Por
Iván
Márquez
Integrante
do Secretariado das FARC
O
presidente da Colômbia, que assume um processo de paz com as FARC em
Havana, Cuba, afirmou em recente teleconferência com os chefes
militares que "é preciso manter a ofensiva: aqui não vamos
deixar de atuar com contundência em toda atuação de nossas forças
armadas contra a guerrilha, enquanto não chegar o momento em que
assinemos os acordos".
Torna-se
paradoxal e incoerente que um homem que fez da paz a bandeira de sua
campanha pela reeleição à presidência, ordene, ao mesmo tempo,
seus oficiais a pressionar com mais operações militares a
insurreição guerrilheira com a qual dialoga.
Somente
em Macondo (aldeia ficticia da obra Cem Anos de Solidão) acontece
de um Presidente porta-bandeira da paz ser, ao mesmo tempo,
porta-bandeira da guerra. E somente seus governantes, que vem
respirando durante décadas a loucura da violência, horrorizam-se
quando o anelo de paz se ergue como esperança possível e, então,
ordenam, disparar contra ela e bombardeá-la a fim de matá-la.
Preferem a paz dos sepulcros à paz com mudanças sociais, econômicas
e políticas.
Fazer
concessões à guerra, jogando a paz ao fosso dos leões da disputa
eleitoral, é um despropósito, um insulto ao sentimento de
reconciliação das maiorias nacionais.
E
é justamente a esse cenário contaminado de militarismo do regime e
em absurdo contraste que nos deve chamar à reflexão, que nos chega
o importantíssimo apoio ao processo de paz da Colômbia, apoio
enviado por mais de duzentos parlamentares dos Estados Unidos e da
Europa, ao qual agradecemos em nome do país que anela a
reconciliação.
A
confiança e o otimismo que os amigos de paz para a Colômbia têm
nos diálogos de Havana, estimula-nos a seguir em frente e, com eles,
compartilhamos que a única opção para conseguir uma paz
efetiva e duradoura é através da solução política que, sem
dúvida, deve ter início ao se tomar as medidas necessárias para
reduzir o custo humanitário do conflito. E é a partir desta
consideração, exatamente, que deriva a nossa posição constante a
favor de um cessar-fogo que alivie as aflições e penúrias do
conjunto da população, e nossa disposição de assumir uma trégua
bilateral nos termos propostos pelos parlamentares de Washington,
Londres, Dublín e Belfast, ao se unirem ao clamor nacional.
É preciso fazer pela paz até o impossível porque ela
é a síntese do grande direito, sem o qual nenhum outro direito é
viável. A direita guerreirista que impôs a injustiça e a exclusão
não vai nos condenar a uma guerra perpétua.
A Colômbia toda, a urbana e a rural, a negra e a indígena, a das camadas médias e dos estratos baixos, deve se levantar e andar para defender o bem sagrado da reconciliação e da paz. Esta oportunidade de paz pertence ao povo e somente o povo é soberano e tem o direito de definir seu rumo.
O
sonho de paz dos colombianos não está sozinho. Esperamos o reforço
dos povos o mundo para que a reconciliação nesta esquina do norte
da América do Sul seja, finalmente, uma realidade para seus
habitantes e exerça sua influência benéfica no resto do
continente.
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