“…Temos
o dever de contribuir para resgatar o espírito bolivariano em meio
ao matagal mentiroso da interpretação oficial e pró-imperialista
de sua obra, com o propósito de tornar viva sua imagem às massas
populares da América. São elas as herdeiras legítimas de seu
ardente pensamento genitor, e o limo fecundo que há de encarná-lo e
multiplicá-lo na hora de agora e na história dos séculos”.
Gilberto
Vieira.
Se
cumpre hoje o décimo quinto aniversário do lançamento do Movimento
Bolivariano pela Nova Colômbia. Um movimento político amplo porém
clandestino que surgiu numa data como hoje em 2000 durante o Processo
de Paz que se adiantou em San Vicente del Caguán.
O
Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia continua reunindo povo na
clandestinidade, agitando suas brancas bandeiras de paz e o amarelo,
azul e vermelho tremulando na luta pela pátria do futuro, a que
sempre queremos em paz, com democracia, com dignidade e com
soberania.
Em
Havana, também estamos construindo a nova história da Colômbia.
Quanta
razão tinha em suas palavras o legendário guerrilheiro Manuel
Marulanda Vélez quando, dirigindo-se naquele 29 de abril de 2000 a
milhares de homens e mulheres e à juventude reunida, manifestou:
“Este
encontro vai ser histórico em Colômbia pelo surgimento de um novo
Movimento onde todos, sem distinções políticas, raças ou credos
possam agrupar-se para defender seus interesses econômicos e
sociais, com a certeza de que estamos abrindo caminhos para uma nova
democracia, sem o temor de ser assassinados pelo Estado, e ao mesmo
tempo lutando contra a intervenção dos Estados Unidos em nossos
assuntos internos...”
E,
por sua vez, o comandante Alfonso Cano, chefe desse Movimento
Bolivariano que começava a desdobrar sua potência transformadora,
quando explicou a proposta política como um instrumento civil,
amplo, poli classista, orientado para a conquista do poder, para o
ressurgimento da Colômbia sob uma nova ordem social justa, com umas
Forças Armadas inspiradas no espírito de nosso Libertador,
garantidores da liberdade, da soberania e das conquistas sociais.
“As
práticas do exercício político –dizia o Comandante Cano naquela
ocasião- devem transformar-se, mudando o que Gaitán chamou os
“velhos costumes da pequena mecânica política” para dar
passagem ao exercício de uma democracia essencialmente direta, onde
as execuções dos administradores da coisa pública se correspondam
estritamente com a vontade popular. Construir o Quarto Poder ou o
Poder Moral, como ensinou nosso Libertador, a partir do povo, para
erradicar a corrupção e assinalar direções éticas certas aos
administradores e à própria sociedade. Fazer da liberdade de
imprensa uma realidade que impeça o monopólio, a manipulação e a
desinformação. Revogar o mandato de todos os politiqueiros
responsáveis pelo caos atual e alicerçar precedentes exemplares que
erradiquem a impunidade das arbitrariedades que foram exercidas a
partir do poder contra a nação inteira”.
“...O
rosto semioculto do Libertador Simón Bolívar que faz parte da
presidência deste ato e que descobre seu nobre e profundo olhar,
-dizia o imolado comandante-, significa que o novo Movimento Político
terá um funcionamento clandestino. A amplitude dos objetivos a
conquistar não ocultam os perigos que pairam sobre sua existência.
Não
repetiremos a experiência da União Patriótica onde a heroicidade
de seus integrantes e a generosidade que caracterizou seu compromisso
foram brutalmente abatidas pelas Forças Armadas oficiais em trajes
civis, até praticamente fazê-la desaparecer”.
...Assim
que todos e cada um dos integrantes do Novo Movimento terão uma
atividade dentro do setor social onde viva, trabalhe ou estude, sem
que seja de público conhecimento seu pertencimento político. Como
todos os bolivarianos, deverá fazer esforços por colocar-se à
frente das lutas pelas reivindicações do povo e só compartilhará
seu segredo com os poucos companheiros que lhe sejam destinados para
trabalhar. Ninguém
mais será conhecedor de seu pertencimento bolivariano”.
