domingo, 23 de novembro de 2014

A paz triunfará em Colômbia

A mais brilhante conquista de 2 anos de processo de paz em Havana é a progressiva expansão do sentimento de reconciliação no coração dos colombianos.
Agora, mais do que nunca, necessitamos dar vida e movimento ao preâmbulo, ao espírito do Acordo Geral que estabelece que a construção da paz é assunto da sociedade em seu conjunto que requer a participação de todos, sem distinção, para que a marcha da Colômbia para seu destino de paz avance sem reversão.
Ninguém discute hoje que o respeito aos direitos humanos deve tremular em todos os confins do território nacional; que o desenvolvimento econômico com justiça social e em harmonia com o meio ambiente é garantia de paz e progresso; que é importante ampliar a democracia como condição para conquistar bases sólidas de paz e que o desenvolvimento social com equidade e bem-estar nos permitirá crescer como país.
Estes postulados do marco conceitual do Acordo de agosto de 2012 estão em sintonia com o palpitar do anseio nacional; porém, também em contraste com estes fundamentos, e em contradição com o até agora conquistado nos acordos parciais, o governo avança com suas iniciativas legislativas neoliberais que atiram pela borda a possibilidade certa de uma Reforma Rural Integral, o qual indica que, se algo urge para conquistar um rumo de irreversibilidade para a conquista do Acordo final, deverá o governo atuar com sindérese, interpretando o sentir das maiorias nacionais que pedem paz, democracia e bom viver, em vez de marchar ao compasso do egoísmo e da exclusão que caracterizam a direita guerreirista.
A maioria dos acordos parciais, e grande parte das 28 restrições, não são outra coisa que reivindicações cujas soluções podem ser materializadas cumprindo as normas legais e constitucionais. Um Estado com verdadeira vontade de paz não teria que fazer muito esforço para tornar realidade estas aspirações.
Uma Reforma Rural Integral como a que pretende o primeiro acordo parcial, por mais tentativas de formalização, distribuição e restituição que se façam, é impossível se não se resolve o grave problema do latifúndio que está latente e em crescimento; é impossível se continua avançando o projeto de Lei 133 de 2014, impulsionado para satisfazer aos empresários que estão tomando de assalto a Altiplanura, ou se não se resolvem assuntos de suma transcendência como os conflitos de uso do solo que, com aspectos como a exploração mineiro-energética, levam aparelhados o saqueio de nossas riquezas naturais, o detrimento de nossa soberania e a necessidade de um reordenamento territorial participativo. 
A expansão da democracia, por mais iniciativas de participação cidadã que tenham sido pactuadas, não será certa se se continua com a contrarreforma política que impede o acesso das minorias às instâncias de representação, como se se mantém a Doutrina da Segurança Nacional, a concepção do inimigo interno, o paramilitarismo, as leis liberticidas de segurança cidadã, a pretensão de aprovar um foro militar de impunidade, e o monopólio mesquinho dos meios de comunicação. Menos [ainda] se se nega a possibilidade de abordar os problemas de ordem política, econômica e social que as enormes massas de população têm e se obstruem as iniciativas de transformações institucionais.
A velha política antinarcóticos que ainda sobrevive como desenvolvimento da fracassada “guerra contra as drogas” imposta por Washington favoreceu em Colômbia a corrupção, o crime, a impunidade e a ofensiva contra insurgente de um Estado gangsterizado e em grande medida capturado pelas máfias do narcotráfico. Frente a esta realidade, conseguimos construir um terceiro acordo parcial, que concebe uma nova política de luta contra as drogas de uso ilícito, fundamentado no caráter social do problema, desmilitarizando-o, restando-lhe o timbre proibicionista e punitivo em relação aos campesinos cultivadores e aos consumidores, que, na realidade, são vítimas e o elo mais frágil do problema. Este acordo parcial, que enfatiza em que a perseguição deve dirigir-se contra os comercializadores e o setor financeiro que lucra com a lavagem de ativos, foi ponderado satisfatoriamente por organismos internacionais como as Nações Unidas. Não obstante, o fenômeno em questão não tem possibilidade de solução sem o concurso do conjunto das nações do mundo pela condição de negócio capitalista que entranha.
Por outra parte, em nosso próprio território a solução do problema implica definir uma nova política criminal, propender pela suspensão imediata das aspersões aéreas com glifosato e pela reparação integral de suas vítimas; e requer acabar definitivamente com o velho esquema de erradicações forçadas-fumigações, que fracassou, gerando enormes prejuízos ao tecido ambiental e social, o qual implica que devem ser buscadas alternativas urgentes.
Ao lado destes e outros profundos problemas sociais que se encontram no centro dos debates da Mesa de Conversações, está o transcendental tema das vítimas do conflito, hoje em pleno desenvolvimento e já com alguns compromissos subscritos no Acordo de Princípios e na realização de 4 das 5 audiências programadas para escutar suas dores da alma e suas esperanças de paz. Em todos os encontros, não há ideia que tenha resplandecido mais que a de encontrar a reconciliação desde já, cessando as hostilidades que evitem a geração de novas vítimas. Cremos estar marchando com passo firme e seguro na construção de mecanismos que esclareçam as origens, as causas e as responsabilidades no surgimento e na permanência de uma guerra imposta pelo bloco de poder dominante, a respeito do qual instâncias não governamentais de alta credibilidade assinalaram ao Estado e a seus grupos paramilitares como os responsáveis por mais de 80% dos casos de vitimização, sem contar seu protagonismo na proliferação da miséria, da desigualdade e da violação do conjunto dos direitos humanos, incluindo os direitos econômicos, sociais e culturais.
