sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A PIOR SEXTA-FERIA 13 DA HISTORIA DO BRASIL-OS 45 ANOS DO AI-5-COMO O BRASIL SUCUMBIU AO TERROR DE ESTADO

"E você tendo ido, não pode voltar, quando sai do azul e entra nas trevas" (Neil Young, "Hey Hey My My") O 13 de dezembro de 1968 também caiu numa 6ª feira -a mais nefasta da História brasileira. Foi quando o ditador Arthur da Costa e Silva, seu vice Pedro Aleixo, 15 ministros de Estado, o chefe do SNI e futuro ditador Emílio Garrastazu Médici, os chefes do Estado Maior das três Armas e os chefes dos gabinetes Civil e Militar, com uma simples canetada, deram sinal verde para torturas, assassinatos, estupros, ocultação de cadáveres e todo o festival de horrores dos anos subsequentes. Desses 24 sinistros personagens, apenas dois permanecem vivos: o então ministro do Trabalho Jarbas Passarinho, cujas convicções até hoje são as de uma ave de mau agouro; e o ministro da Fazenda Delfim Netto, que não se arrepende da assinatura infame e afirma que, apresentando-se as mesmas circunstâncias, voltaria a proceder da mesma maneira. O golpe dentro do golpe, que levou ao paroxismo o fechamento ditatorial do País, foi o lance decisivo da disputa interna entre a linha dura militar (que queria radicalizar o arbítrio) e os conspiradores originais (oficiais veteranos da participação brasileira na 2ª Guerra Mundial). Os últimos, encabeçados por Castello Branco, pretendiam usurpar o poder por pouco tempo. Falavam numa intervenção cirúrgica, durante a qual imporiam mudanças que modernizassem o Estado e enfraquecessem a esquerda (por meio de prisões, perseguições, cassações, extinção de entidades legais, etc.). Aprenderam, contudo, que implantar uma ditadura é bem mais fácil que dar-lhe fim ... As duas posições competiram acirradamente pela hegemonia na caserna ao longo de 1968, mas o crescimento dos movimentos contestatórios fez a balança pender para o lado dos ferrabrases. Estes iam ao encontro da cultura de intolerância que grassava (e ainda grassa) nos quartéis, pois se propunham a dotar o regime de meios para reagir com maior contundência às manifestações de rua e ao desafio das organizações armadas, passando por cima dos direitos humanos e das garantias constitucionais. Signatários do AI-5 que continuam vivos: Delfim e Passarinho Pesaram também os interesses mesquinhos dos oficiais das três Armas, seduzidos pelas perspectivas que o prolongamento do regime de exceção e a ampliação dos poderes ditatoriais abriam para seu enriquecimento pessoal: •os da ativa, como gestores de um setor estatal que estava sendo cada vez mais inflado, ou como beneficiários de suas boquinhas; e •os da reserva como facilitadores dos favores oficiais (quase todos os grandes grupos privados contrataram milicos de pijama para integrarem seus conselhos de administração, como forma de terem seus interesses contemplados nos altos escalões governamentais). O pretexto para a nova virada de mesa foi um discurso exaltado do deputado Márcio Moreira Alves numa sessão esvaziada (o chamado pequeno expediente) da Câmara Federal, no início de setembro de 1968. Tratava-se de uma lengalenga sem verdadeira importância (incluía até uma sugestão às moças, de que não namorassem alunos das academias militares -vide aqui), proferida apenas para constar dos anais e poder ser exibida depois aos eleitores, quando ele lhes fosse pedir votos no pleito seguinte. Mas, um jornalista reacionário vislumbrou a oportunidade de uma provocação e trombeteou-a; em seguida, os partidários do enrijecimento a divulgaram amplamente, mimeografada, entre os fardados, insuflando a indignação. Castello Branco queria ditadura transitória. Não deixaram As Forças Armadas se declararam atingidas e o governo pediu ao Congresso Nacional a abertura de um processo visando à cassação de Moreira Alves. Os parlamentares, depois de em tantas ocasiões e tão vergonhosamente se prostrarem aos ultimatos da caserna, daquela vez rechaçaram o pedido, temendo que outras cabeças fossem exigidas na sequência e a caça às bruxas acabasse extinguindo o mandato de muitos deles. Pateticamente, cantaram o Hino Nacional, sem perceberem que tinham é escancarado as portas do inferno. A resposta da ditadura foi imediata e a mais tirânica possível: colocou os Legislativos federal e estaduais em recesso e impôs à Nação, na marra, novas e terríveis regras do jogo. O presidente da República (escolhido por um Congresso Nacional expurgado e intimidado) passou a ter plenos poderes para cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos, demitir ou aposentar juízes e outros funcionários públicos, suspender o habeas-corpus em crimes contra a segurança nacional, legislar por decreto e julgar crimes políticos em tribunais militares, dentre outras medidas totalitárias. Principal ferramenta do terror de estado, o AI-5 só seria atirado na lixeira dez anos depois. Nesse meio tempo, centenas de resistentes foram executados, dezenas de milhares torturados, mais de uma centena de parlamentares cassados, um sem-número de funcionários públicos demitidos, a arte amordaçada (mais de 500 filmes, 450 peças teatrais, 200 livros e umas 500 canções sofreram os rigores da censura), etc. Quando os gorilas saíram do armário, o Brasil entrou no período mais bestial e vergonhoso de sua História UM DEPOIMENTO PESSOAL Movimento estudantil foi duramente atingido em Ibiúna Para jovens estudantes que, como eu, ingressaram na luta a partir do novo ascenso do movimento de massas, aquele agourento 13 de dezembro de 1968 marcou o fim da aventura e o início da tragédia. Passáramos o melhor ano de nossas vidas descobrindo a luta e descobrindo-nos na luta. Aí veio a fascistização total e, diante da alternativa desistir x perseverar, fizemos a opção digna... que se revelaria das mais sofridas. Então, o AI-5 foi o divisor de águas entre o 1968 exuberante e o 1969 soturno. Entre o enfrentamento a céu aberto e o martírio nos porões. Entre a luta travada ao lado das massas despertadas e a luta que travamos sozinhos em nome das massas amedrontadas. Meu avô morreu quando meu pai tinha 11 anos. Como era o primogênito, minha avó fez com que começasse imediatamente a trabalhar numa fábrica escura, barulhenta e empoeirada, burlando a legislação que exigia idade mínima de 14 anos. Passou o resto da vida lamentando a responsabilidade que desabou cedo demais sobre seus ombros. Num dia, estava despreocupadamente jogando bola no campinho ao lado de sua casa. No outro, esfalfando-se oito horas seguidas para colocar o pão na mesa familiar. O AI-5 teve o mesmo efeito sobre mim. Até então, a militância era puro deleite. De um momento para outro, tornou-se um pesadelo que me deixou em frangalhos, além de tragar alguns dos meus melhores amigos e muitos companheiros estimados. Parafraseando a bela canção de Neil Young, foi a saída do azul e entrada nas trevas. Texto de Celso Lungaretti, jornalista, escritor e ex-preso político, extraído do blogue Náufrago da Utopia

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Montanhas de Colômbia, 8 de Dezembro de 2013-Cessar de fogos e hostilidades-Comunicado do Secretariado do Estado Maior das FARC-EP

Em 9 de dezembro de 1990, o governo de César Gaviria Trujillo desatou uma enorme operação militar contra o acampamento principal do Secretariado Nacional das FARC-EP em Casa Verde. Uma comissão enviada pelo Presidente havia visitado nossa comandância dias atrás, com o propósito de explorar a vontade de paz de nossa organização, e expedido posteriormente um comunicado público reconhecendo nossa inteira disposição ao diálogo. O começo da operação Casa Verde coincidiu com as eleições populares para membros da Assembleia Constituinte, satisfazendo, assim, a possibilidade de nossa participação nela, apesar dos prévios oferecimentos oficiais de um par de cadeiras. Com o surpreendente ataque, que pôs fim aos diálogos de paz iniciados sete anos antes com o Presidente Betancur, se pretendeu absurdamente nossa aniquilação pela força, para somá-la ao extermínio já iniciado contra a União Patriótica e o conjunto do movimento popular em todo o país. Vinte anos depois, com uma média de dezenas de milhares de mortos, além da infinidade de horrores que esta confrontação tem deixado na Colômbia, a administração de Juan Manuel Santos adianta conosco um processo de conversações em busca da paz. Contrariamente ao nosso anseio de adiantar os referidos diálogos sem os sobressaltos dos combates, o governo nacional segue insistindo em sua fórmula de negociar em meio à confrontação, para o qual se rearma e aumenta o pé de força sem reparar em custos. As que o Presidente Santos denomina regras do jogo significaram de entrada o assassinato do Comandante Alfonso Cano e implicado no reforço permanente e crescente da atividade militar do Estado contra todas nossas unidades. Soldados e policiais derramam também desnecessariamente seu sangue, frente a uma opinião nacional que observa com perplexidade o estranho coquetel de diálogos e morte com que o governo nacional concebe a reconciliação. A vontade de paz não pode nascer da arrogância militarista. Muito se fala e exige de gestos que enviem sinais positivos ao país e à comunidade internacional. Porém, por toda Colômbia recrudescem as operações de extermínio por conta das tropas governamentais. Desde Nariño e Cauca até Arauca e o Catatumbo, assim como da Guajira ao Putumayo, os bombardeios, os metralhamentos, os desembarques e a ocupação, com todas as suas sequelas de crimes, aumentam e se agudizam com fanatismo sanguinário, pondo de presente a vontade real que encoraja o governo nacional. Ao levantarmo-nos, sabíamos bem o tratamento que receberíamos do Estado terrorista colombiano. Por isso, sobrevivemos durante meio século e nos sentimos em condições de resistir outro tanto se for necessário. Porém, cremos com sinceridade que nossa pátria não merece este dessangramento. E é por isso que, assim seja de maneira unilateral, procedemos a ordenar a todas as nossas unidades guerrilheiras e milicianas um cessar de fogos e hostilidades por 30 dias a partir das 00:00 horas do próximo 15 de dezembro, correspondendo assim a um fundo clamor nacional. Simultaneamente, ordenamos permanecer alerta ante qualquer operação inimiga, a qual deverá ser respondida imediatamente. Ainda abrigamos a esperança de que o governo nacional corresponda a nosso gesto, ordenando um alto em sua ofensiva. Os colombianos e o mundo têm de estar atentos à segura investida difamatória e propagandística que, desde muito altas esferas do Estado e das forças armadas, se lançará contra nós como consequência desta declaratória. Ademais de ter claro que somos, na realidade, os que apostamos com honestidade na paz em nosso país, a opinião nacional e internacional poderá ler nas declarações oficiais e nas operações militares de provocação ordenadas desde o Ministério de Defesa, a verdadeira condição do regime colombiano, uma democracia falsa, violenta, excludente a cínica. Não mudaram muito as coisas desde os tempos de Gaviria. Também ele ensaiou um processo de paz conosco em Caracas e Tlaxcala, após o qual declarou a guerra integral para acabar-nos em dezoito meses. Seu governo iniciou a aplicação rigorosa das políticas neoliberais que exigiam a liquidação da luta popular na Colômbia, as mesmas que hoje aprofunda ao extremo e com igual violência a chamada Prosperidade para Todos. Uma obscura sombra assoma no horizonte da pátria ao confluir estas duas vertentes nas aspirações reeleitoreiras. SECRETARIADO DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP

La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 7 de dezembro de 2013-SAUDAÇÃO AO XVIII FESTIVAL MUNDIAL DA JUVENTUDE E DOS ESTUDANTES

