Doutor
JUAN MANUEL SANTOS
Candidato
pela Unidad Nacional
Doutor
OSCAR IVAN ZULUAGA
Candidato
pelo Centro Democrático
Compatriotas:
No
próximo dia 15 de junho, os cidadãos colombianos que decidam
participar com seu voto no segundo turno das eleições à
Presidência da República determinarão nas urnas qual de vocês
dois haverá de ocupar a primeira magistratura da nação. É de
público conhecimento que, igual a uma imensa maioria de colombianos,
nós não acreditamos na legitimidade do regime político e no
sistema eleitoral vigentes em nosso país, o qual não pode
significar, em nenhum caso, que sejamos indiferentes aos resultados
finais de uma eleição, que necessariamente há de ter
transcendentais consequências no futuro da pátria.
Por
isso, consideramos a importância de dirigir-nos a Vocês de maneira
pública, com o objetivo de auscultar aos olhos da nação e da
comunidade internacional qual é sua verdadeira posição em torno do
tema da paz, da solução política ao conflito e das conversações
que se adiantam atualmente em Havana. Sobre a base de considerar que
por estes dias as FARC-EP, assim como o ELN, estamos celebrando o 50º
aniversário de nossa fundação, e que já são, portanto, cinco as
décadas de confrontação incessante entre colombianos, por causas
que desde nosso próprio nascimento consideramos possíveis de
solucionar por vias democráticas e pacíficas, completamente
diferentes à guerra.
Partimos
do critério de que nos separam profundas contradições na hora de
examinar a realidade nacional, assim como posições abertamente
opostas em torno das possíveis vias para superar o atraso secular da
economia, as gravíssimas iniquidades sociais e, sobretudo, as
enormes limitações ao exercício de uma democracia efetiva. Sempre
acreditamos que, por diferentes que sejam nossas posições
ideológicas e políticas, poderiam e deveriam tramitar-se por canais
civilizados, alheios a qualquer forma de violência, deixando ao
debate e ao proselitismo limpos todos os espaços para que nossos
compatriotas possam eleger a proposta de suas preferências, sem
fechar os caminhos nem obstaculizar giros em sua decisão para o
futuro.
Que
maravilhoso país teríamos, então. Porém, quão difícil e
tormentoso se tornou lutar por materializá-lo. Primeiro, por obra de
um bipartidarismo exacerbado, por conta do qual se condenou a
Colômbia a quase um século de confrontações fratricidas, e depois
por obra de um bipartidarismo excludente, que, ao encontrar na Frente
Nacional a fórmula de pôr fim ao dessangramento por duas cores
políticas, proscreveu qualquer outra alternativa política,
perseguindo-a com o pretexto de ser comunista, em aliança servil com
os governos norte-americanos enredados numa guerra fria que nos era
absolutamente estranha. Após essas violências, sempre atuou a mão
sinistra de forças econômicas ligadas ao latifúndio, ao despojo
violento da terra aos campesinos e indígenas, a interesses
empresariais monopólicos vinculados ao comércio internacional,
entre outros, sempre à sombra de governos liberais, conservadores ou
de alguma coalizão bipartidarista disfarçada.
A
guerra que recentemente cumpriu dez lustros, com suas horríveis
sequelas em vidas, lesões, lares despedaçados, regiões assoladas,
paramilitarismo, desterrados, deslocados, projetos mutilados e demais
tragédias inomináveis, não haveria tido que prorromper-se se a
classe política liberal conservadora que governava na época não
houvesse recorrido ao expediente de empregar a força bruta contra as
comunidades agrárias. Se trata de realidades amplamente documentadas
sobre as quais não é nosso objetivo agora aprofundar. Tampouco se
haveria prolongado até hoje se os esforços de paz iniciados pelo
Presidente Belisario Betancur, há 30 anos, não houvessem sido
anulados pela mão criminal que exterminou a Unión Patriótica. Com
Belisario se firmou um Acordo de cessar-fogo, trégua e paz que hoje
todos querem esquecer, o qual não se materializou pela negativa da
classe política a aprovar no Congresso as reformas pactuadas.
A
história dos frustrados processos de paz em Colômbia não pode
fazer
abstração do peso que tiveram em seus fracassos as posições
abertamente hostis das forças militares oficiais. Por alguma razão,
evidentemente ligada aos pactos sucessivamente firmados com o alto
comando dos Estados Unidos, os generais colombianos sempre
coincidiram em atravessar-se nos propósitos re reconciliação, sem
que nunca tenham conseguido derrotar a insurgência no campo de
batalha, e menos ainda sacar suas mãos limpas da onda de crimes e
violência generalizada contra a população mais humilde. Acusar uma
e outra vez os levantados em armas da responsabilidade pelos estragos
da confrontação tem sido um fácil expediente para salvar suas
próprias culpas. Como agora, quando, ao rechaçar qualquer grau do
que se deu em chamar impunidade, se nos acusa de maneira exclusiva.