Entre os mecanismos aos quais aludimos, registramos a posta em marcha da “Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas”, cujo informe deverá ter alcances vinculantes, com um marco de referência inevitável, não substitutivo, no qual se deverá apoiar a comissão de esclarecimento e de memória que nos entregue verdades sobre a confrontação e assente bases de não repetição. Para dinamizar estas instâncias, as FARC-EP apresentaram um decálogo de propostas mínimas e lineamentos orientadores para a discussão do ponto 5 da Agenda, as quais são elementos de discussão que propusemos para que o país busque alternativas de ressarcimento e convivência sobre bases de justiça, em seu sentido mais amplo e integral.
Outros espaços de interlocução para tratar de aspectos centrais da Agenda são a subcomissão de gênero e a subcomissão técnica, a última das quais, ademais de ter a missão de abordar assuntos como o do cessar bilateral de fogos e da deixação de armas, tem ao Comando Guerrilheiro de Normalização como complemento na tarefa de observar o necessário e honroso retorno das Forças Militares a seu papel constitucional de defesa das fronteiras da pátria.
Vale ressaltar que as discussões e construções teóricas realizadas pela insurgência durante os ciclos dedicados a analisar o ponto VÍTIMAS permitiram pôr em claro o sentido que para as FARC têm conceitos e procedimentos como os de armistício e deixação de armas, ou como há de ser a passagem de organização armada a movimento político para a luta aberta num período de normalização, que não de transição. Neste plano de ideias, cujas consequências tocam em compromissos, tanto ao governo como à insurgência, não há para o processo de paz nenhum marco jurídico diferente ao Acordo Geral de Havana, nem há Lei de justiça transicional diferente aos compromissos que deste se derivem.
Tanto a deixação das armas, que é o compromisso da guerrilha e do Estado de sua não utilização em política, como o armistício, durante o qual se devem implementar os acordos, seriam elementos básicos do tratado de paz, cuja referenda deverá ter um mecanismo pactuado entre as partes para levá-lo à mais ampla possibilidade de complementação e convalidação do soberano.
Sem dúvida, o Tratado de Paz deverá forjar-se como produto de profundos acordos políticos que lhe forneçam uma suficiente blindagem jurídica, no qual o reconhecimento da rebelião como direito universal, posto em prática pela insurgência, tenha a avaliação e as garantias próprias do caráter altruísta que o inspira, circunstância que implicará, à parte das mudanças estruturais para superar a desigualdade, a miséria e a falta de democracia, o restabelecimento do delito político como aspecto nodal das conclusões que deve ter o tratamento integral e simultâneo dos temas que se compreendem no ponto 3 FIM DO CONFLITO, porque ninguém entenderia que as FARC-EP depusessem sua opção pela rebelião sem que sua luta tenha contribuído de maneira substancial para a superação e solução dos fatores que geraram o levantamento.
Com este balanço altamente favorável à saída política do conflito e, sobretudo, tendo em nossas mãos os acordos parciais e os avanços aos quais fizemos alusão, indicando que com eles começamos a discussão de temas decisivos, devemos dizer que não é sensato que continuemos matando-nos numa confrontação, que, não cessando, gerará prisioneiros e incidentes que podem pôr em perigo a continuidade da Mesa de Conversações e a ansiada possibilidade de chegar à firma do Acordo Final. Não é este um temor infundado, porque hoje mesmo temos a circunstância de que o Governo, tendo ordenado recrudescer a ofensiva contra a insurgência, quando recebe golpes que envolvem a captura de prisioneiros, tal como ocorreu com os soldados da força-tarefa Quirón ou como sucedeu com a captura, por forças guerrilheiras, do comandante da força-tarefa Titán, general Rubén Darío Alzate, de maneira impulsiva e inconsequente suspende as conversações. Não é admissível que quem declara a guerra sem quartel, em meio a ela, pretenda que não se toquem em seus soldados e generais.
Finalmente, devemos recordar que, se todos os sub pontos do ponto 3 sobre “Fim do Conflito” devem ser resolvidos integral e simultaneamente, é bom que o governo, em atenção ao sub ponto 5, vá estabelecendo com seu interlocutor como se “revisará” e se vão fazer “as reformas e os ajustes institucionais necessários para fazer frente aos desafios da construção da paz”.
A dois anos de desenvolvimento destas conversações que fizeram reverberar a esperança de um povo, não podemos deixar de pronunciar com profundo sentimento bolivariano e com a memória viva de nosso comandante Manuel Marulanda Vélez as seguintes palavras:
A Cuba, garantidor do processo e país anfitrião, a seu governo revolucionário e a seu povo, em nome dos colombianos, nosso amor e eterna gratidão por tanto desvelo pela paz da Colômbia. Ao governo e ao povo da Noruega, obrigado por contribuir para a reconciliação de um país latino-americano que merece viver em paz. Muito obrigado, presidente Nicolás Maduro, de Venezuela, gratos à presidenta Michelle Bachelet do Chile, por seu acompanhamento e solidariedade.
A paz deverá triunfar em Colômbia. VENCEREMOS! 
Comissão de Paz das FARC-EP