La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 7 de dezembro de 2013 SAUDAÇÃO AO XVIII FESTIVAL MUNDIAL DA JUVENTUDE E DOS ESTUDANTES Nos somamos ao clamor de unidade contra o imperialismo que a juventude lançou na perspectiva de conquistar um mundo em paz, solidariedade e com transformações. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo, FARC-EP, aderem à alegria e combatividade dos milhares de jovens do mundo que acorreram ao XVIII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, em Quito, Equador, em cujas encostas o general Sucre travou a batalha de Pichincha, fazendo tremular a bandeira da liberdade e da independência de Nuestra América. Este histórico encontro recolhe o legado das lutas anti-imperialistas, antifascistas e de resistência das novas gerações, que por mais de 60 anos têm impulsionado a concretização de uma nova sociedade verdadeiramente emancipada. A juventude rebelde do mundo tem hoje por diante a construção de uma alternativa global ante a crise civilizatória provocada por um capitalismo monopólico gerador de injustiça e desigualdade, que pretende condenar a humanidade inteira à miséria, à guerra e à destruição. Desde a guerrilha das FARC-EP, composta também por milhares de jovens colombianos que tomaram as armas em prol do socialismo e da causa bolivariana, nos sentimos irmanados com as lutas desenvolvidas pelos jovens do mundo contra o imperialismo e o grande capital, pela paz e soberania dos povos, pela conquista dos direitos juvenis, do emprego digno, da educação para todos e todas, da democratização da cultura, das artes e da tecnologia, das liberdades sexuais, da equidade de gênero, da defesa do planeta e do bem-estar da humanidade, entre tantas outras, que devem reforçar o projeto de uma nova época na qual impere a justiça e a dignidade. Nossa mais firme solidariedade com os milhões de jovens europeus e norte-americanos submetidos ao desemprego e a precarização por causa da crise do capital; com os jovens da África, que devem combater para arrancar seus povos da inanição e das tiranias; com a juventude latino-americana, que desembainhou novamente a espada de Simon Bolívar, O Libertador, e a pôs a fulgurar por todo o continente; com os jovens do Oriente Médio, que se empenham em projetos soberanos contra as ambições delirantes do imperialismo e do sionismo na região. Para todos os que lutam e resistem sob as bandeiras da FMJD, nossa solidariedade, amizade e fraternidade. Chamamos a todos os assistentes ao Festival a que acompanhem a todo o movimento revolucionário do continente na gesta pela segunda e definitiva independência de Nuestra América, apoiando decididamente os processos de mudança na região nascidos da luta popular, e da crescente resistência dos povos que se estende desde o sul do rio Bravo até os confins da Patagônia. Convocamos vocês a se solidarizarem com a luta da juventude e do povo da Colômbia, que hoje segue em combate por uma alternativa diferente da arrasadora devastação neoliberal. Os jovens colombianos enfrentam a mais pesada precarização laboral, o cerceamento de seus direitos básicos, como a saúde e a educação públicas, em meio a uma cruenta guerra que vem ceifando vidas desde há mais de 60 anos. As FARC-EP consideram que é uma inestimável contribuição às lutas democráticas da juventude o respaldo que se proporciona à busca da solução política ao prolongado conflito social e armado que nosso país vive. Solução política que não é outra senão a resolução das causas que deram origem à guerra, e que os colombianos têm sofrido por sucessivas gerações. Pensamos que construir a paz de Colômbia significa avançar com determinação na consolidação da paz e da independência de Nuestra América, como bem quer este Festival, e por isso lhes convidamos a seguir propulsionando o atual processo de diálogo, que, sob a palavra de ordem da democracia verdadeira, da paz com justiça social e da reconciliação se desenvolve em La Habana, Cuba. Lhes auguramos grandes êxitos em suas discussões, comemorações e celebrações. Estamos certos de que, desde a emblemática terra da coronela de guerrilhas Manuelita Sáenz, esta pujante juventude revolucionária do século XXI saberá avançar unida contra o imperialismo, pela paz e pelas transformações sociais. DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP Tradutor: Joaquim Lisboa Neto

La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 4 de dezembro de 2013-Urge integrar a Comissão da verdade da história do conflito interno colombiano

La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 4 de dezembro de 2013 Urge integrar a Comissão da verdade da história do conflito interno colombiano A 5 de agosto do ano em curso, as FARC-EP fizemos uma reiteração enfática informando que, segundo o expressado em múltiplas ocasiões por nossa organização, o Estado é responsável por ação ou omissão do ocorrido durante o conflito político, social e armado que padecemos os colombianos, ressaltando que assim o havia reconhecido o Presidente Juan Manuel Santos ante a Corte Constitucional, após o sugerido pelo informe geral do Grupo de memória histórica. Em meio a esta realidade, insistíamos em que o importante assunto das vítimas deve ser assumido com sensatez, realismo e apego à verdade. Assim, sob estas reflexões propusemos a criação imediata de uma Comissão de nacionais e estrangeiros que estude a história da confrontação desde o início da violência, a fim de preparar o material requisitado para poder abordar com maior conhecimento de causa o ponto da Agenda de diálogos referente a vítimas. Nessa e em diversas ocasiões mais, manifestamos que a Comissão deveria estudar a violência partidarista e sua incidência nas origens e permanência da confrontação como no surgimento da insurgência. Avaliaria a responsabilidade dos governos, dos meios de comunicação, da igreja oficialista, das potências estrangeiras intrometidas [especialmente dos Estados Unidos], dos latifundiários, dos empresários e do setor financeiro, até nossos dias. Para maior rigor histórico, se deverão tomar como parte fundamental da história do conflito os arquivos dos organismos de inteligência dos anos quarenta e cinquenta, do SIC, do DAS, da inteligência da polícia e do exército e demais organismos secretos de inteligência, assim como das atas dos Conselhos de ministros que recolham as ordens de detenção fornecidas pelo governo sem ordem judicial à luz da aberrante faculdade que lhe outorgava o artigo 28 da Constituição antes da promulgação da Carta de 1991. No dia 28 de agosto, mediante uma carta pública dirigida à Delegação de Paz do governo colombiano, a respeito da qual tampouco temos resposta, ao tempo em que reiteramos a proposta de integrar a Comissão de revisão e esclarecimento da verdade da história do conflito interno colombiano, expressamos que o informe geral do grupo de memória histórica exigia ser revisado e complementado, na medida em que, entre outros aspectos, não recolhia os anos de conflito violento entre liberais e conservadores que deram origem ao atual estado de coisas. Dissemos, na ocasião, que, se a concretização desta causa requer uma lei que a autorize, devia apresentar-se o projeto dessa lei com caráter de urgência, e após apreciar positivamente e saudar o Informe Geral do Grupo de Memória Histórica, acrescentamos que é este um instrumento do qual há que retomar várias de suas importantes contribuições, para o qual propusemos escutar na Mesa de Diálogos as pessoas que participaram no estudo. No dia 18 de setembro, novamente as FARC-EP chamamos publicamente o governo a integrar a Comissão de revisão e esclarecimento da verdade da história do conflito interno colombiano, que complemente o informe do grupo de memória histórica e integre outras iniciativas importantes que já existiam ou estavam em marcha, e convidamos os porta-vozes do governo a abreviar a resposta ao país sobre a integração da referida comissão. Tampouco houve resposta. A 6 de novembro, por ocasião do encerramento do ciclo 16 das conversações e fechamento do acordo parcial sobre o segundo ponto da agenda referente à Participação Política, dissemos que urgia a integração consensuada da Comissão da verdade e da responsabilidade histórica do conflito, sobretudo se temos a presteza de abordar um tema tão sensível como o das vítimas. Seguiu reinando o silêncio. Seria impossível levar por bom caminho os assuntos de justiça e verdade que concernem ao processo se não contamos com os insumos que a Comissão deve fornecer. Por isso, no dia de hoje, outra vez insistimos em que o governo deve fazer todo o possível por concretizar sua integração, a qual deverá abastecer os informes que permitam definir as responsabilidades dos que têm sido parte do conflito, mais além dos levantados em armas. Nada nos deve desviar da busca da verdade. Persistir em fazer ouvidos moucos a uma solicitação que expressa o desejo de resolver esta urgente necessidade começa a converter-se num enorme obstáculo para o bom avanço do processo de paz. DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP Fonte: www.pazfarc-ep.org

FARC ratifica disposição de assintar trégua durante o final do ano

Representantes das FARC maniestaram em La Habana, sua disposição de assinar um atrégua bilatera, durante o final do ano, no contexto das Conversações de Paz. O chefe da Delegação das FARC, Iván Márquez, falou sobre essa possibilidade, antes de iniciar uma nova jornada de converesações com a parte governamental, centrada atualmente no tema das drogas ilícitas. Destacou que apesar de que são considerações só, essa trégua ajudaria a consolidar o ambiente favorável para los Diálogos de Paz. Ratificou, também, a postura das FARC de que “se o Governo colombiano não concorda com a possibilidade de um cessar do fogo, pelo menos intentaremos assinar um tratado de regularição para reduzir os efeitos da guerra” Trata-se de uma medida que obriga as partes a atuar dentro dos chamados critérios de civilização, que agrupam uma seríe importante de normas como as compreendidas no Direito Internacional Humantário. As duas Delegações retomaram o processo de conversações a semana passada, para tratar o terceiro dos seis pontos da Agenda, relativo às drogas ilícitas. Fuente: www.telesurtv.net

Presídio político nos Estados Unidos [IXX].Ciberativismo, nova forma de protesto social

