sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sobre conflito social e luta de classe.

A instabilidade econômica gera inquietação uma vez que na sociedade capitalista, tudo que pode dar estabilidade social custa dinheiro.

O que determina a instabilidade econômica? Podemos dizer que é o desemprego, mas aí, temos a ocupação informal provendo uma parte das famílias brasileiras; nesse caso, apesar de não ser exatamente um emprego, mas essas pessoas conseguem reunir condições para adquirirem mercadorias e as revenderem nas vias públicas.

Entretanto não é maioria que está na ocupação informal.Uma grande parte está trabalhando em lojas de departamentos,supermercados, em diversas funções cujos salários variam ( com pequenas diferenças) entre elas: em uma loja de departamentos temos o caixa,o vendedor, o supervisor, o gerente( em algumas eles são diferenciados até pela cor das roupas).Existe ai uma modesta hierarquia entre os funcionários.

Essa gente percebe salários que não atingem um patamar aceitável para que possam estar pagando plano de saúde ou médico particular; escolas, universidades, odontólogos, e ainda adquirir as inúmeras cestas básicas que uma família precisa para viver dignamente durante um mês ( o tempo decorrido entre o recebimento do salário).

Mas os donos das lojas de departamentos, claro, têm acesso fácil a todos esses itens que descrevo acima.

Seus funcionários sabem disso.

Alguns pensam que podem um dia também ser um dono de loja de departamentos.
Mas a maioria sabe que esse dia nunca vai chegar.

Mesmo que não expressem, não declarem sabem disso. O que eles não têm é consciência, ainda, de que são a classe explorada e que seus patrões são a classe exploradora.

Talvez em muitos momentos eles até comentem que se sentem injustiçados, mas, a realidade da exploração ainda não está clara em suas mentes. E até acreditam em ascensão social. É essa visão que faz com que, no mundo de hoje, ter posse ou não é que diferencia uma classe e não a questão da exploração, justamente por causa da falta de consciência de classe entre esses operários, trabalhadores, funcionários, etc. Ou seja, o proletariado.

Mas essa gente aí de que falo ainda não é a maioria; a maioria está fora do mercado de trabalho, fora da ocupação informal e nesses casos não se trata mais apenas de instabilidade econômica, mas de miséria, ou seja, como dizem os técnicos, “abaixo da linha da pobreza”, como se pobreza fosse algo para se aceitar.

Para Karl Marx não é o ter consciência (ser racional), nem tampouco ser um animal político, que confere ao homem sua singularidade, mas ser capaz de produzir suas condições de existência, tanto material quanto ideal.

É isso que o diferencia dos outros animais.

E o que torna o homem capaz de produzir suas condições de existência?

“O homem se constitui a partir de seu próprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condições materiais de produção, que dependem de fatores naturais (clima, biologia, geografia...) ou seja, relação homem-Natureza, assim como da divisão social do trabalho, sua cultura.”(Materialismo Dialético-Conteúdo Global- http://www.conteudoglobal.com/personalidades/karl_marx/index.asp?action=filosofia_marx&nome=A+Filosofia+de+Marx)

O contexto histórico nos conduz a perceber que nos primórdios havia um espírito de coletivismo: todos compartilhavam da mesma terra, não havia propriedade privada; até a caça era compartilhada por todos. As pessoas viviam em comunidades e sempre se preocupavam umas com as outras, em prover as necessidades uns dos outros.

A partir das descobertas territoriais, o homem tronou-se colonizador e com isso surgiu o escravismo: O escravo servia exclusivamente ao seu senhor, produzia para ele e o seu viver era em função dele.

O resto da historia, sabemos: feudalismo, capitalismo mercantilista, capitalismo industrial ( nesse período originou-se a classe do proletariado)

E como todo sistema tem seu período de crise e, consequentemente, uma necessidade de mudança, Adam Smith (o primeiro a incorporar ao trabalho a idéia de riqueza) desenvolveu o liberalismo econômico.

Observa-se assim, que ao longo desse processo histórico, acabaram por se formar as duas classes,por natureza, antagônicas: burguesia e proletariado.

Segundo Marx, sempre existiu uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos na história da humanidade, (senhores x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). ou seja,uma permanente luta de classes.

Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustiça social, e que o único jeito de uma pessoa ficar rica e ampliar sua fortuna seria explorando os trabalhadores, ou seja, o capitalismo, de acordo com Marx é selvagem, pois o operário produz mais para o seu patrão do que o seu próprio custo para a sociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econômico de exploração, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema.

