sábado, 30 de maio de 2015

O destino da Colômbia não pode ser o da guerra

Houve um número de combatentes dispostos a dar tudo pela causa revolucionária,
e por isso Marquetalia se cresceu na resistência e assentou as bases políticas, militares
e morais do que seriam um pouco mais tarde as FARC”. Jacobo Arenas.
No último 21 de maio o presidente Juan Manuel Santos deu a orden de bombardear um acampamento da 29ª Frente das FARC-EP em Guapi.
O resultado desta ordem, executada com uso excessivo da força, foi um massacre. Morreram 27 guerrilheiros, a maioria por efeito das bombas e, segundo depoimento dos sobreviventes, vários feridos foram liquidados com tiros de misericórdia pela tropa oficial quando reclamavam auxílio.
O presidente sabe muito bem, e sobretudo depois do sucedido com nosso comandante Alfonso Cano, que não se pode matar a ninguém em estado de indefensabilidade, nem a combatentes prisioneiros, porque se incorre em crime de guerra, conduta proscrita pelo Direito Internacional Humanitário e pelo Direito Penal Internacional.
Em meio ao luto que nos invade, informamos ao país e ao mundo que o companheiro Jairo Martínez, integrante da Delegação de Paz das FARC-EP em Havana, quem estava em missão de Pedagogia de Paz na referida Frente, se encontra entre os guerrilheiros assassinados. Uma flor vermelha de homenagem a sua memória depositamos hoje sobre a digna tumba dos companheiros e companheiras caídos.
Já que os cadáveres foram entregues à Medicina Legal em Cali, solicitamos a quem corresponda que estes sejam inspecionados por forenses nacionais e internacionais, sob o olhar neutro do CICV, para que os colombianos possamos ter acesso a um informe confiável em torno às circunstâncias de suas mortes.
Seja este o momento para enviar aos familiares dos guerrilheiros caídos, em nome de todo o conjunto das FARC-EP, nossa mais profunda condolência. Caíram eles enquanto empunhavam a bandeira da causa mais justa: a paz com justiça social e democracia para todos os colombianos
Quando tentamos em Havana resgatar o valor da vida e da dignidade humana, nos vemos forçados a falar de mais mortes ordenadas a partir do Palácio de Nariño. A 23 de maio, em Segovia, foram assassinados pelo exército outros 10 insurgentes das FARC-EP pertencentes à Quarta Frente, e em 25 de maio, no Chocó, num ataque do exército foi assassinado o comandante da 18ª Frente e integrante do Estado-Maior Central, Román Ruiz, e três de seus acompanhantes. Desde este tablado, lhes rendemos honras, disparando uma salva estrondosa de Até Sempre companheiros.
Queremos afirmar de maneira enfática que se equivocam aqueles que pensam que com os corpos destroçados e o sangue de nossos companheiros vão impor-nos uma justiça que não persegue a responsabilidade dos poderosos, que só fixa seu olhar punitivo nos de baixo, nos que tiveram que tornar-se rebeldes contra a injustiça, numa luta que já se prolonga por 51 anos, quando numa data como hoje, 27 de maio, foram atacados em Marquetalia.
Este tema, o de justiça, deverá ser abordado pelas partes em seu devido momento. Não o evitamos. Temos fórmulas para buscar a reconciliação da família colombiana. Não viemos a Havana para negociar impunidades. Porém primeiro se deverá dar uma resposta ao pacote de propostas mínimas sobre vítimas do conflito que apresentamos ao governo na Mesa de Conversações e que recolhem as formuladas desde há anos pelas organizações de vítimas e de Direitos Humanos.
É urgente cumprir o mandato da Agenda que ordena, entre outros, o esclarecimento do fenômeno do paramilitarismo, e especialmente seu ataque e desarticulação definitiva. Temos que estudar as responsabilidades deste longo conflito, retratadas no informe da Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas.
É imperativo conjurar o fogo da guerra que ameaça com reativar-se no território nacional, quando até há pouco avançava a passo seguro a desescalada do conflito. As conversações de paz não progredirão com banhos de sangue, presidente Santos.
Como gente que sinceramente quer a paz e a reconciliação para a Colômbia, pensamos que há que restabelecer a confiança e retomar o esforço das partes tendentes a concretizar as medidas de desescalada do conflito que estávamos analisando. Temos que sair desta turbulência para entregar ao povo colombiano um horizonte transparente que nos permita transitar, livre de intrigas, o caminho para o Acordo Final. Não mais perdas de valiosas vidas humanas. Não mais assassinatos de militantes da Marcha Patriótica e do Congresso dos Povos, de reclamantes de terras, de defensores de direitos humanos, de líderes do movimento social e sindical. Não podemos, os colombianos, atirar pela borda os importantes avanços conquistados na Mesa de Conversações.
A Colômbia necessita do concurso e da solidariedade da América Latina, dos governos e povos do mundo para sair da horrível noite da qual fala nosso hino nacional. O destino da Colômbia, como dizia nosso comandante Jacobo Arenas, não pode ser o da guerra.
Delegação de Paz das FARC-EP



