domingo, 3 de novembro de 2013

A luta mundial contra a Monsanto cresce e cresce

A luta mundial contra a Monsanto cresce e cresce Tradução: Joaquim Lisboa Neto Nas vésperas da celebração do Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro passado, em mais de 500 cidades de 52 países se realizaram manifestações contra a Monsanto, a tenebrosa transnacional da biotecnologia e dos alimentos geneticamente modificados. Os milhares e milhares de manifestantes pediram ao mundo boicotar a ação “depredadora” da Monsanto porque introduziu diferentes tipos de transgênicos no mercado globalizado, que, segundo expertos, são prejudiciais para a saúde humana, representando uma ameaça para “a saúde, a fertilidade e a longevidade”. Na realidade, a Monsanto não é a única corporação que aspira conquistar o monopólio do fornecimento de alimentos em nosso planeta. São várias corporações biotecnológicas e agroquímicas que formam o poderoso grupo CropLife America e, entre elas, se destacam: Monsanto, DuPont, Dow AgroSciences LLC, Syngenta, Bayer, Basf, Río Tinto, Mendel, Ceres, Evogene. Foi precisamente este grupo que mandou a carta de protesto à esposa do presidente Obama, Michelle Obama, quando ela plantou seu jardim orgânico livre de pesticidas e organismos geneticamente modificados [OGMs]. Agora, podem estar tranquilos, porque a crise econômica e a recente paralisação temporária do governo norte-americano fez murchar o jardim da senhora Obama. Neste conjunto, Monsanto, a multinacional de Biotecnologia Química e Agrícola com sede em Creve Coeur, Missouri, é a mais poderosa de todas em termos políticos, econômicos e financeiros. É a mais famosa por suas sementes transgênicas e herbicidas como Roundup Ready [RR], a base de glifosato para eliminação de ervas e arbustos. Atualmente, essa corporação, que começou como uma pequena companhia química em 1901, se transformou num gigante biotecnológico do século XXI, ganhando em 2012 13,5 bilhões de dólares. Está operando em 68 países do mundo, semeando sementes OGMs em mais de 114 milhões de hectares e, deles, 61 milhões nos Estados Unidos. Neste país, controla 40% das terras cultiváveis. Foi precisamente a Monsanto um dos produtores do Agente Laranja, que foi borrifado massivamente durante a guerra do Vietnã numa operação Ranch Hand entre 1961 e 1971. Segundo a Cruz Vermelha vietnamita, um milhão de pessoas ficaram mutiladas e mais de 500.000 crianças nasceram com defeitos pelo uso desse desfolhante. O Agente Laranja, que foi aplicado com o pretexto de proteger vidas dos soldados norte-americanos, fez seus estragos em seus próprios soldados, os quais, em 1984, fizeram uma demanda coletiva no Tribunal do Distrito Leste de Nova Iorque. Apesar de que o Tribunal não tenha encontrado culpados, se acordou que as sete companhias produtoras do Agente Laranja [Monsanto, Diamond Shamrock Corporation, Dow Chemical Company, Hercules Inc., TH Agricultural y Nutrition Company, Thompson Chemical Corporation y Uniroyal Inc.] pagarão 180 milhões de dólares aos veteranos estadunidenses da guerra no Vietnã e a seus familiares. Se calcula que mais de 600.000 veteranos norte-americanos foram afetados por esse desfolhante e milhares de seus filhos nascerem com leucemia. Porém, tudo isto pertence à história e já ninguém quer recordar-se da tragédia daquela guerra. Até o Tribunal Supremo norte-americano declarou em 2004 que as companhias produtoras não eram responsáveis do uso do Agente Laranja. No entanto, a realidade que o mundo vive atualmente é muito mais sinistra comparando com o passado, pois estamos frente a um processo quando uma corporação multinacional [Monsanto] aspira apoderar-se da produção e distribuição de alimentos no mundo inteiro, usando sua tecnologia do OGM. De acordo com recente estudo da Food and Water Watch, 93% dos produtos da soja no mercado norte-americano