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Equipe ANNCOL - Brasil

Comunicado sobre o General Alzate

No dia 16 de novembro, por volta das 15:00 horas, unidades guerrilheiras pertencentes ao Bloco Iván Ríos das FARC-EP, no exercício de suas tarefas de segurança, interceptaram, numa das reservas móveis que mantêm às margens do rio Atrato, o bote em que se transladava o senhor Brigadeiro General do Exército Nacional, em serviço ativo, Rubén Darío Alzate Mora, comandante da denominada Força de Tarefa Conjunta Titán, que opera nesta zona do país.
Em companhia do general Alzate viajavam o cabo segundo do Exército Jorge Contreras Rodríguez e a senhora Gloria Urrego, advogada a serviço da mencionada unidade militar. Uma vez identificados plenamente, apesar de vestirem roupas civis, os três foram capturados por nossas unidades, devido a que se trata de pessoal militar inimigo, que se move no exercício de suas funções, em área de operações de guerra.
Mais, se se tem em conta a responsabilidade que o general Alzate ocupa no Exército Nacional, como cabeça de uma Força de Tarefa Conjunta, estrutura elaborada pelos mandos militares do Pentágono para a guerra frontal contra o povo da Colômbia e sua insurgência armada. São grandes as contas pendentes do general Alzate com a justiça popular. Certamente, seu caso merece um detido exame no qual haverá que levantar muitas coisas.
Todos os dias, em diferentes lugares do país ou do exterior, o Presidente Santos reitera a ordem de recrudescer com todo o poder do Estado contra as FARC-EP. E isso apesar das conversações de paz que se adiantam em Havana. Seu ministro de defesa vocifera uma e outra vez sobre o perto que estão de cair as cabeças dos mandos guerrilheiros, assegurando que aqueles que saem a dialogar na Mesa de Conversações fazem-no para fugir da morte iminente.
Buscamos a paz porque há um conflito armado, reconhecido legal e politicamente pelo atual governo. A soberba da oligarquia a leva a pensar que, inclusive em meio ao processo de paz, possui o direito de matar e despedaçar colombianos, de aterrorizá-los e massacrá-los, sem que estes tenham o menor direito de responder a suas violências. Sem cessar bilateral de fogo, as quais o Presidente chama regras do jogo, não podem operar somente para as forças do Estado.
Respeitamos a vida e integridade física e moral de nossos prisioneiros e estamos plenamente dispostos a garanti-lo até onde nos seja permitido pela ira estatal. As prisões do país estão amontoadas de prisioneiras e prisioneiros políticos e de guerra. A solução dos grandes males de que padece nossa pátria tem que ser a do diálogo, sempre estivemos dispostos a isso. Sem imposições, respeitando a condição política e pessoal dos adversários.
Vale lembrar que estamos subordinados às decisões que as instâncias superiores das FARC-EP adotem.
ESTADO-MAIOR DO BLOCO IVAN RÍOS DAS FARC-EP 
Montanhas de Colômbia, 17 de novembro de 2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Do Jornal GGN*

O processo de impeachment exige aprovação de 2/3 do COngresso. Já a rejeição das contas impede a diplomação. A decisão fica com o Judiciário. Este é o golpe paraguaio.

Já entrou em operação o golpe sem impeachment, articulado pelo Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Antonio Dias Toffoli em conluio com seu colega Gilmar Mendes. O desfecho será daqui a algumas semanas.

As etapas do golpe são as seguintes:

1. Na quinta-feira passada, dia 13, encerrou o mandato do Ministro Henrique Neves no TSE. Os ministros podem ser reconduzidos uma vez ao cargo. Presidente do TSE, Toffoli encaminhou uma lista tríplice à presidente Dilma Rousseff. Toffoli esperava que Neves fosse reconduzido ao cargo (http://tinyurl.com/pxpzg5y).
2. Dilma estava fora do país e a recondução não foi automática. Descontente com a não nomeação, 14 horas depois do vencimento do mandato de Neves, Toffoli redistribuiu seus processos. Dentre milhares de processos, os dois principais - referentes às contas de campanha de Dilma - foram distribuídos para Gilmar Mendes. Foi o primeiro cheiro de golpe. Entre 7 juízes do TSE, a probabilidade dos dois principais processos de Neves caírem com Gilmar é de 2 para 100. Há todos os sinais de um arranjo montado por Toffoli.

