sábado, 17 de maio de 2014

Que o povo governe

Por Iván Márquez
Integrante do Secretariado das FARC-EP




A atual campanha presidencial causa indignação e produz asco. Os colombianos queríamos ver bandeiras programáticas estendidas, mas só vemos flamejar as bandeiras da ruindade e da miséria política.

Quisemos sempre conhecer  dos candidatos à Presidência argumentos políticos e sociais, opções e projetos de estadista para conduzir a pátria para adiante, a visão de um país sem desigualdades, mas só ouvimos as diatribes coléricas e a incitação ao ódio, trinos que não são cantos, mas sim chilreios de "pássaro" da violência (paramilitar do período de "La Violencia", entre 1948 e 1958) que se replicam com argumentos esfarrapados.

Sendo a paz a bandeira estelar da campanha eleitoral, observa-se com preocupação em alguns candidatos uma ignorância suprema sobre o real estado das conversações e os avanços do processo de paz. Seja quem for o Presidente, não terá um desafio mais importante do que o de assinar a paz, o fim do conflito sobre bases sólidas proporcionadas por mudanças que impliquem democracia verdadeira e um estado de bem viver para o povo comum, mudanças que esse povo vem esperando a vida toda.

A Colômbia está farta de personagens como J.J.Rendón, Chica e dos "Comba", de milhões de dólares mal-havidos impulsionando campanhas presidenciais; a Colômbia está cansada da "ydispolítica", dos gramps feitos pelo então DAS (Departamento Administrativo de Segurança, a narco-policia política do regime), da inteligência militar ou diretamente da CIA. É "guerra suja", grita um lado; não, é um crime, responde o outro; cansada do direitista Hoyos, do "harcker", de demandas por calúnia, de água suja para cá, água suja para lá e para lá de uma minoria plutocrática, enquanto os colombianos com olhar de perplexidade, contemplam a degradação da política e a atitude desavergonhada, desrespeitosa de elites mafiosas que sequestraram o Estado para seus próprios benefícios, com o biombo de um sistema eleitoral totalmente deslegitimado.
A política na Colômbia tem que mudar para o bem de todos e, principalmente, para assentar as bases da paz com justiça social, com democracia verdadeira e soberania, o que somente pode ser conseguido rumo a uma Assembleia Nacional Constituinte.

"Já basta", é o grito que brota de milhões, de gargantas e punhos crispados. Temos sido mal governados, enganados, reprimidos com violência, castigados com o chicote desumano dois lucros capitalistas, e com a entrega de nossas riquezas às transnacionais em atitude impune de lesa pátria. Tudo está sendo privatizado e o Estado esqueceu suas obrigação de garantir o bem-estar ao povo. Tratam-nos com desrespeito, nos humilham.

As organizações sociais e populares, hoje mobilizadas em todo o território nacional, ao reclamar aos surdos contumazes seus direitos, estão chegando a um momento em que já não têm outra opção senão se unir a uma grande frente política, em uma alternativa multitudinária que convoque os de baixo, as camadas médias, a juventude e as mulheres, os indígenas e os afro-descendentes, todos, para colocar no Palácio de Nariño  a força das maiorias, a vontade nacional e a razão, o sentir comum e a dignidade; quer dizer, o protagonismo do povo soberano, para que, de uma vez por todas, os usurpadores, essa minoria oligárquica que desde 1830 tomou o governo para enriquecer e defender seus interesses egoístas, cesse em sua depredação.

Como nos tempos de Gaitán, a Colômbia continua clamando pela restauração moral da República e da mudança já; não é demagogia barata que só produz mudanças para que tudo continue igual. O povo tem direito a ser governo. Que o povo governe!

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