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Equipe ANNCOL - Brasil

Resposta das FARC-EP à declaração dos garantes do processo de paz, Cuba e Noruega

Dando-lhe toda a transcendência que merece, recebemos a profunda preocupação dos governos de Cuba e Noruega -Garantes das conversações de paz-, pelo intempestivo escalamento do conflito armado na Colômbia.
Carece de sentido que nos sigamos matando em meio de um diálogo de paz. É necessário interpor urgentemente um dique à perda de valiosas vidas humanas.

Entendemos que a estas alturas del processo, quando temos alcançado importantes Acordos Parciais, quando estamos abordando os temas mais sensíveis da Agenda e avançando em medidas conjuntas de desescalamento que nos aproximam ao fim do conflito, não é conveniente dialogar sob o fogo, porque perderíamos definitivamente o logrado até agora.

Muito importante a exortação dos governos de Cuba e Noruega às partes a continuar os esforços pela concórdia, buscando, incluso, fórmulas que permitam chegar a um acordo de Cessar do Fogo bilateral e definitivo

A resposta das FARC é afirmativa. Estamos dispostos a convir com o Governo os termos de um Cessar do Fogo bilateral, que evite mais vitimizações e, envolva ao mesmo tempo , com atmosfera mais favorável, as conversações de paz e a marcha da Colômbia rumo à reconciliação, sobre a base da democracia, a justiça social e soberania


DELEGAÇÂO DE PAZ DAS FARC-EP

Declaração dos países garantes, Cuba e Noruega

La Habana, 27 de Maio de 2015

Os Governos de Cuba e Noruega, Garantes da Mesa de Conversações entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP), expressam sua profunda preocupação pelo atual escalamento do conflito armado na Colômbia. Lamentam as perdas de vidas humanas que têm-se produzido.

Os avanços obtidos na Mesa, com importantes acordos sobre três dos pontos da Agenda, devem ser preservados. Nunca antes desde o início do conflito armado os colombianos tinham estado tão perto de alcançar a paz.

O escalamento das ações violentas também põe em risco as ações práticas que têm-se implementado para o desescalamento do conflito e o incremento da confiança, como das referidas à limpeza e descontaminação do território, de minas antipesoal, artefatos explosivos sem explotar e restos de explosivo de guerra.

Fazemos um chamado às partes a que continuem seis esforços para seguir avançando na discussão das questões pendentes, incluindo a adoção de um acordo para o Cessar do Fogo bilateral e definitivo e as hostilidades.

Cuba e Noruega reiteram sua plena disposição para continuar contribuindo em todo o possível ao avanço das conversações e a adoção de um acordo final para a terminação do conflito e a construção de uma paz estável de duradoura na Colômbia.