3. O Ministério Público Eleitoral, através do Procurador Eugênio Aragão, pronunciou-se contrário à redistribuição. Aragão invocou o artigo 16, parágrafo 8o do Regimento Interno do TSE, que determina que, em caso de vacância do Ministro efetivo, o encaminhamento dos processos será para o Ministro substituto da mesma classe. O prazo final para a prestação de contas será em 25 de novembro, havendo tempo para a indicação do substituto - que poderá ser o próprio Neves. Logo, "carece a decisão ora impugnada do requisito de urgência”.
4. Gilmar alegou que já se passavam trinta dias do final do mandato de Neves. Na verdade, Toffoli redistribuiu os processos apenas 14 horas depois de vencer o mandato.
5. A reação de Gilmar foi determinar que sua assessoria examine as contas do TSE e informe as diligências já requeridas nas ações de prestação de contas. Tudo isso para dificultar o pedido de redistribuição feito por Aragão.

Com o poder de investigar as contas, Gilmar poderá se aferrar a qualquer detalhe para impugná-las. Impugnando-as, não haverá diplomação de Dilma no dia 18 de dezembro.

O golpe final - já planejado - consistirá em trabalhar um curioso conceito de Caixa 1. Gilmar alegará que algum financiamento oficial de campanha, isto é Caixa 1, tem alguma relação com os recursos denunciados pela Operação Lava Jato. Aproveitará o enorme alarido em torno da Operação para consumar o golpe.

Toffoli foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Lula. Até o episódio atual, arriscava-se a passar para a história como um dos mais despreparados Ministros do STF.

Durante a campanha, já tomara decisões polêmicas, que indicavam uma mudança de posição suspeita. Com a operação em curso, arrisca a entrar para a história de maneira mais depreciativa ainda. A história o colocará em uma galeria ao lado de notórios similares, como o Cabo Anselmo e Joaquim Silvério dos Reis.

Ontem, em jantar em homenagem ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski, o ex-governador paulista Cláudio Lembo se dizia espantado com um discurso de Toffoli, durante o dia, no qual fizera elogios ao golpe de 64.

Se houver alguma ilegalidade na prestação de contas, que se cumpra a lei. A questão é que a operação armada por Toffoli e Gilmar está eivada de ilicitudes: é golpe.

Se não houver uma reação firme das cabeças legalistas do país, o golpe se consumará nas próximas semanas.



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A alocução presidencial de Juan Manuel Santos Calderón

