Brasil é uma rara opção de interação com a sociedade sem as distorções já tradicionais na mídia. Diversas pesquisas científicas já demonstraram que a cobertura jornalística destes dois Poderes da República não representa fidedignamente os fatos que acontecem no seu interior. Além disso, a Voz do Brasil trata igualitariamente a todos os parlamentares, sem as distorções editoriais que privilegiam o segmento já classificado de "alto clero" do Congresso Nacional.
Para uma grande massa de brasileiros que vivem nos chamados grotões do campo e da cidade, sem acesso a leitura de jornais, a Voz do Brasil é o que lhe resta como única opção informativa para saber das decisões dos poderes públicos, da atuação dos seus representantes no Congresso e das deliberações do judiciário. Na atualidade, este programa radiofônico se transformou num importante instrumento de transparência dos feitos públicos, habilitando ao cidadão exercer seu papel de fiscal do Estado. Tal característica não é valorizada pelos grandes empresários da comunicação interessados, fundamentalmente, na exploração comercial do horário, para mais exibição do mesmo, em prejuízo do jornalismo e da direito de comunicação de nosso povo.
Considerando a inexistência de qualquer capacidade fiscalizadora dos órgãos competentes, a flexibilização do horário de apresentação da Voz do Brasil poderá constituir-se, de fato, numa alteração que , na prática, levará à sua não veiculação, portanto, ao desaparecimento do mais antigo programa de rádio do mundo atual. O que interessa apenas aos conglomerados empresariais da comunicação.
Assim sendo, como o referido projeto teve uma tramitação muito rápida durante o ano de 2010, ano eleitoral, com significativo esvaziamento do Congresso, entendemos que a matéria pode não ter sido examinada com suficiente profundidade, especialmente nos aspectos aqui mencionados. É sabido que nem o Conselho de Comunicação do Congresso Nacional teve oportunidade de se posicionar sobre o tema e que o plenário da Câmara dos Deputados não foi ouvido. Sua aprovação poderia constituir-se na eliminação de uma positiva experiência de regulamentação informativa e, com isso, representar um grave prejuízo para uma imensa maioria de brasileiros que têm na Voz do Brasil uma alternativa consolidada para informar-se acerca das mais relevantes decisões dos poderes públicos e de seus membros.
Face a isto, solicitamos que a tramitação do referido projeto seja sustada e que a matéria seja objeto de novas análises, inclusive com a convocação de audiências públicas nas quais sejam ouvidos não apenas especialistas em comunicação, mas, também, representantes das diferentes comunidades tais como pescadores, ribeirinhos, trabalhadores rurais, caminhoneiros, população de fronteira, militares ou civis, povos das florestas, quilombolas, militares, que nos mais inóspitos rincões de imenso país tem na Voz do Brasil um fundamental instrumento para sua informação e, com isto, para formarem-se com cidadãos brasileiros.
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil - CGTB
Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ
Federação Interestadual de Trabalhadores em Empresas de Rádio e TV – FITERT
Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP
Movimento em Defesa da Voz do Brasil
Brasília, 15 de agosto de 2011
Encontra-se em análise da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal o projeto de lei No. 595/03 que flexibiliza o horário de exibição do mais antigo programa de rádio do mundo, a Voz do Brasil, criado em 1932.
Como qualquer produto midiático ele também sofreu as influências das diferentes épocas políticas pelas quais o Brasil atravessou, mas, mesmo com isto, não deixou de constituir-se num importante instrumento de informação para uma imensa massa de brasileiros, sua esmagadora maioria, que não dispõe de outra forma para receber informações relevantes sobre as atividades do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
Pesquisa recente realizada por Instituto de alta notoriedade aponta que um entre cada três brasileiros ouvem rotineiramente A Voz do Brasil. Outra enquete indica que 73 por cento dos entrevistados concordam com a continuidade da veiculação da Voz do Brasil no horário das 19 horas, além de confirmarem a importância do programa para a sua informação. Como sabemos, o Brasil registra uma baixíssima taxa de leitura de jornal e revista, o que faz com que a Voz do Brasil represente, para milhões e milhões de compatriotas, a única forma de obter informações.
Nos últimos anos, a Voz do Brasil vem registrando modificações importantes em sua forma e conteúdo, tornando-se mais adequada a atualidade, além de veicular, também, informações muito relevantes sobre programas governamentais, especificamente, os do Ministério da Educação (Fundeb), do Ministério da Agricultura (Programa de Aquisição de Alimentos), do Ministério da Pesca e também do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Pronaf e Pronera) e do Ministério da Previdência Social. Tal característica pode, perfeitamente, ser aperfeiçoada para oferecer aos brasileiros uma possibilidade mais eficaz ainda para sua informação, acerca de temas de altíssima relevância, nem sempre contemplados adequadamente pela esmagadora maioria das emissoras de rádio espalhadas pelo território nacional, que sequer dispõe de estrutura suficiente para cumprir a exigência de noticiário jornalístico prevista em lei.
Para os integrantes do Legislativo e do Judiciário, a Voz do Brasil é uma rara opção de interação com a sociedade sem as distorções já tradicionais na mídia. Diversas pesquisas científicas já demonstraram que a cobertura jornalística destes dois Poderes da República não representa fidedignamente os fatos que acontecem no seu interior. Além disso, a Voz do Brasil trata igualitariamente a todos os parlamentares, sem as distorções editoriais que privilegiam o segmento já classificado de "alto clero" do Congresso Nacional.
Para uma grande massa de brasileiros que vivem nos chamados grotões do campo e da cidade, sem acesso a leitura de jornais, a Voz do Brasil é o que lhe resta como única opção informativa para saber das decisões dos poderes públicos, da atuação dos seus representantes no Congresso e das deliberações do judiciário. Na atualidade, este programa radiofônico se transformou num importante instrumento de transparência dos feitos públicos, habilitando ao cidadão exercer seu papel de fiscal do Estado. Tal característica não é valorizada pelos grandes empresários da comunicação interessados, fundamentalmente, na exploração comercial do horário, para mais exibição do mesmo, em prejuízo do jornalismo e da direito de comunicação de nosso povo.
Considerando a inexistência de qualquer capacidade fiscalizadora dos órgãos competentes, a flexibilização do horário de apresentação da Voz do Brasil poderá constituir-se, de fato, numa alteração que , na prática, levará à sua não veiculação, portanto, ao desaparecimento do mais antigo programa de rádio do mundo atual. O que interessa apenas aos conglomerados empresariais da comunicação.
Assim sendo, como o referido projeto teve uma tramitação muito rápida durante o ano de 2010, ano eleitoral, com significativo esvaziamento do Congresso, entendemos que a matéria pode não ter sido examinada com suficiente profundidade, especialmente nos aspectos aqui mencionados. É sabido que nem o Conselho de Comunicação do Congresso Nacional teve oportunidade de se posicionar sobre o tema e que o plenário da Câmara dos Deputados não foi ouvido. Sua aprovação poderia constituir-se na eliminação de uma positiva experiência de regulamentação informativa e, com isso, representar um grave prejuízo para uma imensa maioria de brasileiros que têm na Voz do Brasil uma alternativa consolidada para informar-se acerca das mais relevantes decisões dos poderes públicos e de seus membros.
Face a isto, solicitamos que a tramitação do referido projeto seja sustada e que a matéria seja objeto de novas análises, inclusive com a convocação de audiências públicas nas quais sejam ouvidos não apenas especialistas em comunicação, mas, também, representantes das diferentes comunidades tais como pescadores, ribeirinhos, trabalhadores rurais, caminhoneiros, população de fronteira, militares ou civis, povos das florestas, quilombolas, militares, que nos mais inóspitos rincões de imenso país tem na Voz do Brasil um fundamental instrumento para sua informação e, com isto, para formarem-se com cidadãos brasileiros.
Central Única dos Trabalhadores – CUT
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG
Central Geral dos Trabalhadores do Brasil - CGTB
Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ
Federação Interestadual de Trabalhadores em Empresas de Rádio e TV – FITERT
Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP
Movimento em Defesa da Voz do Brasil
Brasília, 15 de agosto de 2011
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
As Farc não serão e não podem ser derrotadas
Em entrevista exclusiva ao jornal A Verdade, James J. Brittain, sociólogo, ph.D. em sociologia com ênfase em economia política e professor assistente do Departamento de Sociologia da Acadia University, no Canadá, fala sobre as Farc-EP (sigla das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo), contando um pouco de sua história e esclarecendo vários mitos difundidos sobre a guerrilha. Brittain passou mais de cinco anos vivendo em meio às Farc-EP, participando de várias de suas atividades, conhecendo suas estruturas e entrevistando combatentes e camponeses residentes nas regiões sob domínio da insurgência. Parte dessa pesquisa, juntamente com uma extensa bibliografia, resultaram em seu livro Revolutionary social change in Colombia - the origins and direction of the Farc-EP, lançado em 2010, e que já é considerado referência básica no assunto.
A Verdade - Há quanto tempo você vem pesquisando sobre as Farc-EP? Conte-nos um pouco da sua experiência na Colômbia junto à guerrilha.
James Brittain - Desde o fim da década de 1990 eu tenho me interessado e tentado compreender as complexidades da guerra civil colombiana, particularmente do ponto de vista dos mais marginalizados. Isso me levou à realidade daqueles em luta direta com a classe dominante na Colômbia - isto é, me levou a um encontro pessoal com as Farc-EP. Quando comparada com muitas outras partes da América Latina - onde algum tipo de mudança social é vista ou percebida como aparentemente funcional dentro dos limites do modelo eleitoral liberal democrático - a Colômbia demonstra uma realidade bem diferente, e com isso, a necessidade do conflito direto de classe. Isso me levou a começar a me comunicar com a guerrilha e mais tarde, a conduzir pesquisa de primeira mão em áreas sob seu controle/operação durante grande parte da última década.
Que circunstâncias objetivas levaram à formação das Farc-EP?
A resposta é bem complexa. mas vou tentar responder. De forma resumida, muitos daqueles oprimidos por uma grave exclusão social, pela repressão estatal, por um governo apático e pelo agravamento das condições econômicas perceberam que romper relações de classe limitadas e desiguais por meios convencionais era, literalmente, impossível. Em resposta à expansão de interesses capitalistas e a um estado engajado em atividades coercitivas extremas contra uma população rural, e sendo este estado, ao mesmo tempo, inativo na promoção de serviços de saúde, seguro social agrário e uma enorme lista de serviços sociais como educação, as Farc-EP se estabeleceram durante os anos 1960 como um coletivo de autodefesa camponês que criticava a interferência imperialista na Colômbia, enquanto colocava em prática estratégias de reforma agrária e modelos alternativos de desenvolvimento via aliança operário-camponesa. Isso, no entanto, ocorreu apenas depois de décadas de tentativas de alcançar alguma forma de mudança social através de desenvolvimento alternativo e meios pacíficos. Sem nenhuma outra possibilidade, as Farc-EP foram constituídas, então, em maio de 1964.
As Farc-EP são uma organização marxista? A guerrilha perdeu hoje sua motivação ou orientação ideológica inicial, como é divulgado pela imprensa burguesa?
Nos últimos 47 anos as Farc-EP se desenvolveram num movimento sociopolítico complexo e organizado, com membros de todos os setores da sociedade colombiana; populações indígenas, afrocolombianos, trabalhadores rurais sem terra, intelectuais, sindicalistas, professores, setores do proletariado urbano e por aí vai - todos esses lutando por desenvolvimento social através da realização de uma sociedade socialista - e é, com certeza, um movimento baseado na tradição marxista. Como foi notado por Bernard-Henri Lévy após entrevistar membros da guerrilha, o marxismo-leninismo das Farc-EP "não me lembra nada que já tenha ouvido ou visto em qualquer outro lugar... isso é um impecável comunismo; juntamente com Cuba, este é o último comunismo na América Latina e, certamente, o mais forte". Uma das razões pelas quais muitos ingenuamente pensam que a guerrilha "perdeu sua direção ideológica" pode ser baseada na estratégia de longo prazo das Farc-EP de compreensão e aplicação do marxismo no contexto de uma realidade colombiana. Desde sua formação as Farc-EP permanecem comprometidas à práxis da transformação revolucionária das relações sociais na Colômbia. Para que isso ocorra é necessário que a revolução seja das, com e para as populações marginalizadas dentro do país, o que levou as Farc-EP a confiar na consciência interna e no suporte das classes trabalhadoras rural e urbana. Já foi bem documentado que a guerrilha foi pouquíssimas vezes apoiada - se é que foi mesmo apoiada - por auxílio estrangeiro, e tem, ao contrário, sustentado sua luta pela base. Mesmo em grande solidariedade, a guerrilha se dissociou, tanto material quanto imaterialmente, da União Soviética antes do seu colapso, o que é uma forte indicação de por que a guerrilha não sofreu perdas materiais quando o regime soviético implodiu. De fato, esta estratégia orgânica fez que as Farc-EP se fortalecessem sociopoliticamente e aumentassem por todo o país durante um período em que outras guerrilhas latino-americanas, que eram em parte dependentes de apoio soviético ou cubano, se enfraquecessem ou que passassem de seu radicalismo para uma retórica mais liberal de aspirações políticas.
As Farc-EP têm alguma ligação com o plantio de coca ou com o tráfico de drogas?
Uma tremenda desinformação tem sido apresentada neste assunto. Contrariamente à crença popular, as Farc-EP foram, por muitos anos, severamente contra o cultivo de plantações relacionados à indústria da droga. No entanto, à medida que a economia rural e as colheitas diminuíram ao passar dos anos, como resultado de políticas neoliberais - e não havia mais retorno em plantações tradicionais - muitos camponeses não tinham muitas opções a não ser subsidiar suas rendas com o cultivo de marijuana e, posteriormente, coca. Pelo fato de as Farc-EP serem um movimento do, com e para o povo, seria hipócrita por parte da guerrilha exigir dos camponeses, pela força, que abandonassem uma plantação que lhes fornecia alguma forma de renda no ambiente político-econômico em que se encontravam. No entanto, pensar que isso faz das Farc-EP traficantes de drogas ou "narcoguerrilhas" é, no mínimo, absurdo e revelador de quão pouco aqueles que fazem tais afirmações conhecem ou compreendem da economia política rural da Colômbia.
O ex-conselheiro militar da presidência de Álvaro Uribe Vélez, Alfredo Rangel Suárez, afirmou que "é um erro tratar as Farc como um cartel de drogas porque isso ignora o fato de que o objetivo principal das Farc não é fazer dinheiro com o tráfico de drogas, mas tomar o poder". Pintar as Farc-EP como uma guerrilha associada ao tráfico tem sido uma tentativa estratégica de desmoralizar a práxis das Farc-EP, deslegitimar as intenções sociopolíticas e econômicas da organização e, finalmente, evitar uma solução negociada para a guerra civil. Já foi amplamente comprovado que não existe nenhuma prova para sustentar a afirmação de que as Farc-EP estejam diretamente envolvidas com a indústria da coca. Até mesmo representantes dos governos da Colômbia e dos EUA já insistiram nessa posição. Por anos, oficiais do exército estadunidense, da Drug Enforcement Agency (DEA) e de sua embaixada na Colômbia já afirmaram que o estado nunca obteve nenhuma evidência de que as Farc-EP estivessem envolvidas no transporte, distribuição ou comércio de drogas ilícitas na América do Norte ou na Europa. Além do mais, o ex-presidente colombiano [1998-2002] e ex-embaixador nos EUA [2005-2006] Andrés Pastrana Arango também manteve a mesma posição de que as Farc-EP não estavam de maneira alguma ligadas ao tráfico de drogas. Pastrana revelou que o estado colombiano não conseguiu encontrar "nenhuma evidência de que eles estão diretamente envolvidos com o tráfico de drogas". E indo um pouco além da questão do envolvimento com as drogas, há também a (silenciada) questão do trabalho feito pela guerrilha em limitar a indústria da coca para que não se espalhasse completamente pelos setores rurais do país. Após a recusa das Farc-EP em dar apoio ao cultivo de coca durante os anos 1970 e início dos anos 1980, a insurgência mudou sua posição no final dos anos 1980 e durante os anos 1990. Permanecendo em oposição à coca, as Farc-EP começaram a trabalhar com a ONU durante os anos 1980 em inúmeros projetos relacionados à substituição de plantio em regiões sob controle da insurgência. Trabalhando independentemente do governo, a ONU adotou as Farc-EP como parceira em programas relacionados ao desenvolvimento social e à substituição de plantações. As Farc-EP nunca promoveram a produção de coca. A insurgência tem por muito tempo encorajado e auxiliado projetos de substituição de plantios em diversos municípios. Durante os anos 1990 e 2000 as Farc-EP apoiaram com sucesso uma mudança de plantações de coca para outros tipos de plantações lícitas na gestão de Micoahumado no município de Morales. As Farc-EP foram, de fato, a primeira organização na Colômbia a incentivar a substituição de plantio - muito tempo antes do problema da coca ficar fora de controle. Hohe, as Farc-EP permanecem engajadas em projetos autônomos para encorajar os camponeses a cultivar plantações de subsistência.
As Farc-EP estão diminuindo e perdendo apoio popular? Elas impõem recrutamento forçado?
Como tem sido admitido recentemente pelo governo Santos, as Farc-EP não só têm apresentado uma inacreditável habilidade para manter seu poder e presença por todo o país, como isso é revelador do apoio que tem a guerrilha. No entanto, é essencial que aqueles no poder apresentem uma hegemonia que pinta as Farc-EP como fracas ou sem apoio civil. Mas quando alguém examina por toda a história as lutas contra o poder dominante, fica claro que qualquer movimento de guerrilha não pode ser conduzido ou manter operações contra forças do estado sem um significativo apoio social e político. Enquanto algumas frentes das Farc-EP têm sofrido alguns golpes nos últimos anos, a insurgência tem sido capaz de não apenas estabilizar campanhas contra alvos escolhidos, mas também tem aumentado suas atividades ano após ano. Por muitos anos, as Farc-EP vêm modestamente ampliando suas campanhas armadas contra as forças do estado (949 em 2004, 1.008 em 2005, 1.026 em 2006, 1.057 em 2007). Mas os últimos anos, no entanto, presenciaram um salto significativo no número de ataques militares da insurgência, em uma média de cinco ao dia (1.614). Ainda 2010 testemunhou o maior número de ataques da guerrilha contra as força do estado em 15 anos, totalizando mais de 1.947, e mais mortes das forças do estado do que no auge do conflito, no início dos anos 2000. Permanece o fato de que as Farc-EP são o mais longo movimento de guerrilha estabelecido nas Américas e desde o início se desenvolveu num movimento complexo e organizado com 65% de seus membros vindod do campo ou de municípios rurais - dos quais quase 13% são de origem indígena - e os outros 35% de setores urbanos. Isso está muito longe de um movimento que não tem apoio do povo. Quanto à questão do "recrutamento forçado", a resposta é bem simples: fazer as pessoas lutarem por um movimento de autodeterminação e libertação através da força ou de ameaças resultaria apenas num desperdício de recursos e simplesmente geraria um plantel incapaz de dar resposta às forças do estado, pois estariam ali não para vencer, mas apenas para sobreviver. Ao se examinarem os dados acima, reconhece-se facilmente que, com uma média de seis ataques diários bem-sucedidos contra as forças do estado é possível ver além do que diz a propaganda da mídia dominante.
