segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Conflito Interno Colombiano: Três Dimensões: Socioeconômica, Política, Armada

Escrito por NotiColombia Press 


A base do conflito interno colombiano está sustentada numa classe oligárquica que se apoderou do Estado, fê-lo seu, e excluiu ao restante de colombianos da gestão benfeitora que nosso Libertador Simón Bolívar proclamou e pretendeu desenvolver.
Já há 200 anos encontramos as raízes de nossas desgraças, tratadas muito certeiramente pelo Dr. Hernando Vanegas em seus escritos sobre o Libertador. [Ver: El pensamiento complejo del Libertador Simón Bolívar / O pensamento complexo do Libertador Simón Bolívar] Os “crioulos” se apoderaram do aparelho produtivo, traíram o ideário de Bolívar e se colocaram sob a sombra nefasta e “protetora” do imperialismo estadunidense.
Desde então legislaram contra a maioria pobre dos colombianos, em favor de seus interesses terra-tenentes-oligárquicos e dos do império. Já na segunda metade do século 20 é ostensiva a presença estadunidense nas decisões do país e sua política de guerra. Isso não é obstáculo para promover o maior e histórico saqueio de nossas riquezas naturais. Petróleo, café, esmeraldas, ouro, níquel, etc são consideradas como matérias-primas -”compradas” a preço baixo ou exploradas com contratos leoninos como as concessões [100% para a empresa] e os contratos de associação de 70% para as multinacionais gringas e 30% para o país produtor.
 Esta realidade continuou na segunda metade do século 20 e no começo do século 21. As políticas econômicas e sociais são ditadas pelos organismos em poder dos Estados Unidos –FMI, BID, OMC, BM etc-, os quais, logicamente, favorecem as multinacionais. O neoliberalismo é implantado desde a administração de Virgilio Barco [1986-1990], o qual é desenvolvido com toda a maquinaria de “guerra total” elaborada pelos gringos e pela oligarquia durante a administração de César Gaviria Trujillo [1990-1994], traduzida na chamada “Abertura Econômica” que não era mais que abrir nossos mercados à “competitividade” desigual com as empresas multinacionais, ao tempo em que os Estados Unidos desenvolviam um protecionismo de seu mercado.
 O neoliberalismo rapace continua com a política imperial de espoliar todos os nossos recursos, o qual se traduz em aumento da pobreza do povo colombiano e no aumento da riqueza em mãos de uns poucos oligarcas e gringos. A concentração da riqueza foi considerada excessiva inclusive pelo Banco Mundial [1998], situando-o como o segundo país no mundo. Em Colômbia cinco grupos financeiros controlavam 92% dos ativos do setor: 36% em mãos do Grupo Empresarial Antioqueño, 28% em mãos de dois grupos controlados por uma só pessoa [Santodomingo e Sarmiento Angulo] [apoiadores de Uribhitler]; quatro grupos econômicos controlam 80% dos meios de comunicação; 50 grupos econômicos dominam mais de 60% da indústria, dos serviços, do comércio, do transporte e da agricultura. [Cifras de 1998]
Investigadores econômicos nos indicam que: “O incremento da pobreza entre 1995 e 2000 deveu-se totalmente ao incremento no desemprego; se não fosse pelo incremento no nível da educação dos lares e na redução no tamanho do lar, a situação teria sido mais crítica: um aumento de 10% no nível educativo dos lares reduz a pobreza total em 9%; um aumento da taxa de ocupação de 10% reduz a pobreza em 30%. O maior nível de pobreza aparece relacionado positivamente com os incrementos no desemprego e na inflação, e com maior regressão na distribuição da renda; incrementos na taxa de câmbio real e no salário mínimo real diminuem a pobreza. Em 15 anos se poderia reduzir a pobreza pela metade, se o PIB per capita aumenta a um nível médio de 4% anual e se, ao mesmo tempo, a distribuição da renda melhora em média 0.5% por ano. [Projeto “Apoio à implementação de um sistema de indicadores de desenvolvimento sustentável” – CEPAL/PNUD COL/01/008]
 Os investigadores econômicos nos mostram uma realidade dantesca, à qual estamos “acostumados”: “A pobreza é sinônimo de fome. Mais de 8% da população sofre diariamente de fome; como consequência, mais de 12% das crianças menores de cinco anos apresentam desnutrição crônica, e nos estados como La Guajira e Boyacá esta taxa é de aproximadamente o dobro da média nacional. Esta falta de acesso aos nutrientes requeridos põe as crianças em condições de vulnerabilidade frente às doenças, muitas vezes com consequências catastróficas para seu desenvolvimento.
