quarta-feira, 14 de maio de 2014

FARC solicita ser retirada da lista de organizações terroristas da UE

Por  Norberto Paredes, da Comissão Internacional





Hoje, quando o governo colombiano e a comunidade internacional nos reconhecem, à luz das conversações de Havana, como interlocutor de fato e de direito, não tem sentido que estados europeus continuem nos tachando de terroristas e pretendam nos impedir de contar a seus povos a verdade incômoda que o regime pretende ocultar. E já é hora de que a União Europeia remova as FARC de sua arbitrária lista de "terroristas" e permitam a abertura de um escritório de representação político-deplomática que funcione com todas as garantias cabíveis. Essa seria sua melhor contribuição para a paz da Colômbia.

A mobilização das FARC-EP pela Europa

Neste ano de 2014, que começou com renovados esforços e brios para conseguir a tão sonhada solução política para o conflito social e armado que dessangra a nossa Pátria, marca mais um ano desde que nossa organização começou a desenvolver um fundamentado e entusiasta trabalho político-diplomático no chamado "velho continente".

Para entender como e por que as FARC direcionaram seu olhar para a Europa, é preciso analisar o contexto histório e político-militar em que se decidiu cruzar o eceano Atlântico para dar a conhecer nossa realidade e nosso projeto revolucionário. De fato, se bem que já existia de antemão um trabalho internacional da organização, é na Oitava Conferência Nacional das FARC-EP, realizada em 1993, quando se decide conferir um caráter estratégico.
A etapa posterior aos diálogos de Cravo Norte, Caracas e Tlaxcala (30 de abril de 1991 - 5 de maio de 1822), frustrados pelo governo neoliberal de César Gaviria Trujillo e pelo imperialismo norte-americano, esteve marcada pelas crescentes e cada vez mais impactantes ações militares da guerrilha contra as forças armadas e de segurança do regime oligárquico. Fechados todos os espaços democráticos devido aos massacres indiscriminados e assassinatos seletivos de opositores e desconformes, e com o genocídio político da União Patriótica em pleno apogeu, com o auge da luta do povo em armas, ficou claro que a correlação de forças com o inimigo ia sendo redefinida no campo de batalha.

Isso, naturalmente, expunha a necessidade de analisar e implementar planos e políticas em todos e cada um dos terrenos referentes às condições objetivas e subjetivas que, em última instância, influem e até determinam os avanços ou retrocessos de qualquer processo revolucionário.

O fator internacional, naturalmente, passou a ter um peso específico maior em nosso Plano Estratégico para a tomada do poder pelo povo, tanto em sua dimensão objetiva, ou seja, dos equilíbrios e contradições entre blocos e potências imperialistas, do impacto geopolítico do desmoronamento do campo socialista, etc., como na subjetiva, referida ao estado do movimento comunista e revolucionário no mundo e ao começo do processo de mudanças na América Latina a partir da vitória do Comandante Hugo Chávez nas eleições presidenciais venezuelana em 1998, entre outros.

Diante de um mundo cada dia mais convulsionado e permeado pela incerteza e pela debandada ideológica, política e ética de amplos setores outrora de esquerda, nosso entranhável camarada Manuel Marulanda Vélez, qual estrategista visionário, expôs que se tornava imprescindível tecer uma teia de aranha de relações políticas e diplomáticas com a maior quantidade possível de governos, forças políticas e sociais no mundo inteiro para ir semeando o terreno do qual brotaria, primeiro, o reconhecimento da insurreição revolucionária como força beligerante, para o que cumprimos todos os requisitos apontados no Protocolo II adicional dos Convênios de Genebra; e depois, o reconhecimento do novo governo, que se instauraria como resultado de uma grande ofensiva guerrilheira combinada com uma insurreição popular das massas camponesas, operárias, indígenas, estudantis e de todos os excluídos.

Além disso, é preciso levar em conta que as relações internacionais de múltiplos níveis são um elemento chave para acompanhar e facilitar a busca de um caminho diferente ao da guerra.

É dentro deste quadro conceitual e estratégico que se deve olhar a iniciativa diplomática das FARC-EP na Europa, empreendida com força depois da Oitava Conferência através do lançamento oficial da Comissão Internacional encabeçada pelo camarada Raúl Reyes.

É preciso dizer que o primeiro passo foi dar a conhecer a situação da Colômbia, sua história contemporânea, mas fazendo uma digressão também à época da colônia e da epopeia das gestas pela independência da Espanha. Havia que dar a conhecer as causas que geraram e que continuam alimentando o conflito social e armado e as propostas das FARC para superá-lo. Sem dúvida alguma também o público europeu, nos mais diferentes cenários, mostrou seu interesse pelas modalidades organizativas e pelo perfil ideológico de uma guerrilha que, sendo a mais antiga da Nossa América, estava se apresentando aos povos europeus anos depois de que tenho feito também outros movimentos de libertação nacional latino-americanos, já desmobilizados ou em claro recuo.

Os representantes das FARC não apenas ganharam o respeito do inimigo de classe, ou seja, do governo e até de setores empresarias, por sua capacidade diplomática e seriedade, mas também colheram a simpatia, o respaldo e a solidariedade de inumeráveis partidos, movimentos sociais, sindicatos e organizações revolucionárias que admiram, sobre todas as coisas, a tenacidade e a coerência ideológica das FARC, sua solidez e sua perseverança, tremendamente resgatáveis em um momento histórico prenhe de cantos de sereia sobre o fim da história, da perda de vigência da luta armada e outras narrativas dos vendedores de cortina de fumaça a soldo da grande burguesia.
Centenas foram as reuniões, fóruns, palestras, seminários, conferências, passeatas e greves em que a insurreição marquetaliana (da região de Marquetalia) entregou e recebeu apoio, solidariedade internacionalista, aplausos e, inclusive, contribuições e sugestões construtivas. Embora não tenham faltado provocadores e franco-atiradores reacionários, cavaleiros da alienação midiática e da desinformação estratégica, a diplomacia guerrilheira conseguiu posicionar em poucos anos a luta do povo colombiano e seus sonhos de paz com justiça social nas agendas de governos e instituições de diferentes níveis, assim como dos movimentos sociais e contestatários de vários países europeus.

Essa atividade, que se viu refletida na participação internacional nos diálogos de Caguán (de San Vicente del Caguán), assustou o regime colombiano e Washington, cujas tentativas permanentes e nos desprestigiar e nos caluniar se viram ridicularizadas em mais de uma oportunidade, justamente em território europeu, com o próprio ex-presidente Pastrana (Andrés Pastrana -1998-2002) tendo que reconhecer isso em seu momento.

Aproveitando os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e o rompimento posterior dos diálogos de San Vicente del Caguán em fevereiro de 2002, o imperialismo forçou que se incluísse as FARC e o ELN na lsita de organizações "terroristas" da União Europeia. A essa ilegítima e arteira medida de caráter supranacional se somaram outras da UE e de alguns de seus países membros, como a perseguição e o julgamento de companheiros e companheiras europeias ou colombianos refugiados nesse continente, por terem expressado solidariedade com a luta das FARC ou simplesmente terem condenado a barbárie da política de "segurança democrática" do narco-paramilitar Uribe Vélez. Este, durante seus dois mandatos, não poupou esforços para isolar e caluniar a insurreição colombiana, contando com certa colaboração de autoridades europeias no momento de nos impedir de expressar nossos pontos de vista como parte beligerante que somos.

Traduziu: Luiz Manuel Cano Prestes

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