Por
Nelson Lombana Silva
O
processo de diálogo de paz entre o movimento insurgente das FARC-EP
e o governo Santos que vem se desenvolvendo na gloriosa e invencível
pátria de José Martí, Cuba, sempre transitou pelo fio de uma
navalha ou da espada de Dâmocles. A razão é elementar: Os
interesses das partes em conflito são antagônicos: Enquanto o
governo se obceca em defender os interesses da classe dominante
[oligarquia], o movimento insurgente trata de defender os interesses
da classe dominada [proletariado, povo].
Quer
dizer, as duas concepções de paz que esgrimem são opostas.
Enquanto o governo nacional embandeira a pax romana, a paz dos
vencidos, a paz sem mudanças estruturais, o movimento insurgente
defende a paz com justiça social, isto é, com mudanças
estruturais, com reformas que levem a melhorar as condições de vida
dos 47 milhões de colombianos.
A
complexidade do conflito colombiano, que já supera os 50 anos, não
pode ser resolvida da noite pro dia nem
no tapetão, como
se faz com frequência no congresso nacional para apoiar as leis em
favor da classe dominante e contra a classe dominada.
Fazer
crer ao povo colombiano por meio da força bruta de que três anos
são muitos, não é mais que um ataque adicional da direita e da
extrema-direita em
seus pérfidos interesses de fazer arrebentar o processo de paz que
vem se tecendo em Cuba. Fazem-no não por ingenuidade e sim porque
estão em jogo seus mesquinhos interesses econômicos. A paz para o
povo é um tesouro, para a oligarquia o é a guerra. Guerra que esta
classe decreta, porém que não lhe coloca o peito, porque nem a
classe dirigente nem os generais vão ao combate, vão os filhos do
povo. “A guerra cessará em Colômbia –disse Aída Avella
Esquivel- no dia em que os filhos dos ricos e dos generais forem ao
campo de batalha”.
As ameaças do governo nacional
O governo nacional, em vez de sair a apresentar soluções plausíveis e críveis no momento difícil do processo de paz, sai é a ameaçar, a minimizar sua responsabilidade e a responsabilizar a contraparte, nesta oportunidade, ao movimento insurgente fariano. Como quem diz: De todos os acertos, o responsável é o governo e dos fracassos são os insurgentes. É como dizer: Com cara ganho e você perde com coroa. Bom resulta destacar que o diálogo de paz de Havana não é um monólogo. É um diálogo entre duas partes.
Resulta
estranho e por demais indignante que o senhor Humberto de la Calle
Lombana tenha escolhido a um só jornalista para ameaçar o processo
com sua retirada a qualquer momento da mesa: “Sim, eu quero dizer
às FARC com toda seriedade: Isto pode se acabar. Algum dia, é
provável que não nos encontrem na mesa de Havana”, disse.
Com
que cinismo o senhor de la Calle Lombana tira a responsabilidade do
Estado e a adjudica à guerrilha...
O
movimento insurgente, a partir de um momento, propôs o cessar-fogo
bilateral, deu exemplo por mais de três meses com a iniciativa
unilateral. Qual foi a resposta do Estado? Escalar o conflito em
todas as suas formas e manifestações, fazer fracassar a decisão
unilateral do movimento fariano e incrementar a política
imperialista dos Estados Unidos de terra arrasada como em 1964, no
marco do Plano LASO [Latin American Security Operation]. Se
intensifica o conflito. Enquanto caem guerrilheiros, campesinos e
inocentes do povo, não é problemas para o governo nacional, o
problema é quando caem militares, helicópteros e produtos que as
multinacionais e transnacionais estão roubando. Será que ao
presidente Santos ou à oligarquia colombiana lhes dói que caiam
soldados em meio a este cruento conflito? Evidentemente que não,
lhes dói é sentir sua incapacidade de derrotar ao contendor.
Muitas
das respostas que Humberto De la Calle Lombana dá ao jornalista
“preferido” da burguesia, Juan Goosaín, são infantis, torpes e
medíocres. Por exemplo, quando diz que não é possível o
cessar-fogo bilateral porque há outras fontes de violência. É uma
resposta para idiotas e o povo colombiano não é idiota. A quem
enganas, avô!, diria a canção colombiana.
Diríamos
que o governo nacional está preparando o terreno, se por acaso saem
os diálogos ou não saem, tendo em conta o difícil momento que está
atravessando. Nesse plano tático e perverso, aliás, pretende
reduzir à sua mínima expressão a contraparte, neste caso, ao
movimento guerrilheiro. Se o processo sai, deixá-lo sem base
social, e se não sai, pois, responsabilizá-lo pelo fracasso e, como
Pilatos, lavar as mãos. Quer dizer, o governo nacional ganha com
cara e a guerrilha perde com a coroa.
Dizer,
por exemplo, que a dificuldade crítica do momento é pelos recentes
fatos de guerra ao parecer da guerrilha é outra infame mentira. O
problema de fundo é outro. São
as causas reais que deram origem ao conflito e que o governo pretende
subestimar para supostamente fazer uma paz exprés e grátis.
As
contradições do governo são de fundo, se encontra frágil e com
pouca capacidade de resposta para ceder e dar mostras reais de querer
a paz para os colombianos e as colombianas. Se decompõe
perigosamente em seu próprio estrume e cede ante a pressão da
extrema-direita que o narcoparamilitar Álvaro Uribe Vélez encarna.
A iniciativa perversa desse senador mafioso de criar “zonas rurais
de concentração” [cárceres], para ali meter a guerrilha, sai o
senhor De la Calle a defendê-la. Diz: “Me parece sumamente
construtiva. E creio que o ex-presidente Uribe tem razão”.
Talvez
a única coisa certa que o governo diz através de De la Calle
Lombana é “que o processo de paz está no pior momento desde que
iniciamos as conversações”. Há muitas razões; entre outras, o
governo não quer se comprometer. Para a mostra, um botão: O Plano
Nacional de Desenvolvimento.
Que
paradoxo que também há que analisar: Enquanto o governo sai a
lançar cortinas de fumaça de tal magnitude, o movimento fariano
propositivo uma vez mais chama a implementar já os acordos sobre os
cultivos ilícitos. Não é esta uma iniciativa audaz e séria, se se
trata de gerar entre o povo credibilidade no processo? Por que os
meios não dão primeiras páginas a uma extraordinária iniciativa
desta natureza?
O
povo, apesar de sua incomunicação e da constante ameaça por parte
do Estado, deve se movilizar em conjunto e sem vacilações em defesa
dos diálogos de Havana [Cuba], deve exigir o cessar-fogo bilateral e
que as partes não se levantem da Mesa até que não haja um acordo
que satisfaça as expectativas das partes com fundamento no acordo
subscrito. O pior erro que o povo poderia cometer é ficar de braços
cruzados e permitir que a burguesia, através de seus meios de
comunicação, imponha a dinâmica da guerra como a única saída.
--
Equipe
ANNCOL - Brasil
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