A paz é pôr fim à geração de novas vítimas

Nestes dias, as vítimas do conflito novamente foram revitimizadas. Frustradas ante o esquecimento a que foram condenadas, ocuparam os escritórios em Bogotá da chamada “Unidade de Vítimas”, denunciando a falta de vontade política dos sucessivos governos colombianos para repará-las e garantir medidas efetivas de não repetição.
Somente o Estado tem a capacidade -ademais da responsabilidade e da obrigação-, de garantir de forma efetiva o direito das vítimas à reparação e à restituição, contando para isso com sua capacidade de legislar e de disponibilizar os recursos da administração pública para atender àqueles que padeceram por causa do conflito pessoalmente. Porém o Estado descumpridor vem se negando a isso, como claramente tem posto de manifesto o desesperado grito de frustração de umas vítimas que já não sabem como fazer para obter o que em justiça lhes corresponde.
No mês de setembro de 2014, as FARC-EP apresentamos na Mesa de Diálogos a proposta “Para uma nova Colômbia sem vítimas”. Em março de 2015 apresentamos nossas “66 propostas mínimas sobre Direitos Integrais das Vítimas para a paz e a Reconciliação Nacional” e as 140 “Propostas das FARC-EP e da sociedade colombiana para a construção de uma nova Colômbia sem vítimas”. Até a presente data nem uma só proposta sobre vítimas foi apresentada pelo Estado infrator na Mesa de Diálogos. Tampouco formulou solução alguma às citadas propostas, talvez com a pretensão de que esta re-vitimizadora omissão faça com que as vítimas esqueçam seu drama e sua angustiante situação.
Pensa talvez o Estado que tem cumprido com suas obrigações políticas, legais e éticas só por permitir que 60 vítimas do conflito tenham comparecido em Havana para verter seus pungentes depoimentos? Treze delas foram ameaçadas de morte ao regressar à Colômbia, sem que até agora o Estado cúmplice tenha adotado medida alguma para pôr os vitimários à disposição dos tribunais de justiça.
De forma sumamente infeliz, o Presidente Santos se vangloriou na sexta-feira passada de um irresponsável, covarde e desproporcional bombardeio aéreo que massacrou 26 rebeldes, filhos e filhas da Colômbia. Este fato que, somado à ofensiva militar sustentada contra as frentes guerrilheiras, acabou também com a trégua unilateral mantida por 5 meses pelas FARC-EP ao preço das vidas de outros guerrilheiros e freou as medidas de desescalada do conflito tecidas com paciência pelas partes durante o último ano. Porém não foram estas as únicas e trágicas consequências dessa inexplicável atuação. Centenas de campesinos e campesinas das zonas onde se realizam as operações foram deslocados em consequência desta ação das Forças Militares. São estas, novas vítimas do conflito, responsabilidade exclusiva do Estado vitimário, que não têm merecido nem uma só linha nos triunfalistas comunicados do Governo.
No passado mês de abril as Nações Unidas assinalaram que, desde o início das conversações de paz, em novembro de 2012, uma média de 16.400 colombianos foram deslocados a cada mês; houve 713 vítimas por artefatos explosivos, um milhão e meio de pessoas sofreram confinamento e limitações à mobilidade e ao acesso a bens básicos e se registraram mais de 700 delitos contra a integridade e a liberdade sexual, tudo isso no marco do conflito armado. Somente no primeiro trimestre de 2015 –indicam as NNUU- mais de 25 líderes sociais, políticos e defensores de Direitos Humanos foram assassinados. A isso acrescentamos que desde o início dos Diálogos foram exterminados mais de 100 militantes da Marcha Patriótica, uma sinistra conta que cada vez mais relembra o genocídio cometido contra a União Patriótica após o frustrado processo de paz de La Uribe.
As vítimas do conflito colombiano existem e continuam aumentando, não estão sendo reparadas nem atendidas suas justas reivindicações, nem lhes têm sido reconhecidos os mínimos e insuficientes direitos que as leis colombianas estabelecem.
Esperamos que um acordo em torno ao ponto 5 referente a Vítimas contemple soluções efetivas a esta dramática situação.

DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Escalar a guerra não é o caminho.

Frente à arremetida governamental destes dias, com dois massacres de guerrilheiros e guerrilheiras, a primeira em Guapi [Cauca] e a segunda em Segovia [Antioquia], num contexto de intensificação de operações militares e de perseguição, a Delegação de Paz das FARC-EP expressa frente ao país e ao mundo:
Dói constatar que uma parte da Colômbia se acostumou a uma guerra que já dura mais de 50 anos e ainda não tem vencedores nem vencidos.
Neste momento, por um acordo da Mesa de Havana, se iniciava a implementação do Acordo sobre descontaminação do território de artefatos explosivos e se trabalhava na adoção de outros acordos bilaterais de desescalada do conflito que nos aproximassem a um cessar-fogo bilateral, à espera da firma do definitivo acordo de paz.
E quando já nos dispúnhamos a anunciar ao país o início e a implementação desse acordo, o massacre de 27 guerrilheiros da Frente 29 das FARC-EP no município de Guapi, ao qual se somam outros 10 guerrilheiros mortos em Segovia [Antioquia], conduziu inevitavelmente à suspensão de nossa decisão de manter a medida do cessar-fogo unilateral que já se fazia insustentável pela incoerência de um governo que ainda não se decide a adotar com convicção e decisão o caminho da paz.
Para piorar as coisas, o presidente Juan Manuel Santos tem atuado ante a atual conjuntura com total ausência de bom senso e com um discurso contrário ao propósito de reconciliação, de diálogo e de paz combinada que ele apregoa, propalando uma mensagem que só pode favorecer aos que desejam a perpetuação da guerra em Colômbia.
Um chefe de Estado não pode regozijar-se com a morte de compatriotas, muito menos quando estas representam golpes diretos contra sua principal bandeira de governo: O fim do conflito.
Em Colômbia, em consideração ao bando no qual combatam, os mortos ou feridos produzidos em idênticas condições saõ apresentados por parte do governo nacional ante a opinião pública como de primeira ou de última categoria, como “heróis” ou como “vilãos”, como “assassinados” ou como “neutralizados”, quando na realidade não há mortos que doem mais que outros, todos eles são pais, mães, filhos, filhas, irmãos ou irmãs, todos somos povo colombiano.
Sem lugar a dúvidas, os lutuosos acontecimentos ocorridos na semana passada são um passo atrás no avançado até agora na Mesa de Havana.
O povo colombiano clama pela paz. Santos foi reeleito em seu segundo mandato para que alcançasse a paz. Nossa Delegação de Paz foi mandatada por todos os guerrilheiros e guerrilheiras do país para a mesma empreitada.
Nós outros atuaremos com suma responsabilidade frente a esta instrução recebida de nossas bases e o anseio das maiorias nacionais. Procederemos sempre com cabeça fria e o coração ardente, não podemos lançar pela borda os esforços empenhados em já quase três anos de conversações.
A construção de um acordo de paz exige a todos nós sindérese, realismo e coerência.
Em Havana se discute o futuro da Colômbia e só os mais estúpidos, os ultramontanos e os guerreirista poderiam confundir esta obrigação com fragilidade das partes.
Nem o governo nacional nem o presidente Santos podem atuar sob o vaivém de interesses ultra direitistas, nacionais e estrangeiros, pressões militaristas, ou cálculos eleitoreiros oportunistas para subir nas pesquisas. Pelo contrário, um governo sério deve focar-se nos problemas concretos e nos objetivos superiores.
As FARC-EP vimos trabalhando pela paz, propondo medidas para alcançá-la e assumindo as responsabilidades que nos dizem respeito ao ocorrido durante este longo conflito.
Porém, não se pode pretender que através da pressão militar ou das ameaças se possa dobrar nossa vontade de luta. Esse é um caminho equivocado e é óbvio que não se alcançará nunca a paz escalando o conflito.
Nas FARC-EP não nos alegramos pela morte de nenhum compatriota. Nos doem os onze soldados de Buenos Aires e nos dói a morte de todos os nossos camaradas.
Nos dói profundamente a situação do menino indígena Yerman Vázquez Campo, ferido gravemente em 12 de maio por um artefato do Exército abandonado na Fazenda “La Ucrania”, corregedoria El Jagual de Corinto, Cauca, pela força-tarefa Apolo, fato que foi silenciado por todos os meios de comunicação. E nos dói também a morte da menina indígena de Buenos Aires, morta por um artefato explosivo e que sem nenhuma prova se creditou a nós outros.
Para isso estamos em Havana, para deter estas mortes e comprometer-nos a construir um país onde nenhuma família de compatriotas tenha que repetir a dor de fatos como estes.
Rendemos uma profunda homenagem aos camaradas caídos nos últimos bombardeios, eram dignos filhos da Colômbia que deram sua vida por seus ideais e pelo bem-estar de todo o povo colombiano.
Acompanhamos a seus familiares na dor que os invade.
Honra e glória a todos e a cada um destes/as homens e mulheres comprometid@s com as mudanças sociais, que sacrificaram tudo por lutar desde as trincheiras guerrilheiras. Seu legado vive e viverá na coragem de toda a guerrilheirada.
Exigimos do governo nacional que os corpos de nossos companheiros e companheiras assassinados em bombardeios recentes sejam entregues com diligência a seus familiares e que recebam um enterro digno como qualquer ser humano merece. Ao mesmo tempo, solicitamos a devida vedoria aos entes e organismos humanitários nacionais e internacionais.
Os diálogos de paz necessitam de um forte impulso, e este só poderá vir de uma trégua bilateral.
As FARC-EP chamamos ao Governo e aos meios de comunicação colombianos a que atuem com a responsabilidade e o sentido patriótico a que estão obrigados, para de uma vez por todas criar as condições que ponham fim ao conflito que dessangra o nosso povo desde há mais de 50 anos.
Manteremos em alto nossas bandeiras de paz com justiça social, cessar-fogo bilateral e Assembleia Nacional Constituinte. Por este caminho é possível uma alternativa à guerra.
La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 25 de fevereiro de 2015
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP.



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Equipe ANNCOL - Brasil

Santos não foi capaz com a guerra, menos com a paz

Por Horacio Duque Giraldo
A Santos se lhe esgotou sua paz neoliberal. A natureza oligárquica de seu projeto político estancou o processo de paz e ameaça suas conquistas principais. Não foi capaz com a guerra, menos com a paz. O país não pode se afundar na perplexidade, a saída é a Assembleia Nacional Constituinte pela paz e a democracia que construa uma Nova Colômbia para o Século XXI. Que Santos e sua corrupta classe politiqueira, saqueadora das regalias e dos patrimônios estatais sumam para bem longe.
As FARC suspenderam a trégua unilateral que havia ordenado a suas Frentes e Blocos desde fins de 2014. Decisão que teve um alto impacto no clima político do país, pois os eventos da guerra diminuíram substancialmente, nos primeiros meses do ano em curso, dando grande alívio à população campesina das regiões onde o conflito social e armado é vivido com maior intensidade desde há muitos anos.
A determinação é produto do bombardeio aos acampamentos da Frente 29 da insurgência, no município de Guapi, localizado no estado do Cauca/Costa do Pacífico, em desenvolvimento da ordem presidencial de reativar as operações da Força Aérea devido aos lamentáveis acontecimentos ocorridos na localidade, também caucana, de Buenos Aires, no 14 de abril último, quando morreram 20 integrantes das Forças Armadas governamentais em avançado estado de embriaguez. Morreram, na noite de quinta-feira 22 de maio, 26 combatentes por efeito das potentes bombas descarregadas pela aviação oficial.
Regressamos à plenitude do conflito e sem um cessar bilateral e permanente do conflito com impacto imprevisível nos diálogos da Mesa de Havana, Cuba.
Sobre as características e o rumo que tomou a cruenta guerra civil colombiana; sobre o sentido e os alcances das conversações de paz dos últimos 45 meses; sobre as possibilidades de concretizar um acordo certo de paz, se pode bem recorrer a diferentes teorias relacionadas com a solução e o manejo de conflitos e a infinidade de experiências internacionais. Recurso que não se deve descartar sem esquecer que encaixar a realidade nacional em formulações abstratas não contribui muito.
Há que ater-se aos fatos pontuais e avaliá-los politicamente. Mirar o curso real do Estado, do governo, da sociedade e do cenário internacional. Imaginar saídas.
O certo é que o processo de paz ingressou há alguns meses numa zona turbulenta de tormentas e incertezas derivadas da densa crise que afeta o regime político e a administração do senhor Santos. A referida crise foi disparada pela debacle econômica da sociedade e fiscal do Estado, por ocasião da queda dos preços internacionais do barril do petróleo que proporcionava mais de um quarto das receitas do governo. Santos ficou sem dinheiro e com um gigantesco vermelho na conta corrente da balança comercial, que o conduziu a buscar fórmulas inconvenientes e a determinações absurdas, como oferecer a venda de bens estratégicos do Estado, como Isagen, a empresa emblemática da energia elétrica.
O quadro da crise orgânica de Santos é bastante condenado. Sua legitimidade está no chão e a confiança da sociedade civil se evaporou, depois de desconhecer descaradamente o apoio da Esquerda democrática que o salvou com seus dois milhões de votos de uma quase certa derrota nas votações presidenciais por conta do uribismo.
A justiça está paralisada e perdida na bancarrota ética e profissional. A educação, que recém sai de uma potente greve de educadores, traída pelos dirigentes da Federação Colombiana de Educadores (FECODE), que se entregaram por prebendas e prestações jurídicas menores, é um desastre total. A saúde não supera o desastre que arrasta desde há vários anos.
Mais recentemente, por ocasião da calamidade natural que acabou com a vida de quase 100 pessoas em Salgar, Antioquia e de 20 mineiros em Riosucio/Caldas, a sem saída de Santos se fez mais notória. Os instrumentos de planificação urbana, como os Planos de Ordenamento Territorial/POT, voaram pelos ares como cacos, pois, com quinze anos de vigência, só mostraram ser um perfeito lixo neoliberal. A crise ambiental e o aquecimento global ameaçam centenas de municípios e grupos populacionais vulneráveis localizados em zonas de alto risco, pois os dinheiros apropriados para tomar as medidas de previsão correspondentes foram levantados pelos políticos oficialistas mediante o controle das Corporações Autônomas Regionais. Ninguém crê na promessa de Santos de ressarcimento aos humilhados moradores de Salgar, quando se conhece que com quase 8 anos de tragédia em Gramalote não colocaram uma só pedra na reconstrução do mesmo município do Norte de Santander, cujos habitantes estão à deriva em barracos e favelas em Cúcuta.
O mais grave é a grande crise moral do estabelecimento. Milhões de cidadãos estão indignados porque a recente bonança petroleira e mineira que o país viveu praticamente foi furtada pelos senadores, representantes, governadores e prefeitos seguidores da unidade santista. Diretamente o Chefe da Casa de Nariño e seu hoje gerente da Estatal Ecopetrol perfilaram um perverso mecanismo de distribuição das regalias petroleiras dos hidrocarbonetos. O novo regime de regalias, vigente desde 2011, estabeleceu um sistema de Órgãos Colegiados de Aprovação e Decisão/OCAD, em que os políticos dividem entre si estes dinheiros a vontade e sem controles fiscais e sociais. Chefes e caciques oficialistas adjudicam a dedo, denuncia recente informe de Transparência Colômbia, junto com governadores e prefeitos da mesma corda, contratos fraudulentos que não resultam em obras concretas para o serviço da comunidade. É o que faltou em Salgar, Antioquia e em Riosucio, Caldas.
Há dois casos que são um escândalo inocultável. No estado do Quindío se embolsaram 150 bilhões girados nos últimos 48 meses por Planificação Nacional; um dos chefes do regime está comprando com esses dinheiros toda a parte rural de Génova, o município onde nasceu Manuel Marulanda Vélez.
No Cauca, principal cenário da guerra, o mesmo fez o governador Temistocles Arteaga, quem, em conluio com o senador liberal Velasco, dividiu estes dinheiros e este último pressiona para pra completar privilégios burocráticos com grandes cotas na Promotoria Geral, cujo titular deveria denunciar, pois não aceita mais a chantagem do destacado malandro de colarinho branco.
No pico de sua crise, Santos tem pretendido pressionar, pela enésima vez, uma pax express.
Para o efeito, recentemente enviou seu Chanceler, em companhia de um empresário antioquenho, para que se somasse à delegação governamental na Mesa de Diálogos de Havana. Seu argumento central é que a paz deve ser firmada imediatamente porque o tempo internacional da mesma se esgotou. Abunda em sofismas e piruetas retóricas que carecem de fundamento para exigir a firma de um acordo de fim do conflito omitindo pontos cardeais relacionados como o fenômeno paramilitar auspiciado pelas Forças Armadas, a depuração e reestruturação destas, a reforma do Estado, a situação dos presos políticos, os TLCs, o ordenamento territorial, a eliminação do Esmad, a erradicação do neoliberalismo, a democratização dos meios de comunicação, a anistia, o indulto e a liberdade dos 10 mil presos políticos vítimas de montagens judiciais e policiais.
Argui que o contexto internacional é adverso a um acordo de paz, quando o que está ocorrendo no campo geopolítico é a emergência de tendências e blocos favoráveis a uma saída democrática da prolongada guerra civil colombiana. Não há necessidade de estender-se em explicações nesse sentido, pois a visita do Primeiro-Ministro Chinês a Bogotá nas últimas horas assim o está demonstrando.
O que sucede é que Santos, em razão de seus velhos e dessuetos interesses oligárquicos, quer impor à resistência campesina revolucionária a paz dos vencidos, a paz dos falsos positivos, a paz do cárcere. Pretende uma paz neoliberal com a ditadura perpétua dos mercados.
Prova disso é seu recém aprovado Plano Nacional de Desenvolvimento que não é mais que uma vulgar cópia do receituário neoclássico da OCDE, no qual se desconhecem olimpicamente os três acordos alcançados na Mesa de Havana. Rasga as vestimentas com sua falsa revolução, com sua fracassada lei de restituição de vítimas e terras, quando o único efetivo é que seu governo trabalha para favorecer os poderosos burgueses do estabelecimento [Sarmiento, Ardila, Restrepo, Carvajal, Marval, Urbanas, Ospinas etc], às máfias da droga enquistadas nos aparelhos armados e policiais e aos grandes astutos da politicagem clientelista.
Santos, como seu antecessor, fracassaram na guerra contra insurgente para derrotar o povo.
É impossível que o inquilino da Casa de Nariño alcance a Paz, pois sua natureza regressiva lhe nega a lucidez necessária para dar o salto que a Colômbia necessita e permita deixar pra trás a violência feudal e narcocapitalista que nos destrói.
Essa é uma verdade arqui conhecida. Santos se esgotou e a Constituinte popular pela paz é a alternativa apropriada nestes momentos aziagos da Colômbia.
A Constituinte pela paz tem na unidade avançada no recente 4º Congresso do Polo um transcendental suporte.
Essa unidade, que os diálogos entre os chefes das FARC e do ELN em Cuba mostrou em outro momento, se articula à estratégia revolucionária essencial para dar o salto necessário em nossa sociedade.
É que a conquista da paz é uma bandeira revolucionária por excelência. A paz com democracia ampliada abre os caminhos do Socialismo e da solidariedade.
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Equipe ANNCOL - Brasil

FARC suspendem cessar-fogo unilateral

Comunicado
Não estava em nossa perspectiva a suspensão da determinação do cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado proclamado a 20 de dezembro de 2014 como um gesto humanitário e de desescalada do conflito, porém a incoerência do governo Santos conseguiu isso, depois de 5 meses de ofensivas terrestres e aéreas contra nossas estruturas em todo o país.
Deploramos o ataque conjunto da Força Aérea, do exército e da polícia executado na madrugada da quinta-feira contra um acampamento da 29ª Frente das FARC em Guapi [Cauca], no qual, segundo fontes oficiais, foram assassinados 26 guerrilheiros.
Nos doem igualmente as mortes de guerrilheiros e soldados, filhos de um mesmo povo e procedentes de famílias pobres. Devemos parar este dessangramento.
Contra nossa vontade, temos que prosseguir o diálogo em meio à confrontação. Ainda que Santos anuncia que manterá a ofensiva, insistiremos na necessidade de acordar o quanto antes, para a saúde do processo de paz e evitar novas vitimizações, o cessar-fogo bilateral que com tanta insistência as maiorias nacionais têm reivindicado.
Agradecemos o trabalho de seguimento e verificação do cessar-fogo unilateral que durante cinco meses a Frente Ampla pela Paz e o movimento social e político da Colômbia realizaram.

Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 22 de maio de 2015


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Equipe ANNCOL - Brasil


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