Por
Jaime Caycedo
O
secretário-geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caycedo,
analisa os votos que fizeram possível a reeleição de Juan Manuel
Santos, a necessidade de reformas democráticas que estruturem uma
paz estável e o culminante tema que inicia sua discussão em Havana:
as vítimas.
Em
entrevista com o
Semanário VOZ,
Caycedo ressalta os desafios de independência da frente ampla e a
necessidade de fazê-la girar para a esquerda.
— Qual
é a primeira leitura que se pode fazer da eleição de Juan Manuel
Santos nos comícios presidenciais passados?
— O
presidente eleito tem uma maioria que não é frágil, porém é
evidente que a ultra direita obteve um montante importante de votos e
põe a pensar em qual será a perspectiva para o futuro imediato e o
governo que vem. Do que não pode se
ufanar Santos é ter em sua
mão um cheque em branco, porque ganhou graças aos votos da
esquerda. Se a diferença entre Santos e Zuluaga tivesse sido maior
do que dois milhões de votos, se poderia assegurar que a
contribuição da esquerda pôde ter sido residual, porém, neste
caso, a esquerda foi decisiva e isso tem que ser claro no projeto da
política social e da política de paz deste novo governo.
— É claro, então, que o
voto por Santos foi pela solução política ao conflito e não por
sua visão de Estado.
— É a avaliação do que
representou nosso voto: a solução política como saída e, desde
logo, o diálogo como fórmula. Porém é evidente que só esse fato
não é suficiente, pois o projeto do processo de paz que vem se
adiantando em Havana tem na atitude do governo Santos um flagrante
desconhecimento das necessárias reformas democráticas, políticas e
sociais para o país. E esses são elementos que, neste momento,
resultam ser obstáculos para alcançar a paz.
— A paz foi um plebiscito,
porém o governo Santos não passou o exame nesse tema.
— O processo de paz
recebeu uma espadeirada. É um fato positivo que o povo colombiano
tenha acolhido essa via. Porém, o processo de paz requer
ingredientes novos. Nós vimos insistindo em que se deve diminuir a
concepção da guerra como política dominante do Estado. O orçamento
mais alto é o da guerra, então não nos venham dizer que com esse
orçamento de guerra se faz a paz; a paz não se faz com um aparelho
militar gigantesco que assusta os países vizinhos. Se necessita
vontade real do governo Santos.
— Há muito trecho entre a
paz de Santos e a paz com mudanças?
— A mobilização, as
paralisações, os protestos não são um ponto adjetivo, não é um
assunto à margem da paz. O apoio com votos para o presidente implica
que os temas agrários, a desprivatização da saúde, a solução da
educação privatizada e a iminente reforma trabalhista são
exigências que nascem a partir do movimento popular e obrigam a ser
vinculantes no tema de paz. O governo deve entender que esses
assuntos fazem parte das reformas para a paz com justiça social, do
contrário, a paz não se aclimatará em Colômbia, nada passará se
não se resolvem os grandes desequilíbrios do país.
— Os milhões de votos
querem dizer que paz sim, porém o modelo Santos não?
— É um paradoxo deste
governo. Santos recebe respaldo para avançar num processo de solução
política, porém não é para seu modelo econômico e social e menos
[ainda] para o projeto atual do estabelecimento colombiano. Esse
sistema político está em crise e o presidente reeleito não quer
reconhecer. Sua proposta de suprimir a reeleição é um problema
antagônico, isso não toca nos temas de fundo para uma abertura
democrática. Por exemplo: há que modificar o sistema eleitoral, a
lei 1475, mediante a qual se proíbem em Colômbia as coalizões de
forças alternativas para constituir novas maiorias no país, com o
pretexto da dupla militância.
— O novo governo permitirá
uns mínimos para a oposição?
— Na antidemocracia do
sistema político se carece até de um estatuto para a oposição
desde há duas décadas, porém, neste caso, tampouco é um estatuto
para a direita de Álvaro Uribe Vélez, que hoje tem presença no
Estado. O uribismo faz parte do governo, em regiões do país foi a
burocracia que fez possível os sete milhões de votos de Óscar Iván
Zuluaga, isso não é simpatia por ele. O santismo e o uribismo são
parte do mesmo Estado.
Nós somos oposição
democrática diferente da ultra direita e por isso reivindicamos uns
mínimos: não mais exclusão, nem genocídios. Se deve ampliar a
esfera política e democrática para incluir não só a esquerda
domesticada, como também a esquerda revolucionária que está aqui e
a que pode vir. Toda a esquerda.
— A propósito da unidade
e da esquerda, que papel assume a Frente Ampla?
— Nós não queremos
estabelecer uma caracterização taxativa desta iniciativa que vem
tomando força para uma paz com mudanças, liberdades e soberania. A
Frente Ampla está gerando na esquerda novos reagrupamentos, novas
visões e aproximações que, a nosso ver, são positivas. Porém, o
governo quis cooptar essa Frente desde antes das eleições. Por isso
rechaçamos que a Frente se confunda com uma estrutura de governo sob
a direção de Juan Manuel Santos e seu modelo de guerra e
neoliberalismo
Por isso, acreditamos que
essa iniciativa de unidade deve assumir sua independência para atuar
em favor de uma solução política que se diferencie da ideia de paz
que o governo apregoa: a paz express,
sem compromissos nem mudanças, o silêncio dos tiros sem mudanças
profundas na sociedade, sem estimular uma batalha de ideias contra o
fascismo incorporado na cotidianidade dos concidadãos. E menos
[ainda] uma paz em favor desse grande capital transnacional que busca
um novo espaço para negócios.
— O tema do fascismo
ressurgiu em cabeça do uribismo. Esse pode ser outro desafio para a
Frente Ampla?
— Sim, isso é o que
chamamos a construção da pós-guerra. Necessitamos criar as
condições de mudança que permitam romper as amarras ideológicas
do narco-paramilitarismo, do anticomunismo, da confrontação do mito
do castro-chavismo, que não é mais que uma invenção do uribismo
para agitar um fantasma entre os setores médios do país. Esse é um
desafio da frente: uma cultura de paz, de liberdades, da inclusão.
Sem eles, a paz é impossível em Colômbia.
— Por último. Se está
dando início ao tema de vítimas no processo de conversações. Que
opinião tem a respeito?
— Esse
tema é tão incerto como a verdade histórica. Não
se reconheceu ao Partido Comunista em toda a sua história, inclusive
na recente da União Patriótica ou desde sua fundação, o ser
vítima. O anticomunismo foi uma parte da doutrina do Estado e
naturalmente isso é uma carga muito grande. Quantas vítimas do
Partido Comunista existem em Colômbia, companheiros mortos na
tortura, assassinados, desaparecidos e até agora ninguém sabe nada
deles e, sem ir muito longe, a história do genocídio da União
Patriótica. Essas vítimas devem ser reconhecidas.
El anticomunismo debe ser reconocido como causa de violencia contra el pueblo y del exterminio y los genocidios, que debe ser extirpado de la Colombia en paz. Queremos que el gobierno flexibilice su postura ante estos temas, no solo le exija a los insurgentes hacerlo. No se puede seguir culpando a los comunistas de la guerra en Colombia, el informe Basta Ya exonera al Estado de culpas en el conflicto y también libera a los empresarios y la clase dominante de responsabilidades, pero ellos encendieron la guerra
fuente:
pacocol.org
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