quarta-feira, 4 de março de 2015

O ciclo 33 iniciou com novos apoios ao processo de paz. - O que se passa em Cuba

Por Matías Aldecoa
Se o ciclo 32 dos Diálogos de Havana entre o governo colombiano e as FARC-EP resultou ser muito fechado, o ciclo 33, iniciado na quarta-feira 25 de fevereiro, abre com o ativo respaldo da comunidade internacional ao processo de paz, o que o converte num ciclo atípico, que viu alterado seu habitual ritmo de 3 dias consecutivos de trabalho, seguidos de um dia de descanso.
Se destaca nesse sentido a chegada a Colômbia e a Havana do ex-secretário-geral das Nações Unidas e prêmio Nobel da Paz, Kofi Annan; do senhor Bernard Aronson, enviado especial do governo dos Estados Unidos para os diálogos de paz; e do prêmio Nobel da Paz [1987] e ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias Sánchez, quem também esteve em Colômbia.
A presença destas personalidades em distintos eventos e em conversações com as partes causou impacto político favorável em relação com os diálogos de Havana, o que, sem dúvida, terá incidência na opinião nacional e internacional a favor do processo.
O senhor Oscar Arias, em suas declarações, se mostrou partidário de um cessar-fogo bilateral; respaldou a busca de uma fórmula de justiça que reconheça a supremacia do direito à paz; e estima que são as condições próprias do conflito colombiano as que devem determinar os termos do acordo.

    Os intercâmbios com Kofi Annan.

Kofi Annan, quem em Colômbia se reuniu com o presidente Santos, anunciou um decidido respaldo aos Diálogos, e disse que é necessário envolver a todos os colombianos no processo de paz, que “a justiça não pode ser um impedimento para a paz” e que somos os colombianos quem devemos encontrar a forma de justiça mais adequada, de acordo com as próprias circunstâncias: “o modelo de justiça deve ser acordado por ambas as partes”.
Já na cidade de Havana, no dia 26 de fevereiro, o ex-secretário-geral da ONU sustentou em horas da tarde uma reunião com o Secretariado Nacional das FARC-EP, na qual intercambiaram opiniões sobre o processo de paz.




   
Kofi Annan na Mesa recebeu o informe da Comissão Histórica.
Na sexta-feira 27 de fevereiro, o senhor Kofi Annan, depois de ter se reunido com representantes do Governo, assistiu a uma sessão da Mesa com ambas as Delegações nas instalações do emblemático Hotel Nacional de Havana.
No recinto, o chefe da comissão de paz das FARC-EP, Iván Márquez, deu leitura ao documento “Para um segundo intercâmbio de ideias”.
O documento se centra em sustentar a legitimidade do direito à rebelião dos povos, qualificado como “direito de direitos”, ao qual se recorre “quando as condições históricas, de classe, de desigualdade e perseguição afligem a alma e a própria dignidade da pessoa e do cidadão”.
Após a reunião, o ex-secretário-geral da ONU concedeu uma rodada de imprensa na qual avaliou os avanços no processo de Diálogo e chamou as duas partes a continuarem fazendo esforços para alcançar um acordo.
“A paz é assunto de todos”, disse, e acrescentou que “terminar um conflito não é fácil, as paixões e tensões que conduziram à guerra não desaparecem instantaneamente”.

As propostas das FARC-EP sobre vítimas.
Por outra parte, na manhã da quarta-feira 25 de fevereiro, no Palácio de Convenções de Havana, o comandante Pastor Alape, da delegação de paz das FARC-EP, ante um considerável número de jornalistas, deu leitura ao documento intitulado “Definição combinada de mecanismos e instrumentos de justiça para garantir os direitos das vítimas do conflito”.
Ao enumerar nove parágrafos da oitava proposta sobre vítimas do conflito, o comandante guerrilheiro disse que os critérios de justiça a aplicar no marco do fim do conflito devem ser combinados entre ambas as partes; que deve-se manter o asserto que a “responsabilidade principal” é imputável ao Estado e a outros atores políticos, econômicos e militares que detêm o poder. Depois ressaltou sobre a necessidade do “reconhecimento amplo do delito político e do direito à rebelião, incluídas as conexidades, com tudo o que isso implica”.
No dia seguinte, quinta-feira 26 de fevereiro, no Palácio de Convenções, o comandante Pablo Catatumbo continuou dando a conhecer novas propostas das FARC-EP acerca do tema de justiça para os rebeldes.
A circunstância de o Estado colombiano ter a responsabilidade fundamental no conflito ilegitimou e minguou a capacidade de exercer justiça. Também porque é uma verdade inquestionável que essa responsabilidade é compartilhada não só por todos os órgãos do poder público e demais instituições como também pelos partidos políticos, grêmios econômicos, meios massivos de comunicação e os sucessivos governos dos EUA.
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Levando em conta esta realidade, o comandante Pablo Catatumbo propôs, em nome das FARC-EP, “a organização e realização de um debate nacional acerca da justiça nestes casos”, debate em que deve participar de forma “direta e ativa” a organização guerrilheira.
Finalmente, o comandante Pablo Catatumbo reivindicou o reconhecimento da função de Estado que as FARC-EP têm exercido.


   
O enviado especial do governo dos EUA.
No dia 27 de fevereiro, depois de sustentar uma entrevista com o presidente Santos na casa de Nariño, o comissionado Bernard Aronson viajou para Havana, onde sustentou no dia seguinte um encontro confidencial com os membros do Secretariado que se encontram em Havana, fazendo parte da delegação de paz das FARC-EP.
A participação norte-americana no Processo, através de seu enviado especial, adquire importância, dado que os Estados Unidos têm estado presentes no conflito colombiano desde as origens, e no transcurso dele têm interferido doutrinária, financeira, política e militarmente; portanto, é de se esperar que preste seu concurso na construção de um acordo e na consolidação da paz.



   
Discussão do ponto 3, Fim do conflito

Para os dias 4 e 5 de março, se espera o início de trabalhos da Subcomissão Técnica, integrada por comandantes guerrilheiros e oficiais das forças armadas da Colômbia.
Como se sabe, a tarefa desta subcomissão é elaborar propostas referentes ao cessar-fogo bilateral e deixação das armas. Se espera que na primeira reunião da subcomissão se ouçam os primeiros expertos internacionais sobre os temas mencionados, reuniões nas quais participarão os países garantidores.
Este é o novo contexto onde FARC-EP e Governo trabalham para chegar a consensos no ponto de Vítimas.

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Equipe ANNCOL - Brasil

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