sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Meios de comunicação, paz e desenvolvimento comunitário

Por Nelson Lombana Silva
Iniciamos mais um ano, salpicado este de expectativas, sonhos e desafios por um povo que vai despertando pouco a pouco, sobrepondo-se ao torpor da violência e da imposição de uma classe oligárquica agressiva e violenta.
Povo maltratado pelos aparelhos ideológicos e repressivos do regime capitalista, que se nega a viver na indigência e se mostra disposto a batalhar por um país mais justo e humano. Povo disposto a construir criativamente a unidade, com o objetivo estratégico de ser poder e inverter as regras do jogo que essa pérfida oligarquia nos impôs.
O povo já se projeta o tema do poder como real e concreto. Entende que a democracia é o domínio da maioria sobre a minoria. Quer dizer, que o domínio da minoria sobre a maioria não é democracia, mas sim tirania. Assim são as coisas, a democracia em Colômbia é apenas uma caricatura malfeita.
Não em vão, se projeta o povo colombiano o tema da paz com justiça social. O sonho de discutir sem a força da violência. O amplo cenário da argumentação, ou seja, a força da razão. Este poderia ser o ano da paz. Vai depender, no entanto, do pulso do povo e da oligarquia, exatamente dos inimigos da paz dentro e fora do governo, dentro e fora do país.
Os abutres da guerra, os que lucram com a violência, certamente não cederão em seu pérfido empenho de fazer fracassar os diálogos de Havana [Cuba] entre as Farc-EP e o governo Santos. Aí, o povo terá que assumir uma posição ativa e consequente, uma posição revolucionária, para defender a capa e espada este processo que tem gerado tanta expectativa não só em Colômbia como também a nível internacional.
Baseados no realismo, não se poderia ainda cantar vitória e dizer que a paz como a entende e necessita o povo está na curva da esquina. Seria gerar falsas expectativas. Ainda não é irreversível. Há, no meio, gigantescos fixos que o governo se nega a assumir com critério, decisão e coragem. Que gestos de paz fez o governo nacional até agora?
Se propôs que a paz que o povo colombiano necessita deve ser produto de mudanças importantes nos costumes políticos do país. Não é simplesmente o silenciamento dos fuzis. Tem relação com o modelo econômico, com as causas que originaram o levantamento popular em 1964: A terra. Será que pode haver paz concentrando a terra cada vez em menos mãos? Será que pode haver paz estrangeirizando-a para as multinacionais e transnacionais? Será que pode haver paz no interior de uma comunidade rural sem vias adequadas, escolas, colégios, universidades, sem créditos brandos, sem hospitais e sem clínicas?
E mais: Poderá haver paz num povo incomunicável e analfabeto político? Um povo subjugado e dominado pelos meios massivos de comunicação, os quais impõem selvagemente a uniformidade, mostrando a palavra única, a imagem única, a mensagem única, uma mídia que manipula a impõe sua ditadura, que não é outra senão a ditadura da classe dominante?
Que perspectivas de desenvolvimento comunitário há em Colômbia? Será que com a teoria neoliberal haverá possibilidades de desenvolvimento comunitário? Que entender por desenvolvimento comunitário?
Estes e muitos mais interrogantes despontam ao começar o ano de 2015. Como se pode observar, não são interrogantes de pouca monta. Todos têm relação com a paz real que desejamos.
O grande desafio: A unidade
Um caminho para concretizar estes anseios tantas vezes frustrados por este regime oligárquico, sim, é possível. Se pode. O caminho é a unidade das distintas expressões democráticas que compõem o conjunto do povo colombiano. Não há outro caminho possível e real. Uma unidade ampla, generosa e inclusiva que interprete fielmente os interesses de cada organização política, popular ou sindical. Uma unidade sem personalismo, sem sectarismo, sem grupismo; uma unidade dialética não mecânica.
A iniciativa de uma Frente Ampla pela Paz, Soberania Nacional e Democracia deve ser a cota inicial deste processo a materializar sem tantos rodeios e sem tantas discussões cantinflescas que só levam a prolongar a ditadura da classe dominante. Como dissera o Comandante Fidel Castro à Organização das Nações Unidas [ONU]: “Já basta de palavras, ações”. Toda discussão é útil e necessária quando tem conteúdo; quando carece deste, é só divagação estéril e inconsequente com o momento histórico.
Em todo este processo de luta ideológica e política, luta de classes, a comunicação alternativa, de dupla via ou dialógica é um elemento chave. Não é algo simplesmente acessório. É fundamental. Não por simples casualidade, a oligarquia decidiu apoderar-se dos meios massivos e torná-los um verdadeiro e monstruoso monopólio. Não em vão se ameaça abertamente aos meios alternativos em Colômbia e a seus jornalistas.
A luta entre a mensagem única e a mensagem alternativa, plural, é à morte. Não é uma simples ameaça de uns supostos frustrados, é um plano estratégico da oligarquia e do imperialismo. Assim as coisas, não se pode mirar o tema das ameaças aos meios e comunicadores alternativos como algo secundário e isolado da luta política e ideológica. 
Por isso, a resposta deve ser contundente. Revolucionária. Unitária. Há que convocar um encontro nacional de meios alternativos e jornalistas alternativos e consequentes com sua classe social a um grande debate nacional. O governo nacional deve assumir sua responsabilidade e dizer se é capaz de garantir em Colômbia a liberdade de imprensa e a vida dos comunicadores sociais. Não se pode ir pelos galhos. Se deveria criar uma organização que aglutinasse os meios alternativos que existem hoje em Colômbia. Se deve lutar pela massificação e a tecnificação dos referidos meios. Se deve avançar na unidade, na qualidade e na quantidade.
Pelo momento, se continuará trabalhando para fazer no Tolima o I Encontro Estadual de Meios Alternativos, tendo em conta três elementos chaves: A paz com justiça social, o ambiente e a identidade regional. Não basta dizer: Há que fazer.
Porém, também durante este ano se realizará o debate eleitoral. Tampouco é algo acessório. É prioritário. A tomada de comunas, corregedorias, conselhos, assembleias, prefeituras e governadorias por companheiros e companheiras de esquerda com amplitude e plena democracia é um exercício concreto de maturidade política no processo histórico de passar de ser oposição a ser opção de poder.
Temos que encontrar-nos as forças que fazem parte da esquerda e, inclusive, mais além de esquerda a deliberar e expor propostas de unidade, propostas sem vantajismos, sem sectarismo e sem grupismo. Propostas programáticas que tenham a ver com a paz, com os diálogos de Havana, o meio ambiente, a soberania nacional, a democracia e a luta contra a corrupção e o oportunismo.
Estes e muitos [outros] mais são desafios que há que assumir com donaire e esperança durante 2015 e anos vindouros. A unidade é a chave para sair deste labirinto, destes cem anos de solidão a que nos submeteu essa rançosa oligarquia. Adiante.
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Equipe ANNCOL - Brasil

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