Qual foi o real objetivo dos EUA com o Plano Colômbia? Como ele afetou as Farc-EP?
A partir da metade dos anos 1990, as Farc-EP demonstraram um crescimento político militar que colocou os militares na defensiva. A partir disso, Washington procurou reforçar as medidas antiguerrilha da Colômbia esperando com isso diminuir a autoridade das Farc. Os EUA não podiam permitir, política ou economicamente, que um movimento de insurgência marxista-leninista chegasse ao poder em nível hemisférico ou geopolítico. Os EUA estavam bem atentos ao crescimento das Farc-EP e sua crescente ameaça aos interesses político-econômicos tanto domésticos quanto internacionais desde antes de 1997-1998. Evidências demonstram que Washington se envolveu com treinamentos às forças colombianas de contrainsurgência e posicionou tropas estadunidenses em regiões específicas do país desde o início dos anos 1990. Em 1990, por exemplo, o posto da CIA na Colômbia era o maior de seu tipo no mundo, e no fim dos anos 1990, os EUA e o estado colombiano já tinham estabelecido a maior campanha de contrainsurgência na história da América Latina, o Plano Colômbia. Para abrandar a oposição em relação ao crescente financiamento da contrainsurgência na Colômbia, o governo Clinton [1993-2001] camuflou o tópico da intervenção militar direta dos EUA sob a retórica de combate ao narcotráfico do Plano Colômbia. Inúmeros analistas já afirmaram que as Farc-EP não serão e não podem ser derrotadas. Alguns deles, como Marc Chernick, notaram que "apesar do constante aumento da capacidade militar do estado, ele ainda não é capaz de derrotar as guerrilhas hoje ou num futuro próximo... sua estrutura organizacional [da guerrilha], sua base de recrutamento e sua habilidade de travar guerra de guerrilhas por todo o território nacional permanecem inalteradas." Especialistas, desde o ex-embaixador dos EUA em El Salvador, Robert White, até o historiador colombiano Herbert Braun, expressaram que Bogotá ou Washington não podem, de nenhuma maneira, derrotar as Farc-EP. Perto de seu final, o Plano Colômbia, com mais de 7,7 bilhões de dólares colocados na estratégia de contrainsurgência, não apenas falhou em derrotar as Farc-EP como testemunhou algumas das campanhas mais ferozes da guerrilha na década.
Glauber Ataide e Leonardo Péricles, Belo Horizonte
A Verdade - Há quanto tempo você vem pesquisando sobre as Farc-EP? Conte-nos um pouco da sua experiência na Colômbia junto à guerrilha.
James Brittain - Desde o fim da década de 1990 eu tenho me interessado e tentado compreender as complexidades da guerra civil colombiana, particularmente do ponto de vista dos mais marginalizados. Isso me levou à realidade daqueles em luta direta com a classe dominante na Colômbia - isto é, me levou a um encontro pessoal com as Farc-EP. Quando comparada com muitas outras partes da América Latina - onde algum tipo de mudança social é vista ou percebida como aparentemente funcional dentro dos limites do modelo eleitoral liberal democrático - a Colômbia demonstra uma realidade bem diferente, e com isso, a necessidade do conflito direto de classe. Isso me levou a começar a me comunicar com a guerrilha e mais tarde, a conduzir pesquisa de primeira mão em áreas sob seu controle/operação durante grande parte da última década.
Que circunstâncias objetivas levaram à formação das Farc-EP?
A resposta é bem complexa. mas vou tentar responder. De forma resumida, muitos daqueles oprimidos por uma grave exclusão social, pela repressão estatal, por um governo apático e pelo agravamento das condições econômicas perceberam que romper relações de classe limitadas e desiguais por meios convencionais era, literalmente, impossível. Em resposta à expansão de interesses capitalistas e a um estado engajado em atividades coercitivas extremas contra uma população rural, e sendo este estado, ao mesmo tempo, inativo na promoção de serviços de saúde, seguro social agrário e uma enorme lista de serviços sociais como educação, as Farc-EP se estabeleceram durante os anos 1960 como um coletivo de autodefesa camponês que criticava a interferência imperialista na Colômbia, enquanto colocava em prática estratégias de reforma agrária e modelos alternativos de desenvolvimento via aliança operário-camponesa. Isso, no entanto, ocorreu apenas depois de décadas de tentativas de alcançar alguma forma de mudança social através de desenvolvimento alternativo e meios pacíficos. Sem nenhuma outra possibilidade, as Farc-EP foram constituídas, então, em maio de 1964.
As Farc-EP são uma organização marxista? A guerrilha perdeu hoje sua motivação ou orientação ideológica inicial, como é divulgado pela imprensa burguesa?
Nos últimos 47 anos as Farc-EP se desenvolveram num movimento sociopolítico complexo e organizado, com membros de todos os setores da sociedade colombiana; populações indígenas, afrocolombianos, trabalhadores rurais sem terra, intelectuais, sindicalistas, professores, setores do proletariado urbano e por aí vai - todos esses lutando por desenvolvimento social através da realização de uma sociedade socialista - e é, com certeza, um movimento baseado na tradição marxista. Como foi notado por Bernard-Henri Lévy após entrevistar membros da guerrilha, o marxismo-leninismo das Farc-EP "não me lembra nada que já tenha ouvido ou visto em qualquer outro lugar... isso é um impecável comunismo; juntamente com Cuba, este é o último comunismo na América Latina e, certamente, o mais forte". Uma das razões pelas quais muitos ingenuamente pensam que a guerrilha "perdeu sua direção ideológica" pode ser baseada na estratégia de longo prazo das Farc-EP de compreensão e aplicação do marxismo no contexto de uma realidade colombiana. Desde sua formação as Farc-EP permanecem comprometidas à práxis da transformação revolucionária das relações sociais na Colômbia. Para que isso ocorra é necessário que a revolução seja das, com e para as populações marginalizadas dentro do país, o que levou as Farc-EP a confiar na consciência interna e no suporte das classes trabalhadoras rural e urbana. Já foi bem documentado que a guerrilha foi pouquíssimas vezes apoiada - se é que foi mesmo apoiada - por auxílio estrangeiro, e tem, ao contrário, sustentado sua luta pela base. Mesmo em grande solidariedade, a guerrilha se dissociou, tanto material quanto imaterialmente, da União Soviética antes do seu colapso, o que é uma forte indicação de por que a guerrilha não sofreu perdas materiais quando o regime soviético implodiu. De fato, esta estratégia orgânica fez que as Farc-EP se fortalecessem sociopoliticamente e aumentassem por todo o país durante um período em que outras guerrilhas latino-americanas, que eram em parte dependentes de apoio soviético ou cubano, se enfraquecessem ou que passassem de seu radicalismo para uma retórica mais liberal de aspirações políticas.
As Farc-EP têm alguma ligação com o plantio de coca ou com o tráfico de drogas?
Uma tremenda desinformação tem sido apresentada neste assunto. Contrariamente à crença popular, as Farc-EP foram, por muitos anos, severamente contra o cultivo de plantações relacionados à indústria da droga. No entanto, à medida que a economia rural e as colheitas diminuíram ao passar dos anos, como resultado de políticas neoliberais - e não havia mais retorno em plantações tradicionais - muitos camponeses não tinham muitas opções a não ser subsidiar suas rendas com o cultivo de marijuana e, posteriormente, coca. Pelo fato de as Farc-EP serem um movimento do, com e para o povo, seria hipócrita por parte da guerrilha exigir dos camponeses, pela força, que abandonassem uma plantação que lhes fornecia alguma forma de renda no ambiente político-econômico em que se encontravam. No entanto, pensar que isso faz das Farc-EP traficantes de drogas ou "narcoguerrilhas" é, no mínimo, absurdo e revelador de quão pouco aqueles que fazem tais afirmações conhecem ou compreendem da economia política rural da Colômbia.
O ex-conselheiro militar da presidência de Álvaro Uribe Vélez, Alfredo Rangel Suárez, afirmou que "é um erro tratar as Farc como um cartel de drogas porque isso ignora o fato de que o objetivo principal das Farc não é fazer dinheiro com o tráfico de drogas, mas tomar o poder". Pintar as Farc-EP como uma guerrilha associada ao tráfico tem sido uma tentativa estratégica de desmoralizar a práxis das Farc-EP, deslegitimar as intenções sociopolíticas e econômicas da organização e, finalmente, evitar uma solução negociada para a guerra civil. Já foi amplamente comprovado que não existe nenhuma prova para sustentar a afirmação de que as Farc-EP estejam diretamente envolvidas com a indústria da coca. Até mesmo representantes dos governos da Colômbia e dos EUA já insistiram nessa posição. Por anos, oficiais do exército estadunidense, da Drug Enforcement Agency (DEA) e de sua embaixada na Colômbia já afirmaram que o estado nunca obteve nenhuma evidência de que as Farc-EP estivessem envolvidas no transporte, distribuição ou comércio de drogas ilícitas na América do Norte ou na Europa. Além do mais, o ex-presidente colombiano [1998-2002] e ex-embaixador nos EUA [2005-2006] Andrés Pastrana Arango também manteve a mesma posição de que as Farc-EP não estavam de maneira alguma ligadas ao tráfico de drogas. Pastrana revelou que o estado colombiano não conseguiu encontrar "nenhuma evidência de que eles estão diretamente envolvidos com o tráfico de drogas". E indo um pouco além da questão do envolvimento com as drogas, há também a (silenciada) questão do trabalho feito pela guerrilha em limitar a indústria da coca para que não se espalhasse completamente pelos setores rurais do país. Após a recusa das Farc-EP em dar apoio ao cultivo de coca durante os anos 1970 e início dos anos 1980, a insurgência mudou sua posição no final dos anos 1980 e durante os anos 1990. Permanecendo em oposição à coca, as Farc-EP começaram a trabalhar com a ONU durante os anos 1980 em inúmeros projetos relacionados à substituição de plantio em regiões sob controle da insurgência. Trabalhando independentemente do governo, a ONU adotou as Farc-EP como parceira em programas relacionados ao desenvolvimento social e à substituição de plantações. As Farc-EP nunca promoveram a produção de coca. A insurgência tem por muito tempo encorajado e auxiliado projetos de substituição de plantios em diversos municípios. Durante os anos 1990 e 2000 as Farc-EP apoiaram com sucesso uma mudança de plantações de coca para outros tipos de plantações lícitas na gestão de Micoahumado no município de Morales. As Farc-EP foram, de fato, a primeira organização na Colômbia a incentivar a substituição de plantio - muito tempo antes do problema da coca ficar fora de controle. Hohe, as Farc-EP permanecem engajadas em projetos autônomos para encorajar os camponeses a cultivar plantações de subsistência.
As Farc-EP estão diminuindo e perdendo apoio popular? Elas impõem recrutamento forçado?
Como tem sido admitido recentemente pelo governo Santos, as Farc-EP não só têm apresentado uma inacreditável habilidade para manter seu poder e presença por todo o país, como isso é revelador do apoio que tem a guerrilha. No entanto, é essencial que aqueles no poder apresentem uma hegemonia que pinta as Farc-EP como fracas ou sem apoio civil. Mas quando alguém examina por toda a história as lutas contra o poder dominante, fica claro que qualquer movimento de guerrilha não pode ser conduzido ou manter operações contra forças do estado sem um significativo apoio social e político. Enquanto algumas frentes das Farc-EP têm sofrido alguns golpes nos últimos anos, a insurgência tem sido capaz de não apenas estabilizar campanhas contra alvos escolhidos, mas também tem aumentado suas atividades ano após ano. Por muitos anos, as Farc-EP vêm modestamente ampliando suas campanhas armadas contra as forças do estado (949 em 2004, 1.008 em 2005, 1.026 em 2006, 1.057 em 2007). Mas os últimos anos, no entanto, presenciaram um salto significativo no número de ataques militares da insurgência, em uma média de cinco ao dia (1.614). Ainda 2010 testemunhou o maior número de ataques da guerrilha contra as força do estado em 15 anos, totalizando mais de 1.947, e mais mortes das forças do estado do que no auge do conflito, no início dos anos 2000. Permanece o fato de que as Farc-EP são o mais longo movimento de guerrilha estabelecido nas Américas e desde o início se desenvolveu num movimento complexo e organizado com 65% de seus membros vindod do campo ou de municípios rurais - dos quais quase 13% são de origem indígena - e os outros 35% de setores urbanos. Isso está muito longe de um movimento que não tem apoio do povo. Quanto à questão do "recrutamento forçado", a resposta é bem simples: fazer as pessoas lutarem por um movimento de autodeterminação e libertação através da força ou de ameaças resultaria apenas num desperdício de recursos e simplesmente geraria um plantel incapaz de dar resposta às forças do estado, pois estariam ali não para vencer, mas apenas para sobreviver. Ao se examinarem os dados acima, reconhece-se facilmente que, com uma média de seis ataques diários bem-sucedidos contra as forças do estado é possível ver além do que diz a propaganda da mídia dominante.
Qual foi o real objetivo dos EUA com o Plano Colômbia? Como ele afetou as Farc-EP?
A partir da metade dos anos 1990, as Farc-EP demonstraram um crescimento político militar que colocou os militares na defensiva. A partir disso, Washington procurou reforçar as medidas antiguerrilha da Colômbia esperando com isso diminuir a autoridade das Farc. Os EUA não podiam permitir, política ou economicamente, que um movimento de insurgência marxista-leninista chegasse ao poder em nível hemisférico ou geopolítico. Os EUA estavam bem atentos ao crescimento das Farc-EP e sua crescente ameaça aos interesses político-econômicos tanto domésticos quanto internacionais desde antes de 1997-1998. Evidências demonstram que Washington se envolveu com treinamentos às forças colombianas de contrainsurgência e posicionou tropas estadunidenses em regiões específicas do país desde o início dos anos 1990. Em 1990, por exemplo, o posto da CIA na Colômbia era o maior de seu tipo no mundo, e no fim dos anos 1990, os EUA e o estado colombiano já tinham estabelecido a maior campanha de contrainsurgência na história da América Latina, o Plano Colômbia. Para abrandar a oposição em relação ao crescente financiamento da contrainsurgência na Colômbia, o governo Clinton [1993-2001] camuflou o tópico da intervenção militar direta dos EUA sob a retórica de combate ao narcotráfico do Plano Colômbia. Inúmeros analistas já afirmaram que as Farc-EP não serão e não podem ser derrotadas. Alguns deles, como Marc Chernick, notaram que "apesar do constante aumento da capacidade militar do estado, ele ainda não é capaz de derrotar as guerrilhas hoje ou num futuro próximo... sua estrutura organizacional [da guerrilha], sua base de recrutamento e sua habilidade de travar guerra de guerrilhas por todo o território nacional permanecem inalteradas." Especialistas, desde o ex-embaixador dos EUA em El Salvador, Robert White, até o historiador colombiano Herbert Braun, expressaram que Bogotá ou Washington não podem, de nenhuma maneira, derrotar as Farc-EP. Perto de seu final, o Plano Colômbia, com mais de 7,7 bilhões de dólares colocados na estratégia de contrainsurgência, não apenas falhou em derrotar as Farc-EP como testemunhou algumas das campanhas mais ferozes da guerrilha na década.
Glauber Ataide e Leonardo Péricles, Belo Horizonte
TV líbia anuncia retomada de Misrata
A notícia da libertação de Misrata das mãos dos bandos de mercenários foi intensamente festejada. Cidadãos saíram às ruas em Trípoli, com bandeiras verdes sobre os ombros e entoando vivas à Líbia e ao líder Muammar Kadafi, como mostrou ao vivo a TV Líbia
A TV estatal líbia anunciou a retomada da estratégica cidade portuária de Misrata das mãos dos mercenários.
Segundo a TV somente alguns “pequenos bolsões permaneceram nas mãos dos traidores”.
A vitória, apesar dos bombardeios pela Otan, foi intensamente comemorada nas ruas da capital líbia.
O filme pode ser visto na internet: http://www.youtube.com/watch?v=iTAUV7m5S2k
Em um sinal de que o “avanço dos insurgentes rumo a Trípoli” é falacioso, o portavoz da Otan afirmou que “a situação no terreno é muito dinâmica”, ou seja, os mercenários não conseguem tomar espaços em definitivo.
A BBC também mostrou vídeo com tiroteios se desenrolando em outra cidade, Zawyia, onde se supunha que os mercenários haviam expulso as forças governamentais. O âncora da BBC confessou que vira “a bandeira verde [dos patriotas líbios] tremulando sobre a refinaria da cidade”.
Entre os eventos da comemoração uma carreata com milhares de carros com seus ocupantes carregando bandeiras verdes tomou conta do centro de Trípoli. Um repórter da TV Líbia cedia o microfone às pessoas na rua e todos expressavam seu entusiástico apoio a Kadafi.
Um deles afirmou: “espero que esta escória subhumana que apoia as ações satânicas da Otan sejam amaldiçoados em vida e na morte, que estes traidores sejam enviados para baixo, para o inferno”.
Segundo a jornalista norte-americana Susan Lin-dauer (Springfield News) em artigo conjunto com Jeanne Moriarty, do Morning Star, afirmam que as cidades Zawyia, Garian, Sorman e Sabratha, ditas em poder dos mercenários “estão sob controle do governo”.