Por Nelson Lombana Silva

Tivemos a oportunidade de ouvir ontem à noite a alocução presidencial de Juan Manuel Santos Calderón. Que alocução mais contraditória e mentirosa! A pessoa tem que ser exageradamente alienada ou com mínima falta de conhecimentos para acreditar numa só frase de sua maquiada intervenção.
Mais parece uma campanha gigantesca midiática contra a insurgência e mais além contra o processo de paz. É como dizer: quero a paz, porém faço a guerra.
“A paz é um valor supremo para os colombianos e um anseio nacional. Por isso tomei a decisão de adiantar o processo de paz com as Farc, com firmeza e com sentido de responsabilidade, consciente de que este caminho não seria fácil de percorrer”.
Zomba o presidente do clamor nacional, da urgência da paz que o país necessita, especialmente o país nacional do qual falara Gaitán. Santos não começa os diálogos pensando no povo, outra grande mentira. Pensa nas multinacionais e transnacionais, pensa no recorte dos dinheiros ao Plano Colômbia, pensa com a lógica dos Estados Unidos.
Firmeza? Qual firmeza, se assume postura pusilânime ante as broncas do fascista Uribe e da atrevida e sabotadora postura de seu “ministrinho mauricinho” de defesa Juan Carlos Pinzón?
Se é consciente de que não seria fácil o percorrido, por que claudica com facilidade ante a primeira adversidade? Em suas primeiras declarações põe claramente o óbvio: Que fazia o ministro sozinho, à paisana, na boca do lobo? A quem cabe na cabeça que um general, cuja característica fundamental é a covardia, vai desafiar ao inimigo de classe sozinho com seu fuzil e mais dois acompanhantes? Se era tão “machão”, por que não reagiu levando o rifle consigo, segundo versões do lugarejo Las Mercedes? A sensação é de que o próprio presidente sabe que aí tem coisa encoberta e que as forças militares não estão dizendo a verdade. No entanto, é ovelha com sua classe e fera com o povo.
“Creiam-me: Conversar em meio ao conflito é a forma mais efetiva para pôr ponto final a esta absurda guerra”. Se isso é certo e o vem implementando contra o querer do povo e inclusive da comunidade internacional pacifista, por que se lamenta dos fatos acontecidos? Por acaso, estava convencido da impossibilidade de reação da insurgência? E mais: Que disse dos bombardeios indiscriminados e desproporcionais, violadores a todas as luzes do Direito Internacional Humanitário, nos quais caíram combatentes e, inclusive, população civil?
Que contradição mais bárbara! Que absurdo dos absurdos. Há um comandante, aparentemente dos elenos [do ELN-n.t.], detido e não se sabe de seu paradeiro. Deu a ordem de assassinar, completamente indefeso, o comandante fariano Alfonso Cano e a insurgência não saiu a dizer como carpideira que punha fim às aproximações. Presidente Santos que pouca palavra tem. Não é a guerrilha a obrigada a reiniciar os diálogos porque ela não se retirou da mesa, é o governo nacional. Que vergonha!
“O acima dito não significa que não se possam dar os primeiros passos para desescalar o conflito, como já vimos discutindo há algum tempo com as Farc. Há que ser claros: Ainda que estamos negociando em meio ao conflito, as Farc têm que entender que à paz não se chega recrudescendo as ações violentas e minando a confiança”.
Qual é a ordem que você, senhor presidente, deu às forças militares? Recrudescer os ataques. Que disse em sua recente visita a Ibagué? Que a guerrilha podia correr a mesma sorte de Alfonso Cano. Isso não é um grito de guerra? Isso se pode interpretar como gesto de paz? Só se tem que entender uma parte e [com] a outra quê [passa]? Em resumidas contas, não quer um cessar bilateral ao fogo, não condena as saídas em falso da força pública, se lamenta que a guerrilha se defenda e, sobretudo, deseja que ela não passe à ofensiva, que não faça nada, cruze os braços e dê “mamão”, como se diz na gíria popular. Porra, que estrategista! E mais: Que confiança tem dado junto a seus militares? Nem um só gesto de paz. Por outro lado, a guerrilha, sim, tem dado mostras de paz, as quais são obscurecidas pelos meios massivos de comunicação, os quais, hipocritamente, se autodefinem neutros e objetivos.
“As Farc são responsáveis pela integridade física e devem devolvê-los de imediato. Os colombianos exigimos sua libertação. É o momento para que demonstrem seu compromisso com o processo de Havana. Enquanto esta situação não se solucione, ouça bem: enquanto esta situação não se solucione, reiterei aos negociadores do governo, com os quais estive reunido por todo o dia de hoje, que não poderão viajar a Havana para retomar as conversações. Às Farc lhes exijo, e não só eu, a nação e toda a comunidade internacional exigem que demonstrem sua vontade de paz com ações e não só com palavras”.
Que cínica é a oligarquia colombiana! A quem enganas, avô! Que gestos de paz tem feito o governo? Guerra, impunidade, impostos, bombardeios, falsos positivos etc. Se tivesse autoridade para propor gestos, outro galo cantaria. Presidente Santos: você disse que havia tomado a decisão de ordenar o assassinato do comandante Alfonso Cano, com o qual estava fazendo aproximações. Não crê você que o correto teria sido ordenar a seus militares que o detivessem, lhe prestassem os primeiros socorros e o colocassem ante um juiz da República? Por acaso, a constituição nacional tem contemplada a pena de morte?
“Confio em que, com a intervenção dos países garantidores, com os quais já entramos em contato para oferecer nossa colaboração, se possa encontrar rapidamente a resposta que o país [a oligarquia] está esperando”.
Fala de celeridade somente porque caiu um “peixe gordo” da oligarquia. Por que não assumiu com os soldados prisioneiros de guerra em combate apresentado recentemente no estado de Arauca a mesma conduta de celeridade? Simples: o general pertence à oligarquia e o soldado ao povo. Simples, assim.
“O compromisso das Farc está posto à prova. De sua decisão depende seguir avançando para o fim do conflito e da reconciliação. Sempre é mais fácil optar pela violência. É de valentes optar pela paz. E essa paz só se constrói com gestos de paz e com sentido de responsabilidade histórica”.
O compromisso do governo nacional está posto à prova. De sua decisão depende seguir avançando. A guerrilha não se retirou da mesa. Está cumprindo o ordenado pelo presidente de dialogar em meio ao conflito. Dolorosamente há que dizê-lo: Quem arranque a cabeça, a leva!
O governo tem que amarrar as calças e deter os inimigos da paz dentro e fora do governo e dentro e fora da Colômbia. Todos eles estão perfeitamente identificados. Incluindo ao senhor general Rubén Darío Alzate Mora, que suspeitosamente vai ao campo de batalha acompanhado somente de duas pessoas e sua dotação pessoal. Dispensa sua escolta. Tudo parece indicar que o primeiro a saber do caso foi “casualmente” o senador Uribe Vélez. Que coincidência!
De todas as maneiras, o povo colombiano não pode ficar quieto, deve mobilizar-se para pressionar o governo Santos para que retome as conversações na maior brevidade possível. O povo deve apoderar-se da causa da paz em todas as partes. Claro, uma paz com dignidade. Quer dizer, com justiça social. Este impasse deve ser resolvido já
 
Equipe ANNCOL - Brasil

Stédile: “Golpe destamparia a revolta popular”

Marco Damiani, 247 –



O quadro referencial do MST João Pedro Stédile acaba de chegar do Vaticano. Pela primeira vez na história da Igreja, oficialmente um papa avaliza uma grande reunião de movimentos populares. No caso, o encontro de uma centena de entidades, pensada e organizada pelos brasileiros do MST com seus colegas de luta pelo mundo. "O papa Francisco demonstra ter consciência das mudanças que precisam ser feitas", afirmou Stédile ao 247.