“Difícil?,
se perguntava o comandante, certamente sim, porém todos devemos
relembrar que são os inimigos do poder os que impuseram as
condições. Se as circunstâncias políticas mudam positivamente
pela ação popular ou o processo de diálogos avança
significativamente, ou se crescemos até ser maioria atuante e
combativa, analisaremos a conveniência de novas formas de trabalho e
de organização”.
Dentro
de tais lineamentos tem marchado o Movimento Bolivariano durante
estes 15 anos, aspirando a poder em algum momento mostrar seu rosto
pleno porque se abriram em Colômbia as amplas avenidas da
democracia.
Como
diz a Carta de Reunião do MB: esta nova construção política
alternativa é um movimento amplo, sem estatutos, regulamentos, nem
discriminações, com exceção dos inimigos do povo. Não tem
escritórios e sua sede é qualquer lugar da Colômbia onde haja
inconformistas. No Movimento Bolivariano cabem todos os patriotas que
sonhem com a concretização do pensamento político e social do
Libertador. “Sua base a constituem milhões de colombianos
vinculados aos núcleos clandestinos, de múltiplas e variadas formas
como círculos, juntas, oficinas, famílias, uniões, irmandades,
grupos, clubes, associações, conselhos, mesas
de trabalho, mingas, confrarias, comitês e todas as formas que a bem
tenham seus integrantes adotar e que, a seu ver, lhes garanta o
segredo de pertencimento e a compartimentação”.
Todas
e todos os que se sintam bolivarianos venham com nós outros, que o
Movimento Bolivariano é uma imensa bandeira ao vento que segue em
construção e que poderia ter neste momento a possibilidade
histórica de dar o salto à luta política aberta, sempre e quando,
como dissera Alfonso, AS CONDIÇÕES O PERMITAM.
É
necessário, então, levar adiante este processo de paz que acendeu
novamente a chama da esperança.
A
unidade nos está dizendo nas mobilizações populares e em todos os
rincões da pátria inconformista que é factível um triunfo popular
se nos levantamos como um só punho de indignação frente ao mau
governo.
A
Colômbia pode ser governada de outra maneira. E isso é o que as
FARC-EP queremos. Nos perguntamos: Por que têm que reger nosso
destino as mesmas castas oligárquicas de sempre?
Estamos
fatos de corrupção, de magistrados corruptos, de sistemas
eleitorais fraudulentos, da entrega de nossas riquezas e nossa
soberania às transnacionais, de arbitrariedades do poder e da brutal
repressão, sim; porém, também sabemos que “não há melhor
maneira de alcançar a liberdade que lutar por ela”.
Temos
a certeza na vitória da reconciliação dos colombianos e é por
isso que convocamos à rebeldia da juventude, às mulheres
descendentes da Pola, aos campesinos, aos povos indígenas e
comunidades negras, aos trabalhadores e desempregados, aos
acadêmicos, aos policiais e militares bolivarianos, aos que queiram
pátria soberana, a todos eles os convidamos a reunir-nos neste
Movimento que nasceu há 15 anos em San Vicente del Caguán, como um
instrumento de todos e todas para mudar a política, a economia, a
educação, em favor da justiça social e do humano, com o sentimento
de solidariedade que todos levamos por dentro.
Vamos,
pois, pôr nosso peito nesse ideal, à restauração moral da
República, confluindo na imensa exuberância da Constituinte, com
sua força transformadora que há de abrir passagem à materialização
do Tratado de Paz que todos desejamos que ponha fim a esta guerra, de
um tratado de paz que nasça das mãos do povo colombiano que é o
máximo poder soberano que nossa nação tem.
La
Habana, Cuba, 29 de Abril de 2015.
--
Equipe
ANNCOL - Brasil
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