segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Santos e Uribe são caras de uma mesma moeda

A intensa e custosa campanha midiática repete maquinalmente multidões de mentiras até convertê-las em “verdades” que terminam desinformando e alienando a frágil opinião pública e ao conglomerado colombiano em seu conjunto.

Uma dessas mentiras é fazer crer que Santos é a antítese de Uribe. Quer dizer, o primeiro é o homem da paz e o segundo o homem da guerra.

Não é certo. Santos é tão criminal como o senhor Uribe, tal como ficou muito claro no debate recentemente desenvolvido pelo senador Iván Cepeda Castro contra o paramilitarismo e o hoje senador Álvaro Uribe Vélez, com quase toda sua família a bordo.

Seria ingênuo pensar que a paz com a qual sonha o presidente Santos é a mesma com a qual sonha o povo colombiano. Não há ponto de comparação. Só um detalhe. Enquanto o objetivo do governo é desarmar a guerrilha, o objetivo do povo colombiano é que a paz seja produto de mudanças estruturais. Isto é, paz com justiça social.

A criminalidade do presidente Santos está na cara. O editorial do semanário VOZ La verdade del pueblo [A verdade do povo] que está em circulação,[i] apresenta umas cifras simplesmente arrepiantes, cifras que não podem passar despercebidas ou olimpicamente.

Devem ser submetidas a uma análise séria que nos permita determinar com clareza qual é realmente a vontade de paz que tanto afirma o chefe de Estado com tanta alegria em foros nacionais e internacionais e nos meios de comunicação dependentes do regime capitalista.

O editorial, escrito nesta oportunidade pelo camarada [amigo] Luis Jairo Ramírez H, uma das pessoas mais versadas em temas de direitos humanos em Colômbia, é contundente e valente desmascarar com cifras o discurso ambíguo do presidente Santos. Inclusive, mais que ambíguo, contraditório, porque diz uma coisa e faz outra outra bem diferente.

Diz o editorialista num parágrafo: “Apesar do discurso de Santos de que em Colômbia finalmente reina o paraíso dos direitos humanos, nos primeiros meses de 2014 foram assassinados trinta defensores de Direitos Humanos. De 2009 a 2014 foram assassinados 290. Nos últimos três anos, algo mais de cem reclamantes de terras iludidos na restituição foram assassinados; há 9.500 presos políticos amontoados em cárceres do país. A instigação do Mindefesa Pinzón contra a Marcha Patriótica deixou setenta de seus membros assassinados em diversas regiões do país”.

Assinala também que se incrementaram as ameaças contra dirigentes sindicais classistas e suas organizações, em distintas regiões do país. E, enquanto aumenta a insegurança para os sindicalistas classistas, o governo nacional, através da Unidade Nacional de Proteção [UNP], se obceca em levantar esquemas de segurança e o precário que há em bloqueá-lo por todo lado.

A cada vez a oligarquia se torna mais agressiva, como adiantando-se ao processo de paz de Havana [Cuba] ou em seu prejuízo, usando os mesmos mecanismos que Pastrana Arango utilizou quando dos diálogos do Caguán, que, enquanto simulava conversar com a insurgência, preparava a todo vapor o criminal Plano Colômbia com a direção direta dos Estados Unidos.

O [acima] dito se corrobora ao trazer novamente a colação o editorial assinalado: “A violência está agora legalizada: ‘Estatuto de segurança cidadã’, ampliação do foro militar, multimilionária campanha midiática para justificar e manter o gasto de guerra nos pós acordos de paz, construção de mais prisões e inação frente ao fenômeno paramilitar, que é funcional para evitar-se finalmente restituir as terras despojadas”.

Não se pode desconhecer semelhante conduta contraditória da oligarquia que Santos representa. Enquanto fala de paz de dentes para fora, fortalece os aparelhos ideológicos e repressivos do Estado Capitalista.