Mas, de volta ao Brasil, o que esperava o líder dos sem terra era um país em que setores de elite já discutiam as chances de uma quebra da ordem. Mais radicalmente, em cartazetes levados à avenida Paulista, em duas passeatas com menos de 5 mil pessoas no total, alguns pediram a tal "volta dos militares". De modo mais sofisticado, articulações em Brasília, a partir do escândalo de corrupção na Petrobras, vislumbram a chance de envolver a presidente Dilma Rousseff entre o cientes e tomar-lhe, pelo impechment, o poder. Adeptos do caminho mais curto para este fim apostam num golpe de caneta do ministro Gilmar Mendes, do STF, que poderá censurar as contas da campanha do PT e atalhar uma crise institucional.

Stédile, um dos poucos brasileiros que tem condições, como se diz, de 'colocar o povo nas ruas', desdenha das três alternativas.

- Não vejo um movimento golpista. A conjuntura não permite, não haveria a menor chance de sucesso, diz ele.
- Numa hipótese mais radical, a burguesia sabe que estaria aberta a caixa de pandora da revolta popular. E isso é muito perigoso, completou.
Por e-mail, o líder popular que batalha há mais de 30 anos no mesmo campo social, sem ter caído em tentação de obter mandatos políticos ou assumir cargos bem remunerados deu as seguintes respostas às nossas perguntas:


247 -  O sr. pressente algum tipo de movimento golpista contra a democracia e o resultado das eleições presidenciais? Onde ele se dá? Nas ruas, na mídia, na classe política?


João Pedro Stédile - Não vejo um movimento golpista. E não teria nenhuma chance de sucesso na atual conjuntura. Os tucanos chamaram mobilizações de protestos dia 15 de novembro, que são normais na democracia. E lá se infiltraram algumas viúvas da ditadura militar, que não merecem crédito, que não têm base na sociedade. Até os tucanos ficaram com vergonha. Os partidos da direita sabem que a tentativa de um golpe seria destampar a caixa de pandora da revolta popular. E isso é muito perigoso. A mídia no Brasil é o principal partido ideológico da direita. Mas sua função é manter o governo acuado, com medo de fazer mudanças. Além disso, fazer uma campanha permanente na sociedade mantendo a hegemonia da visão de mundo burguesa, defendendo sempre os interesses dos privilegiados e os falsos valores do individualismo, egoismo e consumismo, como se isso fossem valores da liberdade e da democracia.


- A tese de impeachment da presidente Dilma Rousseff pode prosperar? O sr. vê motivos para isso?


Não há nenhum motivo real. A presidenta não está envolvida em nenhum crime. Esse movimento é absolutamente antidemocrático, de quem não se conforma com a vontade da maioria do povo. Alegar conhecimento de fatos de corrupção em empresas estatais é simplesmente fantasioso. Os fatos que vieram à tona na Petrobras estão sendo perpetuados há 15 anos, segundo a Procuradoria-Geral da República, portanto, iniciaram no governo FHC. Os diretores envolvidos foram indicados por partidos conservadores. Não me consta que algum deles tenha ficha no PT. Por outro lado, há denúncias de corrupção no governo FHC e em muitos governos estaduais e municipais, e não tenho notícias de algum pedido de impeachment.


- Como o MST se posicionará diante desse quadro?


Defendemos que todos os casos de corrupção sejam investigados à exaustão e denunciados, sobretudo os corruptores, que na maioria das vezes saem impunes. Todos os que cometeram algum delito devem pagar por eles. É preciso que a sociedade se dê conta que a corrupção é um modo de agir permanente no capitalismo, em que as empresas e seus políticos procuram se apropriar de recursos públicos. Por isso, sempre existiu corrupção neste país. E a única forma de combatê-los, não é apenas usar a Polícia Federal, porque é impossível controlar. A forma de combatê-la é aprofundar mecanismos de participação popular na gestão pública, em que povo tenha mais informações e instrumentos para acompanhar. Enquanto a administração pública for apenas um privilégio de algumas pessoas, partidos e empresas, sempre haverá corrupção em todos os partidos que chegarem ao governo, seja federal, estadual e municipal.


- O fato de a presidente não ter criado nenhum fato político importante desde a eleição pode estar contribuindo para a desestabilização do governo?


Não acredito em desestabilização do governo. Estamos vivendo um período de transição do primeiro para o segundo mandato, que sempre é muito lento e tensionado, pelos grupos que querem influenciar o próximo governo. Embora para a pequena politica o fato da presidenta ter tirado uma semana de férias e depois uma longa viagem ao exterior estimulem especulações de todo tipo.


- Como os movimentos sociais e, em particular, o MST devem se comportar nesse quadro político agitado?


Esse período de transição até janeiro é sempre de debates e de expectativas. Acho que os movimentos sociais deverão se preparar e ampliar a pressão social nas ruas, fazendo luta social para que os problemas do povo sejam resolvidos de uma forma mais rápida. E nenhum governo do mundo, federal, estadual ou municipal funciona sem a pressão do povo. Os problemas de moradia, transporte público, especulação imobiliária, juros estratosféricos, falta de terra e vagas restritas na universidade estão ai, pedindo soluções urgentes.


- O que o sr. espera do futuro governo Dilma?


