quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A alocução presidencial de Juan Manuel Santos Calderón

Por Nelson Lombana Silva

Tivemos a oportunidade de ouvir ontem à noite a alocução presidencial de Juan Manuel Santos Calderón. Que alocução mais contraditória e mentirosa! A pessoa tem que ser exageradamente alienada ou com mínima falta de conhecimentos para acreditar numa só frase de sua maquiada intervenção.
Mais parece uma campanha gigantesca midiática contra a insurgência e mais além contra o processo de paz. É como dizer: quero a paz, porém faço a guerra.
“A paz é um valor supremo para os colombianos e um anseio nacional. Por isso tomei a decisão de adiantar o processo de paz com as Farc, com firmeza e com sentido de responsabilidade, consciente de que este caminho não seria fácil de percorrer”.
Zomba o presidente do clamor nacional, da urgência da paz que o país necessita, especialmente o país nacional do qual falara Gaitán. Santos não começa os diálogos pensando no povo, outra grande mentira. Pensa nas multinacionais e transnacionais, pensa no recorte dos dinheiros ao Plano Colômbia, pensa com a lógica dos Estados Unidos.
Firmeza? Qual firmeza, se assume postura pusilânime ante as broncas do fascista Uribe e da atrevida e sabotadora postura de seu “ministrinho mauricinho” de defesa Juan Carlos Pinzón?
Se é consciente de que não seria fácil o percorrido, por que claudica com facilidade ante a primeira adversidade? Em suas primeiras declarações põe claramente o óbvio: Que fazia o ministro sozinho, à paisana, na boca do lobo? A quem cabe na cabeça que um general, cuja característica fundamental é a covardia, vai desafiar ao inimigo de classe sozinho com seu fuzil e mais dois acompanhantes? Se era tão “machão”, por que não reagiu levando o rifle consigo, segundo versões do lugarejo Las Mercedes? A sensação é de que o próprio presidente sabe que aí tem coisa encoberta e que as forças militares não estão dizendo a verdade. No entanto, é ovelha com sua classe e fera com o povo.
“Creiam-me: Conversar em meio ao conflito é a forma mais efetiva para pôr ponto final a esta absurda guerra”. Se isso é certo e o vem implementando contra o querer do povo e inclusive da comunidade internacional pacifista, por que se lamenta dos fatos acontecidos? Por acaso, estava convencido da impossibilidade de reação da insurgência? E mais: Que disse dos bombardeios indiscriminados e desproporcionais, violadores a todas as luzes do Direito Internacional Humanitário, nos quais caíram combatentes e, inclusive, população civil?
Que contradição mais bárbara! Que absurdo dos absurdos. Há um comandante, aparentemente dos elenos [do ELN-n.t.], detido e não se sabe de seu paradeiro. Deu a ordem de assassinar, completamente indefeso, o comandante fariano Alfonso Cano e a insurgência não saiu a dizer como carpideira que punha fim às aproximações. Presidente Santos que pouca palavra tem. Não é a guerrilha a obrigada a reiniciar os diálogos porque ela não se retirou da mesa, é o governo nacional. Que vergonha!
“O acima dito não significa que não se possam dar os primeiros passos para desescalar o conflito, como já vimos discutindo há algum tempo com as Farc. Há que ser claros: Ainda que estamos negociando em meio ao conflito, as Farc têm que entender que à paz não se chega recrudescendo as ações violentas e minando a confiança”.
Qual é a ordem que você, senhor presidente, deu às forças militares? Recrudescer os ataques. Que disse em sua recente visita a Ibagué? Que a guerrilha podia correr a mesma sorte de Alfonso Cano. Isso não é um grito de guerra? Isso se pode interpretar como gesto de paz? Só se tem que entender uma parte e [com] a outra quê [passa]? Em resumidas contas, não quer um cessar bilateral ao fogo, não condena as saídas em falso da força pública, se lamenta que a guerrilha se defenda e, sobretudo, deseja que ela não passe à ofensiva, que não faça nada, cruze os braços e dê “mamão”, como se diz na gíria popular. Porra, que estrategista! E mais: Que confiança tem dado junto a seus militares? Nem um só gesto de paz. Por outro lado, a guerrilha, sim, tem dado mostras de paz, as quais são obscurecidas pelos meios massivos de comunicação, os quais, hipocritamente, se autodefinem neutros e objetivos.
“As Farc são responsáveis pela integridade física e devem devolvê-los de imediato. Os colombianos exigimos sua libertação. É o momento para que demonstrem seu compromisso com o processo de Havana. Enquanto esta situação não se solucione, ouça bem: enquanto esta situação não se solucione, reiterei aos negociadores do governo, com os quais estive reunido por todo o dia de hoje, que não poderão viajar a Havana para retomar as conversações. Às Farc lhes exijo, e não só eu, a nação e toda a comunidade internacional exigem que demonstrem sua vontade de paz com ações e não só com palavras”.
Que cínica é a oligarquia colombiana! A quem enganas, avô! Que gestos de paz tem feito o governo? Guerra, impunidade, impostos, bombardeios, falsos positivos etc. Se tivesse autoridade para propor gestos, outro galo cantaria. Presidente Santos: você disse que havia tomado a decisão de ordenar o assassinato do comandante Alfonso Cano, com o qual estava fazendo aproximações. Não crê você que o correto teria sido ordenar a seus militares que o detivessem, lhe prestassem os primeiros socorros e o colocassem ante um juiz da República? Por acaso, a constituição nacional tem contemplada a pena de morte?
“Confio em que, com a intervenção dos países garantidores, com os quais já entramos em contato para oferecer nossa colaboração, se possa encontrar rapidamente a resposta que o país [a oligarquia] está esperando”.
Fala de celeridade somente porque caiu um “peixe gordo” da oligarquia. Por que não assumiu com os soldados prisioneiros de guerra em combate apresentado recentemente no estado de Arauca a mesma conduta de celeridade? Simples: o general pertence à oligarquia e o soldado ao povo. Simples, assim.
“O compromisso das Farc está posto à prova. De sua decisão depende seguir avançando para o fim do conflito e da reconciliação. Sempre é mais fácil optar pela violência. É de valentes optar pela paz. E essa paz só se constrói com gestos de paz e com sentido de responsabilidade histórica”.
O compromisso do governo nacional está posto à prova. De sua decisão depende seguir avançando. A guerrilha não se retirou da mesa. Está cumprindo o ordenado pelo presidente de dialogar em meio ao conflito. Dolorosamente há que dizê-lo: Quem arranque a cabeça, a leva!
O governo tem que amarrar as calças e deter os inimigos da paz dentro e fora do governo e dentro e fora da Colômbia. Todos eles estão perfeitamente identificados. Incluindo ao senhor general Rubén Darío Alzate Mora, que suspeitosamente vai ao campo de batalha acompanhado somente de duas pessoas e sua dotação pessoal. Dispensa sua escolta. Tudo parece indicar que o primeiro a saber do caso foi “casualmente” o senador Uribe Vélez. Que coincidência!
De todas as maneiras, o povo colombiano não pode ficar quieto, deve mobilizar-se para pressionar o governo Santos para que retome as conversações na maior brevidade possível. O povo deve apoderar-se da causa da paz em todas as partes. Claro, uma paz com dignidade. Quer dizer, com justiça social. Este impasse deve ser resolvido já
 
Equipe ANNCOL - Brasil

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