e 80% dos de milho contêm OGMs produzidos pela Monsanto, que tem mais de 1.676 patentes de sementes. Atualmente, essa multinacional controla mais de 90 por cento do mercado mundial de sementes transgênicas, o que constitui um monopólio industrial sem precedentes, e 60 por cento do mercado global de sementes comerciais. O êxito da Monsanto não se deve somente a sua habilidade de criar produtos rentáveis, mas também a suas conexões políticas, midiáticas e a seu persistente trabalho de cooptação. Segundo o Center for Responsive Politics, a Monsanto gastou mais de 4 bilhões de dólares desde 1990 para as campanhas eleitorais, dando apoio aos políticos para promover seus interesses. A maioria de seus executivos, de acordo com a publicação Global Research, são ex-congressistas e altos ex-funcionários de diferentes departamentos do governo federal norte-americano. Tem à sua disposição incondicional os meios de comunicação que, dia a dia, estão tratando de convencer a opinião pública da vantagem do uso de produtos que contenham OGM. E, para dar solidez aos escribas a soldo, utiliza estudos favoráveis de seis universidades estadunidenses subvencionadas pela multinacional: Arizona State University, St. Louis University, University of Missouri, Cornell University, Washington University in St. Louis y South Dakota State University. Agora, os professores à sua disposição criaram um novo pretexto para a promoção das sementes OGM. Um recente informe do ETC Group como Monsanto, Bayer, BASF, DuPont, Syngenta, Dow, Mendel, Ceres e Evogene estão patenteando as sementes com genes que resistem ao estresse do meio ambiente [seca, variações extremas de temperatura etc]. Segundo a campanha publicitária desses gigantes bioquímicos, “somente esta tecnologia de OGM é capaz de neutralizar os efeitos do aquecimento global e da fome no futuro não tão distante”. Na realidade, é um novo pretexto para aumentar o poder corporativo sobre a alimentação, controlar os preços, terminar com a pesquisa independente e acabar com a tradição milenar dos agricultores de intercambiar as sementes. Agora, a Monsanto e a BASF estão investindo 1,5 bilhão de dólares para criar este tipo de sementes. Seu laboratório é a África, onde essas duas multinacionais se aliaram com a Fundação Bill e Melinda Gates para promover a suposta “Revolução Verde” no continente. O curioso é que o multimilionário Bill Gates, que é apresentado pela imprensa globalizada como um generoso filantropo, comprou 500.000 ações da Monsanto por 23 milhões de dólares. Os africanos deveriam estudar os “resultados” das “revoluções verdes” que a Fundação Rockfeller promoveu na América Latina nos anos 1960 e 1970. Porém, o processo já está em marcha com o consentimento e a participação dos governos de Quênia, Tanzânia, Uganda e África do Sul apoiado por 47 milhões de dólares doados pela Fundação de Bill Gates. A América Latina também tem estado na mira da Monsanto desde os anos 1990. O modelo de agroindústria com o uso das sementes OGMs se impôs em todos os países do Mercosul e também na Bolívia para a produção de soja, milho e algodão transgênicos. Atualmente, 50 por cento da terra cultivável na província de Buenos Aires estão semeados com sementes OGMs e regados com glifosato desde um teco-teco. No Paraguai, depois do golpe de Estado em 2012 contra o presidente legitimamente eleito Fernando Lugo, a Monsanto junto com a Cargil encontraram um paraíso para suas sementes transgênicas. Atualmente, estão construindo uma fábrica de sementes transgênicas, convertendo-se esse país no terceiro laboratório da Monsanto, depois de Argentina e Brasil. Atualmente, na Argentina, de acordo com o jornalista Federico Larsen, 97 por cento da soja produzida é transgênica e também o país liberou o uso do hormônio recombinante bobina BST Posilac, produzido pela Monsanto, que aumenta a