Tampouco se nos oculta que, por trás do emprego do poder militar e
paramilitar em Colômbia, se ocultam poderosos interesses econômicos
e mafiosos.
Senhores
candidatos: cremos chegado o momento de pôr fim ao longo conflito
colombiano. Apostamos o melhor de nossas vontades para isso. Desde
logo que, expondo nossa posição em torno ao que denominamos paz com
justiça social e democracia, que, tal e como podem corroborá-lo os
porta-vozes do governo nacional na Mesa de Havana, não confundimos
em nenhum caso com a aspiração de subscrever uma revolução por
contrato. Pactuemos uma ampliação efetiva das liberdades e
garantias democráticas no país, que permitam um exercício aberto
da oposição política, ponhamo-nos de acordo numas fórmulas
mínimas de solução às iniquidades econômicas e sociais, vejamos
a possibilidade de conseguir do alto comando militar e policial,
assim como de seus inspiradores e incitadores, uma colaboração real
aos esforços de paz e reconciliação. Sigamos explorando caminhos e
fórmulas que nos conduzam a encontrar de modo combinado e bilateral
soluções que incluam a verdade do conflito e deem satisfação às
partes, às vítimas e à comunidade internacional.
Não
esquecemos que o próprio doutor Álvaro Uribe Vélez gestionou para
o final de seu segundo governo a possibilidade de entabular
conversações de paz conosco. Nem que o Presidente Santos se valeu
desses contatos para fazer-nos chegar suas propostas. Por isso,
avaliamos em sua justa medida que o candidato Oscar Iván Zuluaga
tenha se pronunciado a favor da solução política e da continuação
da Mesa de Havana. Entendemos, porque assim é a política, que
procure diferenciar-se do candidato Juan Manuel Santos, na medida em
que este pode invocar, com justa razão, um bom trecho de vantagem no
caminho para a concretização de um acordo de paz. Depois de tudo,
não se pode negar que reconheceu a existência do conflito e que há
acordos parciais firmados em três pontos da Agenda acordada. No
entanto, nos enche de ânimos e esperança o fato de que um e outro
expressem seu interesse pela via dos diálogos. Poderíamos afirmar
que nenhum está falando abertamente de guerra total, submissões ou
rendições. Expressar-se nesses termos na Colômbia de hoje poderia
acarretar custos muito altos em termos políticos.
Porém,
o que, sim, acreditamos, com independência do franco otimismo pela
paz que nos acompanha nestas horas, é que o candidato ganhador será
aquele que consiga despertar na maioria dos votantes a certeza de
que, com ele na Presidência, se chegará á firma de um acordo de
paz definitivo. E essa certeza só pode nascer de posições claras,
de compromissos definidos. Por grande que seja o ceticismo dos
setores dominantes no país acerca de nosso capital político, as
FARC-EP sabemos de nossa incidência na política do país, na tomada
de decisões por parte do povo colombiano. Daí nosso projeto de uma
Assembleia Nacional Constituinte que ratifique os acordos firmados.
Em
inícios do passado mês de maio, os comandos militares anunciaram a
possível morte do Comandante Carlos Antonio Lozada, membro do
Secretariado Nacional das FARC, num bombardeio no Guaviare. Ainda que
frustrado, o ataque se produziu, com saldo de várias baixas nossas.
Do mesmo modo, no final do mês, também terminou frustrado um ataque
similar contra o Comandante pastor Alape, integrante de nosso
Secretariado Nacional, com várias baixas em nossa força. Não cabe
dúvida que isso fala mais de uma política de submissão e rendição
que da solução civilizada e dialogada com a qual o candidato Santos
afirma jogar-se com tudo. Igualmente, pode se pensar da série de
condicionamentos à Mesa expostos pelo candidato Zuluaga, ou de sua
não esclarecida vinculação com os fascistas confessos, autores da
espionagem e sabotagem informática ao processo que se cumpre em
Havana.
Cremos
que os candidatos à Presidência da República devem definir
claramente ante o país se o que pretendem com uma mesa de
conversações é o cenário para uma entrega submissa, ou se
realmente propendem por um cenário para a reconciliação efetiva da
família colombiana. Se seu interesse manifesto por alcançar a
ansiada paz vai mais além dos prazos peremptórios, ou desde já
começa uma contagem regressiva urgente. Se sua aspiração de
conseguir a paz vai até garantir a democratização da vida
nacional, ou, pelo contrário, implica a agudização da confrontação
e o indetenível
crescimento do aparato bélico. As FARC-EP, qualquer que seja sua
resposta ou atitude, jamais recuaremos na busca da paz com justiça
social e democracia porque temos a confiança absoluta em que as
grandes maiorias do país também a desejam e terminarão
conquistando-a. Nosso compromisso é com elas e nos devemos a elas.
SECRETARIADO
DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
Montanhas
da Colômbia, 6 de junho de 2014.
Fonte: http://farc-ep.co/?p=3374
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