Nos embates, as forças nacionais libertaram 1.250 militares que os mercenários haviam detido. Também que há um contingente de jovens que através de computadores e aparelhagem eletrônica consegue monitorar as comunicações e posições dos mercenários.
As jornalistas informam que um dos principais militares dos bandidos, Khalifa Hefter, que atuou – segundo a TV – durante 20 anos como agente da CIA e foi transportado ao país para comandar os mercenários foi capturado.
NATHANIEL BRAIA
http://www.horadopovo.com.br/2011/agosto/2986-19-08-2011/P8/pag8a.htm
A TV estatal líbia anunciou a retomada da estratégica cidade portuária de Misrata das mãos dos mercenários.
Segundo a TV somente alguns “pequenos bolsões permaneceram nas mãos dos traidores”.
A vitória, apesar dos bombardeios pela Otan, foi intensamente comemorada nas ruas da capital líbia.
O filme pode ser visto na internet: http://www.youtube.com/watch?v=iTAUV7m5S2k
Em um sinal de que o “avanço dos insurgentes rumo a Trípoli” é falacioso, o portavoz da Otan afirmou que “a situação no terreno é muito dinâmica”, ou seja, os mercenários não conseguem tomar espaços em definitivo.
A BBC também mostrou vídeo com tiroteios se desenrolando em outra cidade, Zawyia, onde se supunha que os mercenários haviam expulso as forças governamentais. O âncora da BBC confessou que vira “a bandeira verde [dos patriotas líbios] tremulando sobre a refinaria da cidade”.
Entre os eventos da comemoração uma carreata com milhares de carros com seus ocupantes carregando bandeiras verdes tomou conta do centro de Trípoli. Um repórter da TV Líbia cedia o microfone às pessoas na rua e todos expressavam seu entusiástico apoio a Kadafi.
Um deles afirmou: “espero que esta escória subhumana que apoia as ações satânicas da Otan sejam amaldiçoados em vida e na morte, que estes traidores sejam enviados para baixo, para o inferno”.
Segundo a jornalista norte-americana Susan Lin-dauer (Springfield News) em artigo conjunto com Jeanne Moriarty, do Morning Star, afirmam que as cidades Zawyia, Garian, Sorman e Sabratha, ditas em poder dos mercenários “estão sob controle do governo”.
Nos embates, as forças nacionais libertaram 1.250 militares que os mercenários haviam detido. Também que há um contingente de jovens que através de computadores e aparelhagem eletrônica consegue monitorar as comunicações e posições dos mercenários.
As jornalistas informam que um dos principais militares dos bandidos, Khalifa Hefter, que atuou – segundo a TV – durante 20 anos como agente da CIA e foi transportado ao país para comandar os mercenários foi capturado.
NATHANIEL BRAIA
http://www.horadopovo.com.br/2011/agosto/2986-19-08-2011/P8/pag8a.htm
Carta aberta ao Didi da Rede Globo
Querido Didi,
Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado do lápis e das etiquetas com meu nome para colar nas correspondências) ..........
Achei que as cartas não deveriam ser endereçadas a mim. Agora, novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido às suas solicitações.
Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo e escrever uma resposta.
Não foi por " algum motivo " que não fiz a doação em dinheiro solicitada por você.
São vários os motivos que me levam a não participar de sua campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre esses motivos).
Você diz, em sua última carta, que enquanto eu a estivesse lendo, uma criança estaria perdendo a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua formação !
Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu conheço muito bem. Êsse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas pessoas mas, comigo não.
Eu não sou ministra da educação. Não ordeno e nem priorizo as despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as salas de aula.
A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos de idade, quando comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da família.
Trabalhei muito e, te garanto, TRABALHO NÃO MATA NINGUEM ! Muito pelo contrário, faz bem !
Estudei na escola da zona rural, fiz Supletivo, estudei à distância e muito antes de ser jornalista e publicitária eu já era uma micro- empresária.
Didi, talvez você não tenha noção do quanto o GOVERNO FEDERAL tira do nosso suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo brasileiro precisa.
Os impostos são muito altos ! Sem falar dos Impostos embutidos em cada alimento e em cada produto ou serviço que preciso comprar para o sustento e sobrevivência da minha família.
Eu pago pela educação duas vezes : pago pela educação na escola pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, PORQUE SOMENTE A ESCOLA PÚBLICA NÃO ATENDE COM ENSINO DE QUALIDADE QUE, ACREDITO, MEUS DOIS FILHOS MERECEM !!!
Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um problema que nem deveria existir, pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos outros problemas sociais !
O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os administradores dessa dinheirama toda não veêm a educação como prioridade !
PARA ÊLES, A EDUCAÇÃO LHES RETIRA A SUBSERVIÊNCIA E ÊSSE FATO, POR SI SÓ, NÃO INTERESSA AOS POLÍTICOS QUE ESTÃO NO PODER. POR ISSO, O DINHEIRO ESTÁ SAINDO PELO RALO; ESTÃO JOGANDO FORA , OU APLICANDO MUITO MAL !!!
Para você ter uma idéia, na minha cidade cada alimentação de um presidiário custa para os cofres públicos R$ 8,82 (oito reais e oitenta e dois centavos), enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa R$ 0,20 (vinte centavos) !!! O governo precisa rever suas prioridades, você não concorda ? Você pode ajudar a mudar isso ! Não acha ?
Você diz em sua carta que não dá para aceitar que um brasileiro se torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta de matemática. Concordo com você !
É por isso que sua carta não deveria ser endereçada à minha pessoa. Deveria ser endereçada à Presidente da República !!!
Ela é "a cara" !!! Ela é quem tem a chave do cofre e a vontade política para aplicar os recursos !
Eu e mais milhares de pessoas só colocamos o dinheiro lá para que ela faça o que for correto e necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas do país, sem nenhum tipo de distinção ou discriminação. MAS, NÃO É O QUE ACONTECE !!!
No último parágrafo da sua carta, você joga, mais uma vez, a responsabilidade para cima de mim, dizendo que as crianças precisam da "minha doação" e que a "minha doação" faz toda a diferença...
Lamento discordar de você, Didi !!! Com o valor da doação mínima de R$ 15,00 (quinze reais) eu posso comprar 12 quilos de arroz para alimentar minha família por um mês, ou posso comprar pão para o café da manhã para 10 dias..... !!!
Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas, R$ 15,00 (quinze reais) eu não vou doar! Minha doação mensal já é muito grande. Se você não sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho !!!
Isso significa que o governo leva mais de um terço de tudo que eu recebo e posso te garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na qualidade de vida da minha família !
Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer NÃO para quase tudo que meus filhos querem ou precisam ? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de vida. Você acha isso justo ? Acredito que não. Você é um homem de bom-senso e saberá entender os meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.
Outra coisa Didi, MANDE UMA CARTA PARA A PRESIDENTE "DILMA" pedindo para ela selecionar melhor os ministros e também os professores das escolas públicas ! Só escolher quem, de fato, tem vocação para ser ministro e para o ensino.
Melhorar os salários daqueles profissionais também funciona para que êles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação ! Peça para ela, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as crianças possam, além de ler, escrever e fazer contas, possam desenvolver dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso está sobrando sim ! Diga para ela priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.
Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador Especial do Unicef para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo assinando... Eliane Sinhasique - Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari !!!
P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei obrigada a ser mal-educada: vou rasgá-la antes de abrir.
PS2* Aos otários que doaram para o criança esperança, fiquem sabendo : AS ORGANIZAÇÕES GLOBO ENTREGAM TODO O DINHEIRO ARRECADADO À UNICEF E RECEBEM UM RECIBO DO VALOR PARA DEDUÇÃO DO SEU IMPOSTO DE RENDA !!!
Para vocês a Rede Globo anuncia: essa doação não poderá ser deduzida do seu imposto de renda !
PORQUÊ É ELA QUEM O FAZ !!!
PS3* E O DINHEIRO DA CPMF QUE PAGAMOS DURANTE 11(ONZE) ANOS?
MELHOROU ALGUMA COISA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE DURANTE ESSES ANOS?
BRASILEIROS PATRIOTAS (e feitos de idiotas) !!!DIVULGUEM ESSA REVOLTA....
isto deveria chegar a Brasilia, não acha ???
<strong>ELIANE SINHASIQUE é jornalista e publicitária.>
Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado do lápis e das etiquetas com meu nome para colar nas correspondências) ..........
Achei que as cartas não deveriam ser endereçadas a mim. Agora, novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido às suas solicitações.
Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo e escrever uma resposta.
Não foi por " algum motivo " que não fiz a doação em dinheiro solicitada por você.
São vários os motivos que me levam a não participar de sua campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre esses motivos).
Você diz, em sua última carta, que enquanto eu a estivesse lendo, uma criança estaria perdendo a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua formação !
Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu conheço muito bem. Êsse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas pessoas mas, comigo não.
Eu não sou ministra da educação. Não ordeno e nem priorizo as despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as salas de aula.
A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos de idade, quando comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da família.
Trabalhei muito e, te garanto, TRABALHO NÃO MATA NINGUEM ! Muito pelo contrário, faz bem !
Estudei na escola da zona rural, fiz Supletivo, estudei à distância e muito antes de ser jornalista e publicitária eu já era uma micro- empresária.
Didi, talvez você não tenha noção do quanto o GOVERNO FEDERAL tira do nosso suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo brasileiro precisa.
Os impostos são muito altos ! Sem falar dos Impostos embutidos em cada alimento e em cada produto ou serviço que preciso comprar para o sustento e sobrevivência da minha família.
Eu pago pela educação duas vezes : pago pela educação na escola pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, PORQUE SOMENTE A ESCOLA PÚBLICA NÃO ATENDE COM ENSINO DE QUALIDADE QUE, ACREDITO, MEUS DOIS FILHOS MERECEM !!!
Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um problema que nem deveria existir, pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos outros problemas sociais !
O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os administradores dessa dinheirama toda não veêm a educação como prioridade !
PARA ÊLES, A EDUCAÇÃO LHES RETIRA A SUBSERVIÊNCIA E ÊSSE FATO, POR SI SÓ, NÃO INTERESSA AOS POLÍTICOS QUE ESTÃO NO PODER. POR ISSO, O DINHEIRO ESTÁ SAINDO PELO RALO; ESTÃO JOGANDO FORA , OU APLICANDO MUITO MAL !!!
Para você ter uma idéia, na minha cidade cada alimentação de um presidiário custa para os cofres públicos R$ 8,82 (oito reais e oitenta e dois centavos), enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa R$ 0,20 (vinte centavos) !!! O governo precisa rever suas prioridades, você não concorda ? Você pode ajudar a mudar isso ! Não acha ?
Você diz em sua carta que não dá para aceitar que um brasileiro se torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta de matemática. Concordo com você !
É por isso que sua carta não deveria ser endereçada à minha pessoa. Deveria ser endereçada à Presidente da República !!!
Ela é "a cara" !!! Ela é quem tem a chave do cofre e a vontade política para aplicar os recursos !
Eu e mais milhares de pessoas só colocamos o dinheiro lá para que ela faça o que for correto e necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas do país, sem nenhum tipo de distinção ou discriminação. MAS, NÃO É O QUE ACONTECE !!!
No último parágrafo da sua carta, você joga, mais uma vez, a responsabilidade para cima de mim, dizendo que as crianças precisam da "minha doação" e que a "minha doação" faz toda a diferença...
Lamento discordar de você, Didi !!! Com o valor da doação mínima de R$ 15,00 (quinze reais) eu posso comprar 12 quilos de arroz para alimentar minha família por um mês, ou posso comprar pão para o café da manhã para 10 dias..... !!!
Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas, R$ 15,00 (quinze reais) eu não vou doar! Minha doação mensal já é muito grande. Se você não sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho !!!
Isso significa que o governo leva mais de um terço de tudo que eu recebo e posso te garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na qualidade de vida da minha família !
Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer NÃO para quase tudo que meus filhos querem ou precisam ? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de vida. Você acha isso justo ? Acredito que não. Você é um homem de bom-senso e saberá entender os meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.
Outra coisa Didi, MANDE UMA CARTA PARA A PRESIDENTE "DILMA" pedindo para ela selecionar melhor os ministros e também os professores das escolas públicas ! Só escolher quem, de fato, tem vocação para ser ministro e para o ensino.
Melhorar os salários daqueles profissionais também funciona para que êles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação ! Peça para ela, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as crianças possam, além de ler, escrever e fazer contas, possam desenvolver dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso está sobrando sim ! Diga para ela priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.
Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador Especial do Unicef para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo assinando... Eliane Sinhasique - Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari !!!
P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei obrigada a ser mal-educada: vou rasgá-la antes de abrir.
PS2* Aos otários que doaram para o criança esperança, fiquem sabendo : AS ORGANIZAÇÕES GLOBO ENTREGAM TODO O DINHEIRO ARRECADADO À UNICEF E RECEBEM UM RECIBO DO VALOR PARA DEDUÇÃO DO SEU IMPOSTO DE RENDA !!!
Para vocês a Rede Globo anuncia: essa doação não poderá ser deduzida do seu imposto de renda !
PORQUÊ É ELA QUEM O FAZ !!!
PS3* E O DINHEIRO DA CPMF QUE PAGAMOS DURANTE 11(ONZE) ANOS?
MELHOROU ALGUMA COISA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE DURANTE ESSES ANOS?
BRASILEIROS PATRIOTAS (e feitos de idiotas) !!!DIVULGUEM ESSA REVOLTA....
isto deveria chegar a Brasilia, não acha ???
<strong>ELIANE SINHASIQUE é jornalista e publicitária.>
Aumenta o apoio a Gaddafi contra a EUA-OTAN, que estão destruindo a Líbia
15/8/2011, Scott Taylor, The Chronicle Herald, Halifax, Canadá
Gadhafi support soars amid NATO bombing
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
A rebelião na Líbia sempre foi mais criação da mídia que confronto armado em grande escala. Sim, nos primeiros dias, os rebeldes tomaram alguns tanques e armas das tropas do governo. Por isso, houve escaramuças entre rebeldes e soldados do exército líbio ao longo da rodovia que acompanha o litoral.
Entre 15 de fevereiro, quando começou o levante, e 19 de março, quando o Conselho de Segurança da ONU autorizou intervenção internacional, a vasta maioria dos trabalhadores estrangeiros que viviam na Líbia abandonaram o país.
Naqueles dias de caos, o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha noticiou que o presidente Mummar Gaddafi havia fugido para a Venezuela. Parecia que os rebeldes teriam vitória fácil e rápida. Mas Gaddafi nem viajou nem viajaria; em pouco tempo seus seguidores se recompuseram e, então sim, começaram uma efetiva luta de resistência contra os rebeldes.
Os rebeldes, que não são tropa profissional, logo iniciaram movimento de retirada de volta para o único ponto que realmente controlam no território, na cidade de Ben-ghazi.
Para impedir que Gaddafi impusesse qualquer tipo de retaliação contra os rebeldes, a ONU autorizou a OTAN a implantar uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia, para impedir que civis desarmados fossem atacados.
Muito estranhamente, a resolução da ONU nada dizia sobre não atacar civis desarmados que vivem nos setores controlados por Gaddafi. Ante essa estranha omissão, a coalizão OTAN-EUA-Canadá iniciou imediatamente os ataques contra alvos do governo líbio.
Já há mais de cinco meses, os aviões da OTAN apoiam os rebeldes, e navios de guerra da OTAN implantaram um embargo de armas unilateral contra o exército de Gaddafi. Todos os fundos financeiros líbios foram congelados, o que tornou virtualmente impossível para a Líbia comprar material bélico nem, sequer, prover as necessidades básicas do país, por exemplo, em termos de combustível.
Apesar de todas essas medidas, as unidades esparsas, sem qualquer coesão ou ordem que compõem as milícias rebeldes, não conseguiram impor qualquer derrota taticamente significativa às forças leais a Gaddafi – muito menos, é claro, conseguiram derrubar o ditador.
Em viagem que fiz a Trípoli, semana passada, para levantar fatos, vi que Gaddafi consolidou seu controle sobre a capital e praticamente toda a parte oeste da Líbia. Diplomatas que continuam em Trípoli confirmaram que, desde que começou o bombardeio pela OTAN, o apoio da população e a aprovação ao governo Gadaffi subiram à estratosfera e estão hoje em torno de 85%.
Das 2.335 tribos que há na Líbia, mais de 2.000 mantêm-se fiel ao presidente atacado pela OTAN. Hoje, as principais dificuldades que os líbios enfrentam são relacionadas ao racionamento de combustível e à falta de energia elétrica, resultado das bombas da OTAN que são causa das mais terríveis dificuldades que os líbios enfrentam nos setores controlados por Gaddafi.
A população, evidentemente, culpa a OTAN – não Gaddafi – pelos racionamentos. Em esforço para combater esse sentimento popular e estimular a população a levantar-se contra Gaddafi, os aviões da OTAN têm lançado latas contendo panfletos sobre Trípoli.
Infelizmente para os planejadores da OTAN, as latas são pesadas demais e têm causado ferimentos e quebrado telhados pela cidade, lançadas, como são, de grande altura.
Quanto ao texto das mensagens, algumas já são piada entre os líbios, que riem das traduções às vezes ininteligíveis, às vezes cômicas. Num dos panfletos, por exemplo, no qual quem escreveu supunha que tivesse escrito que os civis devem “unir-se” aos rebeldes, está escrito, de fato, que os civis líbios devem “copular” com os rebeldes.
Outra das missivas da OTAN aconselha que os que vivam em áreas controladas por Gaddafi façam as malas e mudem-se para o território ocupado pelos rebeldes. Aí se lê que os cidadãos devem mudar-se imediatamente para o setor “dos possuídos” (como “possuídos pelo diabo”) da Líbia.
É possível que o embargo, a falta de combustível e a destruição dos prédios públicos e de serviços da Líbia acabem por criar uma crise humanitária muito grave na Líbia de Gaddafi, tão grave que não reste outra alternativa aos líbios além de unir-se em torno do líder que conhecem há mais de 40 anos, para tentarem sobreviver.
Então, afinal, se se chegar a esse ponto, o ocidente dificilmente convencerá alguém de que uma segunda intervenção militar tornou-se necessária, para salvar os líbios da desgraça criada pela primeira intervenção militar... e pelos mesmos interventores.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/08/aumenta-o-apoio-gaddafi-contra-eua-otan.html
http://goo.gl/1P3gw /twitter
Scott Taylor é jornalista e militar, editor da revista Esprit de Corps.