Espero que o governo saiba entender o recado das urnas e a vontade da imensa maioria de nosso povo. Nosso povo quer mudanças, mudanças no governo, mudanças na forma de fazer politica e mudanças que possam acelerar a solução de seus problemas. E o governo precisa sinalizar que quer fazer mudanças para resolver os problemas do povo. Esses sinais podem ser simbólicos na composição do novo ministério, como devem ser reais, na apresentação de propostas concretas.
Todos os movimentos sociais temos propostas concretas de soluções praticas. Basta o governo ser mais humilde, convocar cada setor e terá as propostas necessárias para as mudanças. Se o governo não fizer isso, corre o risco de cair num descredito popular e navegará na mesmice, do mais do mesmo, que não resolve nenhum problema e só aumentará a tensão social, que voltará nas ruas, com mais força. E ai contra o governo também.


- Qual sua expectativa sobre o tipo de oposição parlamentar que será feita?


O Congresso brasileiro infelizmente tem se revelado um balcão de negócios. O financiamento privado das campanhas deformou sua representação em relação à sociedade. Apenas dez empresas elegeram 70% dos parlamentares nestas eleições. O Congresso e a democracia brasileira foram sequestrados pelas empresas. Por isso, o povão não acredita mais nos políticos, porque não se sente representado. Os executivos das grandes empresas que se sentem representados por esse sistema político, por ter seus financiados nas campanhas no Congresso. Por isso, só há uma solução, realizarmos uma reforma politica, através da convocação de uma assembleia constituinte exclusiva do sistema político.


- O MST participa da campanha pela Constituinte do Sistema Político, que reúne 400 organizações. O que o movimento quer com essa campanha?


Nós temos uma plenária nacional com mais de 400 movimentos, entidades e organizações, organizamos mais de 2 mil comitês populares em todo o país. Recolhemos quase 8 milhões de votos de eleitores, exigindo a convocação de uma assembleia constituinte. Espero que os poderes da República entendam esse recado. A presidenta Dilma parece que entendeu.
O que queremos é que, seguindo o rito da lei, o atual Congresso aprove um projeto de decreto legislativo, que foi apresentado agora em outubro, com 188 assinaturas de deputados, para a convocação de uma plebiscito legal, em que a população seja consultada se quer ou não uma Assembleia Constituinte para fazer a reforma política. Aprovado o plebiscito, deveríamos realizá-lo ainda em 2015. Aprovada a convocação da Assembleia, que se formasse uma comissão de juristas indicados pelo Congresso para formatar uma proposta de eleição soberana, sem influência do poder econômico, garantindo representatividade popular, de etnias, gênero, para elegermos uma Assembleia exclusiva, para em curto prazo preparar um novo modelo de sistema político para o país. Uma reforma política que não se restrinja a regras de financiamento e listas de candidatos, mas que debata com a sociedade o modelo mais democrático para garantir que a vontade do povo seja cumprida. Para isso, é necessário fazer mudanças no Poder Judiciário e no atual monopólio da mídia, afinal, que fazem parte do nosso sistema politico.


- Como o sr. sente o clima político entre militantes de base e povo em geral? Há base social para uma ruptura institucional?


O povão quer mudanças, quer sinais concretos para acelerar a solução de seus problemas. Os militantes sociais estão organizando comitês e participando ativamente dos debates, para que possamos convocar uma assembleia constituinte. Percebo que há uma reanimação da juventude, em participar da politica. No meu entender, foi essa militância que no segundo turno garantiu a vitória da Dilma, com sua mobilização na campanha. Não há risco de ruptura institucional. O que viveremos no próximo período é um quadro de muitos conflitos, debates e confusão ideológica.
Cabe aos movimentos seguir organizando o povão para fazer luta social. E cabe ao governo dar sinais que quer mudanças.


- Qual sua avaliação sobre a Operação Lava Jato e a situação interna de corrupção na Petrobras?


Sabe-se pela imprensa que esse esquema está montando na Petrobras desde os tempos do governo FHC. É uma vergonha que muitos diretores se locupletaram e se desviaram milhões. Uma vergonha que as empresas pagassem esse pedágio e certamente incluíam depois no custo das obras. Esperamos que a Polícia Federal e a Justiça Federal sejam transparentes, para que toda a sociedade possa acompanhar a realidade dos fatos. Os responsáveis devem ser punidos pelos desvios. O que não podemos aceitar é uma partidarização, que a mídia burguesa está tentando fazer, como se fosse um esquema do PT. Os corruptos e corruptores não tem partidos, têm apenas interesses pessoais. O salutar seria que todas as empresas estatais, do governo federal e de alguns grandes estados como Minas, São Paulo e Rio, também passassem por esse pente fino. A corrupção é um modo particular do capitalismo funcionar na gestão dos recursos públicos.


- O País está avançando institucionalmente, em razão das prisões, finalmente, de corruptores e corruptos, ou esse é apenas um dado normal de um país democrático?