A pobreza e a desnutrição trazem como consequência baixos níveis de saúde [incluindo incapacidades permanentes] e morte precoce. [Ver: LAS TRAMPAS DA POBREZA EN COLOMBIA: QUE HACER? DISEÑO DE UN PROGRAMA CONTRA LA EXTREMA POBREZA. –AS ARMADILHAS DA POBREZA EM COLÔMBIA: QUE FAZER? ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA CONTRA A EXTREMA POBREZA. JAIRO NÚÑEZ MENDEZ. LAURA CUESTA]  
Evidentemente que, mais que “armadilhas da pobreza”, são armadilhas de um sistema que busca sempre perpetuar o atual estado de coisas, isto é, mais riqueza para os ricos, mais exploração para os pobres. Destas políticas se derivam todo o mal e negativo que nosso país vive. É um círculo vicioso do qual nenhum pobre poderá sair sem a ajuda do Estado, seja qual seja o sistema imperante. No Capitalismo o Estado o faz para garantir uma mão de obra oportuna para poder explorá-la; no Socialismo o Estado o faz porquanto o povo é sua razão de ser e sua meta é produzir a maior quantidade de felicidade possível a seus concidadãos
A situação continuou aprofundando-se durante os 8 anos de Uribhitler. Luis Carlos Sarmiento Angulo y Julio Mario Santodomingo continuaram se enriquecendo e seu capital aumentou mais de 3 vezes durante este período. O lucro dos bancos que operam em Colômbia subiu 16,75% interanual entre janeiro e abril de 2009, ante uma maior rentabilidade de seus investimentos que compensou a desaceleração do mercado do crédito, informou na terça-feira a Superintendência Financeira. A utilidade líquida acumulou 2,01 bilhões de pesos [US$954,7 milhões] a abril, frente aos 1,72 bilhões de pesos obtidos nos primeiros quatro meses de 2008, segundo o regulador bancário num comunicado de imprensa.
São eles, a chamada oligarquia, o suporte do regime narco-paramilitar. A eles não interessa o mais mínimo a pobreza, o desemprego, a falta de educação e saúde, a falta de serviços públicos, de bem-estar etc. Mais bem, eles são os modelos a reproduzir, talvez por esse apetite desmedido os dois filhos de Uribhitler embolsaram mais de 30 bilhões de pesos no negócio da Zona Franca de Mosquera, mostrando aos colombianos como é que se faz negócios em Colômbia.
 O incremento do desemprego e do subemprego, naturalmente, são também consequência destas políticas criminosas. O desemprego passou de 15% durante o regime narco-paramilitar de Uribhitler, o qual trata infrutiferamente de mostrar outra realidade com a manipulação dos índices de desemprego e subemprego e só reconhece que no mês de fevereiro 2010 a taxa de desemprego foi de 12.6 por cento, com um total de 2 milhões 708 mil colombianos sem emprego e 6 milhões 880 mil no mercado do rebusque.
 Assim, é natural que os pobres em Colômbia ultrapassem os 70% da população, ainda que o regime divulgue que é de 49,9%. A situação de pobreza do povo é um caldo de cultura para qualquer empresa criminal. Ela explica o aumento da criminalidade em Colômbia e o corrompimento de grandes setores da juventude colombiana envolvidos em narcotráfico, vício em drogas, roubos, assaltos etc. É a política do não-futuro para a juventude colombiana.
 Evidentemente, são as políticas do Estado as responsáveis pelo atual estado de coisas. Com o simples exemplo do deslocamento forçado de indígenas e campesinos vemos as políticas estatais para reduzir a pobreza. 2,5 milhões de deslocados durante o regime narco-paramilitar de Uribhitler, pessoas despojadas de seu único meio de sustento são lançadas à miséria, à indigência, passando a engrossar os cinturões de miséria das cidades; consequentemente, suas terras passam para empresários do campo ligados ao projeto narco-paramilitar, apropriando-se de mais de 5 milhões de hectares [mais da superfície total agrícola]* num país cuja superfície agrícola é de mais de 50 milhões de hectares.
 *Em Colômbia há 4,5 milhões de hectares de superfície agrícola e 36,5 milhões de superfície em pastos. O total da superfície agrícola total é de 50 milhões de hectares.






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