Gadhafi support soars amid NATO bombing
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
A rebelião na Líbia sempre foi mais criação da mídia que confronto armado em grande escala. Sim, nos primeiros dias, os rebeldes tomaram alguns tanques e armas das tropas do governo. Por isso, houve escaramuças entre rebeldes e soldados do exército líbio ao longo da rodovia que acompanha o litoral.
Entre 15 de fevereiro, quando começou o levante, e 19 de março, quando o Conselho de Segurança da ONU autorizou intervenção internacional, a vasta maioria dos trabalhadores estrangeiros que viviam na Líbia abandonaram o país.
Naqueles dias de caos, o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha noticiou que o presidente Mummar Gaddafi havia fugido para a Venezuela. Parecia que os rebeldes teriam vitória fácil e rápida. Mas Gaddafi nem viajou nem viajaria; em pouco tempo seus seguidores se recompuseram e, então sim, começaram uma efetiva luta de resistência contra os rebeldes.
Os rebeldes, que não são tropa profissional, logo iniciaram movimento de retirada de volta para o único ponto que realmente controlam no território, na cidade de Ben-ghazi.
Para impedir que Gaddafi impusesse qualquer tipo de retaliação contra os rebeldes, a ONU autorizou a OTAN a implantar uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia, para impedir que civis desarmados fossem atacados.
Muito estranhamente, a resolução da ONU nada dizia sobre não atacar civis desarmados que vivem nos setores controlados por Gaddafi. Ante essa estranha omissão, a coalizão OTAN-EUA-Canadá iniciou imediatamente os ataques contra alvos do governo líbio.
Já há mais de cinco meses, os aviões da OTAN apoiam os rebeldes, e navios de guerra da OTAN implantaram um embargo de armas unilateral contra o exército de Gaddafi. Todos os fundos financeiros líbios foram congelados, o que tornou virtualmente impossível para a Líbia comprar material bélico nem, sequer, prover as necessidades básicas do país, por exemplo, em termos de combustível.
Apesar de todas essas medidas, as unidades esparsas, sem qualquer coesão ou ordem que compõem as milícias rebeldes, não conseguiram impor qualquer derrota taticamente significativa às forças leais a Gaddafi – muito menos, é claro, conseguiram derrubar o ditador.
Em viagem que fiz a Trípoli, semana passada, para levantar fatos, vi que Gaddafi consolidou seu controle sobre a capital e praticamente toda a parte oeste da Líbia. Diplomatas que continuam em Trípoli confirmaram que, desde que começou o bombardeio pela OTAN, o apoio da população e a aprovação ao governo Gadaffi subiram à estratosfera e estão hoje em torno de 85%.
Das 2.335 tribos que há na Líbia, mais de 2.000 mantêm-se fiel ao presidente atacado pela OTAN. Hoje, as principais dificuldades que os líbios enfrentam são relacionadas ao racionamento de combustível e à falta de energia elétrica, resultado das bombas da OTAN que são causa das mais terríveis dificuldades que os líbios enfrentam nos setores controlados por Gaddafi.
A população, evidentemente, culpa a OTAN – não Gaddafi – pelos racionamentos. Em esforço para combater esse sentimento popular e estimular a população a levantar-se contra Gaddafi, os aviões da OTAN têm lançado latas contendo panfletos sobre Trípoli.
Infelizmente para os planejadores da OTAN, as latas são pesadas demais e têm causado ferimentos e quebrado telhados pela cidade, lançadas, como são, de grande altura.
Quanto ao texto das mensagens, algumas já são piada entre os líbios, que riem das traduções às vezes ininteligíveis, às vezes cômicas. Num dos panfletos, por exemplo, no qual quem escreveu supunha que tivesse escrito que os civis devem “unir-se” aos rebeldes, está escrito, de fato, que os civis líbios devem “copular” com os rebeldes.
Outra das missivas da OTAN aconselha que os que vivam em áreas controladas por Gaddafi façam as malas e mudem-se para o território ocupado pelos rebeldes. Aí se lê que os cidadãos devem mudar-se imediatamente para o setor “dos possuídos” (como “possuídos pelo diabo”) da Líbia.
É possível que o embargo, a falta de combustível e a destruição dos prédios públicos e de serviços da Líbia acabem por criar uma crise humanitária muito grave na Líbia de Gaddafi, tão grave que não reste outra alternativa aos líbios além de unir-se em torno do líder que conhecem há mais de 40 anos, para tentarem sobreviver.
Então, afinal, se se chegar a esse ponto, o ocidente dificilmente convencerá alguém de que uma segunda intervenção militar tornou-se necessária, para salvar os líbios da desgraça criada pela primeira intervenção militar... e pelos mesmos interventores.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/08/aumenta-o-apoio-gaddafi-contra-eua-otan.html
http://goo.gl/1P3gw /twitter
Scott Taylor é jornalista e militar, editor da revista Esprit de Corps.
A Divisão do Pará
Por Fábio Fonseca de Castro
Dividir o Pará para governar melhor é uma possibilidade, mas não a qualquer custo. E que custos são esses ?
Bom, eles pertencem a quatro categorias e demonstram que a divisão só é útil aos interesses politiqueiros e comerciais de umas poucas pessoas.
A primeira categoria de custo é a do custo da "máquina": Quanto vamos pagar para os novos estados funcionarem?
O segundo é o custo social: o que se perde em termos de investimentos em saúde, educação, segurança e emprego por causa, justamente, do custo da máquina?
O terceiro é o custo institucional: a competição e a guerra fiscal que vai se instalar entre os três estados remanescentes.
E, por fim, o quarto é o custo federativo, a situação de desequilíbrio político gerada.
Quem paga todos esses custos é o povo. Tanto o povo da nova unidade como todos os brasileiros, em geral.
Vamos a eles:
O custo da máquina:
O custo da máquina é o quanto se paga para um novo estado funcionar. O próprio IPEA construiu uma fórmula para determinar quanto custa a burocracia de um estado.
Esse cálculo parte de um custo fixo de manutenção, um custo básico, de R$ 832 milhões por ano (custo A).
A esse valor básico se somam outros dois custos: R$ 564,69 por habitante (custo B) e R$ 0,075 por real do PIB estadual da futura unidade (custo C).
Quando aplicamos essa fórmula ao projeto do estado de Tapajós vemos que custear a burocracia do novo estado custaria R$ 832 milhões (custo A), mais R$ 652.061.660,25 (custo B), mais 477.023,18 (custo C). O total ficaria em R$ 1.484.538.683,43.
Em relação ao projeto do Carajás o cálculo fica assim: R$ 832 milhões (custo A), mais R$ 873.308.331,63 (custo B) e mais R$ 1.477.193,93 (custo C). O total ficaria em R$ 1.706.785.525,55.
Quando projetamos esses valores em termos de PIB, vemos que as máquinas governamentais de Tapajós e Carajás custariam mais em relação aos PIB’s dessas regiões do que o atual Estado do Pará.
O Tapajós custaria o dobro e o Carajás 50% a mais.
E, para completar, o custeio da parte restante do Pará também subiria, em cerca de 7,5%.
Ou seja, dinheiro que hoje é usado em investimento passaria a ser usado em custeio.
E isso sem contar o custo imediato da instalação dos estados, estimado em cerca de R$ 1,4 bilhão para cada um.
Se criado, o Tapajós precisaria usar 34,1% de seu PIB, ou seja, de suas riquezas, para custear sua máquina oficial.
O Carajás consumiria 18,6% das próprias riquezas.
O custo do atual Pará equivale 17,2% de seu PIB, mas com a divisão seria elevado a 19,1% do PIB estadual.
Essa situação é muito diferente da verificada nas unidades mais ricas da federação – e não é por outro motivo que projetos como a criação dos estados do Triângulo e de São Paulo do Leste nunca vão para frente: lá se sabe que a divisão aumenta o custeio e que, em conseqüência, as regiões empobrecem.
Essa equação se explica por uma fórmula simples: quanto mais recursos um estado tem para investir em programas sociais, infra-estrutura e empregos, melhor é o seu desenvolvimento.
O custeio de Roraima, por exemplo, é de R$ 1.037 bilhão, o que representa cerca de 35% do seu PIB.
Já em São Paulo é de R$ 75.947 bilhões, mas isso não representa mais do que 8,51% do seu PIB.
Os novos estados, com um PIB baixo, consumirão quase toda a sua riqueza para pagar a própria burocracia.
O custo social:
O segundo custo da divisão territorial é o custo social.
Sim, apesar do que se diz, os investimentos sociais no novo estado tendem a cair, o que significa menos saúde, menos educação, menos segurança, menos assistência social.
Por que isso acontece? Justamente porque sustentar a máquina do novo estado vai consumir uma imensa parte do seu PIB.
Façamos uma projeção. Em todo o Pará foram investidos cerca de R$ 257 milhões, em 2009, em saneamento.
Nesse ano, esse valor representou 14,1% do orçamento estadual de investimento. Supondo que os novos estados quisessem manter o mesmo programa e o mesmo padrão de investimento na área da saúde, provavelmente não alcançariam o mesmo valor percentual, considerando que teriam de fazer face às despesas necessárias para pagar a burocracia institucional criada.
E isso sem considerar que os novos governos estaduais precisariam atuar de forma compensatória em certas áreas, muito possivelmente elevando o percentual de repasses aos novos poderes legislativos e judiciários, tal como aconteceu com o Tocantins, Roraima e Amapá quando foram transformados em estado.
Em síntese, dividir o ônus social tem o efeito de aumentar a pobreza.
O custo institucional:
O terceiro grande custo a ser pago é o institucional.
Com a divisão, é muito provável que os três estados passem a competir entre si, quebrando sistemas e cadeias de produção que aos poucos vão sendo instalados.
Dessa maneira, por exemplo, o Pará remanescente vai arrecadar sobre o consumo de energia proveniente da usina de Tucuruí, mas o Carajás não vai ganhar nada com isso. Da mesma maneira, as exportações da Alpa, a Aços Laminados do Pará, terão sua carga tributária aumentada, porque passarão pelo porto de Vila do Conde, Espadarte ou de Itaquí.
E, muito provavelmente, haveria uma guerra fiscal cujo principal efeito seria afastar, dos três estados, vários investimentos.
Todos perderiam em termos de segurança institucional: um estado rico, em processo de coesão e desenvolvimento, seria substituído por três estados pobres, inimigos fiscais e desacreditados. Três anões em guerra.
O custo federativo:
O quarto custo da divisão territorial é o custo federativo.
Os dois novos estados trazem de imediato, juntos, 6 novos senadores e 16 deputados federais.
Do ponto de vista dos interesses estritos do estado isso poderia ser bom – considerando sempre a hipótese, improvável, de que os estados seriam sempre bem representados, por políticos comprometidos e honestos.
Porém, acentua o desequilíbrio na representação das unidades federativas.
Essa desproporcionalidade se deve ao atual sistema eleitoral, que estabelece um patamar mínimo e outro máximo para a representação dos estados na Câmara Federal: oito e setenta deputados, respectivamente.
Os dois novos estados teriam oito deputados cada um, gerando o que alguns vêem como uma super-representação, em comparação com as regiões mais populosas.
Para alguns críticos isso viola o princípio igualitário da democracia: os votos de alguns cidadãos acabam tendo maior valor.
Esses críticos defendem uma representação estritamente proporcional em termos de população, na base 1 indivíduo = 1 voto.
É preciso dizer que o argumento não está, necessariamente, correto. A principal objeção a ele é que, na sua compreensão de democracia, considera-se exclusivamente a dimensão individual da representação e o princípio majoritário, enquanto seria preciso considerar também outros interesses relevantes, presentes na sociedade, mesmo que minoritários. Afinal, a regra da maioria é apenas um expediente a serviço da democracia, e não um fim em si mesmo.
Mesmo assim, há um custo federativo a considerar, porque a ampliação da diferença representativa, que já é muito grande na Amazônia, pode contribuir para um colapso institucional que não pode ser resolvido sem uma grande reforma do sistema político e partidário brasileiro.
Mais sobre o custo federativo:
Em ciências políticas, a desproporcionalidade na representação entre as unidades territoriais é calculada por meio da fórmula de Loosemore e Hamby (D = 1/2S ci-pi), onde D representa a desproporcionalidade representativa, c é o percentual de cadeira da unidade territorial, chama i, e p é o percentual da população dessa mesma unidade i, em determinado ano eleitoral.
Essa fórmula foi aplicada ao Brasil atual pelo trabalho de Samuels e Snyder de 2001 - portanto sem a criação dos dois novos estados - e o resultado foi preocupante.
Enquanto países como Holanda, Israel e Peru apresentam perfeita proporcionalidade, na medida em que obedecem ao princípio 1 indivíduo = 1 voto, outros países, que não aplicam esse modelo, apresentam graus de desproporcionalidade que podem ser razoáveis (e, portanto, saudáveis, do ponto de vista do argumento da defesa dos interesses minoritários) ou não.
E o caso brasileiro, mesmo sem os dois novos estados, já é absurdamente desigual.
Por exemplo, são razoáveis os índices da Alemanha, Austrália, África do Sul e Canadá, nos quais D = 1, 2 ou 3.
No Brasil, D = 9.
Isso significa que alguns brasileiros valem mais que outros. Com a criação do Tapajós e do Carajás esse índice aumenta ainda mais. Iria para 11.
Mais sobre a burocracia:
E a criação dos dois estados seria apenas o começo de um problema muito maior, porque sem a reforma política, ela acabaria levando, inevitavelmente, ao fortalecimento do movimento pela criação de outras unidades. Se metade das unidades previstas fossem criadas seriam mais 8 governadores, 24 senadores, 64 deputados federais, cerca de 144 secretários estaduais, cerca de 768 assessores parlamentares só em Brasília e cerca de 28 mil cargos comissionados.
Será que o país precisa de tantos políticos?
É justo indagar: a quem interessa tanto?
À população dos novos estados, que vai ter que pagar o salário de tanta gente em vez de usar esse dinheiro para investir em saúde e educação?
Em síntese, a conclusão é que unido o Pará avança mais: Nos últimos 15 anos o crescimento acumulado do PIB paraense foi de mais de 160%, o que representa um crescimento da economia paraense bem acima da evolução do PIB brasileiro acumulado, que foi de cerca de 140%.
Separados, nenhum dos três estados poderia apresentar taxas semelhantes.
Fábio Fonseca de Castro é doutor em sociologia, professor da UFPA-Universidade Federal do Pará
Dividir o Pará para governar melhor é uma possibilidade, mas não a qualquer custo. E que custos são esses ?
Bom, eles pertencem a quatro categorias e demonstram que a divisão só é útil aos interesses politiqueiros e comerciais de umas poucas pessoas.
A primeira categoria de custo é a do custo da "máquina": Quanto vamos pagar para os novos estados funcionarem?
O segundo é o custo social: o que se perde em termos de investimentos em saúde, educação, segurança e emprego por causa, justamente, do custo da máquina?
O terceiro é o custo institucional: a competição e a guerra fiscal que vai se instalar entre os três estados remanescentes.
E, por fim, o quarto é o custo federativo, a situação de desequilíbrio político gerada.
Quem paga todos esses custos é o povo. Tanto o povo da nova unidade como todos os brasileiros, em geral.
Vamos a eles:
O custo da máquina:
O custo da máquina é o quanto se paga para um novo estado funcionar. O próprio IPEA construiu uma fórmula para determinar quanto custa a burocracia de um estado.
Esse cálculo parte de um custo fixo de manutenção, um custo básico, de R$ 832 milhões por ano (custo A).
A esse valor básico se somam outros dois custos: R$ 564,69 por habitante (custo B) e R$ 0,075 por real do PIB estadual da futura unidade (custo C).
Quando aplicamos essa fórmula ao projeto do estado de Tapajós vemos que custear a burocracia do novo estado custaria R$ 832 milhões (custo A), mais R$ 652.061.660,25 (custo B), mais 477.023,18 (custo C). O total ficaria em R$ 1.484.538.683,43.
Em relação ao projeto do Carajás o cálculo fica assim: R$ 832 milhões (custo A), mais R$ 873.308.331,63 (custo B) e mais R$ 1.477.193,93 (custo C). O total ficaria em R$ 1.706.785.525,55.
Quando projetamos esses valores em termos de PIB, vemos que as máquinas governamentais de Tapajós e Carajás custariam mais em relação aos PIB’s dessas regiões do que o atual Estado do Pará.
O Tapajós custaria o dobro e o Carajás 50% a mais.
E, para completar, o custeio da parte restante do Pará também subiria, em cerca de 7,5%.
Ou seja, dinheiro que hoje é usado em investimento passaria a ser usado em custeio.
E isso sem contar o custo imediato da instalação dos estados, estimado em cerca de R$ 1,4 bilhão para cada um.
Se criado, o Tapajós precisaria usar 34,1% de seu PIB, ou seja, de suas riquezas, para custear sua máquina oficial.
O Carajás consumiria 18,6% das próprias riquezas.
O custo do atual Pará equivale 17,2% de seu PIB, mas com a divisão seria elevado a 19,1% do PIB estadual.
Essa situação é muito diferente da verificada nas unidades mais ricas da federação – e não é por outro motivo que projetos como a criação dos estados do Triângulo e de São Paulo do Leste nunca vão para frente: lá se sabe que a divisão aumenta o custeio e que, em conseqüência, as regiões empobrecem.
Essa equação se explica por uma fórmula simples: quanto mais recursos um estado tem para investir em programas sociais, infra-estrutura e empregos, melhor é o seu desenvolvimento.
O custeio de Roraima, por exemplo, é de R$ 1.037 bilhão, o que representa cerca de 35% do seu PIB.
Já em São Paulo é de R$ 75.947 bilhões, mas isso não representa mais do que 8,51% do seu PIB.
Os novos estados, com um PIB baixo, consumirão quase toda a sua riqueza para pagar a própria burocracia.
O custo social:
O segundo custo da divisão territorial é o custo social.
Sim, apesar do que se diz, os investimentos sociais no novo estado tendem a cair, o que significa menos saúde, menos educação, menos segurança, menos assistência social.
Por que isso acontece? Justamente porque sustentar a máquina do novo estado vai consumir uma imensa parte do seu PIB.
