sábado, 11 de julho de 2015

Concretizemos um novo Acordo

La Habana, sede dos Diálogos de Paz, 3 de junho de 2015


Nos encontramos uma vez mais os que representamos as FARC-EP

nos diálogos de paz de Havana, com os plenipotenciários do

governo da Colômbia. O propósito de agora é continuar

atendendo nosso compromisso com a reconciliação

nacional, com a verdade, com as vítimas e sua reparação

integral, e chegar também à formalização de acordos de

não repetição. Se trata de continuar a marcha para a paz.


Todos conhecem o porque de nossa presença em Cuba. Após

décadas de guerra, nenhuma das partes do conflito conseguiu

derrotar a outra; quer dizer, nenhuma foi vencida. Em pé de

igualdade e frente às umas mesmas obrigações e deveres que

surgem do Acordo Geral para a Terminação do Conflito subscrito a

26 de agosto de 2012, os contendores devemos continuar firmes e

resolutos a dar cumprimento à Agenda de Conversações

amplamente conhecida.


O ambiente, no entanto, está carregado de nuvens escuras e

densas que vêm obscurecendo o caminho que nos resta por andar

para chegarmos sem mais contratempos à meta já projetada.


Deploramo-lo. Porém, não fomos os responsáveis pela

terminação do cessar-fogo unilateral e por tempo

indeterminado declarado por nós outros no dia 17 de

dezembro de 2014. Durante mais de cinco meses o

mantivemos com disciplina, gesto que conduziu à redução

de pelo menos noventa por cento das ações de guerra.

Ainda que este resultado é reconhecido por próprios e estranhos, o

certo é que pôde mais o caráter arrogante de quem, como ministro

de Defesa, considerou que o êxito da trégua era sua derrota.


De tal maneira que, sob o pretexto de uma ação defensiva das

FARC-EP sucedida a 14 de maio do presente ano em Buenos Aires,

Cauca –da qual somente agora começa a aflorar a verdade dos

fatos-, lançou a selvagem retaliação que ocasionou o massacre de

dezenas de guerrilheiros que permaneciam em seus

acampamentos atendendo a ordem de alto ao fogo.


Jairo Martínez e Emiro Jiménez, dois de nossos

negociadores em Havana destacados para realizar tarefas

de pedagogia de paz entre nossos combatentes e que

haviam sido postos em terra colombiana em

desenvolvimento de protocolos combinados com o governo,

caíram abatidos em Cauca e em Chocó enquanto realizavam

sua tarefa. Junto com eles morreram outros valiosos combatentes

e também Román Ruiz, comandante da 18ª Frente e

integrante do Estado-Maior Central das FARC-EP.


Não nos é estranho, então, que hoje nos encontremos num

ponto de recrudescimento da confrontação por decisão de

uma contraparte que, frente a nosso gesto de paz,

amplificou seu grito de guerra. Estamos onde o governo quis

nos colocar, conhecedor das consequências: nesta contenda

armada assimétrica e absurda, certamente, não íamos nos deixar

matar.


Porém temos, ademais, o infortúnio de que, neste contexto não

desejado por nós outros, muitos fatos são atribuídos às FARC

ainda que não o sejam, parecendo-se mais a uma pesca em rio

revolto de uma extrema-direita, que não quer o progresso dos

diálogos porque teme mais à verdade do que ao cárcere.


Não obstante o acima exposto, ao finalizar a rodada que hoje

inicia, paralelamente a nossa disposição de desescalar o conflito,

começando para que ninguém se deixe contagiar pela linguagem

guerreirista do anterior ministro de Defesa, que nada resolve,

temos a aspiração de dar boas notícias a nosso país e ao mundo,

al redor do tema de Vítimas e da Comissão para o Esclarecimento

da Verdade, da Convivência e da Não Repetição –se a contraparte

mostra igual determinação-, para concretizar o texto de um novo

acordo. O Cessar-Fogo Bilateral, que é vida para o processo,

não pode continuar sendo reprimido com argumentos

inconsistentes.


DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

--

Equipe ANNCOL - Brasil


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