segunda-feira, 14 de setembro de 2015

A confissão do Procurador

Por Carlos Antonio Lozada.
Integrante do Secretariado das FARC-EP.
A intervenção do Procurador Ordoñez no Congresso Nacional de Comerciantes em Cartagena tem o mérito de revelar as verdadeiras causas que o levam a opor-se cegamente ao processo de paz.
Até agora, para se opor aos diálogos, o funcionário sempre tinha falado em nome das vítimas e da sociedade, tal como o faz a cada vez que expressa sua opinião pessoal frente a temas de interesse geral para o país, como o aborto, os direitos da comunidade LGBTI, a legalização da maconha com fins terapêuticos, as relações entre Colômbia e Venezuela etc; ou para perseguir, abusando descaradamente de suas funções, funcionários públicos com ideias políticas alternativas ou opiniões diferentes de sua doutrina confessional.
Eu quero que se firme a paz e que se firme rápido, porém não a qualquer preço”, assegura, e, no tópico seguinte, deixa ver seus temores, tratando por sua vez de assustar os assistentes ao Congresso, com o fantasma do que ele chama “políticas populistas” e os remete às declarações das FARC-EP em relação a terras, mineração, petróleo e tratados de livre comércio.
Continua o Procurador Ordoñez revelando a seu auditório o que considera um mistério: “Ingênuos os que pensam que com o desaparecimento dessa guerrilha como aparelho armado termina tudo. Não. Pelo contrário, desde seu ponto de vista, se inicia uma nova fase de luta que persegue os mesmos objetivos de sempre, agora amparados pela legalidade”.
E finalmente confessa Ordoñez: “flagelos como a desigualdade, a pobreza, a corrupção e a falta de confiança na institucionalidade tornam a Colômbia propensa ao denominado “socialismo do século XXI”; “Insisto. Necessitamos, queremos, apoiamos que se chegue a um acordo com as guerrilhas, porém não podemos ser cegos sobre o que isso pode significar para o regime democrático, as liberdades e a iniciativa privada”.
Depois de ler suas palavras, poderíamos nos sentir isentos de fazer qualquer precisão mais além de que se trata do velho, porém eficaz método de utilizar o medo para mobilizar [imobilizar?] a opinião, desta vez com o fantasma do “socialismo do século XXI”.
Pelo demais, não lhe falta razão a Ordoñez, a firma de um tratado de paz deve iniciar “uma nova fase de luta”, por meios civilizados, acrescentaríamos nós outros, entre aqueles que, por terem tudo, defendem o que ele denomina “o regime democrático, as liberdades e a iniciativa privada”, frente aos que sentimos a necessidade de um novo regime político que acabe com “flagelos como a desigualdade, a pobreza, a corrupção”, entre outros graves problemas que mantêm doente a sociedade colombiana, recuperando assim a legitimidade institucional, base fundamental para a convivência democrática.
Senhor Ordoñez, a ameaça não somos os que desejamos e trabalhamos pela paz com justiça social, democracia e soberania para nosso povo; a ameaça são aqueles que desejam e se esforçam em perpetuar a guerra com todos os seus horrores; porque, graças a ela, podem manter a entrega das riquezas naturais do país às transnacionais, o regime de dominação política, a exploração econômica e a marginalização impiedosa dos colombianos humildes.

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Equipe ANNCOL - Brasil








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