Não em vão, disse por estes dias um campesino Comunista: “O paramilitarismo está se reavivando no Tolima, certamente por ordem do senhor Uribe. Em Cajamarca estão proliferando panfletos ameaçadores. Aos campesinos, lhes estão chegando desconhecidos armados dizendo que são guerrilheiros e que têm unidades suas feridas. A mesma proliferação de panfletos vem se apresentando no sul do Tolima, especialmente em Natagaima, dizem os indígenas e campesinos da zona. Olho com isso! A comunidade nacional e internacional deve tomar atenta nota e o povo mobilizar-se, porém organizadamente. Não há outro caminho.
Assim as coisas: Santos e Uribe são caras de uma mesma moeda.

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[i] VOZ La verdad del pueblo edición 2757 semana del 24 al 30 de septiembre de 2014. Página 5.

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Somos sonhadores, mas não os únicos
La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 24 de setembro de 2014

Hoje queremos dizer para todos: “Imagina que não há um paraíso nem nenhum inferno debaixo de nós; acima de nós, somente o céu. Imagina que não há por que matar, imagina a toda gente vivendo a vida em paz. Imagina que não há posses, nenhuma necessidade de cobiça ou fome, senão a irmandade do homem. Imagina a toda gente compartilhando o mundo. Tu podes dizer que sou um sonhador, porém não sou o único.”

A propósito destas palavras que parafraseiam a linda canção IMAGINE de John Lennon, queremos refletir sobre as declarações do presidente Santos quando disse: “Que lindo poder transladar isso para a Colômbia para que os colombianos imaginemos a Colômbia em paz”. E é que, simplesmente como FARC, estamos de acordo, porém é necessário refleti-lo em fatos concretos.

Como um gesto de generosidade com o povo e com as vítimas que têm clamado por um cenário sem hostilidades, se deveria proceder a brindar não só uma canção de paz, mas sim o fato concreto do cessar bilateral de fogos que evite mais derramamento de sangue, o armistício que nos coloque na reta final de nossa reconciliação.

Fazer uma excursão em função da paz, como a que está protagonizando o presidente dos Estados Unidos, implicaria, então, para ir mais além da retórica, esclarecer, entre outros, sem mais evasivas, o fenômeno do paramilitarismo para desentranhar suas origens, seus efeitos e os responsáveis. Um complemento necessário é, sem dúvida, a abordagem de temas sensíveis dentro da confrontação como são a ingerência no conflito interno de potências estrangeiras que mantêm a Colômbia em condições de país ocupado, e assuntos como o uso desproporcionado da força num plano de assimetria criminal, por parte do governo, na contramão dos princípios mais elementares que regem a guerra.

Dentro da mesma perspectiva, não é pertinente seguir mostrando o processo de paz que se adianta em Havana como um novo modelo de justiça transicional. Sendo consequentes com a realidade, o correto seria propender por processos de paz pós acordo e normalização que surjam do consenso e não de posições unilaterais, como a que entranha o marco jurídico e sua justiça transicional. Para a insurgência o verdadeiro e único marco jurídico para a paz não é o que faz trâmite no parlamento e nas cortes a instâncias do executivo, mas sim o Acordo Geral de Havana e o que dele se derive.

Também queremos nos referir ao tema da mudança climática que ocupa as manchetes e a atenção do mundo. Um discurso ambientalista coerente deve corresponder-se com ações que ponham ponto final à devastação de nosso entorno e suas riquezas naturais. É hora de suspender –em consequência com a aplicação de uma nova política antidrogas- as aspersões aéreas de agentes químicos que tanto prejuízo e vitimização têm gerado nos campos da Colômbia; há que deter a feira de licenças express a companhias mineiras e petroleiras, entre outras, que ameaçam o ecossistema. O roubo da exploração mineiro-energética não pode seguir na aventura louca da exploração do gás de xistos mediante o procedimento de fracking ou fratura hidráulica, nem na pretensão de destruir importantes áreas da Amazônia, de parques naturais e zonas de reserva, tão somente pela obsessão de satisfazer a voracidade capitalista das transnacionais e de governantes corruptos.  

Deste tamanho são os problemas que deveremos resolver nesta etapa do processo de diálogo, se na verdade queremos apressar a marcha para o objetivo de paz com justiça social, democracia e soberania.


DELEGACIÓN DE PAZ DE LAS FARC-EP

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