quarta-feira, 25 de março de 2015

Pondo as coisas a limpo


La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 23 de Março de 2015

As conversações de paz em Havana avançam, pois se concretizaram acordos importantes que permitiriam atacar as causas da confrontação de mais de meio século da qual a Colômbia padece. Se expuseram visões que serão úteis para os desenvolvimentos futuros em favor da reconciliação. Em linguagem simples e coloquial, podemos dizer que avançamos como nunca, porém ainda há muito pano para cortar, começando por recordar que há temas cruciais nos pontos 5 e 3 que estão sendo discutidos; também há temas no conjunto das 28 restrições que permanecem no congelador, esperando o momento para que se volte por eles. Certamente, se se quer acelerar a marcha, já está na hora de fazê-lo.
Somos otimistas, pois é certo que avançamos, abordamos três pontos da Agenda do Acordo Geral em matéria de desenvolvimento rural, de participação cidadã e de nova política antidrogas e estamos andando a passos rápidos sobre o ponto referente a vítimas, com iniciativas inovadoras, e ao mesmo tempo adiantamos critérios sobre assuntos cruciais como o cessar-fogo, e inclusive pusemos sobre a Mesa visões sobre temas não menos transcendentais como o da deixação de armas, o qual entranha compromissos de ambas as partes em torno à decisão de retirá-las da atividade política. Porém é lamentável e preocupante que, paralelamente a esses avanços, está andando uma intensa campanha midiática oriunda de diversos flancos institucionais que dá a sensação de que o acordo está na volta da esquina.
Montar a matriz de irreversibilidade não é conveniente se se considera que elevar as expectativas para o cume do irreal poderia levar-nos ao terreno das frustrações, pior ainda quando se pretende impor fórmulas jurídicas de submissão à guerrilha, de tal maneira que, se não as admite, se lhe possa acusar de ser intransigente e de obstruir o avanço do processo.
Nestes assuntos da guerra e da paz, que congregam tantas complicações e sensibilidades, porém também tantas ilusões, é válido desejar e sonhar; sobretudo ser criativos na busca de soluções aos problemas da miséria, desigualdade e a falta de democracia que causaram e mantêm o conflito. Tudo isto, há que fazê-lo com os pés bem postos sobre a terra.
Em resumo, há muito por transitar e muito mais vontades que somar, antes de expressar que QUASE TUDO JÁ ESTÁ PRONTO. Faltam por abordar temas sumamente complexos como a definição da comissão do esclarecimento da verdade e não repetição, o cessar-fogo bilateral, a já mencionada deixação de armas, o esclarecimento do fenômeno do paramilitarismo e da guerra suja, a urgência de que as Forças Armadas se afastem da criminal Doutrina da Segurança Nacional e da concepção do inimigo interno; ou está o caso de que, se não se resolve o problema do latifúndio, e se não se freia a estrangeirização da terra, que viola os interesses dos campesinos e lesa a soberania nacional, simplesmente demoraríamos mais na concretização do acordo.
De todas as maneiras, o dever dos que anseiam por uma Colômbia sem mais conflito e vitimizações não pode ser outro que persistir e empenhar todos os esforços em derrotar aos guerrereistas para levar adiante cada um dos mencionados propósitos, que é a forma de levar juntos até bom porto o processo de diálogos. Por isso as FARC-EP insistimos em convocar a todo o país para que apoie cada iniciativa e dê impulso a uma Constituinte que abra caminho à justiça social como base sobre a qual possamos fundar a Nova Colômbia em que impere o bem viver e a esperança.
Outro assunto é que o acordo de limpeza de explosivos dos campos colombianos é apresentado pela imprensa como se houvesse somente o compromisso exclusivo da insurgência; é tema que compromete também ao governo como responsável pela contaminação do território com estes letais artefatos de guerra que constituem perigo para as comunidades. Este é um acordo bilateral, de recíprocas obrigações, o qual aspiramos a que, dentro de um cessar bilateral de fogos, se possa estender a todo o país.

DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP.

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Equipe ANNCOL - Brasil





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