O presídio político nos Estados Unidos [IXX] Ciberativismo, nova forma de protesto social Por Salvador Capote ALAI AMLATINA, 03/12/2013.- Em 15 de novembro de 2013, o intruso informático [“hacker”] Jeremy Hammond, vinculado com Anonymous, foi sentenciado a 10 anos de prisão e mais 3 anos de liberdade supervisionada, por realizar ataques cibernéticos a várias agências governamentais e corporações, em particular a “Strategic Forcasting Inc.”, mais conhecida por “Stratfor”, companhia privada de inteligência global. Hammond transferiu correios eletrônicos de Stratfor ao grupo anti segredos WikiLeaks. Os documentos publicados até agora se relacionam com clientes como Goldman Sachs e Coca-Cola. Seu ciberativismo foi motivado pela preocupação ante o crescente papel que desempenham firmas privadas na obtenção de inteligência tanto dentro dos Estados Unidos como no exterior. “Como resultado do ciberataque a Stratfor – declarou Hammond na corte – se conhecem agora alguns dos perigos da indústria de inteligência privada’. Hammond, com o pseudônimo de “Anarcaos”, subtraiu, num de seus ataques a Stratfor, 200 gigabaites de informação confidencial e pôs seus computadores fora de serviço durante seis semanas. Sarah Kinster, advogada de Hammond, alegou que nada do feito por este tinha por objetivo lucros pessoais e suas ações não eram outra coisa que uma nova forma de protesto. Os Estados Unidos são o país dos segredos de Estado. A cada ano classifica quantidades colossais de informação. Cada documento secreto que se relaciona com um trabalho sujo realizado pela CIA, pelo FBI ou outra agência governamental gera novos documentos secretos que se referem às ações posteriores imprescindíveis para ocultar a ação ilegal primária, do mesmo modo que uma pessoa mentirosa está obrigada a seguir mentindo para evitar que descubram suas patranhas. O fato de que nunca antes a direção política dos Estados Unidos se comportou de maneira tão distanciada da ética, tanto na esfera nacional como na internacional, e nunca, portanto, se viu em maior necessidade de ocultar tanta informação a seus cidadãos, dá origem a uma nova forma de protesto social, a de pôr em conhecimento da população o que se mantém em segredo, não porque tenha valor algum para a segurança nacional, mas sim porque, conhecidas, se colocariam a descoberto as manipulações e mentiras da administração. Esta forma de luta começou a cobrar importância na década de 1970. Nos anos recentes, ao invadir o ciberespaço, expõe novos problemas filosóficos e éticos não resolvidos totalmente, ao tempo em que se mostra como um campo de ação de incomensuráveis possibilidades. O ciberativismo, que possui entre suas armas o ciberataque [“hack”], ainda que eu prefira o termo ciberinfiltração, pode ser uma ferramenta formidável no contraponto entre o segredo e a transparência, para inclinar a balança para esta última. Tírios e troianos, evidentemente, podem utilizar a seu favor a intromissão eletrônica, porém a vulnerabilidade está de parte do que mais e piores segredos necessite ocultar, o qual coloca o império em situação extremamente desvantajosa. Porém, examinemos brevemente a experiência acumulada. O escândalo, em março de 1971, quando os documentos contidos na sede do FBI em Media, Pennsylvania, foram publicados, obrigou a pôr fim ao sinistro programa COINTEL, utilizado para reprimir a todos os movimentos progressistas. Entre os mais de mil documentos que vieram à luz e demonstravam que o FBI dedicava grande parte de seu tempo, pessoal e recursos materiais não à investigação de crimes, mas sim à vigilância de grupos que se opunham à guerra ou lutavam por seus direitos civis, se publicou um memorando que instruía a todos os agentes nos procedimentos a utilizar, como checagem e assédio constantes, interceptação de comunicações telefônicas, medidas coercitivas para obrigar à delação, infiltração de agentes provocadores etc, com o objetivo de semear a paranoia entre os grupos da Nova Esquerda [“New Left”], o qual, obviamente, não é função de agências oficiais num país que se supõe democrático. Em 1967, o secretário de Defesa Robert McNamara ordenou um estudo sobre a guerra do Vietnã, que se converteu num conjunto de 7.000 páginas de documentos “Top Secret” chamado ‘Pentagon Papers” [Papéis do Pentágono]. O trabalho terminou nos primeiros meses de 1969. Daniel Ellsberg, que trabalhou como assessor do Departamento de Defesa durante a escalada da guerra no Vietnã e tinha acesso a documentos classificados em seu caráter de assessor da Corporação Rand [1], soube, ao ler o documento, tudo o que se havia ocultado à opinião pública norte-americana com a finalidade de escalar uma guerra injusta, desnecessária e impossível de ganhar, e decidiu produzir cópias dos documentos, com ajuda de seu colega na Rand, Anthony Russo, as quais entregou a vários senadores e, posteriormente, ao New York Times, que começou a publicá-las em junho de 1971. Se soube, então, a história de como os Estados Unidos se haviam atolado, à revelia do Congresso, numa guerra não declarada que começou com a ajuda aos colonialistas franceses entre 1940 e 1950. Os Papéis do Pentágono não continham material algum que pudesse ser útil ao inimigo; no entanto, a administração acusou Ellsberg de conspiração para cometer espionagem e outras denúncias. A motivação, na realidade, era política. Os Papéis do Pentágono constituíam uma prova incontestável de que tanto Lyndon Johnson como Richard Nixon haviam mentido para o povo norte-americano para que [este] aceitasse a guerra e sua escalada. Um dos exemplos históricos mais ilustrativos dos abusos do grande júri foi o assédio dos investigadores federais a Daniel Ellsberg, a seus familiares e a todas as pessoas relacionadas com ele. As “sub penas” ou ordens de comparecimento obrigatório foram utilizadas como instrumento de repressão e castigo, inclusive contra o filho de Ellsberg, de 15 anos de idade. A 11 de maio de 1973, a sólida defesa dos advogados de Ellsberg, por uma parte, e a grosseira atuação do governo com seus métodos coercitivos ou ilegais para a obtenção de evidências, por outra, determinaram que o juiz de distrito William Byrne rechaçasse todas as acusações contra Ellsberg e Russo. O desespero da administração Nixon por impedir novos filtros e por obter informação que desacreditasse a Ellsberg conduziu à criação dos “plumbers” [chumbeiros] da Casa Branca e a muitos dos abusos que ficaram conhecidos posteriormente ao produzir-se o escândalo de Watergate. Depois da exoneração de Ellsberg, o fiscal William Merrill revelou a este que existiu um complô para “incapacitá-lo totalmente”, que na linguagem da máfia significava assassiná-lo. Esta ação seria executada pelo próprio pessoal do Watergate, incluindo a um grupo de terroristas cubano-americanos de Miami a serviço da CIA. [2] A etapa cibernética na difusão de informações secretas é iniciada pelo jornalista australiano Julián Assange, fundador e editor de WikiLeaks, que adquire notoriedade internacional a partir de 2010. A difamação e a perseguição não tardaram em chegar e Assange teve que refugiar-se, desde 19 de junho de 2012, na Embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia e a subsequente extradição para os Estados Unidos, onde seria processado por divulgar centenas de milhares de documentos classificados diplomáticos e militares. Assange e o grupo musical porto-riquenho Calle 13 lançaram no dia 13 de novembro o tema “Multi_Viral”, sobre a manipulação informática dos meios de comunicação. “Querem deter o incêndio que se propaga, porém há fogos que com água não se apagam”, diz a letra do rap. Chelsea Elizabeth Manning [Bradley Edward anteriormente], soldado do Exército dos Estados Unidos, foi escalado como analista de inteligência de uma unidade militar destacada no Iraque, onde teve acesso a bases de dados classificados. Nos inícios de 2010, filtrou para WikiLeaks um grande volume de material secreto, que incluía vídeos do genocida ataque aéreo do 12 de julho de 2007 sobre Bagdá, do massacre de Granai de 4 de maio de 2009 no Afeganistão, 250.000 cabogramas diplomáticos estadunidenses e 500.000 informes do Exército conhecidos como “Iraq War log” e “Afgan War log”. Grande parte deste material foi publicado por WikiLeaks ou seus meios afins. Em julho de 2013 Manning foi condenado, por violação da Lei de Espionagem e outras acusações, a 35 anos de prisão, com possibilidade de liberdade condicional [“parole”] em oito anos. Manning cumprirá sua sentença na instalação penitenciária de máxima segurança conhecida como “U. S. Disciplinary Barracks”, em Fort Leavenworth. Edward Snowden, ex-empregado da CIA e da NSA, entregou ao Washington Post, a The Guardian e outras publicações uns 200.000 documentos classificados, os quais puseram a descoberto o programa de vigilância massiva da NSA e, em menor grau, das agências homólogas em Grã-Bretanha [GCHQ], Israel [ISNU], Canadá [CSE] e Noruega [NIS]. Em maio de 2013 saíram à luz pública os programas de vigilância na Internet, como PRISM, XKeyscore e Tempora, e nas comunicações telefônicas. Acusado de espionagem e de roubo de propriedade governamental, Snowden é considerado um fugitivo pelas autoridades norte-americanas e vive atualmente na Rússia, na qualidade de asilado temporário. Apesar da repressão e das cada vez mais rigorosas medidas de controle dos fluxos de informação, não será possível deter os filtros. Isto se deve a uma contradição insolúvel do sistema. Se um governo atua à margem das normas de convivência internacional, terá necessariamente que guardar o segredo de suas atividades e, quanto maior e mais abrangente seja a quantidade de informação classificada, maior número de pessoas terá que ser autorizado para o acesso a ela, pois, de outro modo, a maquinaria burocrática do Estado não poderia funcionar e, por conseguinte, maior será o número de pessoas que terão conhecimento dos maus manejos da administração e que estarão dispostas a denunciá-los. Os ciberativistas, incluindo seus guerreiros clandestinos, os ciberinfiltrados, têm a possibilidade e a vantagem de não atuar sós, mas sim formando parte de redes mundiais que não estão limitadas por distâncias nem fronteiras e nas quais os participantes se comunicam entre si de maneira instantânea. Estes cibergladiadores nutrirão certamente as fileiras dos prisioneiros políticos, principalmente nos Estados Unidos, porém os vampiros da política e da guerra perecerão ou terão que aprender a viver à luz do dia. Ellsberg como precursor e, mais tarde, Assange, Manning, Snowden, Hammond e muitos outros converteram em obsoletas as regras de jogo dos serviços de inteligência e apagaram o sonho imperial de uma Internet global, a rede única abaixo de Deus e do Tio Sam, pois todo mundo já sabe que os Estados Unidos buscam o controle da Internet para obter o domínio total da informação, e é um axioma consagrado pelo tempo que quem tem a informação tem o poder. tradução: Joaquim Lisboa Neto Notas: (1) Rand (Research And Development) Corporation. Tanque de pensar que en sus orígenes tuvo como función principal ofrecer a las fuerzas armadas de Estados Unidos los resultados de sus investigaciones y análisis en política global. (2) Democracy Now: Entrevista a John Dean y a Daniel Ellsberg, 27 de abril de 2006. URL de este artículo: http://alainet.org/active/69486 Otros documentos de esta serie: http://alainet.org/active/show_author.phtml?autor_apellido=Capote&autor_nombre=Salvador Mas informacion: http://alainet.org RSS: http://alainet.org/rss.phtml Twitter: http://twitter.com/ALAIinfo

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

25 verdades para Yoani Sánchez sobre o papel da mulher em Cuba

Por Salim Mamrani* Ilha caribenha é o terceiro país com mais mulheres parlamentares; EUA são 80º Durante uma videoconferência organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos no dia 29 de outubro de 2013, a famosa dissidente cubana lamentou o papel “marginal” da mulher em Cuba. Segundo Yoani Sánchez, a mulher cubana é “o último elo de uma cadeia de improdutividade e ineficiências”. Eis aqui algumas verdades a respeito que contradizem seu ponto de vista. 1. Desde o triunfo da Revolução em 1959, o Estado cubano tem feito da emancipação da mulher uma de suas prioridades, com a criação, em agosto de 1960, da Federação de Mulheres Cubanas (FMC), fundada por Vilma Espín, que conta hoje com mais de 4 milhões de membros. 2. Antes de 1959, as mulheres representavam apenas 12% da população ativa e recebiam uma remuneração inferior à dos homens por um emprego equivalente. 3. Hoje, a legislação cubana impõe que o salário da mulher, pela mesma função, seja exatamente igual ao do homem. 4. Cuba é o primeiro país do mundo a assinar a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, e o segundo em ratificá-la. 5. Dos 31 membros do Conselho de Estado cubano, 13 são mulheres, ou seja, 41,9%. 6. Há 8 mulheres ministras em um total de 34, ou seja, 23,5%. 7. No Parlamento cubano, dos 612 deputados, 299 são mulheres, ou seja, 48,66%. 8. Cuba ocupa o terceiro lugar mundial na porcentagem de mulheres deputadas. Os Estados Unidos ocupam o 80º. 9. María Mari Machado, mulher, ocupa a vice-presidência do Parlamento cubano. 10. Dos 1268 eleitos nas assembleias provinciais, 48,36% são mulheres. 11. As mulheres cubanas presidem 10 das 15 assembleias provinciais do país, ou seja, 66,6%, e ocupam a vice-presidência de 7 delas, 46,6%. 12. Não existe nenhuma lei em Cuba que obrigue a paridade nos cargos políticos. 13. Dos 115 membros do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, 49 são mulheres, ou seja, 42,6%. 14. A secretária do Partido Comunista de Cuba para a província de Havana, a mais importante do país, é uma mulher negra que tem menos de 50 anos chamada Lázara Mercedes López Acea. Ela também é vice-presidenta do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros. 15. Dos 16 dirigentes sindicais provinciais da Confederação dos Trabalhadores Cubanos (CTC), 9 são mulheres, ou seja, 56,25%. 16. Cerca de 60% dos estudantes cubanos são mulheres. 17. Desde 1980, as mulheres ativas dispõem, em média, de um nível de formação superior ao dos homens ativos. 18. Em Cuba, as mulheres representam 66,4% dos técnicos e profissionais do país de nível médio e superior (professores, médicos, engenheiros, pesquisadores etc.). 19. A taxa de fertilidade (número de filhos por mulher) é de 1.60, ou seja, a mais baixa da América Latina. 20. As mães cubanas têm a possibilidade de se ocupar em tempo integral de seus filhos recém-nascidos e, ao mesmo tempo, receber seu salário integral um mês e meio antes do parto e três meses depois do nascimento do filho. A licença pode se estender até um ano com uma remuneração equivalente a 60% do salário. Ao final de um ano, são automaticamente reintegradas a seu trabalho. 21. Cuba é um dos únicos países da América Latina, além da Guiana (desde 1995) e do Uruguai (desde 2012), a legalizar o aborto. A prática foi aprovada na ilha caribenha em 1965. 22. A taxa de mortalidade infantil de é 4,6 por mil, ou seja, a mais baixa do continente americano — incluindo o Canadá e os Estados Unidos — e do Terceiro Mundo. 23. A expectativa de vida as mulheres é de 80 anos, dois anos superior à dos homens. 24. A mulher pode se aposentar aos 60 anos, ou depois de trabalhar durante 30 anos, enquanto o homem só pode se aposentar aos 65 anos. 25. A mulher cubana desempenha, assim, um papel preponderante na sociedade e participa plenamente do desenvolvimento do país. *Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama Cuba. Les médias face au défi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.

