Em 18 de junho de 2015, o Papa Francisco apresentou ao mundo sua encíclica Laudato si [Louvado sejas], subtitulada “Sobre o cuidado da casa comum”, que não é outro lugar senão a Terra, nosso planeta.
Em apenas uma semana após ter sido publicado, este documento foi celebrado por milhões de pessoas em diferentes latitudes, como a expressão de uma nova visão, avançada e pragmática, frente a problemas cruciais que em matéria de economia, política, modelos de desenvolvimento, mudança climática, biodiversidade e das desigualdades que o planeta enfrenta dentro de um rumo de depredação, que se não recebe um golpe de leme, pelo efeito do “consumismo extremo” e da desfiguração dos valores humanos que o capitalismo entranha, nos conduzirá ao caos e à destruição.
Numa de suas tantas reflexões importantes, o Papa Francisco disse que convida “todos a se deterem a pensar nos desafios sobre o meio ambiente”, acrescentando que “necessitamos de um novo diálogo sobre o modo como estamos construindo o futuro do planeta”, ideias absolutamente acertadas, que convocam à construção coletiva do outro mundo possível no qual as necessidades básicas do conjunto da humanidade estejam solucionadas, num ambiente de paz, dignidade e justiça.
Observamos esta encíclica como um importante instrumento de reflexão para os povos e os governos do orbe, que pode contribuir na busca de formulações e práticas que abram caminhos para a concretização de um mundo em que se superem as desigualdades e se conquiste um estágio de equilíbrio entre o ser humano e o conjunto da natureza, de maneira tal que seja efetivamente a casa comum da humanidade na qual possamos conviver, cuidando-a, sem abusar de seus dons e possibilidades, pensando no bem-estar de toda a sociedade.
Dentro desta perspectiva, a Encíclica Laudato Si pode ser um instrumento para pensar os tempos de hoje em função do futuro, atuando em defesa do gênero humano e da natureza como um só conjunto indissolúvel, interdependente, que requer profundas e urgentes mudanças no modo de vida, até alcançar uma era pós-capitalista, que garanta a sustentabilidade do planeta. Isto obriga, para o caso da Colômbia, no caminho de forjar a paz, a pôr freio também à exploração depredadora e à pilhagem dos bens comuns de sobrevivência coletiva, reunindo vontades, organizações políticas e sociais, ao movimento popular em geral, numa alternativa de mudança sem mais delongas, porque não é possível dar um salto para novos cenários de convivência, sem conflito, fazendo abstração das causas que o geraram. Há que apontar a resolver os problemas que originaram a confrontação, observando na defesa dos direitos fundamentais, materiais e espirituais, e em convocar como nunca a proteção da Mãe Terra.
Neste plano de ideias, a discussão e a reformulação de políticas neoliberais sobre assuntos tais como a exploração mineiro-energética desenfreada, e a própria exploração agroindustrial desmedida que inclui a estrangeirização da terra, que hoje por hoje se aventuram em nosso país, por exemplo, estão na ordem do dia esperando acordos que beneficiem a nação e sobretudo aos pobres.
Saudamos a coragem do diagnóstico que o Papa Francisco faz, com uma visão inclusiva e esperançosa, com uma perspectiva histórica e de futuro possível, para enfrentar com determinação e inteligência os abusos dos poderes econômicos e políticos que prostram a Terra degradando-a, submetendo milhões de seres à fome, à penúria, à miséria e à inconformidade que, não poucas vezes, pende para a rebelião como direito dos povos a se levantarem contra os regimes injustos.
Desde a insurgência fariana, em meio a uma inconformidade agudizada pelo aprofundamento da miséria e das desigualdades, cremos que existem em Laudato si formulações que podem contribuir para encontrar saídas para muitas das contradições que fazem com que a guerra persista. Porém, para que as propostas de ordem econômica, social, política, cultural e ambiental sejam debatidas sem a explosão de mais ações de força de lado a lado, que podem frustrar o processo de paz que promovemos, urge pactuar medidas racionais e razoáveis, como a do cessar-fogo bilateral, que vão criando condições para chegar ao Acordo Final, não para que tudo continue igual em benefício de um punhado de ricos e de multinacionais, mas sim para construir o bem viver, o bem-estar coletivo.
Tradução de Joaquim Lisboa Neto
La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, junho de 2015
--
Equipe ANNCOL - Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário