Romaña,
acusado pelos militares de ser “o cérebro de sequestros e ações
terroristas”, também catalogado de ser “da linha dura das
FARC-EP” pelos meios oficiais, é atualmente integrante da
Delegação de Paz de Havana, fazendo parte da conhecida como
subcomissão técnica, nos conta hoje sua visão sobre o conflito e
as possibilidades de fazer a paz.
Se
trata de um campesino colombiano que, nos inícios dos ’80, se
tornou guerrilheiro fariano. Ele, como muitos de seus companheiros,
padeceu da perseguição e do assassinato de familiares em mãos do
paramilitarismo oficial. Pelo menos uma vintena de parentes seus
foram mortos e, claro, em tanto tempo de luta enfrentou as difíceis
situações da guerra. Hoje por hoje, apesar das maledicências do
estabelecimento e sua grande imprensa, é um destacado dirigente
político-militar.
- O que o levou a ser guerrilheiro?
É
um processo longo de luta desde minha juventude nos Pioneiros e
depois nas fileiras da Juventude Comunista, onde me correspondeu
cumprir várias tarefas, como líder nas mobilizações de campesinos
e para enfrentar a violência no Alto Ariari. A partir daí fui
adquirindo o compromisso de luta no qual sempre esteve presente uma
atitude de resistência ao terrorismo de Estado, a seus assassinatos,
a seus massacres, a suas ações de despojo contra o povo.
2.
Conte-nos sobre um fato que tenha marcado sua vida...
Nesta
longa luta são muitos, porém, indubitavelmente, a morte do camarada
Jorge Briceño, assassinado pelo regime que covardemente lançou 60
toneladas de explosivos, foi um fato impactante e doloroso.
3.
Você está na subcomissão técnica; que fazem aí, como trabalham e
para quê?
O
EMC delegou a um grupo grande de quadros, conhecedores do território
nacional e da realidade da guerra, experimentados, para integrar a
dita comissão em que as tarefas que cumprimos requerem estudo
permanente dos fatos políticos e militares que ocorrem dia a dia
para buscar alternativas práticas que possam conduzir ao cessar-fogo
e à deixação de armas como aspectos de mútuo compromisso para as
partes. A insurgência e o Estado teriam que tirar da política o uso
das armas e particularmente as Forças Armadas teriam que retomar seu
papel constitucional de defender as fronteiras, deixando de lado a
Doutrina da Segurança Nacional e a concepção do inimigo interno.
Nisto
trabalhamos coletiva e individualmente para depois recolher as
opiniões do conjunto de camaradas e chegar a conclusões que
beneficiem ao povo. A ideia é que possamos concretizar um armistício
e dentro dele uma longa trégua que permita a implementação do
Acordo final.
4.
Por que as FARC-EP insistem no cessar-fogo bilateral? Serviria paga
algo? É viável?
O
cessar-fogo bilateral, nestes momentos, segundo o nível das
conversações, é uma necessidade e um dever das partes.
Concretizá-lo permitiria aliviar as dores da guerra e geraria o
melhor ambiente para avançar. Nisso não deveria haver mesquinharia,
porque, se estamos falando de paz, deveríamos começar por algo
importante que minimize na população a tensão, a aflição e lhe
dê convencimento. Um cessar-fogo, como diria nosso inesquecível
Comandante Jacobo Arenas, seria um enorme passo para que algum dia
possamos alcançar a paz com justiça social e possamos abraçar-nos,
rir e deixar para trás os rancores da confrontação. Eu tenho
certeza de que isto é viável se o governo tiver vontade política e
os grandes meios [de comunicação] que instigam a guerra
contribuírem para estimular a reconciliação.
Delegação
de Paz
La
Habana 7 de janeiro de 2015
--
Equipe
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