sábado, 30 de novembro de 2013

BASES MILITARES NA AMÉRICA LATINA E NO CARIBE.

O imperialismo estadunidense tem mantido, ademais da submissão econômica, um domínio militar em todo o continente, para o qual promoveu invasões diretas, golpes de Estado, eleições presidenciais fraudulentas... Governos surgidos dessa maneira são incondicionais a suas políticas, submissos aceitam a instalação de bases militares em nossos países, sem importar-lhes que sejam violadoras da soberania nacional e sirvam para agredir aos vizinhos ou a povos de outros continentes. Os primeiros a sofrer a humilhação foram Porto Rico e Cuba, esta última com a base de Guantánamo, que hoje em dia serve de cárcere para os prisioneiros acusados de terrorismo e que foram sequestrados em diversos países. Os que tiveram a desgraça de chegar ali recebem tratamento de inimigo e não têm direito algum, nem sequer o da legítima defesa. A tortura é exercida abertamente, sem que muitos governos e organismos internacionais se atrevam a condená-la publicamente. É uma afronta à comunidade internacional e uma mancha indelével que jamais poderá apagar a “injustiça norte-americana”. Ante o avanço dos processos democráticos e da unidade latino-americana e caribenha, ao mesmo tempo em que se consolidam processos como: MERCOSUL, UNASUL, CARICOM, ALBA e a CELAC, o império prossegue sem pausa a ocupação militar. Assim, na atualidade se encontram 36 bases militares disseminadas por todo o continente, ocupando posições estratégicas na região. O pretexto: a luta contra o narcotráfico e o terrorismo. O caso colombiano é muito significativo. O presidente Álvaro Uribe Vélez [2008-2010] entregou todo o território nacional aos falcões da guerra. Se reconhece a existência de 7 bases militares, porém, na realidade, há doze e os Estados Unidos dispõem de permissão para usar, caso “necessário”, todos os portos e aeroportos do país com fins bélicos. Colômbia ficou coberta militarmente, porém as operações militares não são só para a Colômbia. A base de Palanquero foi modernizada para receber aviões de guerra de última geração, com capacidade de operar em toda a parte sul do continente, controlar o oceano Atlântico e intervir em países africanos. Ao anterior, há que somar-lhe o desdobramento da Quarta Frota e então nos encontramos com o que os EUA atuam ameaçadoramente para dissuadir ou intervir em qualquer nação do continente com uma supremacia absoluta e com uma velocidade assombrosa. Em minutos, podem desembarcar milhares de soldados em quaisquer das bases na Colômbia. Suas avançadas estão em posição. Dispõem de inteligência estratégica tática e sobre objetivos militares a ser aniquilados ou neutralizados. Colômbia tem a força militar mais numerosa da América do Sul, 500 mil soldados, homens e mulheres, treinados para a guerra, com armamento moderno, aviões de combate, drones equipados com mecanismos de espionagem da mais alta tecnologia, satélites com sensores que detectam luz, calor, fumaça e presença de seres humanos; dispõem de equipamentos de fotografia que podem captar uma pessoa a muitos quilômetros de distância. Com a particularidade que esta tecnologia é manejada diretamente por pessoal estadunidense e, em muitas dessas bases, há lugares nos quais está restrito o acesso ao pessoal de nacionalidade colombiana. Na Colômbia, a vida civil se militarizou. Os gerentes, administradores, funcionários públicos, profissionais liberais, têm recebido formação militar e graus militares, que os acreditam como capitães, majores ou coronéis da reserva que, num dado momento, podem entrar a dar ordens a militares de menor escalão. Em muitas áreas do país, os assessores e pessoal militar estadunidense circulam livremente. É indigno e antipatriótico ver como militares colombianos se acostumam a realizar operações sob suas ordens. São vários os casos reportados de pilotos norte-americanos que morreram em acidentes ou seus aviões serem derrubados pela guerrilha. Nenhuma destas notícias chega à imprensa, devido ao cerco informativo que se exerce sobre o tema. Igualmente, está passando por todo o continente. As oligarquias no poder, alinhadas com esta política, nem se incomodam, nem criticam, nem denunciam a instalação de bases em El Salvador, Honduras, Costa Rica, Panamá, Peru, Paraguai, Chile, Haiti, Porto Rico, Bolívia, Brasil e outras. Tem sido um trabalho lento, porém seguro; nenhum país está em capacidade de responder militarmente ao império, porém, sim, de obrigá-lo a sair de seu território, como o fez Rafael Correa com a Base de Manta, no Equador. Isto demonstra que, enquanto haja governos democráticos e povos erguidos, o império não as tem todas consigo. O despertar de Nossa América é inegável, hoje contamos com governos patrióticos que levantam as bandeiras da dignidade e do anti-imperialismo, a mobilização e o protesto social crescem cada vez mais e, entre suas palavras de ordem, aparece a luta contra o Império, o capitalismo, o neoliberalismo; pela autodeterminação dos povos, da defesa da soberania nacional e do repúdio à presença militar ianque no continente; palavras de ordem de todos os revolucionários, democratas e patriotas, estamos obrigados a agitar para que acendam na consciência popular e assim fazer abortar os planos de dominação continental. Tarefa urgente e necessária é organizar uma campanha simultânea em todos os países de América Latina e Caribe contra as bases norte-americanas. Fora as bases militares estadunidenses de nosso continente! Viva a Pátria Grande e o Socialismo! Contra o Imperialismo; pela Pátria. Contra a oligarquia, pelo povo. Comissão Internacional das FARC-EP. La Habana, Novembro de 2013.

sábado, 16 de novembro de 2013

SOBRE 15 DE NOVEMBRO DE 1889

15 de Novembro de 1889-- nesta data ,há muitos anos passados, um Rei sensato, preferiu que o país virasse uma República e simplesmente ,não reagiu...Passou para a História, no meu entender, como um grande brasileiro! Hoje, 15 de Novembro de 2013- Pronto!!!Bingo!!! Os principais réus do Mensalão ( ou pelo menos, aqueles de mais evidência política) já estão atrás das grades. O importante mesmo é que agora pegaram de vez os bandidos todos. O Brasil está finalmente limpo! As eleições de 2014 já podem correr em um clima mais tranquilo porque não há mais fantasmas rondando. Os malfeitores estarão todos presos! Só tem honestidade pura no páreo! Pudemos contar com nossa Justiça, através de seus dignos representantes que dormem agora de consciência tranquila.E quem sabe ,agora, um Jurista poderá vir a ser o próximo presidente da República!! Estamos precisando de gente assim, livre de todos os pecados!!! Simples, assim! Ou não? Faltou alguém? Ou será que o vinho do festejo será amargo??? Ninfeia G