produção leiteira nas vacas em 25 por cento, porém que está proibido na maioria dos países do mundo por demonstrar-se cientificamente que Posilac favorece o desenvolvimento do câncer de mama nas mulheres. No entanto, a própria presidenta Cristina Fernández declarou, há pouco, que “O investimento da Monsanto é importantíssimo e vai ajudar na concretização de nosso plano, tanto agroalimentar 2020 como nosso plano também industrial”. Parece que ninguém está prestando atenção aos estudos de vários especialistas que chegaram à conclusão de que, neste ritmo, as terras na Argentina e no Brasil deixariam de ser produtivas em aproximadamente 50 anos. Parece que às transnacionais ou a muitos governos de turno não lhes interessa o futuro. Por isso, firmam as leis, como a recente Lei de Proteção da Monsanto nos Estados Unidos, que protege a transnacional de todos os julgamentos relacionados à produção e venda de sementes OGMs, ou a Lei Monsanto no México, aprovada em 2005 pela maioria dos congressistas, sem nem sequer ser lida, dando luz verde à corporação biotecnológica em seu país. O mesmo caminho está tomando a Ucrânia, tendo as terras mais férteis da Europa. Felizmente, existem raras exceções, como a iniciativa do presidente do Peru, Ollanta Humala, que conseguiu que o congresso aprovasse em 2011 uma moratória de 10 anos ao cultivo e a importação de transgênicos no país, com a “finalidade de proteger a biodiversidade, a agricultura nacional e a saúde pública”. Também a multinacional Monsanto decidiu retirar as solicitações para o cultivo de novos transgênicos na União Europeia ante os protestos e resistência de vários governos e grupos ecológicos de usar essas sementes que impactam negativamente sobre a saúde. No entanto, as plantações de cultivos transgênicos continuam em Espanha, Portugal, República Checa e Polônia. Na Rússia, o presidente Putin deu um grito de alerta pelas intenções de Monsanto de instalar-se em seu país. Porém, terá que lutar contra os oligarcas russos, para os quais a pátria não é um lugar onde alguém nasce, mas sim onde se ganha dinheiro, igualmente contra as leis russas aprovadas na época de Yeltsin e que impedem a proibição dos produtos transgênicos. Há uns dez anos, a Monsanto tratou de ingressar em Cuba, porém eles anunciaram que seriam o laboratório mundial para os produtos orgânicos e não chegaram a nenhum acordo. Agora, a Rússia tem melhor oportunidade e as condições para converter-se no centro de cultivos orgânicos por não estar contaminada sua agricultura com as sementes OGM e por ter 40 milhões de hectares de terra não exposta durante muitos anos ao uso dos químicos. De acordo com os expertos, para 2020 a Rússia poderia abastecer o mercado mundial com 15 por cento dos produtos orgânicos, se é que os agricultores recebem o apoio do governo. As possibilidades de pôr freio às intenções das multinacionais biotecnológicas de estabelecer o controle corporativo sobre a alimentação existem. Só se necessita a vontade dos povos de despojarem-se do individualismo implantado pelo neoliberalismo, e retornar à premissa de Aristóteles, segundo a qual os humanos somos homens sociais e políticos e não podemos viver fora da sociedade. Porém, viver na sociedade necessariamente implica ações coletivas através das quais poderíamos impor-nos a qualquer transnacional, como o estão fazendo atualmente os habitantes de Malvinas Argentinas, a 14 quilômetros de Córdoba, Argentina, opondo a Assembleia de Vizinhos Luta pela Vida à Monsanto. Em 2012, as Mães de Ituzaingó, um bairro de Córdoba, ganharam pela primeira vez um julgamento contra a Monsanto. Isto demonstra que a união, a solidariedade e a vontade coletiva são armas poderosas do povo que luta por seu bem-estar e seus ideais. elclarin.cl tomado de www.resumenlatinoamericano.org

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