Por Alfredo Valdivieso
Segunda-feira, 22 Fevereiro 2016
“Uma classe oprimida que não aspire a ter armas, a saber o manejo das armas,
só merece ser tratada como escrava” –V. I. Lenin–
só merece ser tratada como escrava” –V. I. Lenin–
O “Mocho” Rafael Rangel Gómez [lhe chamavam Mocho porque perdeu uma mão com um cartucho de dinamite] conseguiu ser sacado da prisão, à qual havia voltado ao depor as armas, e logrou refugiar-se em Venezuela. Com amplos apoios regressou ao país e criou o Movimento Liberal Popular na zona do Carare-Opón.
Rafael Rangel Gómez, liberal gaitanista, foi presidente da Junta Revolucionária que tomou o poder em Barrancabermeja a 9 de abril de 1948, por causa do e em resposta ao assassinato de Jorge Eliécer Gaitán, e em tal condição se converteu em Prefeito da “Comuna de Barranca”. Tinha sido eleito vereador do porto petroleiro em 1946. Após a entrega do poder, ao ter conseguido manter a cidade em absoluta calma, a repressão não se fez esperar contra os dirigentes populares, liberais e comunistas, e os que não foram assassinados tiveram que levantar-se em armas para defender suas vidas. Entre eles Rangel, que começou a operar com suas guerrilhas em Barranca, Puerto Wilches, a zona de Chucurí e o Carare.
Em seu retorno com o Movimento Rangelista, como também ficou conhecido, desarmado e pacífico, conseguiu eleger oito vereadores na zona do Carare, três deputados à Assembleia estadual de Santander e ele mesmo foi eleito representante à Câmara para o período 1960-62. Porém em seu lugar teve que tomar posse o suplente Toloza Suárez, pois Rangel morreu “misteriosamente” no hospital de Cúcuta, segundo versão oficial por uma peritonite maltratada; porém, segundo o sentir popular e seus parentes, envenenado.
A sorte de Rangel foi igualmente a de muitos. Menos dos que ficaram em suas montanhas, abrindo caminho, tombando selvas, criando povoados e estados, cultivando a terra com o ferro perto, ou ao ombro.
Porém, ademais de cultivando, criando organização social: das mulheres, das crianças, dos jovens; as cooperativas, do cuidado e ornato; porém também o Partido e a frente ampla e todos os cidadãos, em exercício político e educativo.
Aí foi Troia! Como é que uns comunistas, que têm ferros ainda que não os usem, estão criando umas “repúblicas independentes”, às quais o Estado não chega! Como é que esses esfarrapados têm escolas e professores próprios, e enfermeiros e médicos, e não têm padres! Como é que não pagam impostos de suas bananas, e mandiocas, e feijões, e reses, e galinhas e porcos! Há que arrancá-los a bala!
[Quem iniciou a confusão no Senado foi o senhor Álvaro Gómez Hurtado, rico, filho do monstro Laureano Gómez, ao qual o general Rojas Pinilla baixou do poder de um golpe de bofetada, congressista –alma bendita...!-, ídolo de um ex- JUCO (Juventude comunista) de Bucaramanga, que eu conheço, e que é compadre de outro pateta, também alvarista, de Palmira.]
Do Congresso e do executivo, então, se inicia a campanha para acabar com essas “repúblicas independentes” de Marquetalia, Riochiquito, El Pato, Guayabero, Villa Rica etc. e, para isso, em sociedade com o Comando Sul e a Escolas das Américas, norte-americanas, projetam o Plan Laso [por suas siglas em inglês: Latin American Security Operation].
A partir de 1992 começa o Plano, que se complementa com a aplicação das recomendações ianques de organizar grupos terroristas de extrema-direita para impedir que se repetisse outra Cuba. Há que relembrar que em outubro de 1962 –anos antes das FARC e o ELN existirem- e em desenvolvimento do plano contra as “repúblicas independentes”, chegou à Colômbia o general ianque William Yarborough, comandante do “Special Warfare Center” de Fort Bragg em Carolina do Norte, quartel-general da 82ª Divisão de Boinas Verdes. Yarborough se reuniu com o ministro de Defesa e com o chefe do DAS. Recomendou criar organizações novas de tipo antiterrorista e grupos de luta anticomunista, o que apareceu numa separata especial chamada “Suplemento secreto para o principal esquema do informe classificado”. Ali, a prescrição de Yarborough para a Colômbia era a “organização de grupos paramilitares secretos para levar a cabo operações militares encobertas contra a oposição doméstica nacional”.
[Cabe relembrar a falácia de que as guerrilhas em Colômbia eram decalque cubano. Quando Fidel Castro assaltava o Quartel Moncada, que dá início à luta armada na Ilha, em Colômbia já se tinham desmobilizado, pouco mais de um mês antes, as guerrilhas do Llano, do Tolima e Huila, do Valle, de Antioquia, Santander e Viotá e o Sumapaz, entre outras.]
A agressão contra campesinos pacíficos, que, se bem que tinham armas não as usavam, o que iniciou em maio de 1964, levou à criação do Bloco Sul, antecedente imediato das FARC-EP.
Esta guerrilha é a que marcou presença em Conejo, Fonseca, La Guajira, com as armas ao ombro, o que provocou uma onda de questionamentos dos grandes meios oligárquicos de desinformação, dos quais se tornaram áulicos e ecolálicos alguns que até se consideram de esquerda. Cabendo relembrar que, ainda que se está no processo de diálogo para fazer “deixação das armas”, isso ainda não se pactuou, pelo que um exército, que é essa guerrilha, portará as armas até quando se transformem só em movimento político, se é que existem garantias de não repetir a eterna história colombiana. E só aí se lhes poderá acusar de “proselitismo armado”, se acorrem às massas portando os arcabuzes.
Porque, ainda isto é o atual, depois falaremos da perseguição e do extermínio contra o movimento popular que data de 1854; a despeito dos que creem e querem que se conte a história no máximo do último decênio.
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