sábado, 9 de novembro de 2013

Inspirados por Alfonso Cano, crescem nossas esperanças de paz

Por: ESTADO MAIOR CENTRAL DAS FARC- EP “Persistiremos em nossos esforços para alcançar a paz democrática pelas vias civilizadas do diálogo tal como temos feito há 44 anos, porque essa é nossa concepção revolucionária, porque assim são os nossos princípios”. Comandante Alfonso Cano. Dois anos atrás, no dia 4 de novembro de 2011, em meio ao ar rarefeito e fosco pelas explosões de bombas, metralhadoras e do opressivo cheiro de pólvora em abundância, sem se apresentarem para o combate, arrancaram violentamente da comunidade da resistência latino-americana o comandante Alfonso Cano, o irmão maior, o comandante geral da confraternidade revolucionária fariana. Todas as emoções apontam nesta data para o conjunto da militância guerrilheira, miliciana, do partido e na imensa massa de simpatizantes que acompanha nosso sonho pela paz. Imensa é a ausência de quem não está hoje presente, ajudando a modelar certezas. Mas também é imensa em toda a coletividade fariana, a responsabilidade de tornar realidade seu legado de justiça social, de amor pelos pobres e desamparados, e de combate contra a desigualdade e os privilégios dos opressores. Formidável é nossa convicção de manter firme o timão sobre o rumo da paz, para que esta possa colocar-se plenamente nas casas de todos os colombianos, como ele corroborou até o último alento. Para falar de Alfonso Cano, esse excelso comandante guerrilheiro do altiplano colombiano, temos que retrair as lutas históricas de todos os oprimidos na construção de modelos de governos liberadores e independentes; tecer os fios das lutas sociais, juvenis, estudantis, obreiras e camponesas; recordar a dor e a raiva dos encarcerados e perseguidos; colocar-nos no cenário da lutas das mulheres, indígenas e negros. Temos que nos encher de utopias, de literatura, de cinema, de arte, de história, de equilíbrio ambientalístico, de sacrifícios pela coletividade, de muito amor pelos seres humanos. Porque sua vida e suas emoções, desde muito jovem, estiveram aferradas aos desejos dos pobres para melhorar suas condições de existência, consagradas a investigar e multiplicar a palavra e ação dos subjugados da nossa América e do planeta, a espalhar resistências, nutrindo o pensamento crítico e emancipador da humanidade, articulando a sólida argumentação teórica e prática que requer a nação para apropriar-se de seu destino e enterrar a opressão. Para os capitalistas e seus porta-vozes jurídicos e midiáticos, que reclamam dia-a-dia obsequência perante o insaciável modelo de exploração, Alfonso, esse fogo atronador da rebeldia continental, foi um mal exemplo. Ele perturbava a tranquilidade de seus privilégios. Por isso toda a força do terror midiático e militar dos opressores nacionais e transnacionais caiu sobre sua humanidade para assassiná-lo. E depois de matá-lo, vomitaram infâmias sobre seu corpo inerte. Perdemos um magnífico líder, mas com ele crescemos e seguimos crescendo, ampliando e estreitando laços com as imensas massas de colombianos que lutam por uma paz justa e verdadeira, por melhores condições de vida, por melhores salários. Que se mobilizam contra as máfias enriquecidas a custa da deterioração da saúde dos colombianos e suas necessidades de moradia; que se manifestam multitudinários pelo direito à educação, pelo direito à terra para os trabalhadores rurais que nela trabalham. Contra a judicialização e criminalização do protesto social; contra a privatização da educação, dos serviços públicos e da entrega do território e dos recursos naturais a corporações multinacionais, a monopólios nacionais e a latifundiários colombianos. O povo da Colômbia, em toda a amplitude de sua geografia humana, avança mobilizado contra a injustiça econômica e social que implementa o governo neoliberal de Juan Manuel Santos. Além da fascistização de todos os espaços da sociedade, também a insurgência se aferra ao terreno da ação política e militar, confirmando uma vez mais, com sua força e presença ativa na mesa de conversações em Havana, que a paz é a única fórmula verdadeira para resolver um conflito que vai cumprir meio século no próximo ano. A paz que se constrói desde Havana tem contado com o apoio nacional, um crescente número de iniciativas acompanha o clamor pela concretização de acordos que afiancem a reconciliação. Todas estas iniciativas foram apresentadas integrando nossa visão de paz, porque ela vem do povo e de seus anseios. Por isso saudamos as propostas apresentadas pelo Doutor Álvaro Leyva Duran e pela Doutora Clara López na representação do Polo Democrático, porque tudo o que aporta para avançar até a paz e contra a guerra, é substancial para o logro da reconciliação. Oxalá o governo tenha a capacidade de interpretá-lo com sentimento pátrio e não meramente visando a reeleição. E para aqueles que se esforçam pela manutenção e aprofundamento da guerra graças a qual prosperam, os que exigem maior impunidade para proteger as atrocidades cometidas por militares e policiais e que se protegem na inconstitucionalidade da reforma no fórum militar, os convidamos a prestar atenção aos milhões de colombianos que se manifestam cotidianamente para que a barbárie termine, prestem atenção no sentimento dos seus oficiais de baixa patente, suboficiais e soldados, que nas zonas de operação expressam o cansaço pela guerra e suas atrocidades, e evitam o combate esperançosos por um cessar total da guerra. E aos que, desde suas posições transitórias de poder ministerial, uivam ameaças de aniquilamento da guerrilha, e anunciam novos contingentes de soldados para a guerra; e os que não creem que chegamos a Havana “porque é nossa concepção revolucionária, porque assim são os nossos princípios” como afirmou Alfonso, senão porque estávamos derrotados, lhes recordamos as palavras destes, em carta ao general Valencia Tovar: “Sustentar qualquer proposta na imagem que vende a propaganda oficial de uma FARC derrotada, repleta de impúberes, sem apoio das massas, sem comunicações, etc, não é sério. O General Valencia deve recordar como a mentirosa campanha midiática do governo dos Estados Unidos na ocasião de sua agressão ao Vietnã, finalmente estourou na própria cara”. Com a memória do comandante Alfonso Cano nos enchemos de esperanças pela paz, assim como os colombianos que padecem as injustiças do regime. Nestes dois anos de ausência ele nos inspirou com sua clara mensagem: “os caminhos que conduzem ao incremento da luta popular em suas mais variadas formas e a conquista do poder, nunca foram fáceis, nem em nosso país nem em nenhuma outra parte do mundo, nem agora, nem antes. Só a profunda convicção na vitória, na justeza, validez e vigência de nossos princípios e objetivos e um monolítico esforço coletivo, garantirão o triunfo. Aos reacionários que fazem alegres contas contra as FARC, lhes informamos que a intensidade da confrontação nos fortaleceu, estreitando vínculos com as comunidades, suas organizações e as lutas populares, elevando a disciplina e o respeito pela população civil, e incrementando nossa qualificação e aprendizagem. Morreram guerrilheiros porque assim é a luta, mas também seu generosa sangue derramado é evidência de nosso total compromisso com o povo. Outros camaradas já cobriram a trincheira dos caídos e muitos mais continuam chegando as nossas filas. Assim foi também a gestação da nossa independência, e todos os processos libertadores da humanidade, onde se desataram os demônios da guerra… Somos uma força revolucionária com a suficiente história, solidez e consistência para superar o falecimento de nosso Comandante em chefe, porque ele mesmo nos instrumentou e contribuiu no esforço coletivo de consolidação política e militar. O Secretariado, o Estado Maior Central, os Estados Maiores dos blocos e frentes, os comandos de todo nível, os dirigentes e combatentes das FARC-EP garantiremos o triunfo”. O legado do comandante Alfonso Cano sempre será alento para encontrar o fio condutor do país até as transformações que este reclama. Seu exemplo na análise de cada conjuntura, sua convicção a toda prova, mirando sempre o horizonte estratégico, e seu desprezo pela ortodoxia, nos obrigam a refletir sobre o método, de como poder mobilizar o compromisso das pessoas por mudanças necessárias neste modelo apodrecido em que agoniza a humanidade. Memória eterna ao heroico comandante. ESTADO MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP Montanhas da Colômbia, 4 de novembro de 2013 Fonte: http://farc-ep.co/?p=2645

domingo, 3 de novembro de 2013

SAUDAÇÃO DA DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP À CÚPULA NACIONAL DE MULHERES E PAZ.

SAUDAÇÃO DA DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP À CÚPULA NACIONAL DE MULHERES E PAZ. LA HABANA, CUBA, SEDE DOS DÍALOGOS DE PAZ, 23 DE OUTUBRO DE 2013 CÚPULA NACIONAL DE MULHERES E PAZ. 23-25 de outubro. Bogotá-Colômbia. A Delegação de Paz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo, saúda com sentimento de pátria e de paz as organizações, participantes e assistentes que se congregam na Cúpula Nacional de Mulheres e Paz, para compartilhar experiências locais, nacionais e internacionais que contribuam na construção da paz a partir da formulação de propostas concretas. Quiséramos iniciar expressando nosso pleno contentamento pela realização desse evento, que toma como marco referencial de desenvolvimento o ponto sexto da Agenda do Acordo Geral de Havana. Não obstante, cremos pertinente que saibam que é nosso maior desejo que a participação de tod@s vocês, do conjunto da sociedade, e em especial da mulher no processo de Diálogo se dê não delimitando a presença num ou noutro ponto em específico, senão que seu desenvolvimento, seu protagonismo, seja parte de todo o conjunto do desenvolvimento das conversações; isto é, que consideramos desde as FARC-EP que o papel das comunidades e de suas organizações e movimentos sociais e políticos deve ser o de construtores do Acordo de Paz e não somente o de atores do epílogo da mencionada Agenda. Ao nosso modo de ver, se a paz é um assunto de todos e todas sem exceção, é apenas justo e natural que o conjunto das comunidades e organizações ou movimentos sociais se manifestem na construção do Acordo em toda sua extensão, que se discute em HAVANA e está composto pelo preâmbulo e 6 pontos. Assim as coisas, nosso primeiro chamado seria a exigir desde este cenário que se abram as comportas da discussão de todos os pontos da Agenda, de frente para o país e o mundo, tal como o temos proposto como insurgência desde os inícios das aproximações com o governo. De nossa parte, temos feito um grande esforço para que as vozes do povo cheguem até a Mesa de conversações, incluindo-as em nossas propostas mínimas; temos ressaltado em cada uma delas a necessidade de colocar em primeiro plano as reivindicações e direitos dos setores sociais mais excluídos, especialmente o das mulheres. Assim ocorreu durante as discussões do primeiro ponto referido à problemática agrária e assim ocorre agora em desenvolvimento do segundo ponto referido à participação política. O mesmo compromisso com tais reivindicações temos para o desenvolvimento dos pontos que seguem, e no dia a dia de seu desenvolvimento incluímos sentidas iniciativas que guardam objetivos de muito peso ético e de humanidade como o de pôr como tema central de discussão a luta contra a guerra em geral. Uma sociedade deve viver em paz e essa paz deve ter como base de sua existência a justiça em condições de igualdade e liberdade; isto é, contando com terra para trabalhar, com moradia, com agasalho, com saúde, com educação, com plena participação política em condições de dignidade e liberdade. Não podemos cair na armadilha de deixar-nos enredar por concepções que, montando-se às vezes em erros ou faltas que se cometem no desenvolvimento de tão longa confrontação, argumentando uma suposta defesa dos direitos da mulher, se usa como instrumento para estigmatizar e desqualificar a existência da insurgência. Muitas vezes, por exemplo, para definir as formas mais generalizadas de violência contra as mulheres, no contexto do conflito armado, se tomam categorias que se definem com redação incriminatória absoluta na inclusão das guerrilhas como sujeito delinquente; induzindo a pensar em que se trata de uma prática própria de nossa concepção revolucionária assumir que as mulheres podem ser objetos usáveis, prescindíveis, maltratáveis e descartáveis. Estas generalizações mal-intencionadas não são construções casuais, mas sim de propaganda dirigida à desqualificação da luta armada como método legítimo dos pobres para resistir e lutar por seus direitos. Obviamente, para nada consideram que precisamente os homens e mulheres insurgentes na Colômbia levantamos a bandeira do rechaço contra todas estas patologias geradas pela guerra que nos impõem as oligarquias e que, precisamente na guerrilha, de maneira voluntária, a mulher assume um lugar digno de combate para libertar a sociedade toda da privação ou da restrição de seus direitos. A violência contra a mulher faz parte da violência estrutural que, geralmente, as classes exploradoras exercem contra o conjunto da sociedade; em tal sentido, reivindicar os direitos da mulher no ideário fariano implica descartar toda visão reducionista do sentido da paz, assumindo-a como a ausência da guerra ou como o resultado da deixação das armas, o qual se lhe costuma exigir à insurgência, sem levar em conta as causas que levaram ao alçamento que hoje protagonizam homens e mulheres desde a guerrilha em função de, antes de tudo, forjar as bases da justiça social, incluindo nisso a reivindicação dos direitos da mulher. Reiteramos, então, que a paz implica uma luta de todos e todas por erradicar as causas sociais e política que geraram a confrontação; implica acabar com as causas da pobreza e da desigualdade; implica a desmilitarização da sociedade e do Estado, de tal maneira que se abra caminho ao exercício pleno de uma verdadeira democracia. Urge que o processo de paz em Havana abra as portas da participação ao conjunto da sociedade, e em especial à mulher desde já, em todos os pontos, sem ter que esperar até o ponto seis para fazê-lo. DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

As FARC entregam o militar estadunidense Kevin Scott Sutay à Cruz Vermelha Internacional e aos países facilitadores de Paz, Noruega y Cuba

As FARC entregam o militar estadunidense Kevin Scott Sutay à Cruz Vermelha Internacional e aos países facilitadores de Paz, Noruega y Cuba Delegação de paz das FARC-EP informa: 1. Que o veterano de guerra estadunidense KEVIN SCOTT foi libertado unilateralmente pelas FARC num lugar do rio Inírida, nas selvas do Guaviare, Colômbia. O cidadão norte-americano foi entregue, na manhã de 27 de outubro, a uma missão humanitária integrada pelo CICV, pelos países garantidores na mesa dos diálogos de paz, Noruega e Cuba, e um representante do governo colombiano. 2. O gesto de paz da organização insurgente havia sido postergado pela intransigência do governo de Juan Manuel Santos ao não permitir, durante meses, a intermediação humanitária, primeiro, da ex-senadora Piedad Córdoba e, em seguida, do Reverendo Jesse Jackson. Sem dúvida, na concretização desta libertação, jogou papel decisivo a determinação do Departamento de Estado dos Estados Unidos. 3. Agradecemos ao CICV, aos governos de Cuba e da Noruega, seus bons ofícios para que Kevin Scott pudesse reencontrar-se com os seus em seu próprio país. Noruega e Cuba atuaram com a mesma eficácia e discrição que os distingue como garantidores nos diálogos de paz que se realizam em Havana entre o governo da Colômbia e as FARC-EP. Nosso reconhecimento também a Piedad Córdoba e a Jesse Jackson. 4. Aspiramos que esta decisão unilateral das FARC, que não exigiu nada emtroca, exerça influxos positivos no avanço dos acordos de paz. DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

