sábado, 11 de julho de 2015

Concretizemos um novo Acordo

La Habana, sede dos Diálogos de Paz, 3 de junho de 2015


Nos encontramos uma vez mais os que representamos as FARC-EP

nos diálogos de paz de Havana, com os plenipotenciários do

governo da Colômbia. O propósito de agora é continuar

atendendo nosso compromisso com a reconciliação

nacional, com a verdade, com as vítimas e sua reparação

integral, e chegar também à formalização de acordos de

não repetição. Se trata de continuar a marcha para a paz.


Todos conhecem o porque de nossa presença em Cuba. Após

décadas de guerra, nenhuma das partes do conflito conseguiu

derrotar a outra; quer dizer, nenhuma foi vencida. Em pé de

igualdade e frente às umas mesmas obrigações e deveres que

surgem do Acordo Geral para a Terminação do Conflito subscrito a

26 de agosto de 2012, os contendores devemos continuar firmes e

resolutos a dar cumprimento à Agenda de Conversações

amplamente conhecida.


O ambiente, no entanto, está carregado de nuvens escuras e

densas que vêm obscurecendo o caminho que nos resta por andar

para chegarmos sem mais contratempos à meta já projetada.


Deploramo-lo. Porém, não fomos os responsáveis pela

terminação do cessar-fogo unilateral e por tempo

indeterminado declarado por nós outros no dia 17 de

dezembro de 2014. Durante mais de cinco meses o

mantivemos com disciplina, gesto que conduziu à redução

de pelo menos noventa por cento das ações de guerra.

Ainda que este resultado é reconhecido por próprios e estranhos, o

certo é que pôde mais o caráter arrogante de quem, como ministro

de Defesa, considerou que o êxito da trégua era sua derrota.


De tal maneira que, sob o pretexto de uma ação defensiva das

FARC-EP sucedida a 14 de maio do presente ano em Buenos Aires,

Cauca –da qual somente agora começa a aflorar a verdade dos

fatos-, lançou a selvagem retaliação que ocasionou o massacre de

dezenas de guerrilheiros que permaneciam em seus

acampamentos atendendo a ordem de alto ao fogo.


Jairo Martínez e Emiro Jiménez, dois de nossos

negociadores em Havana destacados para realizar tarefas

de pedagogia de paz entre nossos combatentes e que

haviam sido postos em terra colombiana em

desenvolvimento de protocolos combinados com o governo,

caíram abatidos em Cauca e em Chocó enquanto realizavam

sua tarefa. Junto com eles morreram outros valiosos combatentes

e também Román Ruiz, comandante da 18ª Frente e

integrante do Estado-Maior Central das FARC-EP.


Não nos é estranho, então, que hoje nos encontremos num

ponto de recrudescimento da confrontação por decisão de

uma contraparte que, frente a nosso gesto de paz,

amplificou seu grito de guerra. Estamos onde o governo quis

nos colocar, conhecedor das consequências: nesta contenda

armada assimétrica e absurda, certamente, não íamos nos deixar

matar.


Porém temos, ademais, o infortúnio de que, neste contexto não

desejado por nós outros, muitos fatos são atribuídos às FARC

ainda que não o sejam, parecendo-se mais a uma pesca em rio

revolto de uma extrema-direita, que não quer o progresso dos

diálogos porque teme mais à verdade do que ao cárcere.


Não obstante o acima exposto, ao finalizar a rodada que hoje

inicia, paralelamente a nossa disposição de desescalar o conflito,

começando para que ninguém se deixe contagiar pela linguagem

guerreirista do anterior ministro de Defesa, que nada resolve,

temos a aspiração de dar boas notícias a nosso país e ao mundo,

al redor do tema de Vítimas e da Comissão para o Esclarecimento

da Verdade, da Convivência e da Não Repetição –se a contraparte

mostra igual determinação-, para concretizar o texto de um novo

acordo. O Cessar-Fogo Bilateral, que é vida para o processo,

não pode continuar sendo reprimido com argumentos

inconsistentes.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil


sexta-feira, 3 de julho de 2015

FARC-EP: Gestos unilaterais de desescalada do conflito.