A democracia não pode ser medida pelo número de prisões. A democracia deve ser medida pelo grau de participação popular efetiva nos destinos da Nação. A democracia deve ser medida pelo grau de igualdade que todos os cidadãos devem ter em relação a oportunidades de ter trabalho, terra, moradia, educação e cultura. Infelizmente, o Brasil está muito longe de ser uma sociedade democrática. Ao contrário, estamos entre as sociedades de maior desigualdade social do mundo, apesar de termos a oitava maior riqueza. Portanto, somos uma sociedade altamente antidemocrática.


- O MST pretende se pronunciar formalmente sobre o momento político?


Já estamos nos posicionando nas plenárias de nosso movimento, fazendo debates com nossa militância, participando das plenárias com outros movimentos sociais, nos reunindo com parlamentares e políticos amigos. Nossa pauta é seguir organizando o povo, para lutar por terra, lutar por uma reforma agraria popular, e lutar por uma sociedade mais justa e democrática.


- Quais os reflexos para a luta no campo das confabulações políticas em Brasília?


Brasília é uma ilha da fantasia. O mundo real dos problemas do povo, da cidade ou do campo, ficam muito longe das preocupações de Brasília. Os governos em geral sempre são muito burocráticos e desvinculados da vida real. Como dizia um mestre: " os governos em geral são surdos e cegos" para as demandas populares. Daí a necessidade do povão se organizar e lutar por seus direitos.
Nós, do MST, esperamos que o Governo Dilma faça muitas mudanças em Brasília no próximo período. Mude a orientação do Ministério do Desenvolvimento Agrário e do Incra. Mude o jeito de administrar a Conab- Companhia Nacional de Abastecimento, transformando-a numa grande empresa que compre todos os alimentos produzidos pela agricultura familiar e garanta o abastecimento a baixos preços aos trabalhadores. Mude a forma de administrar a educação, enfrentando os problemas do analfabetismo, que ainda atinge a 14 milhões de trabalhadores adultos. E a universalização do acesso dos jovens à universidade, hoje restrito a apenas a 15%.
Esperamos que a Dilma chame o MST, os movimentos da Via Campesina e chame todos os movimentos populares para ouvir nossas propostas de soluções de problemas, assim como fez nas eleições. Espertamos que o governo compreenda que só a convocação de uma Assembleia Constituinte pode de fato construir uma reforma politica, que devolva a democracia ao povo.


- O governo da presidente Dilma tem condições de retomar a iniciativa política? Quais medidas deve tomar?


As urnas deram esse poder da iniciativa politica à presidenta. O governo deve atuar de forma simbólica, sinalizando para o povo e para as organizações populares que quer mudanças, ao reorganizar o ministério. E preparar medidas de impacto popular já no primeiro trimestre. O povo está de olho esperando esses sinais.


-  O sr. concorda com a tese de que o novo governo ficou velho antes mesmo de ser anunciado?


Não concordo. O governo não tem idade. Ele precisa é demostrar claramente de que lado está. Se está do lado dos bancos, dos especuladores, do capital estrangeiro, das empresas transnacionais, do latifúndio, ou do lado do povo.


- Em particular, qual sua avaliação sobre a postura política de líderes do PSDB, como o ex-presidente Fernando Henrique, o senador Aécio Neves e outros?


Os tucanos têm o direito legítimo de se manifestar e fazer oposição democrática ao governo. Mas seu programa é do passado, e claramente vinculado apenas aos interesses dos bancos e das grandes empresas, o chamado programa neoliberal, que aplicaram durante oito anos no Brasil, e em São Paulo e Minas Gerais por mais de 15 anos. Foram derrotados, porque seu programa não resolve os problemas do povo, só aumentam. Por outro lado, sua postura politica é tipicamente de lideres partidários medíocres, expressão apenas das elites. Por isso, não têm lideres populares em quem o povo confia ou que possam mobilizar e sensibilizar as multidões.


- Como foi a experiência de ter participado do encontro de movimentos sociais no Vaticano? Como foi a experiência de encontrar o Papa Francisco? O que pode falar sobre ele?


A Igreja Católica passou os últimos trinta anos imersa numa visão conservadora do mundo. Isso levou o Vaticano a uma grave crise econômica, política e moral. Por isso, Ratzinger teve coragem de renunciar para encontrar uma saída para a crise. E a saída foi escolher um cardeal progressista, e pela primeira vez em dois mil anos, o primeiro Papa representante da América Latina e do Hemisfério Sul. O papa Francisco demonstra ter consciência das mudanças que precisam ser feitas.
Teve a generosidade e a sabedoria de convocar um encontro mundial, com cem líderes populares de todo o mundo, representantes dos mais diversos segmentos dos trabalhadores, dos mais pobres, sem perguntar qual era a crença, líder, ideologia e programa de cada um. Lá nos reunimos durante três dias para analisar a situação atual dos problemas do mundo. Avaliamos as razões e levantamos possíveis saídas. O papa Francisco esteve conosco e manifestou sua opinião num contundente discurso. Saímos de lá, todos, revigorados, percebendo que independente de etnia, crença ou idade, todos enfrentamos os mesmos problemas e que as soluções dependem de uma grande mobilização mundial. Quanto ao personagem Francisco, me surpreendeu pela simplicidade, coragem e sabedoria. Temos um papa gaúcho, mas acima de tudo universal.




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