sexta-feira, 15 de maio de 2015

A criminalização das ideias

Por Alexandra Nariño
Integrante da Delegação de Paz das FARC-EP
Ultimamente se fala muito da necessidade de gestos de paz. As FARC-EP apresentamos ao Governo uma longa lista de 17 gestos de paz por nossa parte, incluída a libertação de vários prisioneiros, de alguns infiltrados em nossas fileiras pelo Exército e cinco cessar-fogos, dos quais o último está concebido por tempo indeterminado.
Porém, para mim, o maior gesto que a guerrilha fez em prol da paz em Colômbia, a favor da vida e acedendo ao mandato dos e das colombian@s, foi o de chegar à Mesa de Conversações pedindo não mais que umas simples e mínimas medidas para conseguir condições de vida dignas e espaços democráticos para todos e todas. O que estamos dizendo é: “cumpram as normas democráticas assim como estão escritas, para que possamos fazer política sem sermos assassinados. Daí já veremos como vamos levar a cabo as transformações revolucionárias que realmente queremos, não se preocupem por isso senhores”.
Quer dizer, já desde o início destas negociações nosso ponto de partida foi a consecução da democratização do país. Em nenhum momento pedimos mudanças revolucionárias, porque entendemos que estas não serão levadas a cabo por um regime político como o atual. Assim que começamos a redigir primeiro dezenas, depois centenas de Propostas Mínimas, que se chamam mínimas precisamente porque se remetem ao marco da democracia e não ao programa máximo das FARC-EP.
O Governo tem se movido desde o princípio dentro de uns parâmetros muito mais estreitos; a máxima concessão que fez na Mesa de Conversações foi comprometer-se com o cumprimento da Constituição e das leis da Colômbia. E isso porque em muitas ocasiões fomos as FARC as que reclamamos respeito e acatamento destas.
Muitas zombarias foram feitas na Mesa a esse respeito; a guerrilha em defesa das leis! As FARC se tornaram constitucionalistas agora, que tal? A guerrilha representante da ONU etc.
No entanto, por trás dessas zombarias se esconde uma realidade bastante desalentadora: a realidade de um país em que o centro da batalha das ideias está se movendo cada vez mais para a direita. Se está direitizando a opinião pública, ao mesmo tempo em que aumenta a criminalização das ideias progressistas ou inclusive democráticas, até tal ponto que se tornou revolucionário defender a Constituição, ou até o ponto em que as pessoas que coincidem em qualquer projeto com nós outros são estigmatizadas e rotuladas de terroristas.
Para a mostra, um botão. Pedir a suspensão imediata de uma substância que envenena sistematicamente as pessoas, a flora e a fauna do país se tornou agora uma proposta radical porque foi lançada pelas FARC. E qualquer proposta feita pela guerrilha é radical, descabida ou cínica. Defendem o indefensável pela única razão de que defender o contrário seria apoiar uma ideia das FARC.
Então teremos que tachar agora de radicais a Organização Mundial da Saúde e ao ministro de Saúde Alejandro Gaviria Uribe por se atreverem a chamar publicamente a finalizar as fumigações com glifosato, baseando-se em evidência científica de milhares de pesquisas de universidades em todo o mundo, os quais certamente também serão terroristas ou castro-chavistas...
Que fazer?, perguntou Lênin. Será que é melhor pronunciar-nos a favor da utilização do glifosato, para que o mundo inteiro se volte a exigir o fim de seu uso?

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Equipe ANNCOL - Brasil

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