Por Javier Calderón Castillo/ Resumen Latinoamericano/ Marcha Patriótica/ 10 de setembro de 2015 – O fechamento da fronteira colombo-venezuelana no caminho da Ponte Internacional Simón Bolívar, assim como a promulgação do estado de exceção em 5 municípios do Estado de Tachira, na Venezuela, está sendo mostrada pela imprensa hegemônica como um ataque à Colômbia e aos colombianos. Para além das matrizes midiáticas, a medida tomada pelo presidente Maduro desnudou um problema profundo gerado por dois modelos diferentes de projeto político-econômico: o colombiano, profundamente neoliberal, repressivo e contrainsurgente, que tem o paramilitarismo como sua estratégia; e o venezuelano, um projeto pós-neoliberal, distribuidor da riqueza e que tem como fundamento a aliança povo-forças armadas.
Para entender o que está acontecendo, é preciso recordar que em 1999, nos preparativos do Plano Colômbia, foram mobilizados mais de 5 mil paramilitares sob o comando do temível Mancuso, perpetrando massacres, ameaças e tomando o controle sobre a política departamental. Mataram ou deslocaram o movimento social e popular, a segurança privada assumiu os movimentos de bairro, monopolizando a economia fronteiriça e a política local, tudo com o apoio das forças armadas estatais e dos planos de guerra estabelecidos nos manuais contrainsurgentes e antipopulares ditados pelos Estados Unidos.
Nenhum governo colombiano gerou políticas sociais para os habitantes da fronteira, a pobreza é a regra nos departamentos (províncias) do Norte de Santander, Guajira, Arauca, Vichada. Não chegaram políticas de geração de emprego digno, de melhoria da saúde, de ampliação da cobertura e qualidade da educação, nem muito menos se ampliou a democracia. Pelo contrário, a política central e local permitiu o domínio dos credores, usurários, traficantes de seres humanos, narcotraficantes, contrabandistas, entre outros. Uma política de fronteira que obriga os colombianos dessas regiões a exigir de Miraflores o que não é exigido da Casa de Nariño.
Tudo isso gerou um impacto negativo na economia venezuelana e ocultou a ausência de políticas sociais redistributivas na fronteira. Uma dinâmica criminosa liderada pelo narco-paramilitarismo colombiano, que gerou uma cadeia de corrupção com lucros exorbitantes. Segundo o presidente da Federação de Produtores Avícolas (FENAVI), da Colômbia, por mês ingressa do país vizinho em torno de 1500 toneladas de frango de contrabando (Sandoval: 2015). Em 2006, entraram no país ilegalmente cerca de 672.000 galões de gasolina provenientes da Venezuela (Revista Semana, 2006), o que permite dimensionar o negócio que possui uma cadeia de valor e corrupção que chega até os postos de gasolina na Colômbia (Egea: 2013, pág. 97)[1].
Porém, a ação narco-paramilitar não é apenas econômica. Com a chamada parapolítica na Colômbia, ficou clara a estreita relação de políticos de direita colombianos com o poder narco que ostentam os paramilitares. Trata-se de uma estratégia de poder territorial que se estendeu para todos os departamentos de fronteira e que se irradia para a Venezuela na forma de ingerência estrangeira na política venezuelana (El Tiempo; infografía: 2009). É coincidência que dos 335 municípios existentes na Venezuela a oposição governe 68 e que destes, 68,32% estejam na fronteira com a Colômbia? Os fatos nos indicam que não é coincidência, que corresponde a uma política apoiada pela direita colombiana e, em especial, pelo extremista Álvaro Uribe Vélez.
O fechamento da fronteira decretado pelo governo venezuelano é uma medida que obriga discutir a política social e econômica do Estado colombiano, não as políticas venezuelanas. Da Colômbia, o governo e a imprensa hegemônica exigem que os vizinhos respeitem os direitos humanos dos migrantes, quando o governo colombiano viola sistematicamente o de sua própria população. Exigem que a Venezuela não feche a fronteira porque ali os colombianos recebem saúde, educação e sobrevivem dos negócios gerados pelo contrabando da gasolina, com a comida subsidiada do MERCAL e PDVAL, entre outras coisas. O governo colombiano e os meios hegemônicos exigem que a Venezuela outorgue direitos à população colombiana, já que o governo neogranadino não outorga aos cucuteños nem a nenhum outro colombiano.
O presidente Santos faz uso do negacionismo quando minimiza o êxodo de colombiano/as para a Venezuela. No país vizinho existem mais de 300 mil refugiados ou solicitantes de refúgio deslocados pelo paramilitarismo, e mais de 3,5 milhões de migrantes ou exilados pela crise social e econômica colombiana. Muitos colombianos receberam casa própria pela missão de habitação Venezuela, receberam estudo superior pela missão Miranda. Todos querem a cidadania venezuelana para que chegue algo de bem-estar que nunca chegou de Bogotá.
Santos e a direita colombiana negam cinicamente a existência do paramilitarismo, porém continua sendo uma política de Estado apoiada por empresários e latifundiários, que pretendem permanecer no poder a sangue e fogo, como demonstram os fatos. Estes paramilitares representam os setores do poder que não querem a paz com justiça social, que pretendem continuar incendiando as fronteiras para promover uma crise na Venezuela, colocando em xeque a região e, com isso, os próprios diálogos de paz, nos quais o país vizinho atua como facilitador e desempenha um papel central como acompanhante do sonho da solução política ao conflito que mobiliza o povo colombiano.
O Estado colombiano deve se encarregar do subsídio da gasolina na fronteira, da assistência médica íntegra e gratuita da população, das políticas de emprego digno e bem remunerado, que subsidie os alimentos, que gere planos de habitação social, que amplie a oferta educativa estatal em todos seus níveis. Que o Estado nacional se encarregue dos direitos dos habitantes da fronteira com a Venezuela, o que é uma tarefa do movimento político e social colombiano que está emergindo como alternativa. É preciso um governo que gere tantos direitos sociais na Colômbia, que viajar para a Venezuela ou para qualquer outro país, seja uma opção de turismo ou de mobilidade e não a única opção para viver dignamente. Isso só será possível quando se derrotar o neoliberalismo.
O governo venezuelano deveria incluir o movimento popular e social colombiano na busca de soluções ao que se denominou crise fronteiriça, gerar uma ponte real com os projetos americanistas na Colômbia que trabalham na busca de uma sociedade pós-neoliberal. O povo venezuelano e colombiano são irmãos e não podem permitir que surjam distâncias entre duas nações que são as duas asas do mesmo ideário bolivariano. A diplomacia dos povos pode se converter na alternativa para lutar conjuntamente contra o paramilitarismo e o neoliberalismo, dos quais padecem os colombianos e que se pretende impor na Venezuela.
A crise que existe, então, é a pobreza generalizada na Colômbia, produto do modelo neoliberal e da repressão sistemática. A crise é entre dois modelos antagônicos que estão em disputa em Nossa América.
Por Javier Calderón Castillo
Marcha Patriótica Internacional
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Equipe ANNCOL - Brasil
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