A luta mundial contra a Monsanto cresce e cresce

A luta mundial contra a Monsanto cresce e cresce Tradução: Joaquim Lisboa Neto Nas vésperas da celebração do Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro passado, em mais de 500 cidades de 52 países se realizaram manifestações contra a Monsanto, a tenebrosa transnacional da biotecnologia e dos alimentos geneticamente modificados. Os milhares e milhares de manifestantes pediram ao mundo boicotar a ação “depredadora” da Monsanto porque introduziu diferentes tipos de transgênicos no mercado globalizado, que, segundo expertos, são prejudiciais para a saúde humana, representando uma ameaça para “a saúde, a fertilidade e a longevidade”. Na realidade, a Monsanto não é a única corporação que aspira conquistar o monopólio do fornecimento de alimentos em nosso planeta. São várias corporações biotecnológicas e agroquímicas que formam o poderoso grupo CropLife America e, entre elas, se destacam: Monsanto, DuPont, Dow AgroSciences LLC, Syngenta, Bayer, Basf, Río Tinto, Mendel, Ceres, Evogene. Foi precisamente este grupo que mandou a carta de protesto à esposa do presidente Obama, Michelle Obama, quando ela plantou seu jardim orgânico livre de pesticidas e organismos geneticamente modificados [OGMs]. Agora, podem estar tranquilos, porque a crise econômica e a recente paralisação temporária do governo norte-americano fez murchar o jardim da senhora Obama. Neste conjunto, Monsanto, a multinacional de Biotecnologia Química e Agrícola com sede em Creve Coeur, Missouri, é a mais poderosa de todas em termos políticos, econômicos e financeiros. É a mais famosa por suas sementes transgênicas e herbicidas como Roundup Ready [RR], a base de glifosato para eliminação de ervas e arbustos. Atualmente, essa corporação, que começou como uma pequena companhia química em 1901, se transformou num gigante biotecnológico do século XXI, ganhando em 2012 13,5 bilhões de dólares. Está operando em 68 países do mundo, semeando sementes OGMs em mais de 114 milhões de hectares e, deles, 61 milhões nos Estados Unidos. Neste país, controla 40% das terras cultiváveis. Foi precisamente a Monsanto um dos produtores do Agente Laranja, que foi borrifado massivamente durante a guerra do Vietnã numa operação Ranch Hand entre 1961 e 1971. Segundo a Cruz Vermelha vietnamita, um milhão de pessoas ficaram mutiladas e mais de 500.000 crianças nasceram com defeitos pelo uso desse desfolhante. O Agente Laranja, que foi aplicado com o pretexto de proteger vidas dos soldados norte-americanos, fez seus estragos em seus próprios soldados, os quais, em 1984, fizeram uma demanda coletiva no Tribunal do Distrito Leste de Nova Iorque. Apesar de que o Tribunal não tenha encontrado culpados, se acordou que as sete companhias produtoras do Agente Laranja [Monsanto, Diamond Shamrock Corporation, Dow Chemical Company, Hercules Inc., TH Agricultural y Nutrition Company, Thompson Chemical Corporation y Uniroyal Inc.] pagarão 180 milhões de dólares aos veteranos estadunidenses da guerra no Vietnã e a seus familiares. Se calcula que mais de 600.000 veteranos norte-americanos foram afetados por esse desfolhante e milhares de seus filhos nascerem com leucemia. Porém, tudo isto pertence à história e já ninguém quer recordar-se da tragédia daquela guerra. Até o Tribunal Supremo norte-americano declarou em 2004 que as companhias produtoras não eram responsáveis do uso do Agente Laranja. No entanto, a realidade que o mundo vive atualmente é muito mais sinistra comparando com o passado, pois estamos frente a um processo quando uma corporação multinacional [Monsanto] aspira apoderar-se da produção e distribuição de alimentos no mundo inteiro, usando sua tecnologia do OGM. De acordo com recente estudo da Food and Water Watch, 93% dos produtos da soja no mercado norte-americano e 80% dos de milho contêm OGMs produzidos pela Monsanto, que tem mais de 1.676 patentes de sementes. Atualmente, essa multinacional controla mais de 90 por cento do mercado mundial de sementes transgênicas, o que constitui um monopólio industrial sem precedentes, e 60 por cento do mercado global de sementes comerciais. O êxito da Monsanto não se deve somente a sua habilidade de criar produtos rentáveis, mas também a suas conexões políticas, midiáticas e a seu persistente trabalho de cooptação. Segundo o Center for Responsive Politics, a Monsanto gastou mais de 4 bilhões de dólares desde 1990 para as campanhas eleitorais, dando apoio aos políticos para promover seus interesses. A maioria de seus executivos, de acordo com a publicação Global Research, são ex-congressistas e altos ex-funcionários de diferentes departamentos do governo federal norte-americano. Tem à sua disposição incondicional os meios de comunicação que, dia a dia, estão tratando de convencer a opinião pública da vantagem do uso de produtos que contenham OGM. E, para dar solidez aos escribas a soldo, utiliza estudos favoráveis de seis universidades estadunidenses subvencionadas pela multinacional: Arizona State University, St. Louis University, University of Missouri, Cornell University, Washington University in St. Louis y South Dakota State University. Agora, os professores à sua disposição criaram um novo pretexto para a promoção das sementes OGM. Um recente informe do ETC Group como Monsanto, Bayer, BASF, DuPont, Syngenta, Dow, Mendel, Ceres e Evogene estão patenteando as sementes com genes que resistem ao estresse do meio ambiente [seca, variações extremas de temperatura etc]. Segundo a campanha publicitária desses gigantes bioquímicos, “somente esta tecnologia de OGM é capaz de neutralizar os efeitos do aquecimento global e da fome no futuro não tão distante”. Na realidade, é um novo pretexto para aumentar o poder corporativo sobre a alimentação, controlar os preços, terminar com a pesquisa independente e acabar com a tradição milenar dos agricultores de intercambiar as sementes. Agora, a Monsanto e a BASF estão investindo 1,5 bilhão de dólares para criar este tipo de sementes. Seu laboratório é a África, onde essas duas multinacionais se aliaram com a Fundação Bill e Melinda Gates para promover a suposta “Revolução Verde” no continente. O curioso é que o multimilionário Bill Gates, que é apresentado pela imprensa globalizada como um generoso filantropo, comprou 500.000 ações da Monsanto por 23 milhões de dólares. Os africanos deveriam estudar os “resultados” das “revoluções verdes” que a Fundação Rockfeller promoveu na América Latina nos anos 1960 e 1970. Porém, o processo já está em marcha com o consentimento e a participação dos governos de Quênia, Tanzânia, Uganda e África do Sul apoiado por 47 milhões de dólares doados pela Fundação de Bill Gates. A América Latina também tem estado na mira da Monsanto desde os anos 1990. O modelo de agroindústria com o uso das sementes OGMs se impôs em todos os países do Mercosul e também na Bolívia para a produção de soja, milho e algodão transgênicos. Atualmente, 50 por cento da terra cultivável na província de Buenos Aires estão semeados com sementes OGMs e regados com glifosato desde um teco-teco. No Paraguai, depois do golpe de Estado em 2012 contra o presidente legitimamente eleito Fernando Lugo, a Monsanto junto com a Cargil encontraram um paraíso para suas sementes transgênicas. Atualmente, estão construindo uma fábrica de sementes transgênicas, convertendo-se esse país no terceiro laboratório da Monsanto, depois de Argentina e Brasil. Atualmente, na Argentina, de acordo com o jornalista Federico Larsen, 97 por cento da soja produzida é transgênica e também o país liberou o uso do hormônio recombinante bobina BST Posilac, produzido pela Monsanto, que aumenta a produção leiteira nas vacas em 25 por cento, porém que está proibido na maioria dos países do mundo por demonstrar-se cientificamente que Posilac favorece o desenvolvimento do câncer de mama nas mulheres. No entanto, a própria presidenta Cristina Fernández declarou, há pouco, que “O investimento da Monsanto é importantíssimo e vai ajudar na concretização de nosso plano, tanto agroalimentar 2020 como nosso plano também industrial”. Parece que ninguém está prestando atenção aos estudos de vários especialistas que chegaram à conclusão de que, neste ritmo, as terras na Argentina e no Brasil deixariam de ser produtivas em aproximadamente 50 anos. Parece que às transnacionais ou a muitos governos de turno não lhes interessa o futuro. Por isso, firmam as leis, como a recente Lei de Proteção da Monsanto nos Estados Unidos, que protege a transnacional de todos os julgamentos relacionados à produção e venda de sementes OGMs, ou a Lei Monsanto no México, aprovada em 2005 pela maioria dos congressistas, sem nem sequer ser lida, dando luz verde à corporação biotecnológica em seu país. O mesmo caminho está tomando a Ucrânia, tendo as terras mais férteis da Europa. Felizmente, existem raras exceções, como a iniciativa do presidente do Peru, Ollanta Humala, que conseguiu que o congresso aprovasse em 2011 uma moratória de 10 anos ao cultivo e a importação de transgênicos no país, com a “finalidade de proteger a biodiversidade, a agricultura nacional e a saúde pública”. Também a multinacional Monsanto decidiu retirar as solicitações para o cultivo de novos transgênicos na União Europeia ante os protestos e resistência de vários governos e grupos ecológicos de usar essas sementes que impactam negativamente sobre a saúde. No entanto, as plantações de cultivos transgênicos continuam em Espanha, Portugal, República Checa e Polônia. Na Rússia, o presidente Putin deu um grito de alerta pelas intenções de Monsanto de instalar-se em seu país. Porém, terá que lutar contra os oligarcas russos, para os quais a pátria não é um lugar onde alguém nasce, mas sim onde se ganha dinheiro, igualmente contra as leis russas aprovadas na época de Yeltsin e que impedem a proibição dos produtos transgênicos. Há uns dez anos, a Monsanto tratou de ingressar em Cuba, porém eles anunciaram que seriam o laboratório mundial para os produtos orgânicos e não chegaram a nenhum acordo. Agora, a Rússia tem melhor oportunidade e as condições para converter-se no centro de cultivos orgânicos por não estar contaminada sua agricultura com as sementes OGM e por ter 40 milhões de hectares de terra não exposta durante muitos anos ao uso dos químicos. De acordo com os expertos, para 2020 a Rússia poderia abastecer o mercado mundial com 15 por cento dos produtos orgânicos, se é que os agricultores recebem o apoio do governo. As possibilidades de pôr freio às intenções das multinacionais biotecnológicas de estabelecer o controle corporativo sobre a alimentação existem. Só se necessita a vontade dos povos de despojarem-se do individualismo implantado pelo neoliberalismo, e retornar à premissa de Aristóteles, segundo a qual os humanos somos homens sociais e políticos e não podemos viver fora da sociedade. Porém, viver na sociedade necessariamente implica ações coletivas através das quais poderíamos impor-nos a qualquer transnacional, como o estão fazendo atualmente os habitantes de Malvinas Argentinas, a 14 quilômetros de Córdoba, Argentina, opondo a Assembleia de Vizinhos Luta pela Vida à Monsanto. Em 2012, as Mães de Ituzaingó, um bairro de Córdoba, ganharam pela primeira vez um julgamento contra a Monsanto. Isto demonstra que a união, a solidariedade e a vontade coletiva são armas poderosas do povo que luta por seu bem-estar e seus ideais. elclarin.cl tomado de www.resumenlatinoamericano.org