Quinta-feira, 2 Julho 2015 01:47
Relação de Gestos de desescalada do conflito, levados adiante unilateralmente pelas FARC-EP desde o início das explorações prévias aos Diálogos de Paz e até agora.
A Delegação de Paz das FARC-EP procedem a sua radicação na Mesa de Diálogos:
1 – Fim de qualquer retenção de pessoas com fins de arrecadação de contribuições de caráter geral nas quais se taxava aos indivíduos de acordo com a sua riqueza ou capacidade econômica. Fevereiro de 2012.
2 – Primeiro “cessar-fogo”. Unilateral e de caráter temporário. De 20 de novembro de 2012 a 20 de janeiro de 2013.
3 – Libertação dos prisioneiros de guerra que se encontravam em poder das FARC-EP, inclusive os capturados recentemente em operações militares após o início dos Diálogos de Paz. Libertação do veterano de guerra estadunidense, ex-marine, Kevin Scott. 27 de outubro de 2013.
4 – Segundo “cessar-fogo”. Unilateral e de caráter temporário. De 15 de dezembro de 2013 a 15 de janeiro de 2014.
5 – Libertação e entrega ao CICV de três menores de idade recrutadas, adestradas e infiltradas em acampamentos das FARC-EP pelas Forças Militares da Colômbia com o objetivo de realizar sabotagens ou assassinatos de mandos da guerrilha. 4 de maio de 2014.
6 – Terceiro “cessar-fogo”. Unilateral e de caráter temporário. De 20 de maio de 2014 a 28 de maio de 2014.
7 – Quarto “cessar-fogo”. Unilateral e de caráter temporário. De 9 de junho de 2014 a 30 de junho de 2014.
8 – Reconhecimento de responsabilidades em geral por afetações à população civil em consequência do acionar da guerrilha. Documentos “Para uma Nova Colômbia sem vítimas”, 6 de Setembro de 2014, e “Reconhecimento de responsabilidades guerrilheiras”, 30 de outubro de 2014.
9 – Libertação dos prisioneiros de guerra que se encontravam em poder das FARC-EP, inclusive os capturados recentemente em operações militares após o início dos Diálogos de Paz: soldados Cesar Rivera e Jonathan Díaz. 25 de novembro de 2014.
10 – Libertação dos prisioneiros de guerra que se encontravam em poder das FARC-EP, inclusive os capturados em operações militares após o início dos Diálogos de Paz: o general do exército colombiano Rubén Darío Alzate, a advogada vinculada ao Exército Gloria Urrego e o cabo primeiro Jorge Rodríguez. 30 de novembro de 2014.
11 – Manifestação de contrição e oferecimento de reparação à comunidade de Bojayá por fatos não intencionais ocorridos em consequência de operações de combate à guerrilha contra paramilitares e forças militares. 18 de dezembro de 2014.
12 – Quinto “Cessar-Fogo”. Unilateral e por tempo indeterminado. Se mantém desde o dia 20 de dezembro de 2014.
13 – Libertação dos prisioneiros de guerra que se encontravam em poder das FARC-EP, inclusive os capturados recentemente em operações militares após o início dos Diálogos de Paz: soldado profissional Carlos Bezerra Ojeda. 26 de dezembro de 2014.
14 – Renúncia à vinculação às fileiras da guerrilha de menores de 17 anos. “Anúncio sobre menores em conflito”, de 12 de fevereiro de 2015.
15 – Libertação e entrega ao CICV de dois indígenas [J.B. e L.J.Y.], menores de idade recrutados, adestrados e infiltrados em acampamentos das FARC-EP no Vale do Cauca, pelas Forças Militares da Colômbia, com o objetivo de realizar sabotagens ou assassinatos de mandos da guerrilha. 20 de fevereiro de 2015.


