Por Carlos Antonio Lozada.
Integrante do Secretariado Nacional.
No último dia 10 de março, o Presidente Santos anunciou ao país a suspensão por um mês dos bombardeios contra as FARC-EP. Este anúncio, destacado como um grande gesto de desescalada do conflito, analisado em seus detalhes permite entender a limitada visão que sobre o tema tem o Governo e os dois pesos e duas medidas com que se pretende medir na mídia a vontade das partes para reduzir a intensidade da confrontação, enquanto se chega a um acordo de cessar-fogo bilateral; acordo que, ademais de seu valor e significado profundamente humanitário, permitiria gerar um ambiente político mais propício para o trabalho da Mesa, em momentos em que deve abordar temas cruciais da Agenda.
Em desenvolvimento do ciclo 33 das conversações, a delegação das FARC-EP estabeleceu um documento ante os países garantidores onde se detalham 15 gestos unilaterais realizados pela insurgência, entre os quais se contam 4 cessações de fogos temporárias; a libertação do General Alzate, assim como a de outros militares capturados em combate; a decisão de subir para 17 anos a idade de recrutamento; fatos que se somam ao ato de reconhecimento às vítimas e perdão pelo ocorrido no povoado de Bojayá; a renúncia à retenção de civis com fins econômicos; a entrega ao CICV de menores infiltrados nas fileiras guerrilheiras, depois de terem sido preparados pela força pública para tarefas de sabotagem e assassinato de chefes guerrilheiros; e o cessar-fogo unilateral e por tempo indeterminado decretado a partir de 20 de dezembro de 2014. Fatos todos que podem ser constatados e que não encontraram reciprocidade alguma da contraparte na Mesa.
Pelo contrário, no que transcorreu a partir da declaração do cessar-fogo por parte das FARC, todas as áreas vêm sendo objeto de operações militares sustentadas e se produziram assaltos e emboscadas contra unidades guerrilheiras em que perdemos pelo menos 20 combatentes, entre eles vários mandos de longa e destacada trajetória revolucionária, ademais de outros quantos feridos e prisioneiros, com a agravante que, para justificar os covardes ataques contra unidades em trégua, se os apresenta nos informes militares como se se tratasse de delinquentes comuns dedicados à extorsão e ao narcotráfico.
Por outra parte, como consequência da resposta lógica à ofensiva militar, também nas fileiras da força pública se produziram perdas humanas que bem se poderiam ter evitado.
Como é conhecido por todo o país, desde que se iniciaram os primeiros contatos, antes de dar início à etapa pública dos diálogos, as FARC propuseram acordar um cessar-fogo bilateral que evite perda desnecessária de vidas e traga algo de alívio a um povo excessivamente violentado por décadas de guerra. A resposta governamental sempre foi um rotundo não e, a contrapelo do que manda a sensatez, se impôs a fórmula que o Presidente Santos sintetizou na frase: dialogar em Havana como se não houvesse guerra em Colômbia e guerrear em Colômbia como se não estivesse dialogando em Havana.
É em essência a continuação da estratégia de seguir buscando a derrota militar da insurgência, enquanto na Mesa se nega qualquer possibilidade de reforma substancial ao modelo socioeconômico; porque se parte da falsa premissa que a Havana chegamos como resultado da quebra militar insurgente e não como produto de nossa histórica disposição de alcançar a solução política do conflito, tal como está consignado no primeiro ponto de nossa Plataforma Bolivariana.
Essa falsa premissa explica também que aos sucessivos gestos da insurgência se lhe responda exigindo mais, dado que se interpretam como um sinal de fragilidade e não da vontade real de avançar na desescalada do conflito; o que explica a decisão governamental de suspender por um mês, prorrogável, os bombardeios, anúncio carregado de um forte sabor de chantagem, longe de qualquer gesto de distensão da confrontação.
Como o anúncio do Presidente vem adornado com a afirmação de que a força pública não vai descuidar um só centímetro de território e, em consequência, se, como resultado desses patrulhamentos, ocorrem enfrentamentos, “essas são as regras do jogo”, não é difícil concluir que se trata de uma clara decisão de não respeitar o cessar-fogo unilateral por tempo indeterminado decretado pelas FARC-EP; enquanto isso, com pérfida determinação se agrega: “ordenei desenvolver um plano de desdobramento das Forças Militares e de Polícia em todo o território para consolidar os avanços em segurança, cercar os espaços, e assegurar que –se se firma um acordo final- possamos brindar garantias aos habitantes dos territórios e aos que deixem as armas”.
Desestimar os esforços da contraparte por desescalar o conflito, pretender chantageá-la e tensionar a corda incrementando as operações militares, em momentos em que o Processo cobra maior respaldo nacional e internacional; arriscar o maior ativo conquistado em três anos de árduo trabalho, pondo em jogo a confiança construída, é, para dizer o mínimo, uma jogada atrevida, quando o lógico e sensato seria aproveitar os ventos favoráveis e o ambiente propício para acordar o cessar-fogo bilateral.
--
Equipe ANNCOL - Brasil
;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;
Nenhum comentário:
Postar um comentário