Façamos uma projeção. Em todo o Pará foram investidos cerca de R$ 257 milhões, em 2009, em saneamento.
Nesse ano, esse valor representou 14,1% do orçamento estadual de investimento. Supondo que os novos estados quisessem manter o mesmo programa e o mesmo padrão de investimento na área da saúde, provavelmente não alcançariam o mesmo valor percentual, considerando que teriam de fazer face às despesas necessárias para pagar a burocracia institucional criada.
E isso sem considerar que os novos governos estaduais precisariam atuar de forma compensatória em certas áreas, muito possivelmente elevando o percentual de repasses aos novos poderes legislativos e judiciários, tal como aconteceu com o Tocantins, Roraima e Amapá quando foram transformados em estado.
Em síntese, dividir o ônus social tem o efeito de aumentar a pobreza.
O custo institucional:
O terceiro grande custo a ser pago é o institucional.
Com a divisão, é muito provável que os três estados passem a competir entre si, quebrando sistemas e cadeias de produção que aos poucos vão sendo instalados.
Dessa maneira, por exemplo, o Pará remanescente vai arrecadar sobre o consumo de energia proveniente da usina de Tucuruí, mas o Carajás não vai ganhar nada com isso. Da mesma maneira, as exportações da Alpa, a Aços Laminados do Pará, terão sua carga tributária aumentada, porque passarão pelo porto de Vila do Conde, Espadarte ou de Itaquí.
E, muito provavelmente, haveria uma guerra fiscal cujo principal efeito seria afastar, dos três estados, vários investimentos.
Todos perderiam em termos de segurança institucional: um estado rico, em processo de coesão e desenvolvimento, seria substituído por três estados pobres, inimigos fiscais e desacreditados. Três anões em guerra.
O custo federativo:
O quarto custo da divisão territorial é o custo federativo.
Os dois novos estados trazem de imediato, juntos, 6 novos senadores e 16 deputados federais.
Do ponto de vista dos interesses estritos do estado isso poderia ser bom – considerando sempre a hipótese, improvável, de que os estados seriam sempre bem representados, por políticos comprometidos e honestos.
Porém, acentua o desequilíbrio na representação das unidades federativas.
Essa desproporcionalidade se deve ao atual sistema eleitoral, que estabelece um patamar mínimo e outro máximo para a representação dos estados na Câmara Federal: oito e setenta deputados, respectivamente.
Os dois novos estados teriam oito deputados cada um, gerando o que alguns vêem como uma super-representação, em comparação com as regiões mais populosas.
Para alguns críticos isso viola o princípio igualitário da democracia: os votos de alguns cidadãos acabam tendo maior valor.
Esses críticos defendem uma representação estritamente proporcional em termos de população, na base 1 indivíduo = 1 voto.
É preciso dizer que o argumento não está, necessariamente, correto. A principal objeção a ele é que, na sua compreensão de democracia, considera-se exclusivamente a dimensão individual da representação e o princípio majoritário, enquanto seria preciso considerar também outros interesses relevantes, presentes na sociedade, mesmo que minoritários. Afinal, a regra da maioria é apenas um expediente a serviço da democracia, e não um fim em si mesmo.
Mesmo assim, há um custo federativo a considerar, porque a ampliação da diferença representativa, que já é muito grande na Amazônia, pode contribuir para um colapso institucional que não pode ser resolvido sem uma grande reforma do sistema político e partidário brasileiro.
Mais sobre o custo federativo:
Em ciências políticas, a desproporcionalidade na representação entre as unidades territoriais é calculada por meio da fórmula de Loosemore e Hamby (D = 1/2S ci-pi), onde D representa a desproporcionalidade representativa, c é o percentual de cadeira da unidade territorial, chama i, e p é o percentual da população dessa mesma unidade i, em determinado ano eleitoral.
Essa fórmula foi aplicada ao Brasil atual pelo trabalho de Samuels e Snyder de 2001 - portanto sem a criação dos dois novos estados - e o resultado foi preocupante.
Enquanto países como Holanda, Israel e Peru apresentam perfeita proporcionalidade, na medida em que obedecem ao princípio 1 indivíduo = 1 voto, outros países, que não aplicam esse modelo, apresentam graus de desproporcionalidade que podem ser razoáveis (e, portanto, saudáveis, do ponto de vista do argumento da defesa dos interesses minoritários) ou não.
E o caso brasileiro, mesmo sem os dois novos estados, já é absurdamente desigual.
Por exemplo, são razoáveis os índices da Alemanha, Austrália, África do Sul e Canadá, nos quais D = 1, 2 ou 3.
No Brasil, D = 9.
Isso significa que alguns brasileiros valem mais que outros. Com a criação do Tapajós e do Carajás esse índice aumenta ainda mais. Iria para 11.
Mais sobre a burocracia:
E a criação dos dois estados seria apenas o começo de um problema muito maior, porque sem a reforma política, ela acabaria levando, inevitavelmente, ao fortalecimento do movimento pela criação de outras unidades. Se metade das unidades previstas fossem criadas seriam mais 8 governadores, 24 senadores, 64 deputados federais, cerca de 144 secretários estaduais, cerca de 768 assessores parlamentares só em Brasília e cerca de 28 mil cargos comissionados.
Será que o país precisa de tantos políticos?
É justo indagar: a quem interessa tanto?
À população dos novos estados, que vai ter que pagar o salário de tanta gente em vez de usar esse dinheiro para investir em saúde e educação?
Em síntese, a conclusão é que unido o Pará avança mais: Nos últimos 15 anos o crescimento acumulado do PIB paraense foi de mais de 160%, o que representa um crescimento da economia paraense bem acima da evolução do PIB brasileiro acumulado, que foi de cerca de 140%.
Separados, nenhum dos três estados poderia apresentar taxas semelhantes.
Fábio Fonseca de Castro é doutor em sociologia, professor da UFPA-Universidade Federal do Pará
terça-feira, 16 de agosto de 2011
O Capitalismo Besta-fera
14/8/2011 9:09, Por David Harvey - de Londres
A revolta inciada em Londres, no sábado, alastrou-se para outras grandes cidades inglesas na última madrugada
O capitalismo bestial deve ser levado a julgamento por crimes contra a humanidade, tanto quanto por crimes contra a natureza. Infelizmente, isso é o que os agitadores da Inglaterra nem veem nem exigem.
“Adolescentes niilistas e bestiais”. Foi como o Daily Mail apresentou: os jovens enlouquecidos, vindos de todas as vias da vida, que correram pelas ruas sem pensar, atirando desesperadamente tijolos, pedras e garrafas contra os polícias, saqueando aqui, incendiando ali, levando as autoridades a uma também enlouquecida caçada de salve-se quem puder, agarre o que conseguir, enquanto os jovens iam alterando os seus alvos estratégicos, saltando de um para outro.
A palavra “bestial” saltou-me à vista. Lembrou-me que os communards em Paris, em 1871, foram mostrados como animais selvagens, como hienas, que mereciam ser (como foram, em vários casos) sumariamente executados, em nome da santidade da propriedade privada, da moralidade, da religião e da família. Mas em seguida a palavra trouxe-me outra associação: Tony Blair atacando os “média bestiais”, depois de ter vivido durante tanto tempo confortavelmente alojado no bolso esquerdo de Rupert Murdoch, até que Murdoch meteu a mão no bolso direito e de lá tirou David Cameron.
Evidentemente haverá o debate histérico de sempre entre os sempre prontos a ver a agitação das ruas como questão de pura, simples e imperdoável criminalidade, e os ansiosos por contextualizar eventos em termos de polícia incompetente; de eterno racismo e injustificada perseguição aos jovens e às minorias; de desemprego em massa entre os jovens; de pauperização incontrolável da sociedade; de uma política autista de austeridade que nada tem a ver com a economia e tudo tem a ver com a perpetuação e a consolidação da riqueza e do poder individuais. Haverá até quem condene o sem sentido e a alienação de tantos trabalhos e empregos e tal desperdício da vida de todos os dias, de tão imenso, mas desigualmente distribuído, potencial para o florescimento humano.
Se tivermos sorte, haverá comissões e relatórios que dirão tudo, outra vez, que já foi dito sobre Brixton e Toxteth nos anos Thatcher. Digo “sorte”, porque os instintos bestiais do atual primeiro-ministro parecem tender mais a mandar usar canhões de água, a convocar a brigada do gás lacrimogéneo e a usar balas revestidas de borracha, ao mesmo tempo em que ele untuosamente pontifica sobre a perda da bússola moral, o declínio da civilidade e a triste deterioração dos valores da família e da disciplina entre os jovens sem lar.
Mas o problema é que vivemos em sociedade na qual o próprio capitalismo se tornou desenfreadamente fera. Políticos-feras mentem nos gastos, banqueiros-feras assaltam a bolsa pública até ao último vintém, altos executivos, operadores de hedge funds e genios do lucro privado saqueiam o mundo dos ricos, empresas de telefonia e cartões de crédito cobram misteriosas tarifas nas contas de todos, empresas de varejo aumentam os preços. Por baixo do chapéu, artistas vigaristas e golpistas aplicam os seus golpes até entre os mais altos escalões do mundo corporativo e político.
Uma economia política de saque das massas, de práticas predatórias que chegam ao assalto à luz do dia, sempre contra os mais pobres e vulneráveis, os simples e desprotegidos pela lei – isso é hoje a ordem do dia. Alguém ainda crê que seja possível encontrar um capitalista honesto, um banqueiro honesto, um político honesto, um comerciante honesto ou um delegado de polícia honesto? Sim, existem. Mas só como minoria, que todos os demais consideram idiotas. Seja esperto. Passe a mão no lucro fácil. Fraude, roube! A probabilidade de ser apanhado é baixa. E em qualquer caso, há muitos meios para proteger a fortuna pessoal e impedir que seja tocada pelos golpes das corporações.
Tudo isso, dito assim, talvez choque. Muitos de nós não vemos, porque não queremos ver. Claro que nenhum político se atreve a dizer estas coisas e a imprensa só publicaria, se algum dia publicasse, para escarnecer de quem dissesse. Mas acho que todos os que correm pelas ruas agitando a cidade sabem exatamente a que me refiro. Fazem o que todos fazem, embora de modo diferente – mais flagrante, mais visível, nas ruas. O thatcherismo despertou os instintos bestiais do capitalismo (o “espírito animal” do empreendedor, como o chamam timidamente) e, desde então, nada surgiu que os domasse. Destruir e queimar é hoje a palavra de ordem das classes dominantes, de fato, em todo o mundo.
Essa é a nova normalidade sob a qual vivemos. Isso deveria preocupar o presidente do inquérito que rapidamente será nomeado. Todos, não só os jovens agitadores, devem ser responsabilizados. O capitalismo bestial deve ser levado a julgamento por crimes contra a humanidade, tanto quanto por crimes contra a natureza.
Infelizmente, isso é o que os agitadores nem vêem nem exigem. Tudo conspira para nos impedir de ver ou exigir exatamente isso. Por isso o poder político tão facilmente se traveste na roupagem da moralidade e de uma razão repugnante, de modo que ninguém veja a corrupção nua e a irracional estupidez.
Mas há réstias de esperança e luz em todo o mundo. O movimento dos indignados na Espanha e na Grécia, os impulsos revolucionários na América Latina, os movimentos camponeses na Ásia, todos esses começam a ver através da imundície que o capitalismo global, predatório, bestial lançou sobre o mundo. O que ainda falta para que todos vejamos e comecemos a agir? Como se poderá começar tudo outra vez? Que rumo tomar? As respostas não são fáceis. Mas uma coisa já se sabe: só chegaremos às respostas certas, se fizermos as perguntas certas.
David Harvey é geógrafo, professor emérito do Graduate Center da City University of New York.
Artigo publicado originalmente em Counterpunch e disponível também em davidharvey.org, traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu para redecastorphoto.blogspot.com
A revolta inciada em Londres, no sábado, alastrou-se para outras grandes cidades inglesas na última madrugada
O capitalismo bestial deve ser levado a julgamento por crimes contra a humanidade, tanto quanto por crimes contra a natureza. Infelizmente, isso é o que os agitadores da Inglaterra nem veem nem exigem.
“Adolescentes niilistas e bestiais”. Foi como o Daily Mail apresentou: os jovens enlouquecidos, vindos de todas as vias da vida, que correram pelas ruas sem pensar, atirando desesperadamente tijolos, pedras e garrafas contra os polícias, saqueando aqui, incendiando ali, levando as autoridades a uma também enlouquecida caçada de salve-se quem puder, agarre o que conseguir, enquanto os jovens iam alterando os seus alvos estratégicos, saltando de um para outro.
A palavra “bestial” saltou-me à vista. Lembrou-me que os communards em Paris, em 1871, foram mostrados como animais selvagens, como hienas, que mereciam ser (como foram, em vários casos) sumariamente executados, em nome da santidade da propriedade privada, da moralidade, da religião e da família. Mas em seguida a palavra trouxe-me outra associação: Tony Blair atacando os “média bestiais”, depois de ter vivido durante tanto tempo confortavelmente alojado no bolso esquerdo de Rupert Murdoch, até que Murdoch meteu a mão no bolso direito e de lá tirou David Cameron.
Evidentemente haverá o debate histérico de sempre entre os sempre prontos a ver a agitação das ruas como questão de pura, simples e imperdoável criminalidade, e os ansiosos por contextualizar eventos em termos de polícia incompetente; de eterno racismo e injustificada perseguição aos jovens e às minorias; de desemprego em massa entre os jovens; de pauperização incontrolável da sociedade; de uma política autista de austeridade que nada tem a ver com a economia e tudo tem a ver com a perpetuação e a consolidação da riqueza e do poder individuais. Haverá até quem condene o sem sentido e a alienação de tantos trabalhos e empregos e tal desperdício da vida de todos os dias, de tão imenso, mas desigualmente distribuído, potencial para o florescimento humano.
Se tivermos sorte, haverá comissões e relatórios que dirão tudo, outra vez, que já foi dito sobre Brixton e Toxteth nos anos Thatcher. Digo “sorte”, porque os instintos bestiais do atual primeiro-ministro parecem tender mais a mandar usar canhões de água, a convocar a brigada do gás lacrimogéneo e a usar balas revestidas de borracha, ao mesmo tempo em que ele untuosamente pontifica sobre a perda da bússola moral, o declínio da civilidade e a triste deterioração dos valores da família e da disciplina entre os jovens sem lar.
Mas o problema é que vivemos em sociedade na qual o próprio capitalismo se tornou desenfreadamente fera. Políticos-feras mentem nos gastos, banqueiros-feras assaltam a bolsa pública até ao último vintém, altos executivos, operadores de hedge funds e genios do lucro privado saqueiam o mundo dos ricos, empresas de telefonia e cartões de crédito cobram misteriosas tarifas nas contas de todos, empresas de varejo aumentam os preços. Por baixo do chapéu, artistas vigaristas e golpistas aplicam os seus golpes até entre os mais altos escalões do mundo corporativo e político.
Uma economia política de saque das massas, de práticas predatórias que chegam ao assalto à luz do dia, sempre contra os mais pobres e vulneráveis, os simples e desprotegidos pela lei – isso é hoje a ordem do dia. Alguém ainda crê que seja possível encontrar um capitalista honesto, um banqueiro honesto, um político honesto, um comerciante honesto ou um delegado de polícia honesto? Sim, existem. Mas só como minoria, que todos os demais consideram idiotas. Seja esperto. Passe a mão no lucro fácil. Fraude, roube! A probabilidade de ser apanhado é baixa. E em qualquer caso, há muitos meios para proteger a fortuna pessoal e impedir que seja tocada pelos golpes das corporações.
Tudo isso, dito assim, talvez choque. Muitos de nós não vemos, porque não queremos ver. Claro que nenhum político se atreve a dizer estas coisas e a imprensa só publicaria, se algum dia publicasse, para escarnecer de quem dissesse. Mas acho que todos os que correm pelas ruas agitando a cidade sabem exatamente a que me refiro. Fazem o que todos fazem, embora de modo diferente – mais flagrante, mais visível, nas ruas. O thatcherismo despertou os instintos bestiais do capitalismo (o “espírito animal” do empreendedor, como o chamam timidamente) e, desde então, nada surgiu que os domasse. Destruir e queimar é hoje a palavra de ordem das classes dominantes, de fato, em todo o mundo.
Essa é a nova normalidade sob a qual vivemos. Isso deveria preocupar o presidente do inquérito que rapidamente será nomeado. Todos, não só os jovens agitadores, devem ser responsabilizados. O capitalismo bestial deve ser levado a julgamento por crimes contra a humanidade, tanto quanto por crimes contra a natureza.
Infelizmente, isso é o que os agitadores nem vêem nem exigem. Tudo conspira para nos impedir de ver ou exigir exatamente isso. Por isso o poder político tão facilmente se traveste na roupagem da moralidade e de uma razão repugnante, de modo que ninguém veja a corrupção nua e a irracional estupidez.
Mas há réstias de esperança e luz em todo o mundo. O movimento dos indignados na Espanha e na Grécia, os impulsos revolucionários na América Latina, os movimentos camponeses na Ásia, todos esses começam a ver através da imundície que o capitalismo global, predatório, bestial lançou sobre o mundo. O que ainda falta para que todos vejamos e comecemos a agir? Como se poderá começar tudo outra vez? Que rumo tomar? As respostas não são fáceis. Mas uma coisa já se sabe: só chegaremos às respostas certas, se fizermos as perguntas certas.
David Harvey é geógrafo, professor emérito do Graduate Center da City University of New York.
Artigo publicado originalmente em Counterpunch e disponível também em davidharvey.org, traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu para redecastorphoto.blogspot.com
domingo, 14 de agosto de 2011
Bombeiros e PMs ocupam Congresso pela aprovação de salário decente
“É muito difícil ver um chefe de família ter que viver na minha condição”, desabafa bombeiro
Trabalhadores acamparam em salão do Congresso para pressionar a votação do PEC 300, que estabelece o piso nacional para a categoria
Na terça-feira, dia 9, o gramado do Congresso Nacional foi tomado de vermelho. Bombeiros e policiais militares chegavam de todos os cantos do país para a manifestação marcada para as 14 horas. “O Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar e a Polícia Civil pedem socorro, deputado. 35 anos de serviço prestado e a gente tem que mendigar um prato de comida, deputado?!”, exclamou, indignado, um bombeiro carioca.