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O atual Modelo Energético Brasileiro

por Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do MAB O conceito de Modelo Energético tem significados diferentes para atores situados em polos antagônicos. Para nós, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), "modelo" significa a Política Energética necessária ao desenvolvimento das forças produtivas que sirva ao conjunto da nação, com respeito ao meio ambiente e à soberania nacional. No entanto, para os setores que controlam a energia no Brasil, Modelo Energético refere-se às fontes/matrizes de produção da energia, porque esses setores já têm clara a finalidade da energia: responder à demanda do mercado, à voracidade das grandes corporações que controlam a indústria de eletricidade, à indústria eletrointensiva e no aumento da produtividade a qualquer preço. É inegável que a energia é a locomotiva do desenvolvimento das forças produtivas e que o resto é vagão. Sua importância estratégica está relacionada à produção de valor na sociedade capitalista. Na sociedade atual, a energia é central para reprodução do capital, pois é utilizada como forma de acelerar a produtividade do trabalho dos trabalhadores. Há concordância que a energia é necessária na geração da riqueza, que a cadeia produtiva de energia cria empregos e que a energia possibilita o bem estar das pessoas. Também é evidente que a produção de energia pressupõe fontes para a sua geração e que hoje, nas atuais condições de produção, a hidro tem sido a tecnologia “mais eficiente” quando comparada com as demais fontes de produção de eletricidade. Ao ressaltar esses argumentos, no entanto, aqueles que controlam o setor omitem para quê e para quem ele é planejado. O atual modelo energético, de padrão e herança autoritária, tecnocrática e neoliberal está a serviço das corporações transnacionais e seu modelo de desenvolvimento. O bem público serve aos interesses de uma minoria, com predomínio do setor financeiro e seus mecanismos. Esse modelo afeta enormemente as populações, na cidade e no campo, além de precarizar o trabalho no setor (terceirização), utilizar os trabalhadores das obras na condição de semiescravidão, repassar toda conta às residências e produzir impactos socioambientais no nível local, regional e até internacional. A energia é vista como mercadoria e não como bem público. Assim se produzem graves injustiças. Essa lógica, que persiste na geração, transmissão e distribuição da energia, não se preocupa com a sustentabilidade social e ambiental, apenas com o "progresso" econômico medido pelo rendimento final e fantasiado na renda per capita que esconde quem se apropria da riqueza. Mais: a atual política energética, em nome do desenvolvimento, avança sobre um patrimônio que pertence também às futuras gerações, pois exportar nossos recursos a países ricos é eticamente um assalto às novas gerações. Atualmente, quem controla a energia é o capital internacional especulativo, são transnacionais que controlam o setor elétrico nacional e se apropriam dos resultados. Corporações mundiais como a Suez Tractebel, AES, Odebrecht, Queiroz Galvão, Iberdrola, Vale, Alcoa, Billiton, Alstom, Siemens, etc. Este controle veio a partir das privatizações dos anos 90 e segue nos dias atuais. Atualmente, até mesmo as estatais estão nas mãos do capital privado: 60% da Eletrobrás; 80% da CEMIG; 65% da Cesp. As estruturas de Estado estão capturadas pelas empresas privadas. As agências reguladoras, Ministério de Minas e Energia, Empresa de planejamento e até as estatais estão à serviço dos empresários. Foram criadas várias leis e estruturas de Estado que tentam despolitizar o debate da energia, como se fossem questões “técnicas e neutras”. A ANEEL, agência reguladora de finalidade e comportamento questionáveis, é parte de uma estratégia e instrumento para servir aos empresários. É o centro onde se legaliza o modelo. O BNDES é o principal financiador das usinas, repassando dinheiro público para as transnacionais, enquanto que estatais são proibidas de ter a maioria das ações nas usinas. Dessa forma, as estruturas de Estado se comportam contra os interesses sociais. A mercantilização da energia, através do modelo privado, transformou a energia no principal negócio dos setores privados. Foi implementado um sistema de tarifas que simula uma falsa concorrência. As tarifas foram internacionalizadas, os preços da eletricidade brasileira passaram a ser vinculados ao custo da energia térmica. Nossas tarifas foram elevadas a patamares internacionais, longe da realidade dos custos de produção de nosso país. Atualmente a energia no Brasil é 25% mais cara que na França, onde 76% da matriz é nuclear, ou seja, com custo de produção muito mais alto. A venda da energia elétrica se transformou no principal negócio deste setor, porque agora o lucro dos empresários que controlam a energia não vem só da exploração dos eletricitários, mas de 60 milhões de residenciais. As residências pagam a conta. Enquanto isso, os grandes consumidores (livres) recebem energia barata, para produzir eletrointensivos e exportar, sem pagar imposto algum, porque são isentos pela lei Kandir. Para mudar o modelo, é necessário mudar o sistema de tarifas. Os trabalhadores do setor são altamente produtivos e explorados. Para se ter uma ideia, os trabalhadores da AES Tietê produziram em 2012, cerca de R$ 2,3 milhões de lucro/trabalhador. Está em curso uma intensificação da exploração sobre os eletricitários. As empresas privadas e estatais estão buscando rebaixar os ganhos dos trabalhadores aos patamares mais baixos mundialmente. Está ocorrendo um intenso processo de reestruturação do trabalho para aumentar a produtividade, através de demissões, terceirizações, precarizações e aumento de jornada, além da incorporação de novas tecnologias que aceleram a obsolescência programada. Isso reflete diretamente na qualidade dos serviços de energia. A riqueza extraordinária gerada na energia, nas diferentes áreas, não tem sido revertida em benefício prioritário ao povo brasileiro. O que constatamos são remessas cada vez maiores de lucro aos acionistas, enquanto o serviço púbico e a situação dos trabalhadores se deteriora cada vez mais. Os lucros são extraordinários e tudo é enviado através de remessas de dividendos (100%). A AES Tietê tem lucro médio de 43,5%. Cinco empresas (AES Eletropaulo e Tietê, Suez Tractebel, Cemig e CPFL) tiveram, nos últimos 7 anos, lucro total de R$ 45,7 bi e remeteram R$ 40,7 bi a seus acionistas. Os rios são o território mais desejado e disputado pelas transnacionais que controlam a indústria de eletricidade. Como a energia hídrica é a tecnologia mais rentável comparada às demais fontes, aumenta a disputa mundial para controlar os melhores locais e extrair os excedentes. Nosso território é foco de disputa internacional do capital, pois concentra as principais reservas estratégicas de “base elevada de produtividade natural”. O Brasil possui as maiores e melhores reservas de rios e água para geração de eletricidade, 260 mil MW de potência, dos quais só 30% foram utilizados até agora. A América Latina tem potencial de 730 mil MW. Entendemos que o problema central na energia é a política energética. O modelo energético. Não queremos discutir somente a matriz, apesar de sua importância. Atuar na política energética pressupõe incidir decisivamente no planejamento, na organização e controle da produção e distribuição da energia, da riqueza gerada e no controle sobre as reservas estratégicas de energia de base de elevada produtividade natural. O Lema do Encontro Nacional do MAB, “Água e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular”, representa a síntese do projeto que defendemos para a energia. http://www.mabnacional.org.br/noticia/atual-modelo-energ-tico-brasileiro

quarta-feira, 5 de junho de 2013

A sólida perseverança das FARC-EP

A ideologia das classes dominantes nunca bradou com tanta soberba como após a queda da União Soviética. Lança em riste, políticos, acadêmicos, intelectuais, militares e até comunistas arrependidos se bateram contra o pensamento revolucionário, alegando que carecia de lugar, pretendendo ridicularizar seus defensores e celebrando missas por sua morte intempestiva. Absurdas elaborações sem a menor sustentação histórica ou científica passaram a ser publicadas, o que chamaram com desprezo de fim da história, choque das civilizações, onda democratizadora e sucessivamente emergiram novíssimas interpretações da realidade, abençoadas imediatamente pelo grande capital e universalizadas com loas pelos grandes meios de comunicação. Pior ainda foi a avalanche desatada contra os revolucionários em armas. No tempo em que os marines norte-americanos armados com o arsenal mais moderno, amparados por sofisticada artilharia, naves de guerra e aviões de alta tecnologia destrutiva, humilhavam o Exército iraquiano na operação Tormenta do Deserto, diziam que nada justificava mais agora as rebeliões armadas. Sem importar o lugar, as condições históricas, nem a natureza das contradições econômicas, sociais, políticas ou culturais que particularizavam a situação das distintas lutas dos oprimidos, um decreto expedido nas alturas imperiais, e aplicado de imediato por seus capangas em cada país, sentenciava que só tinham algum sentido os meios pacíficos. Mesmo que em muitas partes existam as condições plenas para o exercício de tal expressão da luta popular. E partiram da premissa de que todas as manifestações, armadas e não armadas, de inconformidade e rebeldia, haviam tido origem exclusivamente no interesse soviético por ampliar seu domínio no mundo. Morta a mãe, havia que sacrificar os filhos. Se todas as formas da luta contra a exploração capitalista eram estimuladas pelo comunismo russo, se as pressupostas injustiças e opressões contra as que se alçavam os povos não eram mais do que invenções da propaganda subversiva promovida por Moscou, se o capitalismo era o escalão mais alto e insuperável alcançado pela humanidade, não havia mais remédio do que a rendição. Entre outras coisas, porque com a derrubada do paradigma se pretendia provar a impossibilidade de uma alternativa distinta. Todos os meios e discursos repetiram incessantemente que a salvação buscada não existia, como acabava de ser demonstrado, mas sobretudo porque tão pouco o perigo havia existido. O capitalismo nunca havia sido um monstro, mas uma benção divina. Canalhas, miseráveis, dinossauros depreciáveis e estúpidos, múmias congeladas no tempo, peças descartáveis de museu, cegos sem cajados e surdos sem remédio, tudo isso foi dito dos que perseveramos na luta contra as injustiças. A fúria reunida de todos os furacões era pequena perante o temível tsunami que caiu sobre os revolucionários e rebeldes. Muitos cederam, é verdade. Beberam da nova fonte da sabedoria e ficaram perplexos, intimidados pelo descomunal gigantismo do poder único. Resignaram suas ideias e seus esforços por transformar o todo e construir sua verdade. Não merecem uma palavra mais que se refira a eles. Nós não, nós seguimos apostando na causa e seguros do triunfo. Desde então todas as iras imperiais e oligárquicas caíram sobre nossas cabeças; não houve infâmia que não se atribuísse a nossa organização. Perseverar na luta se converteu em estigma, operações exemplares se ergueram para executar-nos com sevícia, os círculos do poder celebraram em uníssono uma e outra vez cada golpe que recebíamos: converteram-nos em malditos. Ainda assim seguimos adiante. Inspirados entre outras coisas pela dignidade do povo de Cuba, essa nação de titãs que iluminados pelas palavras de Fidel e Che, levanta invencível nas barbas do Império. Animados pela claridade diáfana do pensamento de nossos fundadores, reivindicando o sangue e a honra daqueles que tombaram lutando. Mas sobretudo conscientes de que, não porque a repetiram milhões de vezes, a mentira institucionalizada ia a converte-se em verdade absoluta. Enquanto a fome e a injustiça afetaram uma imensa maioria de nossos compatriotas, enquanto a violência sanguinária do Estado continuara cerceando milhares de vidas em nosso solo, nossas razões se mantinham vivas. Não porque conseguiram impor-se pela força das armas e o medo, se tornaram válidos os argumentos do grande capital para saquear sem trégua as riquezas do nosso país, para cortar de uma vez os direitos conquistados pelos trabalhadores em um século de lutas, para redistribuir a propriedade da terra a seu favor mediante a geração de massacre e o desterro. Não porque nos chamaram da pior maneira, porque asseguraram que carecíamos de ideias e só nos alentavam as motivações vis, porque seus cantos de sereia nos convidaram à rendição ao mesmo tempo em que nos despejavam toneladas de explosivos, nós, as FARC-EP, íamos deixar de alentar nosso povo à luta e jogar a decência no lado do caminho. Somos revolucionários, cremos na possibilidade de que o povo colombiano arrebente as correntes com que ataram sua soberania nacional, apostamos sem duvidar que, ao abrirem-se os espaços para a expressão livre do pensamento e o exercício da atividade política, sem risco para a vida e para a liberdade, as pessoas honradas do nosso país, essa grande maioria, alcançaremos as mudanças necessários. Sempre soubemos que não é mediante a força solitária das armas que vamos conseguir o poder para nosso povo. Porém, sabemos que nas condições violentas e desvantajosas em que a oposição política é obrigada a atuar em nosso país, apenas as vias pacíficas resultarão insuficientes. A história da União Patriótica demonstra isso. Na particular situação em que o povo da Colômbia é obrigado a viver, o emprego revolucionário das armas tem sido necessário para sustentar a resistência e manter acesa a possibilidade de abrir o caminho para uma verdadeira democracia. Há sido a oligarquia do nosso país, servil ao imperialismo, a que sempre promoveu a guerra. Nós apenas lhe fazemos frente. Que tudo isso mude é nossa aspiração ao dialogar com o governo em Havana. Para alcançar essa Mesa tivemos que suportar a mais demente arremetida que já sofreu algum povo em toda a história do nosso continente. Durante 49 anos contínuos, milhares de mulheres e homens temos entregado o melhor das nossas vidas sem receber um centavo em troca. Isso não nos confere o direito de nos considerarmos superiores a ninguém. Também somos conscientes disso. Mas sem dúvidas que tanto esforço, tantas vidas regadas no caminho, tantos mártires sacrificados na tortura e nas masmorras, nos outorgam o direito a chamarmo-nos revolucionários e a ocupar o lugar que merecemos na construção do novo país. E isso, ninguém pode negar. Montanhas da Colômbia, 25 de maio de 2013. FARC-EP

