Setembro 2014. La Habana, Cuba
Em
Colômbia existe um conflito social e armado, e deixou profundas
feridas humanas, econômicas, políticas, culturais e sociais, por
mais de cinco décadas. É inocultável este conflito, como também o
são o sem-número de vítimas tanto na população civil como nas
fileiras dos contendores. O dessangramento é evidente depois de mais
de meio século de guerra em que como insurgência somos constantes
na iniciativa do diálogo buscando resolver as causas objetivas da
confrontação de maneira civilizada. As FARC-EP, por todos os meios
possíveis, e procurando a participação de todos, militares,
guerrilheiros e sobretudo o povo, temos buscado, e não nos
cansaremos, de buscar uma saída acertada, sincera e real para acabar
com esta guerra fratricida.
A
chegada a Havana, Cuba, de uma equipe de militares ativos com sua
única missão técnica de ver e buscar o desarmamento e a
desmobilização da insurgência, e, como disse o ministro fanfarrão
Pinzón, para que as FARC não aprontem uma armadilha ao país, é
uma desfiguração do pactuado. Não se pode seguir dando pé para
tergiversações ou más interpretações que logo se repetem para a
população colombiana para desinformar e fazer a guerra suja e da
propaganda contra insurgente.
As
FARC-EP não são uma força guerrilheira derrotada, senão que uma
força beligerante com perspectivas claras de poder que agora se
empenharam com mais ênfase que nunca seu compromisso de buscar
alternativas políticas à confrontação, fazendo exposições
programáticas claras frente a assuntos de ordem econômica,
política, cultural e social fundamentadas para que o país conquiste
as transformações mínimas que abram as portas à democracia e à
justiça sem necessidade de recorrer ao uso das armas, para que sejam
reconhecidos os direitos das maiorias, e assim, então, entre todos
mudemos o rumo equivocado no qual por mais de 50 anos a oligarquia
teve a Colômbia.
Este
é o sentido de cada iniciativa que se constrói em Havana, e dentro
desta linha foi que se pactuou o estabelecimento da Comissão técnica
para analisar o assunto da deixação de armas como via para atuar na
vida política sem recorrer à violência. Porém, isto é tema que
compromete as duas partes que estão sentadas na Mesa; quer dizer que
isso implica também falar da desmilitarização do Estado e da
sociedade.
Se
com as FARC-EP o governo de Juan Manuel Santos, já faz dois anos,
acordou uma agenda a seguir para que entre ambos e com a participação
do povo buscássemos a saída incruenta a este conflito, pois, isto é
o que há que fazer e não seguir sonhando com um esquema de
submissão por parte da insurgência.
Este
conflito colombiano não pode ser visto assim tão simplesmente. Se
se demonstrou na história do país que as causas que o originaram
continuam vigentes, e todos os dias se aprofundam mais, a solução
não está em que uma guerrilha se desmobilize ou que os fuzis se
silenciem; a chave está em que se desmobilize a fome, a desnutrição,
a falta de educação, a falta de teto, a falta de trabalho, em que
se desmobilize as detenções arbitrárias, as torturas, os
desaparecimentos. Só assim, desmobilizando todos estes problemas que
golpeiam aos colombianos, podemos dizer que os fuzis, por si sós, se
silenciarão.
Já
se conheceu que a equipe de militares profissionais, comandados pelo
general Javier Flórez, que recentemente viajou a Cuba, chegaram para
que se oficializasse sua presença na Mesa de Diálogos, e os
guerrilheiros conscientes da importância e necessidade de uma breve
solução a este conflito, lhes estendemos as mãos de homens e
mulheres, que humildemente e sem nenhum interesse pessoal queremos o
melhor para nosso país. Por isso lhes demos as boas-vindas para que,
de uma vez por todas, desmobilizemos o mais rápido possível todos
os problemas sociais que geraram e mantêm esta guerra.
Não
se trata de preparar a um general, dois coronéis de exército, um
capitão de fragata, um tenente-coronel da polícia, um major da
força aérea, um tenente de navio e três advogados, todos com altos
estudos e desempenho constante nas atividades da inteligência
militar, para que busquem saídas exclusivamente para dois temas
concretamente: a desmobilização da insurgência e a entrega de suas
armas. Não. O que cremos é que estes altos militares estão em
capacidade de entender e compreender que o principal para terminar
com um conflito é a solução aos problemas que o originaram.
Não
é uma desonra que estes altos oficiais cheguem a Havana e, num
primeiro gesto de reconciliação, se deem as mãos com os
guerrilheiros que estamos aqui em Cuba. Sabemos e vivemos em carne
própria que estes oficiais buscaram por todos os meios possíveis
assassinar-nos; porém, sem antes conhecer por que estamos lutando
neste país. Cremos que, pelo contrário, deveríamos, os
guerrilheiros, sentir-nos desprazerosamente saudando-nos cara a cara
com o verdugo, porém não se trata de ver o problema de nossa pátria
com sentido de vingança, senão que de vê-lo com desejos de
verdadeira reconciliação; mais entre combatentes que vivemos
pessoalmente os rigores da guerra.
Certamente
saberemos compartilhar experiência e entender que o problema de
sofrimento e dor a que nos tem submetido esta classe burguesa e
corrupta que governa a Colômbia, é o mesmo sofrimento e submissão
em que também estão imersos os militares que hoje nos combatem.
Sim,
já é o momento para que generais, coronéis, brigadeiros,
tenentes-coronéis, capitães, majores, tenentes, sargentos, cabos e
soldados, junto com o povo e as FARC-EP componhamos o Comando
Estratégico da “Transição”
da fome, da miséria, do abandono..., para a igualdade, a humanidade,
a reconciliação e a convivência; o que deve impor-se para sempre
nesta Colômbia sofrida, submetida e explorada até alcançar um
estágio de normalização.
A
ideia equivocada da entrega de armas e a desmobilização não
soluciona o conflito nem repara os danos causados por ele. Nenhuma
das forças contendoras chegou à Mesa para capitular, a entregar as
armas e a desmobilizar-se. O acordo de deixação da armas, como os
demais acordos, se baseia na bilateralidade, acompanhado de passos
prévios como a deixação dos costumes políticos que estimulam a
guerra antipopular, passos como a desmilitarização da sociedade e
do Estado, o desmonte do paramilitarismo, a democratização das
Forças Armadas, o trânsito da Polícia Nacional para a missão que
lhe corresponde, assim como outras medidas efetivas que promovam uma
cultura política para a democracia, a reconciliação e a paz. Isto
é, criar as condições materiais e espirituais para passar de um
estado de guerra a uma situação de paz.
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Equipe ANNCOL - Brasilanncol.br@gmail.com
http://anncol-brasil.blogspot.com
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