As
Farc asseguraram que não vetarão nenhuma vítima que aspire a ser
ouvida nos diálogos de paz, porém reclamaram que também tenham voz
seus “combatentes guerrilheiros” que se encontram presos ou
feridos pelo conflito.
“O
justo e equilibrado é que integrantes da insurgência que hoje se
encontram em estado de aglomeração, vários deles feridos,
mutilados, alguns com risco de vida por problemas de saúde nas
prisões da Colômbia, também devem ser ouvidos”, assinalaram os
negociadores da guerrilha numa mensagem datada em Havana com a qual
saúdam o Fórum Nacional sobre vítimas que se celebra em Cali.
As
Farc argumentaram que se o Governo pretende que se ouça a seus
militares e policiais nas audiências sobre o tema das vítimas, deve
ter “plena disposição a que se ouçam também os combatentes
guerrilheiros e, inclusive, os representantes daqueles que, como o
Comandante Alfonso Cano, foram assassinados, convertendo-se também
em vítimas do conflito”.
Ademais,
tacham de “inadequada e indecorosa” o “fundamento midiático
que se desenvolveu usando o rótulo de vítimas, para fazer passar
como tais os servidores da força pública, aos quais se busca, além
disso, converter em heróis desde a perspectiva de uns grupos de
poder e seus braços publicitários”.
Nesse
sentido, consideram que se trata de membros de uma das partes em
contenda militar, que “deveriam conhecer o estatuto do combatente
e, portanto, o que isso implica”.
A
guerrilha também ratificou sua decisão “sempre de ouvir e manter”
a defesa das vítimas, “sem restrição nem discriminação alguma”
através de todos os mecanismos e espaços dispostos para isso, e
afirmou que tampouco “vetam nem vetarão” nenhuma vítima que
aspire a ser ouvida.
Chamam
as vítimas a defender “sua visão, sua qualidade, sua integridade,
sua dignidade; a não converter-se em objetos, senão que a recobrar
sua titularidade, autonomia e lucidez como sujeitos de direito, com
opção política, conscientes de uma realidade na qual estão
convocadas a contribuir com plena legitimidade para a superação da
violência”.
A
guerrilha sustenta que a insurgência “surgiu do seio das vítimas,
como consequência da perseguição do movimento social e popular,
que buscou transformações no exercício do direito universal à
rebelião”.
Ademais,
insiste em que a necessidade de pactuar o cessar-fogo bilateral “é
uma lógica e fundamental” reclamação que tem surgido com força
em cada fórum, e pede que “se respeite e reconheça essa voz
profunda que nos convoca a ambas as partes deter já o conflito
armado”.
Não
obstante, as Farc declaram seu “otimismo na conquista da paz”
pela via do diálogo que estabeleça a justiça social e como “base
da verdadeira reparação” e “garantia de não repetição” de
violações dos direitos humanos.
Nesse
sentido, asseguram que esperam em Havana as vítimas do conflito,
“com respeito, com disposição absoluta ao diálogo, a ouvir, a
corrigir, sanar e construir as bases de um novo país em democracia”.
As
vítimas são o quarto ponto que se abordará nas negociações de
paz entre o Governo colombiano e as Farc, que se iniciaram em
novembro de 2012 em Havana.
Em
junho passado, as partes acordaram uma “declaração de princípios”
sobre o tema das vítimas que foi qualificada de “histórica”.
Este
tema começará a ser debatido na nova rodada de conversações de
paz que se iniciará no próximo dia 12 de agosto na capital cubana,
e está previsto que o primeiro grupo de vítimas compareça na Mesa
de Diálogos de Havana em 16 deste mês.
Durante
os mais de 50 anos de enfrentamento entre as guerrilhas, os
paramilitares e as forças do Estado se contabilizaram no país
220.000 mortos, uns 25.000 desaparecidos, 5,7 milhões de deslocados
e 27.000 sequestrados, ademais de uns 2.000 massacres, segundo o
Centro de Memória Histórica.
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