Por
Nelson Lombana Silva
Iniciamos
mais
um ano, salpicado este de expectativas, sonhos e desafios por um povo
que vai despertando pouco a pouco, sobrepondo-se ao torpor da
violência e da imposição de uma classe oligárquica agressiva e
violenta.
Povo
maltratado pelos aparelhos ideológicos e repressivos do regime
capitalista, que se nega a viver na indigência e se mostra disposto
a batalhar por um país mais justo e humano. Povo disposto a
construir criativamente a unidade, com o objetivo estratégico de ser
poder e inverter as regras do jogo que essa pérfida oligarquia nos
impôs.
O
povo já se projeta o tema do poder como real e concreto. Entende que
a democracia é o domínio da maioria sobre a minoria. Quer dizer,
que o domínio da minoria sobre a maioria não é democracia, mas sim
tirania. Assim são as coisas, a democracia em Colômbia é apenas
uma caricatura malfeita.
Não
em vão, se projeta o povo colombiano o tema da paz com justiça
social. O sonho de discutir sem a força da violência. O amplo
cenário da argumentação, ou seja, a força da razão. Este
poderia ser o ano da paz. Vai depender, no entanto, do pulso do povo
e da oligarquia, exatamente dos inimigos da paz dentro e fora do
governo, dentro e fora do país.
Os
abutres da guerra, os que lucram com a violência, certamente não
cederão em seu pérfido empenho de fazer fracassar os diálogos de
Havana [Cuba] entre as Farc-EP e o governo Santos. Aí, o povo terá
que assumir uma posição ativa e consequente, uma posição
revolucionária, para defender a capa e espada este processo que tem
gerado tanta expectativa não só em Colômbia como também a nível
internacional.
Baseados
no realismo, não se poderia ainda cantar vitória e dizer que a paz
como a entende e necessita o povo está na curva da esquina. Seria
gerar falsas expectativas. Ainda não é irreversível. Há, no meio,
gigantescos fixos que o governo se nega a assumir com critério,
decisão e coragem. Que gestos de paz fez o governo nacional até
agora?
Se
propôs que a paz que o povo colombiano necessita deve ser produto de
mudanças importantes nos costumes políticos do país. Não é
simplesmente o silenciamento dos fuzis. Tem relação com o modelo
econômico, com as causas que originaram o levantamento popular em
1964: A terra. Será que pode haver paz concentrando a terra cada vez
em menos mãos? Será que pode haver paz estrangeirizando-a para as
multinacionais e transnacionais? Será que pode haver paz no interior
de uma comunidade rural sem vias adequadas, escolas, colégios,
universidades, sem créditos brandos, sem hospitais e sem clínicas?
E
mais: Poderá haver paz num povo incomunicável e analfabeto
político? Um povo subjugado e dominado pelos meios massivos de
comunicação, os quais impõem selvagemente a uniformidade,
mostrando a palavra única, a imagem única, a mensagem única, uma
mídia que manipula a impõe sua ditadura, que não é outra senão a
ditadura da classe dominante?
Que
perspectivas de desenvolvimento comunitário há em Colômbia? Será
que com a teoria neoliberal haverá possibilidades de desenvolvimento
comunitário? Que entender por desenvolvimento comunitário?
Estes
e muitos mais interrogantes despontam ao começar o ano de 2015. Como
se pode observar, não são interrogantes de pouca monta. Todos têm
relação com a paz real que desejamos.
O
grande desafio: A unidade
Um
caminho para concretizar estes anseios tantas vezes frustrados por
este regime oligárquico, sim, é possível. Se pode. O caminho é a
unidade das distintas expressões democráticas que compõem o
conjunto do povo colombiano. Não há outro caminho possível e real.
Uma unidade ampla, generosa e inclusiva que interprete fielmente os
interesses de cada organização política, popular ou sindical. Uma
unidade sem personalismo, sem sectarismo, sem grupismo; uma unidade
dialética não mecânica.
A
iniciativa de uma Frente Ampla pela Paz, Soberania Nacional e
Democracia deve ser a cota inicial deste processo a materializar
sem tantos rodeios e sem tantas discussões cantinflescas que só
levam a prolongar a ditadura da classe dominante. Como dissera o
Comandante Fidel Castro à Organização das Nações Unidas [ONU]:
“Já basta de palavras, ações”. Toda discussão é útil e
necessária quando tem conteúdo; quando carece deste, é só
divagação estéril e inconsequente com o momento histórico.
Em
todo este processo de luta ideológica e política, luta de classes,
a comunicação alternativa, de dupla via ou dialógica é um
elemento chave. Não é algo simplesmente acessório. É fundamental.
Não por simples casualidade, a oligarquia decidiu apoderar-se dos
meios massivos e torná-los um verdadeiro e monstruoso monopólio.
Não em vão se ameaça abertamente aos meios alternativos em
Colômbia e a seus jornalistas.
A
luta entre a mensagem única e a mensagem alternativa, plural, é à
morte. Não é uma simples ameaça de uns supostos frustrados, é um
plano estratégico da oligarquia e do imperialismo. Assim as coisas,
não se pode mirar o tema das ameaças aos meios e comunicadores
alternativos como algo secundário e isolado da luta política e
ideológica.
Por
isso, a resposta deve ser contundente. Revolucionária.
Unitária. Há
que convocar um encontro nacional de meios alternativos e jornalistas
alternativos e consequentes com sua classe social a um grande debate
nacional. O governo nacional deve assumir sua responsabilidade e
dizer se é capaz de garantir em Colômbia a liberdade de imprensa e
a vida dos comunicadores sociais. Não se pode ir pelos galhos. Se
deveria criar uma organização que aglutinasse os meios alternativos
que existem hoje em Colômbia. Se deve lutar pela massificação
e a tecnificação dos referidos meios. Se deve avançar na unidade,
na qualidade e na quantidade.
Pelo
momento, se continuará trabalhando para fazer no Tolima o I Encontro
Estadual de Meios Alternativos, tendo em conta três elementos
chaves: A paz com justiça social, o ambiente e a identidade
regional. Não
basta dizer: Há que fazer.
Porém,
também durante este ano se realizará o debate eleitoral. Tampouco é
algo acessório. É prioritário. A
tomada de comunas, corregedorias, conselhos, assembleias, prefeituras
e governadorias por companheiros e companheiras de esquerda com
amplitude e plena democracia é um exercício concreto de maturidade
política no processo histórico de passar de ser oposição a ser
opção de poder.
Temos
que encontrar-nos as forças que fazem parte da esquerda e,
inclusive, mais além de esquerda a deliberar e expor propostas de
unidade, propostas sem vantajismos, sem sectarismo e sem grupismo.
Propostas programáticas que tenham a ver com a paz, com os diálogos
de Havana, o meio ambiente, a soberania nacional, a democracia e a
luta contra a corrupção e o oportunismo.
Estes
e muitos [outros] mais são desafios que há que assumir com donaire
e esperança durante 2015 e anos vindouros. A unidade é a chave para
sair deste labirinto, destes cem anos de solidão a que nos submeteu
essa rançosa oligarquia. Adiante.
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Equipe
ANNCOL - Brasil
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