Os trabalhadores tentaram ser recebidos pela liderança da Câmara para defender a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 300 (PEC 300), que estabelece um piso salarial nacional para bombeiros e policiais militares. Entretanto, não foram recebidos, entraram e acamparam na Casa. “Esse já é um espaço ocupado. Só saímos daqui com a votação”, avisou o cabo Benevenuto Daciolo, bombeiro do Rio de Janeiro e um dos líderes da mobilização.
A orientação do movimento aos que não puderam ir à Brasília era o aquartelamento. Só sair do quartel em emergências.
“A gente se sente enganado quando falam que não é possível pagar um salário digno para nós profissionais. Hoje eu estou aqui para mostrar uma coisa, que nós não somos heróis. Nós somos profissionais que salvamos vidas. Herói tem capa, armadura e superpoderes. E nós não temos isso. Nós só temos dignidade. Foi falado que seria impossível [uma reunião na terça-feira] porque todo mundo já foi embora. Mas nós sabemos que tem gasolina, tem dinheiro para terno, que tem recursos, que se fizer uma ligação agora todos [os deputados] vêm pra cá”, disse outro bombeiro.
“Os mais de dois mil militares que lá estão, entre BMs, PMs e policiais civis de diversos Estados do país, pernoitaram no Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, num clima de tranquilidade mas também de muita motivação”, informou o blog SOS Guarda Vidas, na quarta-feira pela manhã. E seguiu afirmando que “estamos em um momento crucial na busca pela nossa tão sonhada dignidade, alguns companheiros estão em Brasília desde ontem, alguns dormiram ao relento, outros dentro de um dos plenários da Câmara e com certeza outros nem dormiram”.
A mobilização nacional dos agentes da segurança pública é pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 300, que estabelece um piso nacional que equipare os vencimentos das Policias Militares e Bombeiros Militares de todas as unidades da federação com os praticados hoje pelo Distrito Federal. A variação dos salários entre os Estados chega hoje a R$ 2.400,00, no caso dos bombeiros. Enquanto no Rio de Janeiro recebem um salário bruto inicial de R$ 1.031,00, no DF, o inicial é de R$ 3.453,70.
A PEC foi aprovada por unanimidade na Câmara, em primeiro turno, no ano passado, mas precisa ser reapreciada pelo Plenário. Para isso, tem que ser colocada em votação. Dos 12 líderes de partidos da Casa, 11 assinaram o documento pedindo que entre na pauta. Apenas o PT não assinou.
Os bombeiros foram recebidos somente na quarta-feira. E relataram, emocionados, aos deputados a situação da corporação: “É muito difícil ver um chefe de família ter que viver na minha condição. Eu sou filho de uma lavadeira. Estudei o pouco que podia e vim para o Corpo de Bombeiro há 21 anos atrás. Eu saio do quartel, depois de um serviço de 24 horas, fico 12 horas na minha casa, e fico mais 24 horas no Aeroporto Internacional de Cabo Frio. Eu sou bombeiro de aeródromo. E o restante da minha folga, eu passo no mar, no feriado, inverno, verão, matando peixe para sustentar a minha família. Porque o meu salário não me dá condição”. Com lágrimas nos olhos, o guarda vidas questionou os deputados: “Até quando a gente vai viver isso? Essa não é só a minha condição, é a condição de cada um que aqui está. Será que ninguém está vendo isso?”.
Pela proposta de calendário de votações apresentada à Câmara esta semana, a PEC não deverá ser votada até outubro deste ano.
Após considerar a pressão realizada pelos oficiais como “justa, legítima e democrática”, o presidente da casa, Marco Maia (PT), pediu que eles se retirassem do espaço “porque este não é o lugar apropriado para ficarem. Imagine se todos os trabalhadores que tenham demanda vierem para cá, seria incontrolável”. Colocando-se contra a votação “até que seja definida a origem dos recursos” para o aumento, Maia ouviu dos trabalhadores que os protestos continuarão.
Infelizmente, Maia seguiu a cartilha de Guido Mantega, de conter o orçamento com vistas a realizar superávit [ver matéria na página 3]. Segundo ele, “a crise financeira internacional exige cuidado e paciência, pois não permite gastos extras que comprometam a estabilidade econômica e fiscal do país”.
De acordo com os bombeiros a orientação dada à categoria é a de “aquartelamento” (onde os bombeiros só saem dos quartéis em casos de emergência).
“Vou mandar um recado aos governantes, de que vamos paralisar as obras da Copa com carros de som e com o apoio de sindicatos da construção civil. E a capital de manifestação já foi escolhida”, avisou o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), Jânio Bosco Gandra.
fonte:
http://www.horadopovo.com.br/2011/agosto/2984-12-08-2011/P4/pag4a.htm
Trabalhadores acamparam em salão do Congresso para pressionar a votação do PEC 300, que estabelece o piso nacional para a categoria
Na terça-feira, dia 9, o gramado do Congresso Nacional foi tomado de vermelho. Bombeiros e policiais militares chegavam de todos os cantos do país para a manifestação marcada para as 14 horas. “O Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar e a Polícia Civil pedem socorro, deputado. 35 anos de serviço prestado e a gente tem que mendigar um prato de comida, deputado?!”, exclamou, indignado, um bombeiro carioca.
Os trabalhadores tentaram ser recebidos pela liderança da Câmara para defender a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 300 (PEC 300), que estabelece um piso salarial nacional para bombeiros e policiais militares. Entretanto, não foram recebidos, entraram e acamparam na Casa. “Esse já é um espaço ocupado. Só saímos daqui com a votação”, avisou o cabo Benevenuto Daciolo, bombeiro do Rio de Janeiro e um dos líderes da mobilização.
A orientação do movimento aos que não puderam ir à Brasília era o aquartelamento. Só sair do quartel em emergências.
“A gente se sente enganado quando falam que não é possível pagar um salário digno para nós profissionais. Hoje eu estou aqui para mostrar uma coisa, que nós não somos heróis. Nós somos profissionais que salvamos vidas. Herói tem capa, armadura e superpoderes. E nós não temos isso. Nós só temos dignidade. Foi falado que seria impossível [uma reunião na terça-feira] porque todo mundo já foi embora. Mas nós sabemos que tem gasolina, tem dinheiro para terno, que tem recursos, que se fizer uma ligação agora todos [os deputados] vêm pra cá”, disse outro bombeiro.
“Os mais de dois mil militares que lá estão, entre BMs, PMs e policiais civis de diversos Estados do país, pernoitaram no Auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, num clima de tranquilidade mas também de muita motivação”, informou o blog SOS Guarda Vidas, na quarta-feira pela manhã. E seguiu afirmando que “estamos em um momento crucial na busca pela nossa tão sonhada dignidade, alguns companheiros estão em Brasília desde ontem, alguns dormiram ao relento, outros dentro de um dos plenários da Câmara e com certeza outros nem dormiram”.
A mobilização nacional dos agentes da segurança pública é pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 300, que estabelece um piso nacional que equipare os vencimentos das Policias Militares e Bombeiros Militares de todas as unidades da federação com os praticados hoje pelo Distrito Federal. A variação dos salários entre os Estados chega hoje a R$ 2.400,00, no caso dos bombeiros. Enquanto no Rio de Janeiro recebem um salário bruto inicial de R$ 1.031,00, no DF, o inicial é de R$ 3.453,70.
A PEC foi aprovada por unanimidade na Câmara, em primeiro turno, no ano passado, mas precisa ser reapreciada pelo Plenário. Para isso, tem que ser colocada em votação. Dos 12 líderes de partidos da Casa, 11 assinaram o documento pedindo que entre na pauta. Apenas o PT não assinou.
Os bombeiros foram recebidos somente na quarta-feira. E relataram, emocionados, aos deputados a situação da corporação: “É muito difícil ver um chefe de família ter que viver na minha condição. Eu sou filho de uma lavadeira. Estudei o pouco que podia e vim para o Corpo de Bombeiro há 21 anos atrás. Eu saio do quartel, depois de um serviço de 24 horas, fico 12 horas na minha casa, e fico mais 24 horas no Aeroporto Internacional de Cabo Frio. Eu sou bombeiro de aeródromo. E o restante da minha folga, eu passo no mar, no feriado, inverno, verão, matando peixe para sustentar a minha família. Porque o meu salário não me dá condição”. Com lágrimas nos olhos, o guarda vidas questionou os deputados: “Até quando a gente vai viver isso? Essa não é só a minha condição, é a condição de cada um que aqui está. Será que ninguém está vendo isso?”.
Pela proposta de calendário de votações apresentada à Câmara esta semana, a PEC não deverá ser votada até outubro deste ano.
Após considerar a pressão realizada pelos oficiais como “justa, legítima e democrática”, o presidente da casa, Marco Maia (PT), pediu que eles se retirassem do espaço “porque este não é o lugar apropriado para ficarem. Imagine se todos os trabalhadores que tenham demanda vierem para cá, seria incontrolável”. Colocando-se contra a votação “até que seja definida a origem dos recursos” para o aumento, Maia ouviu dos trabalhadores que os protestos continuarão.
Infelizmente, Maia seguiu a cartilha de Guido Mantega, de conter o orçamento com vistas a realizar superávit [ver matéria na página 3]. Segundo ele, “a crise financeira internacional exige cuidado e paciência, pois não permite gastos extras que comprometam a estabilidade econômica e fiscal do país”.
De acordo com os bombeiros a orientação dada à categoria é a de “aquartelamento” (onde os bombeiros só saem dos quartéis em casos de emergência).
“Vou mandar um recado aos governantes, de que vamos paralisar as obras da Copa com carros de som e com o apoio de sindicatos da construção civil. E a capital de manifestação já foi escolhida”, avisou o presidente da Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), Jânio Bosco Gandra.
fonte:
http://www.horadopovo.com.br/2011/agosto/2984-12-08-2011/P4/pag4a.htm
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
João Paulo quer anistia para os trabalhadores rurais condenados no Massacre de Corumbiara.
O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, protocolou na quarta-feira, 10, o Projeto de Lei 2000/2011, que concede anistia aos trabalhadores rurais de Rondônia, punidos no “Massacre de Corumbiara.” O desfecho do processo no caso, segundo o parlamentar, foi injusto e isto fica claro no relatório 32/04 – Caso 11.556, elaborado pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos).
O Massacre de Corumbiara impôs uma nódoa indelével na história dos direitos humanos e na luta pelo acesso a terra no Brasil e, ainda hoje, continua vitimando inocentes, perpetuando as arbitrariedades e injustiças praticadas pelos agentes públicos do Estado brasileiro”, afirma João Paulo. Dados oficiais revelam que policiais militares e pistoleiros mataram 12 trabalhadores rurais, entre os quais uma criança, durante o massacre.
Oito dos corpos tinham fortes evidências de que as vítimas foram executadas. Dois policiais também faleceram no dia. Em 2000, foram condenados dois sem-terra e três policiais. Claudemir Gilberto Ramos, tido pelos acusadores como líder da ocupação, recebeu pena de oito anos e meio de reclusão por cárcere privado e resistência à prisão. Cícero Pereira, também participante da ocupação, foi condenado a seis anos e dois meses por participação em um homicídio.
Do outro lado, foram sentenciados o capitão Vitório Regis Mena Mendes e os soldados Daniel da Silva Furtado e Airton Ramos de Morais. Todos ganharam o direito a um novo julgamento. Os fazendeiros apontados como responsáveis pelo aliciamento de uma milícia armada que se infiltrou entre policiais foram impronunciados pela Justiça, ou seja, as acusações foram descartadas antes mesmo de haver julgamento.
Protocolado na Câmara, em Brasília, um dia após o massacre completar 16 anos, o Projeto de Lei escancara um cenário preocupante. “Como um prenúncio das omissões do Estado brasileiro neste episódio, mais um trabalhador rural foi morto recentemente. Sobrevivente do Massacre de Corumbiara e Líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos foi assassinado no dia 27 de maio de 2011, em Vista Alegre de Abunã (RO), por um pistoleiro já identificado e conhecido na região.
Este pistoleiro sabidamente trabalha por encomenda para aqueles que não admitem as lutas e reivindicações dos trabalhadores rurais. Adelino era pai de Claudemir Gilberto Ramos, um dos trabalhadores injustamente condenados no Massacre de Corumbiara”, explica o deputado. As dezenas de pessoas mortas, segundo informações dos trabalhadores, e as centenas presas e torturadas não foram suficientes para aplacar a ganância dos que promovem episódios como o massacre.
“A morte de Adelino Ramos é um crime que veicula um duro recado aos trabalhadores rurais da região e de todo o país, no sentido de que o Massacre de Corumbiara não foi suficiente para eliminar todas as lideranças daqueles que visualizam um Brasil mais justo e solidário.” João Paulo conclui o projeto reafirmando os deveres que o Estado brasileiro precisa cumprir. “Nosso país tem um compromisso inadiável de reparar, através dos meios judiciais e materiais disponíveis, todas as violações que foram perpetradas contra os trabalhadores rurais em Corumbiara. Assim, a anistia aos trabalhadores condenados é apenas uma parte dessa reparação que deverá ser buscada e exaurida pelo país.”
CORUMBIARA - A HISTÓRIA
A ocupação da Fazenda Santa Elina, município de Corumbiara, em Rondônia, foi um dos 440 conflitos por terra que ocorreram no Brasil em 1995. O local foi escolhido pela coordenação do movimento por tratar-se de uma área não regularizada e, em grande parte, improdutiva. A forma como a justiça do Estado cumpriu o mandato de reintegração de posse chocou o país pela violência imposta contra os camponeses.
O “Massacre do Corumbiara” passou a ser lembrado como um dos episódios mais sangrentos da luta pela terra no Brasil. A responsabilidade pelo conflito que deixou mortos, feridos e muitos desaparecidos recaiu sobre os camponeses. O lado mais fraco da corda. No dia 14 de julho de 1995, centenas de famílias de trabalhadores rurais sem terra ocuparam uma pequena parte dos 20 mil hectares da Fazenda Santa Elina, em Rondônia. Cinco dias depois, em 19 de julho, a Justiça expediu a liminar de reintegração de posse.
Um grupo de policiais chegou ao acampamento para cumprimento da ordem. Neste dia, um posseiro foi ferido à bala pelas costas, gerando o primeiro conflito. Para intermediar as negociações foi formada uma comissão que tinha entre seus integrantes o vereador Manuel Ribeiro, o Nelinho do PT (assassinado quatro messes depois). Na madrugada do dia 09 de agosto, 194 policiais e jagunços fortemente armados cercaram o acampamento e deram início àquele que seria um dos episódios mais tristes da luta pela terra no Brasil: o Massacre de Corumbiara. O acampamento foi atacado de madrugada com bombas de gás por policiais militares e jagunços que, segundo testemunhas, foram contratados por fazendeiros. Eles entraram atirando contra uma multidão de quase 400 pessoas, incluindo mulheres e crianças.
Entre os sem terra mortos estava Vanessa, de apenas seis anos de idade. Segundo versão dos sobreviventes, dezenas de camponeses foram mortos, mas os corpos nunca apareceram. Além disso, 355 pessoas foram presas e torturadas por mais de vinte e quatro horas seguidas. O acampamento foi totalmente destruído e incendiado. A versão oficial fala em onze mortes. Nove camponeses e dois policiais. Na apuração dos fatos, nos processos judiciais e no júri ficou evidenciado que os camponeses é que pagaram pelo sonho do acesso a terra. O processo transitou em julgado em 15 de maio de 2005 e transferiu para as vítimas a responsabilidade por um dos piores massacres do país.
Fonte: http://joaopaulo.ning.com/profiles/blogs/joao-paulo-quer-anistia-para-os-trabalhadores-rurais-condenados-n
http://camponescorumbiara.blogspot.com/
terça-feira, 9 de agosto de 2011
16 anos do Massacre de Corumbiara: Uma ferida aberta no coração da Amazonia!
Por Ninfeia G
Claudemir Gilberto Ramos, juntamente com Cícero Pereira Leite Neto foi julgado e condenado, em 2005, pela morte de dois policiais militares durante o episódio conhecido como Massacre de Corumbiara, em 9 de agosto de 1995, na cidade do mesmo nome , no Estado de Rondônia; Claudemir foi condenado,também, por prática de cárcere privado sob a acusação de ter mantido os agricultores dentro da área de ocupação onde ocorreu o episódio, ou seja a Fazenda Santa Elina.
O Massacre de Corumbiara completa hoje, 16 anos.
Importa muito o que aconteceu naquela madrugada de 9 de agosto pois não morreram apenas dois policiais militares ,mas ,pelo menos 10 trabalhadores agricultores( pelos números oficiais) e ,inclusive, uma criança de 6 anos.
Importa muito que dois agricultores, sobreviventes do massacre, tenham sido condenados cinco anos depois e até agora não se ter notícia de quantos policiais militares tenham sido condenados pela morte desses 10 agricultores e dessa criança.
Importa muito que quem ordenou o ataque, durante a madrugada, inclusive quando, as famílias estavam dormindo( porque eram famílias que se encontravam ocupando a fazenda)tb não se tenha noticia de que tenha sido condenado. Foi o governo? Foram os fazendeiros?Afinal, eram tropas oficiais que estavam , também, lá!
Então, porque condenar os dois agricultores?
Certamente, tem lógica vez que Claudemir , aos 23 anos já era um líder de movimento, ou seja, quase um menino e já com tanta responsabilidade .Mas é que entre trabalhadores rurais não
existe essa coisa de jovem ter que curtir a sua idade, o que existe é muito trabalho a ser feito, vontade de semear e colher para a sua subsistência, dos seus e da própria sociedade.Não canso de repetir que o feijão com arroz vem da agricultura familiar. A soja, o grão de exportação, é privilégio das pessoas adeptas da dieta natural, e são produtos extremamente caros nas prateleiras dos supermercados.
Ora, se no Brasil temos, diariamente, notícias de que pessoas de cargos públicos, estão envolvidos em algum tipo de irregularidade e ,na verdade, o que se vê é que eles estão por aí, indo e vindo, sem que ninguém se incomode, ainda que os processos sejam instaurados mas eles, com suas influências e poder econômico, vão conseguindo burlar as leis, porque então penalizar duas pessoas que apenas lutam por um pedaço de terra para trabalhar e uma delas, Claudemir, foi também, massacrado sob torturas durante o episódio?
