sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

“As Forças Armadas devem deixar de lado a Doutrina de Segurança Nacional”: Romaña «O cessar-fogo bilateral nestes momentos, segundo o nível das conversações, é uma necessidade e um dever das partes


Romaña, acusado pelos militares de ser “o cérebro de sequestros e ações terroristas”, também catalogado de ser “da linha dura das FARC-EP” pelos meios oficiais, é atualmente integrante da Delegação de Paz de Havana, fazendo parte da conhecida como subcomissão técnica, nos conta hoje sua visão sobre o conflito e as possibilidades de fazer a paz.
Se trata de um campesino colombiano que, nos inícios dos ’80, se tornou guerrilheiro fariano. Ele, como muitos de seus companheiros, padeceu da perseguição e do assassinato de familiares em mãos do paramilitarismo oficial. Pelo menos uma vintena de parentes seus foram mortos e, claro, em tanto tempo de luta enfrentou as difíceis situações da guerra. Hoje por hoje, apesar das maledicências do estabelecimento e sua grande imprensa, é um destacado dirigente político-militar.
  1. O que o levou a ser guerrilheiro?
É um processo longo de luta desde minha juventude nos Pioneiros e depois nas fileiras da Juventude Comunista, onde me correspondeu cumprir várias tarefas, como líder nas mobilizações de campesinos e para enfrentar a violência no Alto Ariari. A partir daí fui adquirindo o compromisso de luta no qual sempre esteve presente uma atitude de resistência ao terrorismo de Estado, a seus assassinatos, a seus massacres, a suas ações de despojo contra o povo.
2. Conte-nos sobre um fato que tenha marcado sua vida...
Nesta longa luta são muitos, porém, indubitavelmente, a morte do camarada Jorge Briceño, assassinado pelo regime que covardemente lançou 60 toneladas de explosivos, foi um fato impactante e doloroso.
3. Você está na subcomissão técnica; que fazem aí, como trabalham e para quê?
O EMC delegou a um grupo grande de quadros, conhecedores do território nacional e da realidade da guerra, experimentados, para integrar a dita comissão em que as tarefas que cumprimos requerem estudo permanente dos fatos políticos e militares que ocorrem dia a dia para buscar alternativas práticas que possam conduzir ao cessar-fogo e à deixação de armas como aspectos de mútuo compromisso para as partes. A insurgência e o Estado teriam que tirar da política o uso das armas e particularmente as Forças Armadas teriam que retomar seu papel constitucional de defender as fronteiras, deixando de lado a Doutrina da Segurança Nacional e a concepção do inimigo interno.
Nisto trabalhamos coletiva e individualmente para depois recolher as opiniões do conjunto de camaradas e chegar a conclusões que beneficiem ao povo. A ideia é que possamos concretizar um armistício e dentro dele uma longa trégua que permita a implementação do Acordo final.
4. Por que as FARC-EP insistem no cessar-fogo bilateral? Serviria paga algo? É viável?
O cessar-fogo bilateral, nestes momentos, segundo o nível das conversações, é uma necessidade e um dever das partes. Concretizá-lo permitiria aliviar as dores da guerra e geraria o melhor ambiente para avançar. Nisso não deveria haver mesquinharia, porque, se estamos falando de paz, deveríamos começar por algo importante que minimize na população a tensão, a aflição e lhe dê convencimento. Um cessar-fogo, como diria nosso inesquecível Comandante Jacobo Arenas, seria um enorme passo para que algum dia possamos alcançar a paz com justiça social e possamos abraçar-nos, rir e deixar para trás os rancores da confrontação. Eu tenho certeza de que isto é viável se o governo tiver vontade política e os grandes meios [de comunicação] que instigam a guerra contribuírem para estimular a reconciliação.
Delegação de Paz
La Habana 7 de janeiro de 2015


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