domingo, 1 de fevereiro de 2015

O dilema a definir entre todos

De acordo com o informado pela grande imprensa, às três da tarde do dia 5 de fevereiro terá lugar uma reunião entre a Unidade Nacional, o alto mando militar colombiano e o ministro da defesa, na qual a coalizão do governo do Presidente Juan Manuel Santos comunicará à cúpula castrense que as forças armadas oficiais não serão as perdedoras na firma de um acordo final com as FARC, visando tranquilizá-las para que não se oponham ao processo de paz.
O acordo sobre a referida reunião surgiu de outra reunião celebrada em Palácio entre os porta-vozes da Unidade Nacional, o mindefesa e o próprio Presidente da República. Ali, teriam decidido a necessidade de blindar as forças armadas de maneira tal que não vão resultar prejudicadas pelo pactuado em matéria de justiça na Mesa de Havana. E é essa determinação a que se pensa dar a conhecer ao corpo de generais na data mencionada.
Limitando-nos ao informado publicamente, ademais das garantias judiciais aos militares no pós-conflito, nessa reunião se tratará acerca do trâmite do projeto em curso sobre foro penal militar e o compromisso oficial de levá-lo adiante, além de calar as vozes que dentro das forças militares manifestaram dissimuladamente sua inconformidade com os desenvolvimentos do processo de paz que se adianta com as FARC-EP em Havana.
Nessa tripla direção, o senador Roy Barreras, protagonista central da reunião preparatória, declarou ante a imprensa que se aplicarão benefícios de justiça transicional a guerrilheiros e militares, porém não com a mesma rasoura. Deverá haver um capítulo especial para a força pública. No mesmo sentido, o senador Armando Benedetti saiu dizendo que haverá que buscar uma justiça transicional para os militares, na qual eles tenham direito a um indulto.
Quer dizer, haverá duas justiças transicionais completamente diferentes, uma para a insurgência e outra para os integrantes das forças armadas. Por sua parte, também ouvimos declarações do porta-voz oficial na Mesa por parte do governo, Humberto de La Calle, nas quais se refere às diferenças com as FARC em matéria de justiça transicional e aos esforços que haverá que realizar para superá-las e alcançar um ponto de encontro.
Também nos inteiramos uns dias atrás da roda de imprensa concedida pelo general Oscar Naranjo acerca das próximas sessões da Mesa, os mecanismos a implementar e a forma como haverão de se desenvolver as discussões. Todo o anterior deixa claro que existem definições por parte do governo nacional em todas as matérias pendentes, sobre o qual não duvida em informar ao público, apesar de não ter tratado nem combinado nada ainda a respeito conosco.
Já se maneja na imprensa o conteúdo que terão as discussões da Subcomissão Técnica sobre o fim do conflito, não obstante que as delegações das partes em Havana ainda não abordam o tema do mandato que deverá ter a dita subcomissão para seu trabalho. Do mesmo modo, se agita o debate em torno da composição ou participação das FARC num corpo de polícia ou gendarmaria rural quando tal assunto nem sequer foi mencionado na mesa.
Todas essas questões devem se originar, cremos, na ânsia do governo nacional por tranquilizar a diversos setores ou grupos de interesse com relação ao que finalmente poderia sair da Mesa. A atitude do Presidente Santos após seu retiro espiritual de Cartagena parece dirigida a fortalecer ao máximo no ânimo da nação a vontade de apoiar o processo de paz de Havana, e isso está bem. O discutível é se, para fazê-lo, convém agitar tanta expectativa incerta.
No passado, houve uma posição tão radical por parte do governo com relação à divulgação dos conteúdos que se discutiam na Mesa, se insistiu tanto na denominada confidencialidade e na inconveniência de referir-se em público a temas delicados pendentes de abordar, que a repentina atitude contrária não deixa de chamar a atenção. Mais quando ela se liga a pressas, prazos e conjunturas eleitorais mediante as quais parece que se intenta pressionar-nos.
Supomos que o governo do Presidente Santos sabe bem o que está fazendo, ainda que não deixe de inquietar-nos. Seria injusto de nossa parte não reconhecer a boa vontade oficial em colaborar e inclusive facilitar cada um dos movimentos que tem sido necessário realizar tanto para a recomposição de nossa delegação como para a integração da Subcomissão Técnica. Nisso o Presidente e demais autoridades têm demonstrado grande seriedade. E deve-se reconhecer.
Ainda que, em nossa opinião, essa mesma seriedade pode ser questionada ao observar o mar de especulações que circulam, entre outros, sobre os temas a que nos referíamos. Ou, por exemplo, num assunto tão crucial como o do cessar-fogo bilateral. Após reconhecer o cumprimento por nossa parte do compromisso adquirido a partir de 20 de dezembro do ano anterior, o Presidente insinuou formalmente que sua bilateralidade seria um próximo objeto de discussão.
Quando, na realidade, se estava referindo ao pactuado no Terceiro Ponto do Acordo Geral sobre o final do conflito, isto é, o cessar-fogo bilateral que haverá de ter lugar quando se firme um acordo final que na verdade não o sentimos tão próximo. Continuamos sofrendo permanentes investidas por parte das forças armadas regulares, e pondo sangue guerrilheiro, que é sangue do povo colombiano em luta. Assim é muito difícil continuar.
Já o dizia o Comandante Fidel Castro Ruz em sua mais recente mensagem pública, ao referir-se às aproximações entre os governos dos Estados Unidos e de Cuba, defender a paz é um dever de todos. A humanidade inteira luta contra os que têm feito da violência e da guerra o mecanismo predileto para acrescentar e defender suas fortunas. A paz, realmente, é uma aspiração dos povos secularmente submetidos pelas armas dos proprietários.
É necessário que uma imensa maioria de colombianos se ponha em pé para fazer a oligarquia governante saber que não está disposta a continuar suportando sua guerra nem seus crimes. Está bem, estamos dispostos plenamente a fazer política por vias pacíficas e civilizadas, porém para isso se requer que os donos do poder deponham definitivamente sua atitude e condutas violentas. Disso se trata em Havana, e esse cardeal dilema devemos defini-lo entre todos.

TIMOLEÓN JIMÉNEZ
CHEFE DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP

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