Nos tempos de hoje, por exemplo, a força vendida pelo operário ao patrão é utilizada durante 8 ou mais horas.( por exemplo o caso das empregadas domésticas, que as patroas não assinam carteiras,pagam, apenas um salário mínimo, e exigem um horário muito além das 8 horas, tem, empregada que entra 7 horas e sai 19 horas)

A mais-valia é constituída pela diferença entre o preço pelo qual o empresário compra a força de trabalho (8 horas e nos casos das horas extras trabalhadas) e o preço pelo qual ele vende o resultado, que naturalmente, o pagamento das horas extras não cobre).Percebe-se, então, que quanto menor o preço pago ao operário e quanto maior a duração da jornada de trabalho, tanto maior o lucro empresarial ainda que ele pague as horas extras trabalhadas.

Atualmente, o lucro empresarial é sustentado através do que se denomina mais-valia relativa (em oposição à primeira forma, chamada mais-valia absoluta), que consiste em aumentar a produtividade do trabalho, através da racionalização e aperfeiçoamento tecnológico, fator esse que acaba gerando o desemprego pois demite pessoas em massa. Além do mais, veio com a idéia de que as pessoas precisam de especialização que o Estado não oferece ou oferce apenas para atingir um numero reduzidos de usuários e as pessoas têm que pagar para se especializarem. Dessa forma, não tendo condições para isso, ficam fora do mercado de trabalho.

Essa exclusão resulta não apenas em instabilidade econômica, mas total falta de recursos para provimento seu e de sua família, ou seja, miséria ou abaixo da linha da pobreza (porque o capitalismo trabalha assim: se você ganha um salário mínimo, já pode ter direito a uma cesta básica por mês, então não está com fome)

Os filhos dessas famílias, famintos, vão para as ruas, esmolar,alguns vão para os sinais fazer malabarismos para conseguir trocados, limpar para brisas de carros; outros passam a praticar pequenos furtos e outros passam a fazer assaltos à mão armada porque se integraram a outros grupos constituído de adolescentes e jovens na mesma situação, controlados por adultos na mesma situação.

E por quê?

Na rua, eles vêem os filhos das classes privilegiadas exibirem-se com seus tênis de ultima marca que muitas vezes custa muito mais que um salário mínimo e aí, vem a frustração, a tristeza, e finalmente uma revolta que faz com que uma já considerável parcela conduza-se com violência para conseguir o que desejam, a despeito das forças de repressão do aparelho estatal que, Tb mal remuneradas, entretanto, parecem não se importar de estarem mais a serviço da proteção do patrimônio do que das vidas das pessoas.

Na economia do capitalismo, a miséria é a realidade contextual onde os menos favorecidos são a imensa maioria e onde os que detêm a riqueza é a esmagadora minoria. A questão da dispersão da renda média acaba por conduzir à miséria uma faixa da população que ainda nela não se achava, ou seja,, á total falta de recursos, à penúria,à pobreza extrema, que exclui da sociedade essas pessoas pois elas não têm e no contexto capitalista, só vale quem tem.E com isso, surgem os conflitos sociais pois essa massa, no fundo, não aceita essa situação.

Mas a sociedade capitalista administra os conflitos sociais com os programas de
Bolsas(de parte do Governo), com a ajuda das ONGS, que por sua vez, estão a serviço dos parlamentares ou criadas por eles para fingir que estão fazendo bom uso do dinheiro público ajudando um numero reduzido da população, aqueles que lhes angariaram votos), com os planos de saúde empresariais( uma grande loja de departamentos, por exemplo, resolve contratar os serviços da UNIMED para seus funcionários ); e dessa forma, tenta neutralizar qualquer tentativa de luta de classe, ou seja, a revolta dos explorados contra a burguesia.

Pelo que leio, entendo e pela minha visão de mundo e tento expor acima, concluo que entre lutas de classe e conflito social existe uma diferença em que o conflito se estabelece a partir das desigualdades sociais, a injustiça social, a má distribuição da renda e que, conforme a conscientização das massas para essa realidade que às impele para a miséria e exclusão, pode ser deflagrada a luta de classe de forma literal uma vez que ela existe naturalmente em função do antagonismo permanente: se sou empregado não sou patrão. E por mais que o proletário pense que um dia pode ser um patrão, até ele chegar lá haverá um espaço de tempo em que estará lutando contra ser classe proletária desejando ser classe burguesa e achando que trabalhando para o patrão pode chegar a ficar igual a ele. E o patrão, muito esperto, cria mecanismos que despertem no proletário a sensação de que isso pode acontecer e com isso vai conseguindo melhor produtividade.

Eu entendo com isso que há, conforme o próprio Marx refere, a luta permanente de classes( o proletário quer ser burguês mas o burguês, que sabe que o proletário sonha em ser burguês, vai criar mecanismos para que ele acredite que um dia será por conta da força do trabalho que vende ao patrão, e o pior que muitos acreditam nisso- “ se eu trabalhar duro eu consigo”).

O burguês, (o patrão, o empresário, o banqueiro, por exemplo) assim, se aproveita, também, da falta de consciência que atinge ainda grande parte do proletário e cria mecanismos para que ela se prolifere.

Ninféia G

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