Delegação de Paz das FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil


LAUDATO SI OU O CUIDADO DA CASA COMUM-Por um mundo melhor para a humanidade

Em 18 de junho de 2015, o Papa Francisco apresentou ao mundo sua encíclica Laudato si [Louvado sejas], subtitulada “Sobre o cuidado da casa comum”, que não é outro lugar senão a Terra, nosso planeta.
Em apenas uma semana após ter sido publicado, este documento foi celebrado por milhões de pessoas em diferentes latitudes, como a expressão de uma nova visão, avançada e pragmática, frente a problemas cruciais que em matéria de economia, política, modelos de desenvolvimento, mudança climática, biodiversidade e das desigualdades que o planeta enfrenta dentro de um rumo de depredação, que se não recebe um golpe de leme, pelo efeito do “consumismo extremo” e da desfiguração dos valores humanos que o capitalismo entranha, nos conduzirá ao caos e à destruição.
Numa de suas tantas reflexões importantes, o Papa Francisco disse que convida “todos a se deterem a pensar nos desafios sobre o meio ambiente”, acrescentando que “necessitamos de um novo diálogo sobre o modo como estamos construindo o futuro do planeta”, ideias absolutamente acertadas, que convocam à construção coletiva do outro mundo possível no qual as necessidades básicas do conjunto da humanidade estejam solucionadas, num ambiente de paz, dignidade e justiça.
Observamos esta encíclica como um importante instrumento de reflexão para os povos e os governos do orbe, que pode contribuir na busca de formulações e práticas que abram caminhos para a concretização de um mundo em que se superem as desigualdades e se conquiste um estágio de equilíbrio entre o ser humano e o conjunto da natureza, de maneira tal que seja efetivamente a casa comum da humanidade na qual possamos conviver, cuidando-a, sem abusar de seus dons e possibilidades, pensando no bem-estar de toda a sociedade.
Dentro desta perspectiva, a Encíclica Laudato Si pode ser um instrumento para pensar os tempos de hoje em função do futuro, atuando em defesa do gênero humano e da natureza como um só conjunto indissolúvel, interdependente, que requer profundas e urgentes mudanças no modo de vida, até alcançar uma era pós-capitalista, que garanta a sustentabilidade do planeta. Isto obriga, para o caso da Colômbia, no caminho de forjar a paz, a pôr freio também à exploração depredadora e à pilhagem dos bens comuns de sobrevivência coletiva, reunindo vontades, organizações políticas e sociais, ao movimento popular em geral, numa alternativa de mudança sem mais delongas, porque não é possível dar um salto para novos cenários de convivência, sem conflito, fazendo abstração das causas que o geraram. Há que apontar a resolver os problemas que originaram a confrontação, observando na defesa dos direitos fundamentais, materiais e espirituais, e em convocar como nunca a proteção da Mãe Terra.
Neste plano de ideias, a discussão e a reformulação de políticas neoliberais sobre assuntos tais como a exploração mineiro-energética desenfreada, e a própria exploração agroindustrial desmedida que inclui a estrangeirização da terra, que hoje por hoje se aventuram em nosso país, por exemplo, estão na ordem do dia esperando acordos que beneficiem a nação e sobretudo aos pobres.
Saudamos a coragem do diagnóstico que o Papa Francisco faz, com uma visão inclusiva e esperançosa, com uma perspectiva histórica e de futuro possível, para enfrentar com determinação e inteligência os abusos dos poderes econômicos e políticos que prostram a Terra degradando-a, submetendo milhões de seres à fome, à penúria, à miséria e à inconformidade que, não poucas vezes, pende para a rebelião como direito dos povos a se levantarem contra os regimes injustos.
Desde a insurgência fariana, em meio a uma inconformidade agudizada pelo aprofundamento da miséria e das desigualdades, cremos que existem em Laudato si formulações que podem contribuir para encontrar saídas para muitas das contradições que fazem com que a guerra persista. Porém, para que as propostas de ordem econômica, social, política, cultural e ambiental sejam debatidas sem a explosão de mais ações de força de lado a lado, que podem frustrar o processo de paz que promovemos, urge pactuar medidas racionais e razoáveis, como a do cessar-fogo bilateral, que vão criando condições para chegar ao Acordo Final, não para que tudo continue igual em benefício de um punhado de ricos e de multinacionais, mas sim para construir o bem viver, o bem-estar coletivo.

