quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Luta linguística antiterrorista: por que usamos ‘Daesh’ em vez de ‘Estado Islâmico’? Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20151202/2949370/daesh-terrorismo.html#ixzz3tEtre6se

O Conselho Interreligioso russo exigiu a unificação de todos os nomes do grupo terrorista proibido na Rússia, que na mídia é conhecido como ISIL, ISIS ou Estado Islâmico (EI). Ao que se sabe, após este pedido muitas edições resolveram seguir a proposta. A Sputnik esclarece a razão por trás da exigência.

De acordo com o Conselho, o nome que os militantes usam para se referir a si mesmos dá uma noção errada de Islã. O vice-chefe da Administração clero de muçulmanos da Rússia Damir-hazrat Mukhetdinov explicou o uso linguístico da palavra e a noção religiosa:
"O mais correto é chamar a organização de acordo com a sigla árabe Daesh. É claro que a tradução em russo seria a mesma [Estado Islâmico do Iraque e Levante], mas não é óbvio, quando jornalistas escrevem Daesh. Por exemplo, o que é 'Al-Qaeda'? Nós não traduzimos isso em russo e, por esta via, não demos o equivalente à palavra, que significa 'regras'. Mas, no caso do uso do nome 'Estado Islâmico', a palavra Islã é usada no significado errado".
Daesh, ISIS, ISIL – o que tudo isto significa? 
"Daesh" é a sigla em árabe para al-Daula al-Islamiya al-Iraq wa Sham (Estado Islâmico do Iraque e Sham [Levante]). O mais correto seria "Daish", mas a variante "Daesh" é mais usada na mídia, o que é mais correto do ponto de vista de pronúncia.
O acrônimo ISIS é usado amplamente na mídia em inglês e significa Estado Islâmico do Iraque e Síria, o que provoca muita controvérsia, já que o Iraque e a Síria são dois Estados soberanos que não têm nada a ver com os terroristas cujas ações sangrentas sacodem o mundo inteiro. Altos diplomatas e políticos em várias línguas, inclusive o inglês, usam o acrônimo “ISIL” no qual a única coisa que difere da sigla anterior é a letra “L” que significa Levante – uma região não determinada de forma precisa e que abrange Síria, Palestina, Jordânia e Líbano.
Em árabe, a região do Levante chama-se al-Sham e é também conhecida como Síria. Resumindo, Levante e al-Sham são quase a mesma coisa. 
"Daesh" porque os terroristas odeiam o nome
Como é geralmente sabido, a guerra deve ser travada em todas as frentes, inclusive na mídia e na opinião pública. 
Em árabe, esta palavra é semelhante à "Daes", que significa "aquele que esmaga algo" ou "Dahes" que pode ser traduzido como "aquele que semeia a desordem".
Segundo divulgou o jornal britânico Mirror, citando o canal de TV norte-americano NBC, militantes do grupo terrorista ameaçaram "cortar as línguas de cada um que pronuncie a palavra 'Daesh'". Além disso, nos territórios controlados pelo grupo terrorista, o uso da palavra "Daesh" não só é proibido, mas o castigo são 70 chibatadas, informou o jornal britânico The Independent.
Quer dizer, os próprios terroristas oferecem mais uma razão para usar ainda mais ativamente a palavra "Daesh" porque o que é mau para os terroristas é bom para o mundo.
O Estado Islâmico não é um Estado!
O nome "Estado Islâmico" implica uma certa noção de instituição, o que claramente não tem nada a ver com a realidade. Para evitar esta noção, é melhor referir-se aos terroristas usando o termo "Daesh" porque de fato os terroristas em questão representam um quase-Estado que nunca foi reconhecido formalmente nem internacionalmente.   
Enfim, chamar "Estado" a um grupo de criminosos que cortam gargantas perante as câmeras é demasiada honra.
Execução de cristãos etíopes pelo Estado Islâmico.
Execução de cristãos etíopes pelo Estado Islâmico.
Não ao califado global! Os terroristas do Daesh desistiram da ligação regional (a autodesignação de Estado Islâmico do Iraque e do al-Sham) e adotaram "Estado Islâmico" porque não respeitam fronteiras estatais e pretendem construir um califado global. Posicionam-se como uma formação religiosa supranacional – retiraram todas as referências à Síria e ao Iraque dos livros de estudo nas escolas nos territórios controlados e eliminaram a fronteira entre a Síria e o Iraque nas áreas que controlam. 
Por isso, não querem ver nenhuma referência aos nomes de Estados (neste caso, o Iraque) e territórios históricos (neste caso é o al-Sham). Seguindo o princípio "o que é mau para os terroristas, é bom para o mundo" não devemos dar aos terroristas "combustível" para a construção do califado global, ou seja, devemos guardar a referência regional no nome do grupo terrorista – o Daesh inclui esta referência; o Estado Islâmico, não. O Daesh deve ser localizado e destruído! Não devemos dar aos terroristas a possibilidade de expandir-se globalmente.

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