Claudemir e Cícero viram todos os seus recursos negados. Claudemir, desde o massacre, vive foragido, pois tem a cabeça a premio por parte dos senhores da terra e além do mais, não aceita ser recolhido à prisão pela condenação porque sabe que ela foi um instrumento para que ele fosse trancafiado em uma prisão onde será alvo fácil para ser assassinado.
Se todos os recursos judiciais foram negados, porque então não pensar em recorrer a outro poder , ou seja, requerer a anistia?
Anistia é o ato pelo qual o poder público, mas especificamente o poder legislativo, declara impuníveis, por motivo de utilidade social, todos quantos, até certo dia, perpetraram determinados delitos,em geral, políticos, seja faznedo cessar as diligências persecutórias, seja tornando nulas e de nenhum efeito as condenações.A anistia anula a punção e o fato que a causa
Que os deputados e senadores se sensibilizem para essa situação pois que como legisladores tem o poder de elaborar um projeto de lei de anistia para CLAUDEMIR e CICERO.Falta apenas a vontade política de fazer.
Fontes:
http://www.tj.ro.gov.br/corumbiara/boletins/sentenca4.htm
http://camponescorumbiara.blogspot.com/2011/06/filho-de-campones-morto-em-rondonia.html
http://www.ligaoperaria.org.br/lutaclassista/corumbiara.htm
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn119-41.htm
http://camponescorumbiara.blogspot.com/2011/07/incra-conclui-processo-de-aquisicao-da.html?showComment=1310909095083#c6382073527546906516
Ninféia G é poeta de Belém do Pará.
www.reflexoesemversos.com.br
Claudemir Gilberto Ramos, juntamente com Cícero Pereira Leite Neto foi julgado e condenado, em 2005, pela morte de dois policiais militares durante o episódio conhecido como Massacre de Corumbiara, em 9 de agosto de 1995, na cidade do mesmo nome , no Estado de Rondônia; Claudemir foi condenado,também, por prática de cárcere privado sob a acusação de ter mantido os agricultores dentro da área de ocupação onde ocorreu o episódio, ou seja a Fazenda Santa Elina.
O Massacre de Corumbiara completa hoje, 16 anos.
Importa muito o que aconteceu naquela madrugada de 9 de agosto pois não morreram apenas dois policiais militares ,mas ,pelo menos 10 trabalhadores agricultores( pelos números oficiais) e ,inclusive, uma criança de 6 anos.
Importa muito que dois agricultores, sobreviventes do massacre, tenham sido condenados cinco anos depois e até agora não se ter notícia de quantos policiais militares tenham sido condenados pela morte desses 10 agricultores e dessa criança.
Importa muito que quem ordenou o ataque, durante a madrugada, inclusive quando, as famílias estavam dormindo( porque eram famílias que se encontravam ocupando a fazenda)tb não se tenha noticia de que tenha sido condenado. Foi o governo? Foram os fazendeiros?Afinal, eram tropas oficiais que estavam , também, lá!
Então, porque condenar os dois agricultores?
Certamente, tem lógica vez que Claudemir , aos 23 anos já era um líder de movimento, ou seja, quase um menino e já com tanta responsabilidade .Mas é que entre trabalhadores rurais não
existe essa coisa de jovem ter que curtir a sua idade, o que existe é muito trabalho a ser feito, vontade de semear e colher para a sua subsistência, dos seus e da própria sociedade.Não canso de repetir que o feijão com arroz vem da agricultura familiar. A soja, o grão de exportação, é privilégio das pessoas adeptas da dieta natural, e são produtos extremamente caros nas prateleiras dos supermercados.
Ora, se no Brasil temos, diariamente, notícias de que pessoas de cargos públicos, estão envolvidos em algum tipo de irregularidade e ,na verdade, o que se vê é que eles estão por aí, indo e vindo, sem que ninguém se incomode, ainda que os processos sejam instaurados mas eles, com suas influências e poder econômico, vão conseguindo burlar as leis, porque então penalizar duas pessoas que apenas lutam por um pedaço de terra para trabalhar e uma delas, Claudemir, foi também, massacrado sob torturas durante o episódio?
Claudemir e Cícero viram todos os seus recursos negados. Claudemir, desde o massacre, vive foragido, pois tem a cabeça a premio por parte dos senhores da terra e além do mais, não aceita ser recolhido à prisão pela condenação porque sabe que ela foi um instrumento para que ele fosse trancafiado em uma prisão onde será alvo fácil para ser assassinado.
Se todos os recursos judiciais foram negados, porque então não pensar em recorrer a outro poder , ou seja, requerer a anistia?
Anistia é o ato pelo qual o poder público, mas especificamente o poder legislativo, declara impuníveis, por motivo de utilidade social, todos quantos, até certo dia, perpetraram determinados delitos,em geral, políticos, seja faznedo cessar as diligências persecutórias, seja tornando nulas e de nenhum efeito as condenações.A anistia anula a punção e o fato que a causa
Que os deputados e senadores se sensibilizem para essa situação pois que como legisladores tem o poder de elaborar um projeto de lei de anistia para CLAUDEMIR e CICERO.Falta apenas a vontade política de fazer.
Fontes:
http://www.tj.ro.gov.br/corumbiara/boletins/sentenca4.htm
http://camponescorumbiara.blogspot.com/2011/06/filho-de-campones-morto-em-rondonia.html
http://www.ligaoperaria.org.br/lutaclassista/corumbiara.htm
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn119-41.htm
http://camponescorumbiara.blogspot.com/2011/07/incra-conclui-processo-de-aquisicao-da.html?showComment=1310909095083#c6382073527546906516
Ninféia G é poeta de Belém do Pará.
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sábado, 6 de agosto de 2011
A Globo vai partir pra cima de Amorim: isso prova que Dilma escolheu bem!
por Rodrigo Vianna
Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.
O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.
Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.
Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.
No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantem o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão.
Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”.
Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.”
A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).
Nada disso surpreende, na verdade.
O que surprendeu foi ver Dilma na tentativa de se aproximar dessa gente no primeiro semestre. Alguém vendeu à presidenta a idéia de que “era chegada a hora da distensão”. Faltou combinar com os russos.
A realidade, essa danada, com suas contradições, encarregou-se de livrar Dilma de Palocci, Jobim e de certa turma do PR. Acho que aos poucos a realidade também vai indicar à presidenta quem são os verdadeiros aliados. Os “pragmáticos” da esquerda enxergam nas demissões de ministros um “risco” para o governo. Risco de turbulência, risco de Dilma sofrer ataques cada vez mais violentos sem contar agora com as “pontes” (Palocci e Jobim eram parte dessas pontes) com a velha mídia (que comanda a oposição).
Vejo de outra forma. Turbulência e ataques não são risco. São parte da política.
Ao livrar-se de Jobim (que vai mudar para São Paulo, e deve ter o papel de alinhar parcela do PMDB com o demo-tucanismo) e nomear Celso Amorim, Dilma fez uma escolha. Será atacada por isso. Atacada por quem? Pela direita, que detesta Amorim.
Amorim foi a prova – bem-sucedida – de que a política subserviente de FHC estava errada. O Brasil, com Amorim, abandonou a ALCA, alinhou-se com o Sul, e só cresceu no Mundo por causa disso.
Amorim é detestado pelos méritos dele. Ou seja: apanhar porque nomeou Amorim é ótimo!
Como disse um leitor no twitter:
“Demóstenes, Álvaro Dias e Reinaldo Azevedo atacam o Celso Amorim; isso prova que Dilma acertou na escolha”.
Não se governa sem turbulência. Amorim é um diplomata. Dizer que ele não pode comandar a Defesa porque “diplomatas não sabem fazer a guerra” (como li num jornal hoje) é patético.
O Brasil precisa pensar sua estratégia de Defesa de forma cada vez mais independente. É isso que assusta a velha mídia – acostumada a ver o Brasil como sócio menor e bem-comportado dos EUA. Amorim não é nenhum incediário de esquerda. Mas é um nacionalista. É um homem que fala muitas línguas, conhece o mundo todo. Mas segue a ser profundamente brasileiro. E a gostar do Brasil.
O mundo será, nos próximos anos, cada vez mais turbulento. EUA caminham para crise profunda na economia. Europa também caminha para o colpaso. Para salvar suas economias, precisam inundar nosso crescente mercado consumidor com os produtos que não conseguem vender nos países deles. O Brasil precisa se defender disso. A defesa começa por medidas cambiais, por política industrial que proteja nosso mercado. Dilma já deu os primeiros passos nessa direção.
Mas o Brasil – com seus aliados do Cone Sul, Argentina à frente – não será respeitado só porque tem mercado consumidor forte, diversidade cultural e instituições democráticas. Precisamos, sim, reequipar nossas forças armadas. Precisamos fabricar aviões, armas. Precisamos terminar o projeto do submarino com propulsão nuclear.
Não se trata de “bravata” militarista. Trata-se do mundo real. A maioria absoluta dos militares brasileiros – que gostam do nosso país – não vai dar ouvidos para Elianes e Alis; vai dar apoio a Celso Amorim na Defesa, assim que perceber que ele é um nacionalista moderado, que pode ajudar a transformar o Brasil em gente grande, também na área de Defesa.
O resto é choro de anões que povoam o parlamento e as redações da velha mídia.
Rodrigo Viana é um jornalista brasileiro. Trabalhou na Rede Globo de 1995 a 2006 e atualmente está na Rede Record.
Acabo de receber a informação, de uma fonte que trabalha na TV Globo: a ordem da direção da emissora é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.
O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha.
Trata-se do velho jornalismo praticado na gestão de Ali Kamel: as “reportagens” devem comprovar as teses que partem da direção.
Foi assim em 2005, quando Kamel queria provar que o “Mensalão” era “o maior escândalo da história republicana”. Quem, a exemplo do então comentarista Franklin Martins, dizia que o “mensalão” era algo a ser provado foi riscado do mapa. Franklin acabou demitido no início de 2006, pouco antes de a campanha eleitoral começar.
No episódio dos “aloprados” e do delegado Bruno, em 2006, foi a mesma coisa. Quem, a exemplo desse escrevinhador e de outros colegas na redação da Globo em São Paulo, ousou questionar (“ok, vamos cobrir a história dos aloprados, mas seria interessante mostrar ao público o outro lado – afinal, o que havia contra Serra no tal dossiê que os aloprados queriam comprar dos Vedoin?”) foi colocado na geladeira. Pior que isso: Ali Kamel e os amigos dele queriam que os jornalistas aderissem a um abaixo-assinado escrito pela direção da emissora, para “defender” a cobertura eleitoral feita pela Globo. Esse escrevinhador, Azenha e o editor Marco Aurélio (que hoje mantem o blog “Doladodelá”) recusamo-nos a assinar. O resultado: demissão.
Agora, passada a lua-de-mel com Dilma, a ordem na Globo é partir pra cima. Eliane Cantanhêde também vai ajudar, com os comentários na “Globo News”. É o que me avisa a fonte. “Fique atento aos comentários dela; está ali para provar a tese de que Amorim gera instabilidade militar, e de que o governo Dilma não tem comando”.
Detalhe: eu não liguei para o colega jornalista. Foi ele quem me telefonou: “rapaz, eu não tenho blog para contar o que estou vendo aqui, está cada vez pior o clima na Globo.”
A questão é: esses ataques vão dar certo? Creio que não. Dilma saiu-se muito bem nas trocas de ministros. A velha mídia está desesperada porque Dilma agora parece encaminhar seu governo para uma agenda mais próxima do lulismo (por mais que, pra isso, tenha tido que se livrar de nomes que Lula deixou pra ela – contradições da vida real).
Nada disso surpreende, na verdade.
O que surprendeu foi ver Dilma na tentativa de se aproximar dessa gente no primeiro semestre. Alguém vendeu à presidenta a idéia de que “era chegada a hora da distensão”. Faltou combinar com os russos.
A realidade, essa danada, com suas contradições, encarregou-se de livrar Dilma de Palocci, Jobim e de certa turma do PR. Acho que aos poucos a realidade também vai indicar à presidenta quem são os verdadeiros aliados. Os “pragmáticos” da esquerda enxergam nas demissões de ministros um “risco” para o governo. Risco de turbulência, risco de Dilma sofrer ataques cada vez mais violentos sem contar agora com as “pontes” (Palocci e Jobim eram parte dessas pontes) com a velha mídia (que comanda a oposição).
Vejo de outra forma. Turbulência e ataques não são risco. São parte da política.
Ao livrar-se de Jobim (que vai mudar para São Paulo, e deve ter o papel de alinhar parcela do PMDB com o demo-tucanismo) e nomear Celso Amorim, Dilma fez uma escolha. Será atacada por isso. Atacada por quem? Pela direita, que detesta Amorim.
Amorim foi a prova – bem-sucedida – de que a política subserviente de FHC estava errada. O Brasil, com Amorim, abandonou a ALCA, alinhou-se com o Sul, e só cresceu no Mundo por causa disso.
Amorim é detestado pelos méritos dele. Ou seja: apanhar porque nomeou Amorim é ótimo!
Como disse um leitor no twitter:
“Demóstenes, Álvaro Dias e Reinaldo Azevedo atacam o Celso Amorim; isso prova que Dilma acertou na escolha”.
Não se governa sem turbulência. Amorim é um diplomata. Dizer que ele não pode comandar a Defesa porque “diplomatas não sabem fazer a guerra” (como li num jornal hoje) é patético.
O Brasil precisa pensar sua estratégia de Defesa de forma cada vez mais independente. É isso que assusta a velha mídia – acostumada a ver o Brasil como sócio menor e bem-comportado dos EUA. Amorim não é nenhum incediário de esquerda. Mas é um nacionalista. É um homem que fala muitas línguas, conhece o mundo todo. Mas segue a ser profundamente brasileiro. E a gostar do Brasil.
O mundo será, nos próximos anos, cada vez mais turbulento. EUA caminham para crise profunda na economia. Europa também caminha para o colpaso. Para salvar suas economias, precisam inundar nosso crescente mercado consumidor com os produtos que não conseguem vender nos países deles. O Brasil precisa se defender disso. A defesa começa por medidas cambiais, por política industrial que proteja nosso mercado. Dilma já deu os primeiros passos nessa direção.
Mas o Brasil – com seus aliados do Cone Sul, Argentina à frente – não será respeitado só porque tem mercado consumidor forte, diversidade cultural e instituições democráticas. Precisamos, sim, reequipar nossas forças armadas. Precisamos fabricar aviões, armas. Precisamos terminar o projeto do submarino com propulsão nuclear.
Não se trata de “bravata” militarista. Trata-se do mundo real. A maioria absoluta dos militares brasileiros – que gostam do nosso país – não vai dar ouvidos para Elianes e Alis; vai dar apoio a Celso Amorim na Defesa, assim que perceber que ele é um nacionalista moderado, que pode ajudar a transformar o Brasil em gente grande, também na área de Defesa.
O resto é choro de anões que povoam o parlamento e as redações da velha mídia.
Rodrigo Viana é um jornalista brasileiro. Trabalhou na Rede Globo de 1995 a 2006 e atualmente está na Rede Record.
Enquanto Globo faz piada, aumentam os ataques a mulheres no metrô
Wilson H. da Silva, da redação do Opinião Socialista
Na quarta feira, 27 de julho, uma estudante Direito de 18 anos (identificada apenas pelas siglas L.S.), sofreu um ultrajante ataque sexual no interior de um vagão do metrô na estação Barra Funda, na região oeste de São Paulo. O ataque à jovem, que ocorreu às 8h, foi o 43° episódio de agressão sexual ocorrido no interior do sistema metropolitano apenas este ano.
Um número que, com certeza, está muito abaixo da realidade, como lembra Marisa dos Santos Mendes, da Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e militante do PSTU: “Na verdade, os casos de assédio dentro do transporte público e no metrô, em particular, são incontáveis, têm aumentado e se tornado mais audaciosos e violentos em função de dois problemas seríssimos: a impunidade que cerca os casos e, também, o constrangimento sofrido pelas mulheres ao denunciar esse tipo de agressão”.
Exemplo disto é o fato de que, além do ataque do dia 27, outros três já haviam sido registrados entre os dias 19 e 21 de julho. E, como lembra Marisa, “se isto não bastasse, ainda temos que conviver com posturas inaceitáveis, como a da Rede Globo, que, como foi denunciado no site do PSTU, exibe, todos os sábados, um asqueroso quadro chamado Metrô Zorra Total, em que personagens tratam a violência sexual como piada, o que, evidentemente, só contribui para a banalização deste tipo de violência”.
Sufoco e impunidade, as raízes da violência
Qualquer um que circula pelo metrô de São Paulo, que recentemente ganhou o prêmio de “o metrô mais lotado do mundo”, sabe exatamente o que significa sufoco. Contudo, somente as mulheres podem dizer o quanto esta situação se torna ainda mais insuportável em função do machismo e da degeneração das relações humanas.
Um sufoco que, como também destacou a diretora do sindicato, está na raiz dos ataques em dois sentidos. “Primeiro, porque estamos pra lá do limite da capacidade do sistema, operando, principalmente nos horários de pico, quando ocorrem a maioria dos ataques, com uma superlotação absurda. Segundo, porque o mesmo sufoco é sentindo pelos funcionários, já que, por mais que os trabalhadores da segurança tentem garantir a integridade das usuárias, isto é muito difícil, pura e simplesmente porque não há trabalhadores suficientes”.
Por isso mesmo, para além do desconforto e do empurra-empurra, mulheres, de todas idades, são obrigadas a conviver com homens se esfregando em seus corpos e as apalpando das formas mais nojentas, não sendo raro, inclusive, o relato de mulheres que saem dos vagões com esperma escorrendo em suas roupas.
Uma situação bastante próxima do que ocorreu com a estudante de Direito, que foi atacada no interior de um vagão lotado, às 7h45 da manhã: “Percebi que ele estava com a mão na minha virilha. Comecei a gritar (...) Foi horrível, vai ser difícil esquecer”. A situação só não foi pior porque a jovem, demonstrando coragem invejável, partiu para cima do sujeito (um bancário de 23 anos), aos tapas e gritos, o que chamou a atenção dos seguranças.
Apesar disto, e fiel à lamentável regra que vigora nestas situações, o criminoso machista saiu praticamente impune da história. Detido pela Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), ele foi autuado apenas por “importunação ofensiva ao pudor”, que não configura crime.