Tradução de Joaquim Lisboa Neto


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP
La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, junho de 2015

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Equipe ANNCOL - Brasil

Defender o Processo de Diálogo e o cessar-fogo bilateral já!

A grande mobilização pela paz do 9 de abril passado, Dia das Vítimas, levantou como bandeira principal a palavra de ordem de cessar-fogo bilateral, já! Transcorria, então, o cessar-fogo unilateral por tempo indeterminado decretado pelas Farc-EP e a suspensão de bombardeios por um mês por parte do governo, se observavam em todo o território nacional os efeitos positivos de distensão e cresciam as esperanças de uma desescalada real da guerra em correspondência com os avanços relativos porém constantes nos diálogos de Havana.
Hoje, a situação deu uma guinada perigosa. A direita, os meios massivos manipuladores da “opinião pública” e os guerreiristas alegam o suposto “cansaço da sociedade” com o processo de paz e pedem sua terminação abrupta. O governo optou pela via de “intensificar a guerra para alcançar a paz”, o que significa uma guinada para a solução militar, com o que novamente a população civil sofre os efeitos dos teatros de guerra, desembarques massivos de tropa, bombardeios em grande escala, como é o caso de Guapi e Argelia no Cauca, entre muitos outros. É o quadro que Pinzón entrega de herança ao novo ministro de Defesa Luis Carlos Villegas. Santos, Pinzón, Uribe, o Procurador e o Comando Sul coincidem em que há que forçar situações e alcançar “a paz por bem ou por mal”.
Santos se esquece de que há um ano conseguiu sua reeleição com um mandato muito preciso de paz pela dia do diálogo graças ao voto da esquerda. O governo não pode descartar e trair esse mandato. Exigem-no os votantes, os Países Garantidores, os porta-vozes da ONU, o Foro pela Paz de Montevidéu, a opinião internacional e todos os convencidos de que um melhor país em paz é possível. Aqueles que pensam em pôr fim à Mesa de Diálogos aspiram realmente a um golpe de Estado contra o compromisso constitucional da paz ratificado nas urnas. O estabelecimento deve entender que não vai subjugar em alguns meses o que não conseguiu fazer em sessenta anos. A paz e o diálogo tem seus tempos. A solução é política e não militar.
É justo o desejo de que os acordos cheguem o mais breve possível. Porém, o procedimento cruento do diálogo em meio à guerra problematiza a exigência de limites de tempo para a finalização do conflito, quando as forças do poder atual titubeiam entre a camisa de força das chamadas “linhas vermelhas” e as condições indispensáveis para dar saída aos principais temas da agenda da Mesa.
As hostilidades podem cessar. A vitimização cidadã pode terminar. O passo decisivo é o cessar-fogo bilateral sem que tenham que haver concluído ainda o diálogo e os acordos. Não há que pôr datas nem prazos traiçoeiros.
Os comunistas chamamos a defender o processo e a Mesa de Diálogo, a respeitar os avanços alcançados, a prosseguir na busca de acordos, a proteger e acompanhar as comunidades em resistência que se levantam fartas da militarização. Os Países Garantidores, os Governos Acompanhantes e os amigos do continente e do mundo respaldam a via do diálogo, a via política. A participação consciente da cidadania tem que expressar-se em múltiplas iniciativas e formas, em pronunciamentos, declarações, atos públicos, plantões, comícios, marchas nas ruas, ações culturais, concertos, performances, coleta de assinaturas. Milhões de Vedores da paz, como propôs a Frente Ampla. Participação ativa no Encontro pela Paz de 21 e 22 de julho. Presença e compromisso unitário na Grande Mobilização de Unidade pela Paz com justiça social do 23 de julho pelo Cessar-Fogo Bilateral Já!, a desescalada da guerra e o avanço para o fim das hostilidades.

