sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Dois anos em La Habana

Se cumprem dois anos do início das conversações públicas do Governo de Juan Manuel Santos e as FARC-EP, em Oslo, capital do reino da Noruega, após a firma do “Acordo Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura”, subscrito depois de vários meses de discussão na “fase secreta” que antecedeu a etapa pública.
Foram dois anos de duras provas, não isentos de tensões e exasperadas discussões, inclusive públicas, e de ameaças e ultimatos, por parte do Governo, cada vez que os atos de guerra da insurgência afetam a Força Pública. É o resultado de dialogar em meio à guerra, imposto pelo Governo com a pretensão de golpear a guerrilha e pressioná-la a aceitar os acordos de “entrega de armas e desmobilização”, segundo a linguagem oficial.
Dois anos depois, a partir do lado das organizações humanitárias e ativistas da paz, se insiste na trégua e no cessar de fogos bilateral como forma de que os diálogos avancem num ambiente de distensão e sem o ruído das armas.
Também avançam em meio à ameaça dos sabres pelas imposições do militarismo frente a um presidente Santos medroso; e das ações abertas, de dentro e fora do Governo, dos inimigos da paz em Colômbia. Provocações como a espionagem às delegações de paz, incluindo ao chefe da missão oficial Humberto de la Calle Lombana, a operação Andrômeda da inteligência militar e a atividade subversiva e ilegal do hacker Sepúlveda em conexão com militares, policiais e com a campanha presidencial uribista, foram fustigações para arrebentar a mesa de Havana.
À frente dos provocadores estão o ex-presidente e agora senador Álvaro Uribe, alguns mandos militares, oficiais reformados, pecuaristas, narcoparamilitares e o ministro de Defesa, Juan Carlos Pinzón. Ninguém entende por que este continua no gabinete, a não ser que seja orquestrado para que Santos se faça de bom e o ministro de mau.

No entanto, em contraste, crescem as forças da paz, que estão construindo a Frente Ampla pela Paz, a democracia e a soberania, não só para defender os diálogos com a insurgência como também na perspectiva de forjar um movimento alternativo com opção de poder popular.
O balanço dos dois anos é positivo. Há duas semanas foram divulgados os esboços dos acordos parciais sobre os três primeiros pontos debatidos [desenvolvimento agrário, participação política e drogas ilícitas], mantidos em segredo até então por pressão governamental. A publicação deixou claro que existem evidentes avanços, ainda que também pontos pendentes, muito importantes e transcendentais para que desapareçam as causas do conflito colombiano.
Apesar do conceito da paz express que o governo manejou em função da campanha re-eleitoral, se impôs a ideia do “tempo razoável” para que a agenda possa ser completada com o debate de cada um dos temas que dela se derivam. Ainda que os porta-vozes governamentais continuam pressionando com o tempo, agora com o argumento de que é necessário preparar o pós-conflito quando ainda faltam os acordos sobre três pontos [são seis os que a agenda contém] e também faltam dirimir os desacordos nos três pontos que já têm acordos parciais.
Os últimos dias estiveram movidos pela divulgação das visitas de Timoleón Jiménez a Havana por parte do ministro Pinzón, apesar de que haviam sido combinadas com o Governo em função do trabalho da Delegação de Paz das FARC-EP. Contudo, o presidente Santos guardou silencia ante a provocação e a insolência de Pinzón.
Se avançou, porém falta muito trecho ainda. Está longe o tal pós-conflito, que não é outro senão a implementação dos acordos e o desenvolvimento da Assembleia Nacional Constituinte que deve ratificar os acordos, dirimir os desacordos e aprovar reformas políticas, sociais e econômicas profundas para uma nova Colômbia democrática e do progresso social.

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