Uma impunidade, como disse Marisa, que está na raiz da reincidência dos casos que, este ano, já atingiram a média de seis ataques por mês.
Cenas de terror
No dia anterior ao ataque à estudante de Direito, houve outra ocorrência exemplar da combinação entre sufoco, impunidade e ataques machistas: um analista de sistemas tentou forçar sua entrada num vagão com socos e cotoveladas desferidos contra duas passageiras que, ao reagirem, foram ameaçadas com um canivete.
Novamente, o agressor foi detido e liberado na sequência, indiciado por agressão, porte de arma branca e lesão corporal. O episódio ocorreu às 7h45 da manhã na estação Tatuapé, conhecida por sua hiperlotação.
Já o episódio anterior, em 19 de julho, evidencia o problema relacionado à falta de funcionários e segurança. Na terça, 19 de julho, às 9h20 da manhã, um homem agarrou a autônoma Ana Claúdia, de 34 anos, abaixou as calças e, ameaçando-a com uma faca, tentou estuprá-la numa escadaria localizada em um ponto ermo (sem câmeras ou seguranças) da estação Sacomã. Apesar de ferida, Ana conseguiu se livrar do agressor, que também fugiu local.
Dois dias depois, desta vez no final da tarde, na estação Anhangabaú, outro sujeito foi preso enquanto, “importunava de forma libidinosa” uma passageira.
Um dos casos mais graves dos que se tem notícia aconteceu em 19 de abril, quando uma vendedora foi violentada no interior de um vagão entre as estações Paraíso e Brigadeiro. Aproveitando-se da enorme quantidade de pessoas no trem, o estuprador aproximou um objeto cortante do rosto da mulher, e colocando a mão por baixo de sua saia, rasgou sua calcinha e a violentou.
Contudo, o número certamente é muitíssimo maior. Por exemplo, outros sete casos foram registrados como “ato obsceno”. Além disso, também são vários os casos em que os estupradores se aproveitam do tumulto que predomina no interior e redondezas das estações para fazer vítimas. Nos últimos doze meses, pelo menos duas mulheres foram retiradas das estações (sob ameaça de armas) e conduzidas para locais próximos, onde foram violentadas. No último caso, no dia 5 de abril, o criminoso chegou a gravar seus atos.
Muita propaganda, pouca segurança
Enquanto isto, além das intragáveis piadas do Zorra Total, a Companhia Metropolitana e o governo do Estado de São Paulo também tratam o problema com uma escandalosa falta de seriedade.
Ao mesmo tempo em que gastam milhões para fazer propaganda sobre as supostas modernidade e eficiência do sistema, estes senhores têm dado declarações à imprensa que soam como verdadeiros insultos para as mulheres que têm passado por estas experiências traumatizantes.
No dia 20, depois do penúltimo ataque, o chefe do Departamento de Segurança do Metrô, Rubens Menezes, tentou minimizar, de forma vergonhosa, o ultraje ao qual as mulheres têm sido submetidas no interior das estações: “Transportamos mais de nove milhões de pessoas no primeiro semestre nas Estações Sacomã, Tamanduateí e Vila Prudente e tivemos um ato obsceno. (...) Em relação ao volume de passageiros transportados, o ato obsceno não é comum nas estações”.
Diante de afirmação tão absurda, caberia lembrar ao representante do Metrô que nem mesmo um único caso poderia ser tolerado. Não há nada de normal ou aceitável nesta história. Algo devidamente lembrado, em entrevista ao G1, por Ana Claudia, que conseguiu escapar do ataque na estação Sacomã: “Eu não aceito esta situação de passar uma propaganda na televisão de que a estação Sacomã é uma das mais novas, mais modernas, totalmente segura, e acontecer um negócio desses”.
Chega de sufoco, basta de violência!
Exemplo lamentável da violência machista que, neste país, faz com que uma mulher seja violentada a cada 12 segundos e uma assassinada a cada duas horas, o que está se passando no metrô (ou nos ônibus, trens e todo tipo de transporte público) é algo que tem de ser combatido veementemente.
Um combate que tem muitas frentes, como lembra a dirigente da Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metroviários: “Diante desta situação, uma das principais reivindicações do sindicato é a contratação imediata de mais funcionários, o primeiro passo para deter as agressões. Além disso, estamos com o movimento feminista combatente, na luta pela punição imediata e exemplar de todo e qualquer agressor machista”.
Além disso, continua Marisa, “diante dos obstáculos e dificuldades que todas nós, mulheres, conhecemos quando se trata da denúncia deste tipo de agressão, queremos promover uma campanha de conscientização das usuárias, para que elas não deixem estas lamentáveis histórias passar em branco, utilizando todos os canais possíveis, inclusive o Sindicato”.
Medidas que, segundo ela, “são fundamentais, neste momento, mas sabemos que isso só vai parar quando mudarmos complemente a lógica deste sistema e tivermos um transporte público realmente a serviço dos trabalhadores, que garanta condições dignas e segurança para todos, particularmente às mulheres.
Na quarta feira, 27 de julho, uma estudante Direito de 18 anos (identificada apenas pelas siglas L.S.), sofreu um ultrajante ataque sexual no interior de um vagão do metrô na estação Barra Funda, na região oeste de São Paulo. O ataque à jovem, que ocorreu às 8h, foi o 43° episódio de agressão sexual ocorrido no interior do sistema metropolitano apenas este ano.
Um número que, com certeza, está muito abaixo da realidade, como lembra Marisa dos Santos Mendes, da Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e militante do PSTU: “Na verdade, os casos de assédio dentro do transporte público e no metrô, em particular, são incontáveis, têm aumentado e se tornado mais audaciosos e violentos em função de dois problemas seríssimos: a impunidade que cerca os casos e, também, o constrangimento sofrido pelas mulheres ao denunciar esse tipo de agressão”.
Exemplo disto é o fato de que, além do ataque do dia 27, outros três já haviam sido registrados entre os dias 19 e 21 de julho. E, como lembra Marisa, “se isto não bastasse, ainda temos que conviver com posturas inaceitáveis, como a da Rede Globo, que, como foi denunciado no site do PSTU, exibe, todos os sábados, um asqueroso quadro chamado Metrô Zorra Total, em que personagens tratam a violência sexual como piada, o que, evidentemente, só contribui para a banalização deste tipo de violência”.
Sufoco e impunidade, as raízes da violência
Qualquer um que circula pelo metrô de São Paulo, que recentemente ganhou o prêmio de “o metrô mais lotado do mundo”, sabe exatamente o que significa sufoco. Contudo, somente as mulheres podem dizer o quanto esta situação se torna ainda mais insuportável em função do machismo e da degeneração das relações humanas.
Um sufoco que, como também destacou a diretora do sindicato, está na raiz dos ataques em dois sentidos. “Primeiro, porque estamos pra lá do limite da capacidade do sistema, operando, principalmente nos horários de pico, quando ocorrem a maioria dos ataques, com uma superlotação absurda. Segundo, porque o mesmo sufoco é sentindo pelos funcionários, já que, por mais que os trabalhadores da segurança tentem garantir a integridade das usuárias, isto é muito difícil, pura e simplesmente porque não há trabalhadores suficientes”.
Por isso mesmo, para além do desconforto e do empurra-empurra, mulheres, de todas idades, são obrigadas a conviver com homens se esfregando em seus corpos e as apalpando das formas mais nojentas, não sendo raro, inclusive, o relato de mulheres que saem dos vagões com esperma escorrendo em suas roupas.
Uma situação bastante próxima do que ocorreu com a estudante de Direito, que foi atacada no interior de um vagão lotado, às 7h45 da manhã: “Percebi que ele estava com a mão na minha virilha. Comecei a gritar (...) Foi horrível, vai ser difícil esquecer”. A situação só não foi pior porque a jovem, demonstrando coragem invejável, partiu para cima do sujeito (um bancário de 23 anos), aos tapas e gritos, o que chamou a atenção dos seguranças.
Apesar disto, e fiel à lamentável regra que vigora nestas situações, o criminoso machista saiu praticamente impune da história. Detido pela Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), ele foi autuado apenas por “importunação ofensiva ao pudor”, que não configura crime.
Uma impunidade, como disse Marisa, que está na raiz da reincidência dos casos que, este ano, já atingiram a média de seis ataques por mês.
Cenas de terror
No dia anterior ao ataque à estudante de Direito, houve outra ocorrência exemplar da combinação entre sufoco, impunidade e ataques machistas: um analista de sistemas tentou forçar sua entrada num vagão com socos e cotoveladas desferidos contra duas passageiras que, ao reagirem, foram ameaçadas com um canivete.
Novamente, o agressor foi detido e liberado na sequência, indiciado por agressão, porte de arma branca e lesão corporal. O episódio ocorreu às 7h45 da manhã na estação Tatuapé, conhecida por sua hiperlotação.
Já o episódio anterior, em 19 de julho, evidencia o problema relacionado à falta de funcionários e segurança. Na terça, 19 de julho, às 9h20 da manhã, um homem agarrou a autônoma Ana Claúdia, de 34 anos, abaixou as calças e, ameaçando-a com uma faca, tentou estuprá-la numa escadaria localizada em um ponto ermo (sem câmeras ou seguranças) da estação Sacomã. Apesar de ferida, Ana conseguiu se livrar do agressor, que também fugiu local.
Dois dias depois, desta vez no final da tarde, na estação Anhangabaú, outro sujeito foi preso enquanto, “importunava de forma libidinosa” uma passageira.
Um dos casos mais graves dos que se tem notícia aconteceu em 19 de abril, quando uma vendedora foi violentada no interior de um vagão entre as estações Paraíso e Brigadeiro. Aproveitando-se da enorme quantidade de pessoas no trem, o estuprador aproximou um objeto cortante do rosto da mulher, e colocando a mão por baixo de sua saia, rasgou sua calcinha e a violentou.
Contudo, o número certamente é muitíssimo maior. Por exemplo, outros sete casos foram registrados como “ato obsceno”. Além disso, também são vários os casos em que os estupradores se aproveitam do tumulto que predomina no interior e redondezas das estações para fazer vítimas. Nos últimos doze meses, pelo menos duas mulheres foram retiradas das estações (sob ameaça de armas) e conduzidas para locais próximos, onde foram violentadas. No último caso, no dia 5 de abril, o criminoso chegou a gravar seus atos.
Muita propaganda, pouca segurança
Enquanto isto, além das intragáveis piadas do Zorra Total, a Companhia Metropolitana e o governo do Estado de São Paulo também tratam o problema com uma escandalosa falta de seriedade.
Ao mesmo tempo em que gastam milhões para fazer propaganda sobre as supostas modernidade e eficiência do sistema, estes senhores têm dado declarações à imprensa que soam como verdadeiros insultos para as mulheres que têm passado por estas experiências traumatizantes.
No dia 20, depois do penúltimo ataque, o chefe do Departamento de Segurança do Metrô, Rubens Menezes, tentou minimizar, de forma vergonhosa, o ultraje ao qual as mulheres têm sido submetidas no interior das estações: “Transportamos mais de nove milhões de pessoas no primeiro semestre nas Estações Sacomã, Tamanduateí e Vila Prudente e tivemos um ato obsceno. (...) Em relação ao volume de passageiros transportados, o ato obsceno não é comum nas estações”.
Diante de afirmação tão absurda, caberia lembrar ao representante do Metrô que nem mesmo um único caso poderia ser tolerado. Não há nada de normal ou aceitável nesta história. Algo devidamente lembrado, em entrevista ao G1, por Ana Claudia, que conseguiu escapar do ataque na estação Sacomã: “Eu não aceito esta situação de passar uma propaganda na televisão de que a estação Sacomã é uma das mais novas, mais modernas, totalmente segura, e acontecer um negócio desses”.
Chega de sufoco, basta de violência!
Exemplo lamentável da violência machista que, neste país, faz com que uma mulher seja violentada a cada 12 segundos e uma assassinada a cada duas horas, o que está se passando no metrô (ou nos ônibus, trens e todo tipo de transporte público) é algo que tem de ser combatido veementemente.
Um combate que tem muitas frentes, como lembra a dirigente da Secretaria de Assuntos da Mulher do Sindicato dos Metroviários: “Diante desta situação, uma das principais reivindicações do sindicato é a contratação imediata de mais funcionários, o primeiro passo para deter as agressões. Além disso, estamos com o movimento feminista combatente, na luta pela punição imediata e exemplar de todo e qualquer agressor machista”.
Além disso, continua Marisa, “diante dos obstáculos e dificuldades que todas nós, mulheres, conhecemos quando se trata da denúncia deste tipo de agressão, queremos promover uma campanha de conscientização das usuárias, para que elas não deixem estas lamentáveis histórias passar em branco, utilizando todos os canais possíveis, inclusive o Sindicato”.
Medidas que, segundo ela, “são fundamentais, neste momento, mas sabemos que isso só vai parar quando mudarmos complemente a lógica deste sistema e tivermos um transporte público realmente a serviço dos trabalhadores, que garanta condições dignas e segurança para todos, particularmente às mulheres.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Carta Manifesto da Marcha das Vadias de Rio de Janeiro – Por que marchamos?
No Rio de Janeiro, marchamos porque apenas nos primeiros três meses desse
ano foram 1.246 casos registrados de mulheres e meninas estupradas, uma
média de quatorze mulheres e meninas estupradas por dia, e sabemos que
ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos;
marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de
transporte público do Rio de Janeiro, que nos obriga a andar longas
distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias
mulheres e meninas que são violentadas ao longo desses caminhos;
marchamos porque foi preciso a criação de vagões femininos no trem e no
metrô para que não fossemos sexualmente assediadas durante o uso desses
transportes
No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradaspor ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porquemuitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemosfazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadasde vadias porque transamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a um homem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante aDitadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas,hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida,
à nossa sexualidade e aos nossos corpos.
Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito auma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje emarcharemos até que todas sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas,avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!
ano foram 1.246 casos registrados de mulheres e meninas estupradas, uma
média de quatorze mulheres e meninas estupradas por dia, e sabemos que
ainda há várias mulheres e meninas abusadas cujos casos desconhecemos;
marchamos porque muitas de nós dependemos do precário sistema de
transporte público do Rio de Janeiro, que nos obriga a andar longas
distâncias sem qualquer segurança ou iluminação para proteger as várias
mulheres e meninas que são violentadas ao longo desses caminhos;
marchamos porque foi preciso a criação de vagões femininos no trem e no
metrô para que não fossemos sexualmente assediadas durante o uso desses
transportes
No Brasil, marchamos porque aproximadamente 15 mil mulheres são estupradaspor ano, e mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres feias não merecem cadeia, mas um abraço; marchamos porque nos colocam rebolativas e caladas como mero pano de fundo em programas de TV nas tardes de domingo e utilizam nossa imagem semi-nua para vender cerveja, vendendo a nós mesmas como mero objeto de prazer e consumo dos homens; marchamos porque vivemos em uma cultura patriarcal que aciona diversos dispositivos para reprimir a sexualidade da mulher, nos dividindo em “santas” e “putas”, e muitas mulheres que denunciam estupro são acusadas de terem procurado a violência pela forma como se comportam ou pela forma como estavam vestidas; marchamos porque a mesma sociedade que explora a publicização de nossos corpos voltada ao prazer masculino se escandaliza quando mostramos o seio em público para amamentar nossas filhas e filhos; marchamos porque durante séculos as mulheres negras escravizadas foram estupradas pelos senhores, porque hoje empregadas domésticas são estupradas pelos patrões e porque todas as mulheres, de todas as idades e classes sociais, sofreram ou sofrerão algum tipo de violência ao longo da vida, seja simbólica, psicológica, física ou sexual.
No mundo, marchamos porque desde muito novas somos ensinadas a sentir culpa e vergonha pela expressão de nossa sexualidade e a temer que homens invadam nossos corpos sem o nosso consentimento; marchamos porquemuitas de nós somos responsabilizadas pela possibilidade de sermos estupradas, quando são os homens que deveriam ser ensinados a não estuprar; marchamos porque mulheres lésbicas de vários países sofrem o chamado “estupro corretivo” por parte de homens que se acham no direito de puni-las para corrigir o que consideram um desvio sexual; marchamos porque ontem um pai abusou sexualmente de uma filha, porque hoje um marido violentou a esposa e, nesse momento, várias mulheres e meninas estão tendo seus corpos invadidos por homens aos quais elas não deram permissão para fazê-lo, e todas choramos porque sentimos que não podemosfazer nada por nossas irmãs agredidas e mortas diariamente. Mas podemos.
Já fomos chamadas de vadias porque usamos roupas curtas, já fomos chamadasde vadias porque transamos antes do casamento, já fomos chamadas de vadias por simplesmente dizer “não” a um homem, já fomos chamadas de vadias porque levantamos o tom de voz em uma discussão, já fomos chamadas de vadias porque andamos sozinhas à noite e fomos estupradas, já fomos chamadas de vadias porque ficamos bêbadas e sofremos estupro enquanto estávamos inconscientes, por um ou vários homens ao mesmo tempo, já fomos chamadas de vadias quando torturadas e curradas durante aDitadura Militar. Já fomos e somos diariamente chamadas de vadias apenas porque somos MULHERES.
Mas,hoje, marchamos para dizer que não aceitaremos palavras e ações utilizadas para nos agredir enquanto mulheres. Se, na nossa sociedade machista, algumas são consideradas vadias, TODAS NÓS SOMOS VADIAS. E somos todas santas, e somos todas fortes, e somos todas livres! Somos livres de rótulos, de estereótipos e de qualquer tentativa de opressão masculina à nossa vida,
à nossa sexualidade e aos nossos corpos.
Estar no comando de nossa vida sexual não significa que estamos nos abrindo para uma expectativa de violência, e por isso somos solidárias a todas as mulheres estupradas em qualquer circunstância, porque tiveram seus corpos invadidos, porque foram agredidas e humilhadas, tiveram sua dignidade destroçada e muitas vezes foram culpadas por isso. O direito auma vida livre de violência é um dos direitos mais básicos de toda mulher, e é pela garantia desse direito fundamental que marchamos hoje emarcharemos até que todas sejamos livres.
Somos todas as mulheres do mundo! Mães, filhas,avós, putas, santas, vadias…todas merecemos respeito!
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