PARTIDO COMUNISTA COLOMBIANO
Bogotá, 25 de junho de 2015 
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Equipe ANNCOL - Brasil

“Uribe me ofereceu 18 milhões de pesos”

Por Digna Irene Urrea. Confidencial Colombia. 30 de Junho de 2015
Nesta semana se reabriu um dos capítulos mais dolorosos na história do país: os chamados ‘Falsos Positivos’. Este gera todo tipo de reações e toca nas fibras do governo do ex-presidente Uribe, quem, devido ao informe da HRW, não reagiu muito bem. Confidencial Colombia falou com duas mães cujos filhos foram vítimas das referidas execuções extrajudiciais entre 2002 e 2008.
Num trinado, o hoje senador Álvaro Uribe Vélez adverte que ainda que não se absolva pelos assassinatos, assinala, sim, que a justiça nunca investigou sua hipótese de que esses civis estavam implicados em assuntos ilegais, fato que foi confirmado por suas próprias mães numa reunião que sustentaram com ele anos atrás.
Confidencial Colombia falou com duas mães cujos filhos foram vítimas das execuções extrajudiciais entre os anos de 2002 e 2008, sob o mandato de Uribe. Luz María Bernal e María Ubilerma Sanabria assinalam que efetivamente houve uma reunião a 12 de fevereiro de 2010 na qual oito famílias de ‘Falsos Positivos’ sustentaram um encontro com o ex-presidente.
Ainda que nenhuma das duas esteve no encontro para o qual foram convidadas, Bernal assegura que a ela o ex-mandatário ofereceu 18 milhões de pesos: “Nessa reunião a que não assisti, soube que às famílias que compareceram foram oferecidos 18 milhões de pesos, sei disso porque a mim também me ofereceram esse dinheiro, como quem diz tome e cale-se, não falem tanto”, sentencia a mulher.
Por sua parte, Sanabria conta que foram outras mães as que estiveram na reunião, porém assegura que eram vítimas como ela. Relembra que nas vésperas desse encontro lhes diziam que levassem muitas pessoas para que a reunião parecesse multitudinária; no entanto, coincide com Bernal ao afirmar que, finalmente, à convocatória de Uribe assistiram apenas oito famílias.
Também comenta que nesse ano [2010] Uribe estava fazendo campanha eleitoral, pois era o último ano de seu governo e buscava sua segunda reeleição –que caiu-, pelo que começou a respaldar a carreira presidencial de seu ministro de Defesa, Juan Manuel Santos.
Os trinados do hoje senador Uribe do Centro Democrático, no quais defende a Força Pública e sobretudo aos generais que supostamente estiveram envolvidos no assassinato de civis, como assinala o informe Human Rights Watch, foram fortemente criticados pelas mães.
“Rechaçamos o maltrato a nossos generais, que agora toca no Gal. Montoya, herói da Pátria”, reza o trinado do ex-presidente.
Ao mostrarmos o trinado a María Sanabria, a mãe assinala que “ele tem que justificar de alguma forma os ‘Falsos Positivos’ para falar bem de seus coronéis e para tapar todas as cagadas que fez, por isso não sabe como incriminar aos rapazes assassinados para que o glorioso Exército fique em alto”.
Cabe assinalar que o informe da ONG diz que “pelo menos 44 supostas execuções extrajudiciais perpetradas por soldados da Quarta Brigada se deram durante o período no qual o General reformado Mario Montoya esteve no mando. Montoya foi comandante do Exército Nacional de 2006 a 2008”.
Sanabria continua, “me parece terrível e o cúmulo que não tenha havido justiça [...] Quando Álvaro Uribe ia sair da presidência, ele disse claramente que não iria permitir que algum de seus rapazes fosse para o cárcere por esses casos isolados e levamos 5700 execuções extrajudiciais a Uribe... Não lhe convém que os altos mandos sejam julgados porque eles vão dizer de onde saíram as ordens”.
Finalmente, adverte a mãe de Soacha que, frente às declarações do novo ministro de Defesa, Luis Carlos Villegas, nas quais diz que a justiça leva mais de cinco anos sem poder mostrar resultados, “não é que não tenha havido demonstrações de que sejam culpados, o que passa é que não há vontade de que se faça justiça, porém eles, sim, sabem. Se os altos mandos falam, pois, os primeiros que vão cair são Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos”.

