sábado, 8 de novembro de 2014

Vitimizando as vítimas novamente

Por Domínico Nadal de Cambio Total


As vítimas continuam gravitando sobre a vida colombiana de maneira indelével. Os verdadeiros criminosos, ademais do horror causado com seu acionar contra as comunidades e pessoas que se atrevem a denunciar as arbitrariedades, além de seu acionar para causar “terror”, suportaram aberrações como no caso do “desaparecimento de desaparecidos”, prática executada pelos grupos narco-paramilitares que desenterravam os cadáveres e atiravam-nos aos rios para que nunca se pudesse saber seu paradeiro, ou como no caso dos “fornos crematórios” ao estilo hitleriano praticados no estado de Norte de Santander.


Agora, as chamadas BACRIM –por ordem de próprias instituições do Estado?- produziram uma “lista negra” de pessoas –entre elas, todas as vítimas que foram a Havana-, vitimizando as vítimas do Terrorismo de Estado.


Pareceria que houvera toda uma orientação institucional para calar a boca das vítimas, em especial as vítimas do Terrorismo de Estado. Já sabemos que os executores são as BACRIM, porém sabemos também que em Colômbia os grupos narco-paramilitares, chamados neonarco-paramilitares, não são uma “roda solta” na prática do Terrorismo de Estado. Tudo isso está “friamente calculado”.


Sabemos também que o Estado e seu Terrorismo de Estado é o responsável por 83% das execuções extrajudiciais, de 83,3% dos massacres e de 97,7% dos desaparecimentos forçados, ademais de outras violações, e por isso não cremos que os determinadores e os executores vão ficar quietos ante a denúncia de seus crimes e ante a exigência da aceitação de sua responsabilidade penal e societária.


Temos visto isso palpavelmente em seus intentos de tratar de passar impunes ante à própria justiça colombiana e apresentar-se como “heróis” na “luta anti subversiva”, e para consegui-lo cometem outros delitos, assassinando as vítimas, isto é, tapando um delito com outro delito.


O Estado –e seu governo- não quer aceitar que o Terrorismo de Estado cometeu seus crimes –e continua fazendo-o- em pessoas civis, desarmadas, não imersas no conflito, em aplicação do contemplado na DSN de “secar a água ao peixe” [a água, os civis; o peixe, a guerrilha]. O caso de Jorge Noguera Cotes é ilustrativo [governo de Álvaro Uribe Vélez, “Uribhitler”]. Elaborou uma “lista negra” de líderes populares e acadêmicos para sua execução extrajudicial e entregou-a ao capo narco-paramilitar “Jorge 40” para sua execução, produzindo-se o assassinato de consagrados líderes populares, entre eles Alfredo Correa D’Andréis. Ante a aberração de atuação, a própria justiça burguesa colombiana o condenou por isso.

Mas os verdadeiros “determinadores” continuam na rua, idealizando como esconder seus crimes.

Haverá conduta mais criminal que assassinar as vítimas do Terrorismo de Estado? Felizmente, as FARC entenderam esta situação e nenhuma das vítimas foi re-vitimizada pela guerrilha, -o que demonstra que na guerrilha não há orientações institucionais de causar danos à população civil-, e, pelo contrário, suas sinceras e verazes mostras de arrependimento tocaram o coração das vítimas, com exceção de um ou outro que tem incubado o ódio em sua mente.

Mas estas mostras de arrependimento mostradas pela guerrilha contrasta com a posição estatal de não pedir nem sequer perdão pelos crimes estatais do Terrorismo de Estado.

Seis milhões de vítimas mais suas famílias exigem sinceridade ao Estado no processo de Paz de Havana. Lá não se pode chegar com desdém para evitar a responsabilidade. Lá, tem que se chegar “com a verdade e nada mais que com a verdade”.

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