domingo, 2 de junho de 2013

As FARC-Exército do Povo. Meio século de luta pela paz.

Por Miguel Urbano Rodrigues 31 de maio de 2013 O comunicado conjunto divulgado em Havana no dia 26 de maio pelas delegações das FARC-EP e pelo governo de Bogotá significou a abertura de um novo ciclo de diálogos de paz iniciados naquela cidade. Depois de seis meses de conversações difíceis, os representantes da guerrilha e do executivo colombiano assinaram um acordo para a “Reforma Rural Integral”, primeiro ponto da Agenda em debate. O documento aprovado prevê transformações radicais no mundo agrário. A maioria das principais exigências das FARC foi aprovada. Entre elas, a relativa ao acesso ao uso da terra, à formalização da propriedade, às terras improdutivas, aos programas de desenvolvimento social (educação, habitação, erradicação da pobreza), ao estímulo à produção agropecuária, ao Fundo de terras pela Paz, ao ambiente. No dia 11 de junho as delegações iniciam a discussão do segundo ponto da Agenda: a Participação Política, que abarca o tema crucial da Democracia. O presidente Juan Manuel Santos afirmou que está empenhado na continuação do processo “com prudência e responsabilidade”. Em uma Declaração emitida simultaneamente em Havana, as FARC-EP consideram positivo o acordo alcançado sobre a Reforma Agrária, mas alertam sobre as dificuldades do diálogo na Mesa de Negociações, sobre os pontos restantes da Agenda, especialmente os relativos à droga, ao cessar fogo e armamentos e à reintegração das populações expulsas de seus territórios. As FARC estão conscientes de que a conquista da paz é inseparável do desmonte da oligarquia que utiliza o Estado como instrumento de sua política de classe, marcada por uma repressão feroz. É significativo que quando cresce o apoio popular às iniciativas do Movimento Colombiano pela Paz, liderado pela ex-Senadora Piedad Córdoba, alguns ministros – entre eles Fernando Carrillo e o do Interior – falem outra linguagem, sugerindo o fim das conversações se antes do Natal não for assinado um Acordo Global. O alto comando das Forças Armadas também se empenha em sabotar os debates de Havana – apoiados por Noruega e Cuba – intensificando a guerra. Os 50 Drones – aviões assassinos sem piloto – recentemente adquiridos já haviam sido utilizados em bombardeios em La Macarena, Orito, Saravena e Catatumbo. A posição de Barack Obama é, como habitual, ambígua e hipócrita. Diz apoiar os diálogos para a Paz, mas envia o vice-presidente Joe Biden a Bogotá para derramar elogios sobre o governo da Colômbia, seu melhor aliado na América Latina, e expressar ali o desejo dos EUA de aderir à chamada Aliança do Pacífico. Cabe esclarecer que esta estranha aliança foi concebida em Washington para funcionar como contraponto ao Mercosul. Por ora, a integram México, Chile, Colômbia e Peru, países cujos governos desenvolvem políticas de submissão ao imperialismo estadunidense. O apoio militar à guerra contra as FARC-EP prossegue. Os EUA que já investiram mais de oito bilhões de euros no financiamento do Plano Colômbia, instalaram no país sete novas bases militares desde o início da Administração Obama. Meio século de luta Ao contrário da imagem edênica de país próspero em acelerado desenvolvimento pela ação de um governo democrático e progressista, imagem que Juan Manuel Santos difundiu em sua visita a Europa, a situação na Colômbia continua degradando-se. O paramilitarismo permanece impune com raras exceções. A corrupção desenfreada e a miséria, na capital e nas grandes cidades, são crescentes. As mais numerosas e bem equipadas forças armadas da América Latina – meio milhão de militares – absorvem uma quantia colossal do orçamento. A fome, endêmica em muitas regiões, afeta oito milhões de pessoas. 15.000 crianças morrem anualmente antes dos cinco anos por desnutrição. Dirigentes sindicais são assassinados cotidianamente todos os meses. Mas o número de multimilionários aumenta a cada ano em uma das sociedades mais desiguais do mundo. As FARC-EP, fundadas em Marquetalia depois de combates épicos na ruptura de um cerco, acabam de comemorar 49 anos de existência e de luta ininterrupta. Incluídas pela União Europeia e pela ONU na lista de organizações terroristas, caluniadas, acusadas de narcotraficantes por um presidente, Álvaro Uribe Vélez (aliado de Pablo Escobar, o rei da coca), as FARC se assumem como organização revolucionária, marxista-leninista. “Somos povo – afirmam – que empunha as armas contra as armas do poder e contra a repressão”. Moderadamente otimistas, tudo fazem para que as conversações de Havana permitam a concretização das aspirações de paz do povo colombiano. Mas não esquecem que uma das cláusulas da Agenda estabelece que o Acordo Geral de Paz somente será possível se todos os pontos nele incluídos forem aprovados. O rechaço de qualquer deles implicará a anulação dos demais. Por si só, essa exigência esclarece a falta de transparência e da má fé que foram permanentes nas posições dos delegados do governo na Mesa de Negociações. Hoje, como sempre, as FARC-EP defendem uma solução política cujo desenlace será a Paz definitiva em uma Colômbia democrática. Eles creem como Bolívar que as Forças Armadas devem ser o povo em armas, um instrumento da defesa da soberania nacional. Usa-las contra o povo, como ocorre na Colômbia, é um crime monstruoso.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Os Perigos da Manipulação Psiquiatrica, Paranormalidade e Mediunidade em Favor da Nova Ordem Mundial

Os globalistas Illuminati's estão fazendo de tudo para ter o controle da psique humana, inclusive alegando descaradamente que questionar o Sistema é uma doença mental. Questionar o sistema e a autoridade é uma doença, de acordo com a indústria psiquiátrica norte americana. A Associação Psiquiátrica Americana considera um transtorno mental desafiar o pensamento, o que sem dúvidas é algo adequado para manter uma sociedade de pessoas (ou robôs) aprisionados, em conformidade com o que eles consideram normal. Pensar de forma diferente dos padrões dominantes da sociedade, que é às vezes chamado de livre-pensamento é uma NOVA "doença mental" de acordo com a nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana. Este manual tipifica e cria uma nova categoria de doença chamada de “transtorno desafiador opositivo (TDO, em Inglês) e define-a como ”um padrão contínuo de comportamento desobediente, hostil e desafiador," com sintomas que incluem o questionamento á autoridade, desacato, e argumentatividade facilmente perturbada. Este manual é utilizado pelos médicos norte americanos para identificar a doença mental e cada questão deverá aumentar substancialmente o número de doenças mentais, que questiona se o indivíduo está com problemas mentais ou encontra-se cada vez mais difícil de ser mentalmente saudável. Os médicos dizem que é porque agora podemos mais facilmente identificar esses distúrbios, o que também significa que pode tratar mais pessoas e mantê-los em instituições para doentes mentais. Esta nova doença criada e classificada por eles seria um transtorno do pensamento desafiador, que pode ser usado de forma política, como um método de regulação que vale a pena pensar em uma sociedade automatizada e evitar a geração e comunicação de pensamento em conformidade com os valores tradicionais da sociedade. Infelizmente meus amigos, essa é a grande realidade: a Psiquiatria moderna tem se tornado em um dos ramos da Indústria da Morte, e que poderá ser constatada por qualquer pesquisador sério e comprometido com a verdade e liberdade individual. Exitem diversos vídeos na internet, onde se pode obter mais informações sobre o tema, sendo que alguns deles reproduziremos para ilustração desse artigo. Há uma enorme denúncia surgindo a partir de um organismo em Los Angeles, pela defesa dos Direitos Humanos (?), de que a psiquiatria é uma indústria de introdução de remédios nas pessoas, que não as tratam, tampouco curam, embasados numa teoria de que os transtornos mentais devem originar-se de uma possível desordem química no cérebro (teoria esta que nunca foi pesquisada, muito menos comprovada, mas foi apropriada pelos psiquiatras logo que lançadas, porque sempre atuaram na contramão da pesquisa científica típica - eles queriam tratar das doenças mentais e por isso precisavam de alguma teoria científica que corroborasse sua prática). Original em http://midiaglobal-2012.blogspot.com.br/2011/07/os-perigos-da-manipulacao-psiquiatrica.html

domingo, 31 de março de 2013

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico

Por Eliane Brum) O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões. - Você é evangélico? – ela perguntou. - Sou! – ele respondeu, animado. - De que igreja? - Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve. - Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida? - Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá. - Legal. - De que religião você é? - Eu não tenho religião. Sou ateia. - Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve. - Não, eu não sou religiosa. Sou ateia. - Deus me livre! - Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha. - (riso nervoso). - Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé? - Por que as boas ações não salvam. - Não? - Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva. - Mas eu não quero ser salva. - Deus me livre! - Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível. - Acho que você é espírita. - Não, já disse a você. Sou ateia. - É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar. - Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância? - É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto... O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.) Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se: - Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta. - Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la. Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa. A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros. Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro. Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica. É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país. Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó. Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova. Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta. Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum. Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende. Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele. Original em http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/dura-vida-dos-ateus-em-um-brasil-cada-vez-mais-evangelico.html
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