Jaime Estiven Valencia Sanabria, filho de María Ubilerma Sanabria
Tinha 16 anos, estava cursando a sétima série quando, com mentiras, o levaram para Ocaña, Norte de Santander. Ali, a décima quinta brigada do Exército “fingia falsas retenções”; numa delas, baixaram o jovem, lhe indocumentaram, torturaram-no, assassinaram-no e depois o fizeram passar por um narcoguerrilheiro. Foi desaparecido a 6 de fevereiro de 2008 e dois dias depois foi assassinado por mãos militares.
Sua mamãe María Ubilerma levou oito meses buscando-o, sem nenhum resultado positivo, até que, em 25 de setembro, por meio dos noticiários assinalaram que os jovens desaparecidos de Soacha estavam em fossas comuns em Ocaña e que a Força Pública os havia declarado como pessoas sem identificação.
Até o momento, o caso não teve nem a primeira audiência, ainda que seus advogados tenham tentado fazer todo o possível para que comece o julgamento e se faça justiça.
Durante sete anos Sanabria recebeu um sem-número de ameaças, entre estas a que mais recorda é a que chegou a seu telefone numa mensagem de texto: “mamãe, te quero muito: att cadáver”.
Um menino de 8 anos em corpo de adulto
O único caso de ‘Falsos Positivos’ que teve uma condenação foi o de Luz Marina Bernal. Seu caso é um precedente para que outros, como o de María Ubilerma Sanabria, tenham um julgamento e uma condenação.
Seu filho, Faír Leonardo Porras Bernal, de 26 anos, sofria de deficiência mental. Não sabia escrever, nem ler, nem identificar o valor do dinheiro; no entanto, a décima quinta brigada do Exército o declarou como chefe de uma organização narcoterrorista.
Vivia em Soacha e a 8 de janeiro de 2009 foi desaparecido do município e levado a Ocaña, Norte de Santander. Recebeu 13 impactos de bala; em 16 de setembro, de Medicina Legal chamaram a Luz Marina para dar-lhe a notícia de que seu filho havia sido encontrado numa fossa comum.
Desde há sete anos Bernal tem sido uma das cabeças mais visíveis das mães de Soacha, sua luta tem se concentrado em demonstrar e chegar aos altos mandos, isto é, àqueles que deram a ordem das execuções extrajudiciais.

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Equipe ANNCOL - Brasil


Jesús Santrich: “Se há firma do Acordo Final, o que vem é uma etapa de implementação na qual já não deve haver confrontação"

DICK EMANUELSSON, ANNCOL (DE): Há uns dias foi publicada em vários meios colombianos e internacionais a notícia de que os comandantes do Secretariado das FARC que atualmente se encontram em Havana já teriam cidadania nicaraguense no caso de que o processo da paz fracassasse ou que o eventual acordo implicaria cárcere para os comandantes. Que comentário têm as FARC sobre essa declaração?
JESÚS SANTRICH (JS): A temática a que se refere em sua pregunta faz parte de uma grande mentira midiática da qual não sabemos sua finalidade. Porém, os que a puseram a andar parece que não têm a menor ideia sobre como as FARC pensam. Não nos conhecem.
Viemos a Havana para tratar de chegar a um entendimento com o governo, que permita resolver os imensos problemas de ordem política, econômica e social que nosso país tem e que têm afetado as maiorias durante várias décadas. Esse é o propósito e nisso trabalhamos com todo nosso empenho e com as máximas esperanças em que conseguiremos alcançar um acordo final que permita ao povo continuar no caminho da construção de uma Colômbia diferente na qual se supere a desigualdade, a miséria e a carência de democracia. Cremos que está claro, então, que este não é nem pode ser um processo de submissão da insurgência. Neste sentido, não é possível o cenário de guerrilheiros purgando penas de prisão por terem exercido o direito à rebelião contra um regime injusto, e tampouco é sequer imaginável ver a direção revolucionária partindo para o exílio. O destino da Colômbia não pode ser o da guerra e por isso trabalhamos pela paz. Não é positivo pensar agora em rupturas ou em que não conseguiremos firmar o acordo. Há que pôr otimismo e fazer os máximos esforços para que todos os colombianos e colombianas possamos acabar com a confrontação e forjar o país sem exclusões.

O AVANÇO NO TEMA DAS VÍTIMAS
DE: Você crê que neste Ciclo se possa chegar à conclusão das discussões em torno do quinto ponto da Agenda sobre Vítimas?
JS: Esse é nosso desejo e cremos que há elementos suficientes sobre a Mesa para chegar a um entendimento em breve. Os avanços alcançados durante o Ciclo 37, que foi o anterior, são de grande significado dentro deste propósito. Relembre que pudemos apresentar um acordo sobre Comissão de Esclarecimento da Verdade, da Convivência e da Não Repetição nos aspectos fundamentais, porém sem ainda encerrá-lo totalmente porque tal instrumento faz parte de um “Sistema de Verdade, Justiça, Reparação e Não Repetição” em relação ao qual, agora, o que estamos é precisando dos elementos que integram tal mecanismo. Isto se faz analisando as propostas que as vítimas do conflito levaram até o cenário dos diálogos. Estamos empenhados em levar adiante um Acordo sobre as reivindicações essenciais que beneficiem as vítimas, e isso certamente implicará fortalecer programas existentes, criar novos, corrigir procedimentos que não foram efetivos etc. Já veremos, não obstante e para não trazer a debate aspectos que são ainda internos da Mesa, podemos dizer que grande parte de nossas propostas públicas, por exemplo, isso da criação do Fundo Especial para a Reparação Integral [FERI], ou o concernente à elaboração de um “Plano Nacional para a Reparação Integral” serão elementos a levar em conta.
Haveria que acrescentar que os dias dos ciclos não são usados somente em abordar o ponto quinto da Agenda. Simultaneamente, estamos tratando do tema da cessação do fogo, ou o que tem a ver com o plano de descontaminação de restos explosivos, ou iniciativas de desescalada que são urgentes para evitar que a confrontação continue se aprofundando, e tudo isto consome tempo.

CESSAR-FOGO BILATERAL?
DE: A propósito da desescalada e da busca do fim do conflito, ainda creem que seja possível conseguir o cessar-fogo bilateral antes de se chegar à firma do Acordo Final?
JS: Isto seria o correto, porque é óbvio que, se há firma do Acordo Final, o que vem é uma etapa de implementação na qual já não deve haver confrontação. Porém, do que se trata agora é de fazer um esforço de sensatez e entender que, se não criamos um clima de concórdia que alivie as dores da guerra, sobretudo no campo, o que estamos fazendo é colocar obstáculos no caminho que podem ser perigosos para o processo. Não tem sentido que continue havendo destruição e morte se estamos sentados numa Mesa de Diálogo.
Enquanto durou o cessar-fogo unilateral declarado pelas FARC, é absolutamente comprovável que, apesar dos assédios da força pública tantas vezes denunciados pela insurgência, o país pôde observar um ambiente de tranquilidade. Os combates e as mortes alcançaram os níveis mais baixos e até o empresariado pôde realizar com folga seus propósitos. Então, não entendemos porque persistir nessa posição guerreirista e absurda que se resume nesse mito de que se pode dialogar em Havana como se não houvesse guerra na Colômbia, e que se pode manter a guerra como se não houvesse conversações em Havana. A realidade tem mostrado que esse argumento é um sofisma. O cessar-fogo bilateral se converteu numa necessidade e num dever que já não aguenta mais adiamentos.
DE: As FARC pensaram em algum momento em se levantarem da Mesa de Conversações?
JS: Nunca. O mandato que temos de parte de todos os nossos combatentes, homens e mulheres, é empenhar-nos ao máximo na busca da paz, porque esse é o clamor majoritário do povo colombiano.
fonte anncol.eu

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Equipe ANNCOL - Brasil

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